Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

Introdução

 

s que não morrerem em vida serão aniquilados quando morrerem. Reescrevendo, na verdade explicando, esta máxima de Jacob Boehme, proponho: Os que não morrerem para as prisões-ilusões desta vida e não Nascerem Espiritual e Iniciaticamente para a Vida Eterna serão reciclados após a morte. O fato é que, ou nos transmutamos voluntariamente e conscientemente ou, depois da morte, passaremos por um tipo de reciclagem cósmica, na qual o que puder ser reutilizado será posteriormente reintroduzido no ciclo eterno e ilimitado de movimento permanente e de transformação assintótica. De qualquer forma, nada é perdido ou criado no incriado Universo. O Universo é auto-sustentado por duas Leis básicas: movimento e transformação. E esse movimento e essa transformação, interior no caso homem, deverá se dar como explica Boehme no seu Mysterium Magnum, escrito um ano antes de sua Grande Iniciação: O único e verdadeiro caminho através do qual Deus pode ser percebido em Sua Palavra, Essência e Vontade é quando o homem alcança um estado de unidade consigo mesmo, e quando – não só em sua imaginação, mas em sua vontade – possa deixar tudo o que é eu pessoal ou o que pertença ao eu: dinheiro e bens, pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filhos, corpo e vida, ou seja, quando o seu próprio eu se transforma em um nada. Ele deve entregar tudo e se tornar mais pobre do que um pássaro no ar que possui um ninho. O homem não deve sequer ter um ninho para o seu coração neste mundo. Não que se deva fugir de casa, abandonar esposa, filhos ou parentes, cometer suicídio ou jogar fora as propriedades a fim de não estar corporalmente presente. Deve-se, sim, matar e anular a vontade própria, aquela que clama por todas essas coisas como sua possessão. O homem deve entregar tudo isso ao seu Criador e dizer com todo consentimento de seu Coração: ‘Senhor, tudo é Teu’! Sou indigno de governar tudo isso, mas como Tu me colocaste aqui, devo cumprir meu dever entregando minha vontade a Ti, de forma total e completa. Age através de mim da forma que quiseres, a fim de que a Tua Vontade seja feita em todas as coisas e em tudo que eu seja chamado a fazer para o benefício de meus irmãos, a quem sirvo segundo o Teu mandamento.' Aquele que penetra neste estado de resignação suprema entra em união divina com o Cristo, a fim de ver ao Próprio Deus. Ele fala com Deus e Deus fala com ele; ele sabe qual é a Palavra [Verbum Dimissum et Inenarrabili]. Enfim, como escreveu Helena Petrovna Blavatsky em sua Doutrina Secreta, a Luz Astral é a Alma Universal, a Matriz do Universo, o 'Mysterium Magnum' do qual nasce tudo o que existe, seja por separação, seja por diferenciação. E eu, mais uma vez digo: somos todos um. E outra vez repito: somos todos um. E pela terceira vez insisto: somos todos um. Kyrie eleison! Christe eleison!

 

Oh! Quanto tempo! Quanto tempo!

Tanto tempo vivi iludido e a destempo

– no tempo que é e não é tempo –

de contratempo em contratempo!

 

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

Amorosamente, este singelo e despretensioso trabalho oferece para reflexão uma pequena e incompleta coletânea de máximas garimpadas de algumas obras de Jacob Boehme e de livros que comentam seu pensamento. Entretanto, não cometerei, nesta oportunidade, a imprudência de tentar interpretar ou especular a respeito do seu pensamento. Tudo em Boehme é difícil. O próprio Boehme tinha consciência da dificuldade de seus livros, e, conseqüentemente, escreveu a Clavis – ou Chave para o entendimento das suas obras como um resumo das idéias principais contidas em seu sistema (que, ainda assim, continua sendo de difícil apreensão). Por isso mesmo, tomei o cuidado de, didaticamente, começar pelos fragmentos mais fáceis de serem compreendidos. De qualquer forma, apenas comentei a citação que abre este trabalho na Introdução, que é um passo bastante obscuro, porque, além de ele precisar ficar bem compreendido, eu mesmo já discuti esse tema em trabalhos anteriores.

Autores místicos como Boehme são difíceis de ser compreendidos pela ou com a razão (científica ou filosófica); logo, onde estas razões objetivas não responderem ou a Clavis não ajudar (ainda que ela forneça uma introdução simples aos pontos mais importantes de sua filosofia espiritual e mística), o único caminho disponível para a compreensão do fragmento boehmenista é a Transrazão Cardíaca, isto é: esforçar-se para ouvir a Voz Insonora do Coração, que não deseja outra coisa senão falar. Não há uma terceira possibilidade. Parafraseando Boehme, entendo que a Razão do homem, sem a Luz de seu Mestre-Deus, não pode entrar na Região dos Mistérios – no Mysterium Magnum. É necessário dar um salto interior ascensional da razão humana para a Transrazão Místico-Cardíaca. Por outro lado, concordo com Boehme quando escreveu: Há muitos que aspiram aos Mistérios e aos Conhecimentos Ocultos apenas para serem respeitados e altamente estimados pelo mundo, para seu benefício e proveito próprio, mas eles não atingem o Plano onde o Espírito penetra em todas as Coisas. Logo, onde há vaidade e locupletamento não pode haver LLuz. E mais: quando o Esoterismo ou o Misticismo são tratados como hobby, tudo acaba em água de barrela e o hobbyist acaba ficando com a sua reputação enodoada e maculada. Mas será que pessoas que agem assim estão se importando com isso? Na hora própria, entretanto, terão uma baita e educativa surpresa!

Por fim, é necessário que sejam dadas as seguintes informações: a) não há qualquer mérito no que fiz; apenas reuni em rol – para registro, fixação, recordação e reflexão – algumas máximas de Boehme, com as quais o primeiro a aprender fui eu; b) ; fiz raríssimas edições nos fragmentos para adaptá-los a este tipo de divulgação, sem, contudo, alterar em nada o pensamento boehmenista; c) as animações que constam deste trabalho são meramente pictóricas e ilustrativas, e assim, os fragmentos, para serem compreendidos, independem de qualquer uma delas; d) ao final, reproduzirei algumas passagens contidas no livro Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos Séculos XVI e XVII; e) a figura e a animação dos Quatro Elementos que inseri em dois fragmentos distintos não são de autoria de Boehme e nem derivaram de seus ensinamentos;; e f) as páginas da Internet e os Websites consultados para elaboração deste trabalho estão todos citados ao final. Eu não poderia escrever este texto sem essa ajuda indispensável, como foi o caso particular, por exemplo, do Website que tem por título Sincero Buscador. Por isso, agradeço aos dedicados usuários interativos da rede internacional Internet as diversas divulgações (eventualmente comentadas) das obras de Jacob Boehme. Concluindo este item, peço desculpas por eventuais equívocos cometidos.

 

 

Pequena Biografia de Jacob Boehme

 

 

Jacob Boehme (Alt Seidenberg, 1575 – Görlitz, 1624) – denominado por alguns de Filósofo Teutônico – foi um pensador e místico alemão de natureza humilde, sensível e contemplativa educado como luterano, e que exerceu a profissão de sapateiro em Görlitz, ainda que seu primeiro emprego tenha sido de pastor de ovelhas em Lands-Krone, uma montanha nos arredores de Gorlitz. Inspirou muitos místicos com seus livros, como foi o caso de Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803), que, depois de ter tomado conhecimento de suas obras em 1788, escreveu em seu diário pessoal: A meu primeiro Mestre, a quem devo meus primeiros passos na via espiritual...

Autor de dezenas de livros sobre suas experiências místicas, que continuaram a exercer uma ação influenciadora nas principais correntes esotéricas do século XX, Boehme valia-se de conceitos alquímicos, da simbologia KaBaLística e de conhecimentos de passagens bíblicas para dar sustentabilidade ao seu pensamento, ainda que, a meu juízo, isso não fosse necessário. Considerava o livre-arbítrio o mais importante dom conquistado pelo Homo sapiens, que, por um lado, permitia que o homem projetasse e construísse seu Mestre-Deus interior em seu Coração, enquanto, por outro, dava liberdade, poder ou licença para que cada ser humano mantivesse sua individualidade – o que não quer dizer, por exemplo, que isso justifique ou abone a egolatria e a dominação/exploração dos seres-no-mundo pelos mais capazes. Isso não é individualidade, mas perversidade. Nesse sentido, Boehme compreendia a projeção do Cristo a este Plano não como um sacrifício pactuado oferecido para perdoar os pecados dos homens, coisa que nem Cristo poderia ou pode fazer, mas como o início de um novo tempo no qual seria possível o alcançamento de um estado espiritual mais elevado de harmonia com a Ordem universal, ainda que isso dependesse exclusivamente do esforço e do mérito próprio homem. De uma certa forma, mas com outro significado, é isso que também vem acontecendo desde 5 de fevereiro de 1962 [data que anunciou a mudança da Era de Piscis para a Era de Aquarìus, quando todos os Planetas dos Antigos – segundo Raymond Bernard (1923 - 2006) – se encontravam reunidos no Signo Zodiacal do Aquário], e que terá seu ápice em fevereiro de 2034, quando tudo parece estar indicando que um novo Dia de Transformação ocorrerá. De 1962 a 2034 terão sido transcorridos exatamente 72 anos. Não custa lembrar, entre várias outras possibilidades, particularmente KaBaLísticas, a passagem X, 1 do Evangelho de Lucas: E, depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, e mandou-os dois a dois adiante de Si por todas as cidades e lugares onde Ele estava para ir. (1 –› 12 –› 72 –› 360).

 

 

 

O que ocorrerá no Dia da Transformação está didaticamente descrito na monografia pública Ascensão Planetária (de autoria do Rev. Illuminatus Frater Velado, 7 Ph. D., Irmão Leigo da Ordem Rosacruz e Dirigente da Ordo Illuminati Ægyptorum), disponibilizada no Website Oficial Brasileiro de Illuminates of Kemet, e que pode ser lida diretamente ou baixada (em PDF) no endereço:

http://svmmvmbonvm.org/Ascensplan.pdf

Seguindo. O místico e autor canadense Manly Palmer Hall1 (1901–1990) assim relata esta história: Um dia, enquanto tomava conta da oficina de seu mestre, um misterioso estranho entrou. Embora parecesse ser possuidor de nada mais do que alguns pequenos objetos mundanos, o misterioso estranho mostrava ser sábio e nobre espiritualmente. O estranho perguntou o preço de um par de sapatos, mas o jovem Boehme não se atreveu a estipular um preço com receio de desagradar seu mestre. O estranho insistiu, e Boehme, finalmente, estabeleceu um valor que considerava ser tudo que seu mestre possivelmente esperaria obter pelos sapatos. O estranho os comprou, e imediatamente partiu. A uma pequena distância do estabelecimento, já na rua, o estranho misterioso parou e, em alta voz, chamou: — 'Jacob, Jacob, venha para fora'. Com surpresa e espanto, Boehme saiu da casa. O estranho homem fixou seus olhos nos grandes olhos do rapaz, que brilhavam e pareciam cheios de luz divina, pegou a mão direita do menino, e se dirigiu a ele dizendo: 'Jacob, tu és pequeno, mas serás grande, e te tornarás um outro homem, tão grande que o mundo irá te admirar. Contudo, sê piedoso, teme a Deus e reverencia Sua Palavra. Lê atenciosamente as Santas Escrituras, onde terás conforto e instrução, pois deves enfrentar muita miséria, privações e perseguições; mas sê corajoso e persevera, pois Deus te ama e tem misericórdia de ti.' Profundamente impressionado com a profecia, Boehme tornou ainda mais intensa sua busca pela verdade. Finalmente, seu trabalho foi recompensado. Por sete dias ele permaneceu em uma condição misteriosa, período em que os mistérios do mundo invisível lhe foram revelados.

Boehme passou por experiências místicas em toda a sua juventude, culminando em uma epifania (do latim epiphania ou do grego epipháneia: manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de uma coisa, apreensão místico-intuitiva da atualidade cósmica) no ano de 1600, aos vinte e cinco anos, que teria lhe revelado a estrutura espiritual do mundo, assim como as complexas e intrincadas relações entre o Bem e o Mal. Na época, decidiu manter silêncio sobre a sua experiência espiritual e continuou trabalhando como sapateiro, constituindo família com Katherine Kuntzschmann e tendo quatro filhos. Passaram-se dez anos, quando, em 1610, teve outra visão. Desse episódio, relatou: Abriu-se para mim um largo portão e em um quarto de hora vi e aprendi mais do que veria e aprenderia em muitos anos de universidade. Por essa razão, estou profundamente admirado e dirijo a Deus minhas orações, agradecendo-Lhe por isto. Vi e compreendi o Ser dos seres, o Abismo dos abismos, a geração eterna da Santíssima Trindade, o descendente e a origem do mundo e de todas as criaturas pela Divina Sabedoria. Soube e vi por mim mesmo os três mundos, ou seja, o Mundo Divino (angelical e paradisíaco), o Mundo das Sombras (que deu origem e natureza ao Fogo) e o Mundo Exterior e Visível (sendo a procriação ou o nascimento exterior tanto do mundo interior como do espiritual). Vi e conheci toda a essência do trabalho, o mal e o bem original e a existência de cada um deles, e também como frutificou com vigor a semente da eternidade. E isso, de tal forma que dela fiquei desejoso e me rejubilei.

Após essa visão de 1610, começou a escrever sua primeira obra, Aurora (Die Morgenröte im Aufgang). O tratado foi publicado e divulgado em forma de manuscrito, até que uma cópia caiu nas mãos de Gregorious Ritcher, principal pastor de Görlitz, que o considerou herético e ameaçou exilar Boehme se ele não parasse de divulgar os seus escritos, considerados falsos e perigosos. A Boehme foi temporariamente imposto o provérbio latino sutor ne ultra crepidam, isto é: sapateiro não vai além das sandálias, ou seja, não dê sua opinião em coisas que estão fora da sua competência. Anos de silêncio se passaram – que o infelicitaram por não poder escrever, publicar ou pronunciar qualquer palavra para manifestar seus pensamentos – até que alguns amigos e patronos conseguiram convencê-lo a continuar escrevendo. Em pouco tempo, novas cópias escritas à mão começaram a circular. Tempos depois, referindo-se ao período de silêncio forçado, diria que o comparava a uma semente que, oculta no seio da terra, desenvolvia-se apesar do mau tempo e das tempestades.

Seu primeiro livro impresso, Christosophia (Der Weg Zu Christo), foi publicado em 1623 e causou grande escândalo. Em um curto período de tempo (entre 1618 e 1624), Boehme produziu uma enorme quantidade de tratados e de epístolas, incluindo suas maiores obras: De Signatura Rerum e Mysterium Magnum. Suas idéias conquistaram muitos seguidores em toda a Europa e os seus discípulos ficaram conhecidos como os boehmistas.

Como conseqüência de suas idéias e de seus escritos, que apresentavam o Universo como um ininterrupto processo místico-KaBaLístico-alquímico, uma espécie de retorta destilando perpetuamente os metais para transmutá-los em ouro celestial, Boehme passou o último ano de sua vida exilado em Dresden, retornando à Görlitz unicamente para dar um adeus final à vida, aos 49 anos de idade, em um domingo, 20 de novembro de 1624. Nas três horas que antecederam sua Grande Iniciação, pronunciou seqüencialmente estas quatro frases:

Ainda não chegou a minha hora, mas dentro de três horas será a minha vez.

Ó Deus poderoso, salva-me de acordo com Tua Vontade.

Tu, Cristo crucificado, tem piedade de mim e me leva contigo ao teu Reino.

Agora entrarei no Paraíso.

Certamente o Sapateiro Bem-aventurado de Görlit não conheceu Sar Validivar (Ralph Maxwell Lewis, 2º Imperator para este 2º Ciclo Iniciático da AMORC), mas se o tivesse conhecido não discordaria desta sua afirmação: A Filosofia teoriza sobre a provável unidade do Universo. A Ciência tenta provar a existência de tal unidade, revelando leis e fenômenos interligados. O Misticismo, porém, proporciona a experiência real da unidade, através de estados como a Consciência Cósmica. A vida e a obra de Boehme exemplificam exatamente isto, e seu Esoterismo de base Protestante (mas certamente ancorado no indecifrável para os profanos Cristianismo Gnóstico, que, inquestionavelmente mantinha profunda conecção com a corrente Esotérico-Iniciática do Rosa+crucianismo do seu tempo) apresenta e discute a idéia mística da possibilidade do desenvolvimento interior perpendicularmente à personalidade-alma do ser-no-mundo. Essa tarefa é estritamente pessoal, obriga rigorosa observância e renúncia, e tem por princípio e base o trabalho de purificação e de exaltação das forças cósmicas da personalidade-alma, para que, em vida, possam ser realizada e alcançada a plenitude possível da Santa Obra. Por tudo isso, Boehme tinha que desagradar, como desagradou muito, as estúpidas múmias paralíticas e carcomidas de seu tempo.

As obras que Boehme publicou em latim, com títulos também em língua alemã, foram:

* Aurora (Die Morgenröte im Aufgang), (1612)

* De Tribus Principiis (Beschreibung der Drey Göttliches Wesens), (1619)

* De Triplici Vita Hominis (Von dem Dreyfachen Leben des Menschen), (1620)

* Psychologica Vera (Vierzig Fragen von der Seelen), (1620)

* De Incarnatione Verbi (Von der Menschwerdung Jesu Christi), (1620)

* Sex Puncta Theosophica (Von sechs Theosophischen Puncten), (1620)

* Sex Puncta Mystica (Kurtze Erklärung Sechs Mystischer Puncte), (1620)

* Mysterium Pansophicum (Gründlicher Bericht von dem Irdischen und Himmlischen Mysterio), (1620)

* Informatorium Novissimorum (Von den letzten Zeiten an P. Kaym), (1620)

* Christosophia (der Weg zu Christo), (1621)

* Libri Apologetici (Schutz-Schriften wider Balthasar Tilken), (1621)

* Antistifelius (Bedenken über Esaiä Stiefels Büchlein), (1621)

* De Signatura Rerum, (Von der Geburt und der Bezeichnung aller Wesen), (1622)

* Mysterium Magnum (Erklärung über das erste Buch Mosis), (1623)

* De Electione Gratiæ (Von der Gnaden-Wahl), (1623)

* De Testamentis Christi (Von Christi Testamenten), (1623)

* Quaestiones Theosophicæ (Betrachtung Göttlicher Offenbarung), (1624)

* Tabulæe Principorium (Tafeln vln den Dreyen Pricipien Göttlicher Offenbarung), (1624)

* Apologia Contra Gregorium Richter (Schutz-Rede wider Richter), (1624)

* Libellus Apologeticus (Schriftliche Verantwortgung an E.E. RAth zu Görlitz), (1624)

* Clavis (Schlüssel, das ist Eine Erklärung der vornehmsten Puncten und Wörter, welche in diesen Schriften gebraucht werden), (1624)

* Epistolæ Theosophicæ (Theosophische Send-Briefe), (1618 – 1624)

 

 

 

 

 

 

Excertos Boehmenistas Para Reflexão

 

 

Portanto, posto que a Vontade eterna é livre e não pode ser aprisionada pela atração, mas a atração não pode estar livre da Vontade, porque a Vontade governa a atração, reconhecemos a Vontade como uma onipotência eterna, pois nada há que se equipare a ela, enquanto a atração é, na verdade, um movimento atrativo ou um desejo, mas sem inteligência: tem vida, mas sem conhecimento. Então a Vontade governa a vida da atração e faz o que quiser com ela. E quando a Verdade faz algo, isso não é conhecido até que se manifeste através da atração e se torne uma essência na vida da Vontade. Só então o que a Vontade fez é conhecido.

O Sem Fundo – o 'Ungrund' – é um eterno nada. Produz, entretanto, um eterno começo, isto é, um atrativo, porque o nada é um atrativo para alguma coisa.

Cristo: a Santa Pedra Angular da Sabedoria.

Deus é o Nada Eterno... O Nada Eterno que é o Um Eterno.

Desejar é uma imaginação...

Os que não morrerem em vida serão aniquilados quando morrerem.

Há uma pessoa externa no exterior do mundo e uma pessoa interna em seu interior.

A Unidade é concebida na diferenciação.

O interior de cada coisa é Deus.

É muito perigoso para um homem fazer uso em si mesmo da Luz do Conhecimento, não sendo ainda senhor de si mesmo.

Todo homem leva o céu e o inferno consigo neste mundo.

Sou um pecador e mortal... e devo, a todo momento, dia e noite, desprender-me, lutar e combater o Diabo que aflige minha natureza corrupta e perdida, esse poder colérico que existe continuamente em minha carne, como na de todos os homens.

Leitor amigo: ... se você seguir o conselho da Sabedoria de Deus, você encontrará em você mesmo, não depois desta vida, mas aqui, neste Plano, sua regeneração.

Escrevi unicamente para aqueles que buscam; para os astutos e expertos, nada tenho a dizer.

Nem o dinheiro, nem as posses mundanas, nem a ciência, nem a autoridade, nada disso trará a vós o doce descanso do paraíso, que só pode ser atingido através do nobre conhecimento de si mesmo. Lá, podereis vestir vossa alma; trata-se da pérola que não é devorada pelas traças, e que nenhum ladrão pode levar. Buscai-a, e encontrareis um nobre tesouro.

Se não houver um propósito, para que Deus revele a Si mesmo e seus mistérios ao homem, tendo com este Homem um só Espírito e uma única Vontade, se o Homem não se submeter sinceramente a Ele, a ponto de que o Espírito de Deus possa fazer com o Homem e pelo Homem aquilo que quiser, e que Deus seja seu Conhecimento, Vontade e Ação, este homem ainda não serve para o Conhecimento e para a Compreensão.

Não escrevo com outro objetivo senão o de que o homem aprenda a conhecer a si mesmo.

Toda a nossa doutrina nada mais é do que uma instrução de como o homem pode criar um reino de luz dentro de si mesmo... Aquele em quem flui esta fonte de poderes divinos carrega consigo a imagem divina e a substancialidade celeste. Nele, Jesus nasceu da Virgem, e ele não irá perecer na eternidade.

Deve-se auxiliar o próximo com aquilo que for obtido.

O homem natural nada sabe sobre os mistérios do Reino de Deus porque ele está fora e não dentro do estado da Divindade, sendo provado diariamente pela ação dos filósofos que brigam por causa dos atributos e da vontade de Deus; de fato, eles não conhecem a Deus porque não ouvem a Palavra de Deus dentro de suas próprias almas.

O Conhecimento das Coisas Naturais não é para todos, mas pertence somente àqueles que Deus, pela Natureza, escolheu para isso.

Todos aqueles que desejam falar ou ensinar os mistérios divinos devem possuir o Espírito de Deus. O homem deve reconhecer em si a Luz Divina da verdade e nessa Luz as coisas que ele deseja apresentar como sendo verdade. Ele nunca deve estar sem esse autoconhecimento Divino, e nem fazer com que a força de seus argumentos dependa meramente do raciocínio externo ou de interpretações literais da Bíblia.

De que adianta ficar consultando a Bíblia, conhecê-la de memória, mas não conhecer o Espírito que inspira os homens santos que escreveram aquele livro, nem a fonte da qual receberam tal conhecimento? Como posso esperar compreendê-lo em verdade, se não possuo o mesmo espírito que eles?

Quando Deus revela seus mistérios a algum homem, Ele também lhe dá uma mente e uma capacidade para expressá-los, uma vez que Deus sabe o que é mais necessário e proveitoso em todas as épocas.

A verdadeira compreensão deve vir da fonte interior e penetrar a mente do Verbo vivo de Deus, dentro da alma. A menos que isso ocorra, todo ensinamento sobre as Coisas Divinas é inútil e desprezível.

Não há espaço, tempo ou superfície, mas somente o Deus Eterno, ou aquele único Bem, que um homem não pode expressar.

Não pretendo afastar os homens do Verbo... Meus escritos pretendem conduzi-los de uma mera crença histórica para uma fé viva, ao próprio Jesus Cristo... Toda pregação e ensinamento é inútil se não passar de conversa, e se o pregador ou mestre não tiver o poder de Cristo, se não é o Cristo propriamente dito por meio do Verbo que age dentro daqueles que ensinam e daqueles que ouvem.

Assim como o Fogo, a Luz e o Éter surgem da vela (embora a vela não seja nenhum dos três, mas a causa deles), a Unidade Eterna é a causa e o fundamento da Trindade Eterna, que se manifesta a partir da Unidade e se gera a si mesmo, primeiro em Desejo ou Vontade, segundo em Prazer ou Satisfação e terceiro em Ação ou Expansão.

 

 

 

 

O céu e a Terra, com todos os seus habitantes, e mais do que tudo, o próprio Deus, está no homem.

O espírito do homem não veio meramente das estrelas e dos elementos; ele traz oculta em si uma centelha da Luz e do Poder de Deus. Não é à-toa que Moisés (Gênesis I) diz: 'Deus criou o homem à Sua própria imagem. Para ser Sua própria imagem Ele o criou'.

Há três tipos de atuação na Unidade Eterna a saber: a Unidade, que é a própria vontade e desejo; a Satisfação, que é a substância atuante da vontade e um Eterno êxtase de perceptibilidade na vontade; e o Espírito Santo, que é o procedimento do Poder.

A alma busca na Divindade e também nas profundezas da natureza; pois ela tem a sua fonte e a sua origem no todo do Ser divino.

O Verbo nada mais é do que a vontade exalada do Poder e da Virtude, uma variedade distinguida do Poder em múltiplos Poderes; uma distribuição e um fluxo da Unidade por onde surge o conhecimento.

Não há centelha de Vida divina naquele que está sem Deus. Não se deve culpar Deus por isso, mas a própria pessoa. Tais pessoas têm a si mesmas, e por vontade própria, entraram em tal estado abafando a consciência elevada, enquanto que a jóia preciosa, embora desconhecida deles, continua oculta no centro. Deixe, portanto, que eles saiam novamente da ignorância intencional ou da malignidade, por vontade própria, e entrem novamente na Vontade de Deus.

Sobre o Santo Nome YEHOVA:

Y é a emanação da eterna e indivisível Unidade, ou a doce graça e o conhecimento pleno do Poder Divino de se tornar algo.

E é um triplo Y onde a Trindade se cala na Unidade. Y entra em E e se unem – YE – união que representa uma exalação da própria Unidade.

H é a Palavra ou a respiração da Trindade de Deus.

O é a circunferência ou o Sol de Deus através do qual o YE e o H (respiração) falam a partir do deleite do Poder e da Virtude comprimidos.

V é emanação jubilosa da respiração, ou seja, o procedimento do Espírito de Deus.

A é o que procede do Poder e da Virtude, isto é, a Sabedoria. É o objeto da Trindade. É por seu intermédio que a Trindade atua e se manifesta.

Deus é a vontade da sabedoria eterna. A verdadeira fé não se trata apenas de um certo método de pensar, ou a crença em certas ocorrências históricas, mas no recebimento do Espírito e Poder de Cristo no ser.

A Sabedoria é o Grande Mistério da Natureza Divina. Por Ela os Poderes, os Aspectos e as Virtudes se manifestam. Nela está a variação do Poder e da Virtude ou da Compreensão. Ela é a Compreensão Divina, ou ainda, a Visão Divina pela qual a Unidade é manifestada.

A Luz e o Poder de Cristo surgem em Seus filhos dentro da fundação interior e iluminam a totalidade de suas vidas. Dentro dessa fundação encontra-se o Reino de Deus no homem.

Pelo 'Mysterium Magnum' surge a natureza eterna. Duas substâncias e vontades são sempre compreendidas como parte do 'Mysterium Magnum': a primeira substância é a unidade de Deus, ou seja, a Virtude e o Poder Divino, a Sabedoria fluida; a segunda substância é a vontade separável que surge através do Verbo vivo e claro; ela não tem sua base na unidade, mas na mobilidade da emanação e respiração que se transformam em uma vontade, em um Desejo para a Natureza, em qualidades tanto quanto o Fogo e a Luz. No Fogo se compreende a Vida Natural, e na Luz a Vida Santa ou uma manifestação da Unidade pela qual esta Unidade se torna um Fogo-Amor... ou Luz.

 

 

 

O único e verdadeiro caminho através do qual Deus pode ser percebido em Sua Palavra, Essência e Vontade é quando o homem alcança um estado de unidade consigo mesmo, e quando – não só em sua imaginação, mas em sua vontade – possa deixar tudo o que é eu pessoal ou o que pertença ao eu: dinheiro e bens, pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filhos, corpo e vida, ou seja, quando o seu próprio eu se transforma em um nada. Ele deve entregar tudo e se tornar mais pobre do que um pássaro no ar que possui um ninho. O homem não deve ter um ninho para o seu coração neste mundo. Não que se deva fugir de casa, abandonar esposa, filhos ou parentes, cometer suicídio ou jogar fora as propriedades a fim de não estar corporalmente presente. Deve-se, sim, matar e anular a vontade própria, aquela que clama por todas essas coisas como sua possessão. O homem deve entregar tudo isso ao seu Criador e dizer com todo consentimento de seu coração: ‘Senhor, tudo é Teu’! Sou indigno de governar tudo isso, mas como Tu me colocaste aqui, devo cumprir meu dever entregando minha vontade a Ti, de forma total e completa. Age através de mim da forma que quiseres, a fim de que a Tua vontade seja feita em todas as coisas e em tudo que eu seja chamado a fazer para o benefício de meus irmãos, a quem sirvo segundo o Teu mandamento.' Aquele que penetra neste estado de resignação suprema entra em união divina com o Cristo, a fim de ver ao Próprio Deus. Ele fala com Deus e Deus fala com ele; ele sabe qual é a Palavra.

O 'Mysterium Magnum' é o Caos (de onde surgem a Luz e a Escuridão, ou seja, o princípio do céu e do inferno) manifestado e derivado da Eternidade. Este princípio – que agora chamamos de inferno, cuja existência tem origem no próprio Caos – é a base e a causa do Fogo na Natureza Eterna; este Fogo, em Deus, é somente um amor ardente onde Deus não está manifestado em algo de acordo com a Unidade.

Segue meu conselho:, deixa de buscar o conhecimento de Deus através da tua vontade egoísta e de teu raciocínio; joga fora tua razão imaginária, aquela que teu eu mortal pensa que possui, então tua vontade será a vontade de Deus. Se Ele encontrar a Sua vontade como sendo a tua vontade na Dele, então a Sua vontade irá se manifestar em tua vontade, como se fosse Sua própria propriedade. Ele é Tudo, e o que quer que desejes saber do Tudo está Nele. Não há nada oculto diante Dele, e tu verás em Sua própria Luz.

Do 'Mysterium Magnum', ou do Caos, surgem Bem e Mal, Luz e Trevas, Vida e Morte, Alegria e Tristeza, Salvação e Condenação.

A vontade deve buscar ou desejar nada mais do que a misericórdia de Deus no Cristo; deve entrar continuamente no amor de Deus e não permitir que nada a afaste deste objetivo. Se a razão externa triunfa e diz 'eu tenho o verdadeiro conhecimento’, então, a vontade deve fazer a razão carnal curvar-se à terra fazendo com que entre em um estado mais elevado de humildade, e que repita sempre para si mesma as palavras: ‘És tola. Tu nada possuis senão a misericórdia de Deus’. Tenta penetrar nessa misericórdia e se tornar um nada em si mesmo. Afasta-te de todo o teu próprio conhecimento e desejo egoísta reconhecendo-os como algo inteiramente impotente. Então, a vontade própria natural irá entrar em um estado de abandono, e o Espírito Santo de Deus irá tomar uma forma viva dentro de ti, inflamando tua alma com suas chamas de Amor Divino. Assim, o conhecimento elevado e a ciência do Centro de todo ser irá surgir. O eu-humano irá começar a perceber o Espírito de Deus, tremulamente e na alegria da humildade, e será capaz de ver o que está contido no tempo e na eternidade. Tudo está perto de uma alma nesse estado, pois a alma não é mais propriedade sua, mas um instrumento de Deus. Em tal estado de calmaria e de humildade a alma deve permanecer, como uma fonte permanece em sua própria origem; ela deve, sem cessar, atrair e beber daquele poço, e nunca mais desejar deixar o caminho de Deus.

Não podemos dizer que o mundo espiritual tenha tido algum começo, mas foi manifestado da Eternidade fora do Caos. A Luz brilhou da Eternidade na escuridão, e a escuridão não a compreendeu, como o dia e a noite estão um no outro e são dois, ainda que um.

 

 

 

O Cristo disse: O Filho do Homem não faz nada além do que vê o Pai fazendo. Se o Filho do Homem se tornou o nosso corpo e Seu espírito o nosso próprio espírito, seria possível não conhecermos a Deus? Se vivemos no Cristo, o Espírito de Cristo verá através de nós e em nós verá aquilo que deseja, e aquilo que o Cristo deseja veremos e conheceremos Nele. O mundo dos anjos é mais simples e mais claramente compreensível para o homem regenerado do que o mundo terrestre.

A Natureza nada mais é do que as propriedades da Capacidade e Poder de receber o próprio desejo que surge na variação da Palavra Viva, ou seja, do Poder e Virtude vivos de onde as propriedades se transformam em substância. Esta substância é chamada de substância natural e não é Deus propriamente dito, embora Ele habite completamente na natureza e ainda que a natureza o compreenda perfeitamente. Isto ocorre porque a unidade de Deus se produz em Si Mesmo e se comunica por uma substância natural tornando-se substância, a saber, a substância da Luz, que rompe e penetra a natureza atuando por si mesma. Se assim não fosse, a unidade de Deus seria incompreensível para a natureza, isto é, para a recepção desejosa.

A nossa visão e o nosso conhecimento estão em Deus. Ele revela a todos neste mundo segundo a Sua vontade , e na medida em que sabe ser útil para ele. Não estamos em possessão de nosso próprio ser. Nada sabemos sobre Deus. O Deus propriamente dito é o nosso conhecimento e visão. Não somos nada, a fim de que Ele possa ser Tudo em nós. Devemos ser cegos, surdos e mudos, e não saber nada, não tomar conhecimento de vida que seja propriedade nossa, a fim de que Ele possa ser a nossa vida e a nossa alma, e a fim de que nossa obra possa ser a Sua.

A Natureza é como um carpinteiro que constrói uma casa que a mente anteriormente imaginou e projetou; é assim que ela deve ser compreendida.

Eu nunca desejei saber nada sobre os mistérios divinos, nem compreendo como posso buscá-los ou encontrá-los. Tudo o que busquei foi o coração de Jesus Cristo (o centro da verdade), onde devo me ocultar e encontrar a proteção da temível cólera de Deus. Peço a Deus, sinceramente, que me conceda o Seu Espírito Santo e a Misericórdia, que Ele possa me abençoar, conduzir e afastar de mim tudo o que nos separa, a fim de que eu não viva em minha vontade própria, mas na Dele. Engajado nessa busca e nesse desejo sincero, a Porta me foi aberta, de modo que em um quarto de hora vi e aprendi mais do que se estivesse estudado por muitos anos nas universidades.

A Natureza, em seu primeiro plano, consiste em Sete Propriedades que se dividem ao infinito. A primeira Propriedade é o Desejo, que causa e produz aspereza, agudeza, dureza, frio e substância. A segunda Propriedade é o ativo ou a atração do Desejo. Ela fere, quebra e divide a dureza; corta em pedaços o desejo atraído; multiplica e varia a si mesmo. É o campo da dor amarga e também a verdadeira Raiz (Origem) da Vida. É o vulcão que lança Fogo. A terceira Propriedade é a perceptibilidade e o sentimento na quebra da áspera dureza. Este é o campo da angústia e da vontade natural por onde a Vontade Eterna deseja ser manifestada, ou seja: será Fogo ou Luz, a saber, um lampejo ou brilho por onde os poderes, aspectos e virtudes da sabedoria podem aparecer. Nestas três primeiras Propriedades consiste o Fundamento da Ira, do Inferno e de tudo o que é colérico. A quarta Propriedade é o Fogo, onde a Unidade aparece e é vista na Luz, ou seja, no Amor ardente (candente) e a Ira (cólera) na Essência do Fogo. A quinta Propriedade é a Luz cuja Virtude do Amor; juntamente com a Unidade atua na substância natural. A sexta Propriedade é o som, voz ou compreensão natural por onde os cincos sentidos trabalham espiritualmente, ou seja, numa compreensão natural da vida. A sétima Propriedade é o Objeto ou o teor das outras seis Propriedades na qual elas atuam, como a Vida atua na Matéria. Estas sete Propriedades são certa e verdadeiramente chamadas de Região ou Ponto da Natureza, onde as Propriedades permanecem em uma única região.

Não sou um mestre da literatura ou das ciências deste mundo, mas um homem de mente simples. Nunca desejei aprender ciência alguma, mas desde tenra idade busquei a salvação de minha alma, e descobrir como poderia herdar ou possuir o Reino do céu. Encontrei em meu interior um poderoso 'contrarium', ou seja, os desejos pertencentes ao corpo e ao sangue. Ingressei em numa árdua batalha contra a minha natureza corrupta, e, com o auxílio de Deus, decidi superar a vontade demoníaca que havia herdado, vencê-la e penetrar totalmente no amor de Deus – no Cristo. Daquele momento em diante, resolvi considerar-me como um morto quanto a minha forma herdada, até que o Espírito de Deus tomasse forma em mim para que Nele e através Dele eu pudesse conduzir a minha vida. Isso era praticamente impossível, mas permaneci firme em minha sincera resolução travando uma dura batalha contra mim mesmo. Enquanto buscava e lutava, com o auxílio de Deus, uma Luz maravilhosa surgiu em minha alma. Era uma Luz completamente estranha à minha natureza descontrolada; Nela reconheci a verdadeira natureza de Deus e do homem e a relação existente entre eles, algo que nunca havia compreendido e que nunca teria buscado.

Quando o Amor do Fogo se manifesta na Luz, então, Ele inflama a Natureza como o Sol inflama a planta e o fogo inflama o Ferro.

No Redentor coloquei minha vontade, meu conhecimento, minha ciência, meu desejo e minha realização.

A Unidade Eterna se produz por sua Emanação e separação dentro da Natureza, pois a Unidade precisa ter um objeto no qual possa se manifestar, amar e ser novamente amada por algo. Desta forma poderá haver uma percepção ou uma vontade e atuação sensível.

Centenas de vezes já orei a Deus implorando para que Ele tirasse de mim todo conhecimento, caso esse não servisse para a Sua glorificação e para o melhoramento das condições de meus irmãos, e para que Ele apenas me mantivesse junto ao Seu amor. Mas quanto mais eu oro, mais o fogo interno se inflama, e em tal estado de ignição registro meus escritos.

Agrada ao Supremo revelar seus segredos através do tolo, olhado pelo mundo como sendo um nada; percebe-se que seu conhecimento não procede destes tolos, mas Dele. Portanto, peço que considerem meus escritos como sendo os de uma criança a quem o Supremo manifestou Seu poder. Há tanto dentro deles que nenhum tipo ou quantidade de argumentação ou raciocínio pode compreender ou alcançar. Mas, para os iluminados pelo Espírito sua compreensão é fácil e não passa de uma brincadeira de criança.

A Eterna unidade de Deus manifesta-se na Luz através do Fogo Espiritual. Esta Luz é chamada de Poder Supremo, sendo Deus ou a Unidade Supernatural seu Poder e sua Virtude.

O entendimento nasce de Deus. Não é produto de escolas nas quais a ciência humana é ensinada. Não condeno o aprendizado intelectual, e se eu tivesse obtido uma educação mais elaborada, com certeza isso seria uma vantagem para mim, quando minha mente recebia o dom divino. Mas agrada a Deus transformar a sabedoria deste mundo em tonteira, e dar Sua força ao fraco a fim de que todas as coisas se curvem diante Dele.

O que quer que se imagine possui uma essência. Na criatura, fora da criatura, em todo lugar, pois a criatura nada mais é do que uma imagem e uma aparência do separável e variado Poder – Virtude do Ser Universal.

Quando escrevo o Espírito dita aquilo que devo escrever, e me mostra tudo com tão maravilhosa clareza, que nunca sei se tenho minha consciência neste mundo ou não. Quanto mais eu busco, mais eu encontro; estou continuamente penetrando mais profundamente. Sempre penso que minha pessoa pecadora era muito inferior e indigna para receber o conhecimento de mistérios tão exaltados e elevados, mas em tais momentos o Espírito levanta o seu estandarte, dizendo: 'Olhe! Aqui deves viver eternamente e ser coroado. Por que estás aterrorizado?'

Aquilo que alcanço, eu tenho. Se fosse possível alcançar e descrever tudo o que percebo, meus escritos seriam mais explícitos.

Quando a Luz e o Fogo Espiritual são acesos, então, sempre, todo o Mistério do Poder e do Conhecimento Divino também se manifesta, pois todas as Propriedades da Natureza Eterna se tornam espirituais no Fogo (ainda que a natureza permaneça como é, interiorizada em si mesma)...

Assim como o relâmpago surge no centro e em um momento desaparece novamente, o mesmo ocorre com a alma. Quando, durante sua batalha, ela penetra nas nuvens, vê a face de Deus como um raio de luz; mas as nuvens do pecado logo se juntam à sua volta encobrindo sua visão.

Enquanto Deus me guia com Sua mão protetora entendo aquilo que escrevi; mas quando Ele se oculta não reconheço meu próprio trabalho. Isso prova a impossibilidade de penetrar os mistérios de Deus sem o auxílio do Espírito Santo.

Se alguém deseja me seguir na Ciência das coisas das quais escrevo, que sigam os vôos de minha alma e não os de minha caneta.

A Natureza pode ser considerada como um lampejo da origem do Fogo. É um estalo – uma região salina – quando parte para divisões infinitas, isto é, para a multiplicidade ou variedade do Poder e da Virtude. A multiplicidade dos Anjos e dos Espíritos e seus aspectos e operações também procederam dos Quatro Elementos no início dos tempos.

Acima de tudo, examina contigo mesmo o propósito de conhecer os mistérios de Deus, e se estás preparado a empregar aquilo que receberes para a glorificação de Deus e para o benefício do próximo. Tu estás pronto para morrer inteiramente para a tua vontade terrestre e egoísta, e desejas, sinceramente, ser um com o Espírito? Aquele que não tiver tais propósitos elevados e busca apenas um conhecimento que satisfaça o seu eu, ou para ser admirado pelo mundo, não está apto a receber tal conhecimento.

Se alguém deseja me seguir, que não seja intoxicado pelos pensamentos e desejos terrestres, mas que seja cingido pela espada do Espírito, pois terá que descer à terrível profundidade, por não dizer ao meio do reino do inferno. É muito duro lutar contra o demônio entre o céu e a Terra, por ele ser um poderoso senhor. Durante tais batalhas, passei por experiências amargas que encheram meu coração de dor. Freqüentemente, o Sol desaparecia da minha vista, mas depois surgia novamente; e quanto mais o Sol se punha, mais lindo, claro e magnífico era o seu raiar.

A temperatura do Fogo e da Luz é o Elemento Santo ou o movimento na Luz da Unidade. Desta região salina (salitre espiritual e não o salitre terrestre) procedem os Quatro Elementos: na compressão do Mercúrio Ígneo são produzidas a Terra e as Pedras; na Quinta-Essência do Mercúrio Ígneo, o Fogo e o Céu; no Movimento ou impulso o Ar; e na leitura ou interpretação do Desejo pelo Fogo é produzida a Água.

Pela palavra Mercúrio deve-se entender sempre, no sentido espiritual, a atuante, natural e emanada Palavra de Deus, que tem sido a Separadora, a Divisora e a Formadora de toda substância.

Somos todos um só corpo em Cristo e todos temos o Espírito do Cristo ao nosso alcance. Portanto, se penetrarmos o Cristo, poderemos ver e conhecer todas as coisas pelo poder de Seu Espírito).

A emanação da Divina Manifestação em três Propriedades no primeiro Princípio perante a Luz é Natural, mas no segundo Princípio, na própria Luz, é Espiritual.

Não posso descrever a totalidade da Divindade como se fosse um círculo, porque Deus é imensurável. No entanto, a Divindade não é inconcebível ao espírito que repousa no amor de Deus. Tal espírito pode atingir a verdade eterna, de parte em parte, e, desta forma, acabará compreendendo a totalidade.

O Mundo dos Quatro Elementos – produzido a partir dos dois Mundos interiores é um espelho deles onde Luz e Trevas e Bem e Mal estão misturados – não é Eterno, mas tem um Princípio e um Fim.

É preciso observar muito bem e considerar o Mundo Espiritual oculto através do mundo visível, pois sabemos que o Fogo, a Luz e o Ar são continuamente produzidos nas profundezas deste Mundo. Não há descanso ou interrupção desta produção. Assim tem sido desde o início do mundo.

Se tenho que tornar compreensível a geração eterna, a revelação ou a evolução de Deus fora de Seu próprio Ser, sou obrigado a usar uma maneira diabólica (sabidamente errônea), como se a Luz Eterna tivesse se inflamado nas trevas e como se a Divindade tivesse um princípio. Não posso instruí-los de outra forma se pretendo que vocês adquiram uma concepção aproximada da Divindade. Não há nada primeiro e nada depois na geração e evolução, mas ao descrevê-la tenho que colocar uma coisa depois da outra.

O 'Spiritus Mundi' está oculto nos Quatro Elementos – como a Alma no corpo – e nada mais é do que um Poder atuante e imanente que procede do Sol e das Estrelas. Ele reside, encerrado pelos Quatro Elementos, onde sua Obra é espiritual.

 

QUENTE
AR
ÚMIDO
FOGO
5
ÁGUA
SECO
TERRA
FRIO

Formação dos Quatro Elementos

 

Não podemos falar a língua dos anjos. Mesmo se pudéssemos tudo pareceria como se estivéssemos falando sobre seres criados para os habitantes deste mundo; diante da mente terrestre se apresentaria como algo terrestre. Somos apenas parte do Todo; só podemos conceber e falar de partes, mas não do Todo.

Todo o mundo visível é uma mera região seminal atuante. Todas as coisas têm uma inclinação e uma aspiração em relação à outra; o mais elevado sobre o menos elevado e vice-versa, pois estão separados um do outro. Nesta ânsia eles se abraçam no desejo.

Advirto ao leitor que toda vez que eu falar da Divindade e de seu grande mistério, não compreenda o que digo como se pretendesse que fosse compreendido em um sentido terrestre, mas tome isso de um ponto de vista elevado, em um aspecto supranatural. Freqüentemente sou forçado a dar nomes terrestres ao que é celeste para que o leitor possa formar um conceito, e ao meditar sobre ele possa penetrar no fundamento interno.

O homem – que é tão nobre em imagem e que tem sua região no Tempo e na Eternidade – deve refletir muito bem sobre si mesmo, e não se lançar precipitado e cegamente em busca de seu lugar de origem longe de si mesmo; ele está consigo mesmo, embora coberto com a espessura dos Elementos e pela luta entre eles.

Quando a luta entre os Elementos cessar – pela morte do corpo espesso – então o Homem Espiritual se manifestará. Ele pode nascer na Luz e para a Luz ou nas Trevas e para as Trevas.

Dentro do não-fundamento (que alguns escritores denominam de ‘Não-Ser’ – um termo sem nenhum significado) não há nada senão tranqüilidade eterna, um eterno repouso sem começo e sem fim. É verdade que mesmo ali Deus tem uma Vontade, mas essa Vontade não pode ser objeto de nossa investigação, já que qualquer tentativa de investigá-La produziria pura confusão em nossa mente. Concebemos essa Vontade como constituindo o fundamento da Divindade. Ela não tem origem, mas se concebe a si mesma em si mesma.

O corpo espesso externo dos quatro Elementos não vai herdar o Reino de Deus, mas herdará, sim, aquele que nasceu do Elemento, ou seja, da manifestação e da Atuação Divina. Certamente este herdeiro não é o corpo de carne e da vontade do homem, mas aquele formado pelo 'Archæus' celeste neste Corpo espesso que é sua casa, ferramenta e instrumento. Quando a crosta for retirada, aparecerá a razão de sermos chamados, aqui, de homens, ainda que alguns de nós não passemos de bestas. E mais ainda: alguns são piores do que bestas.

A Inteligência Divina é uma vontade livre. Ela nunca se origina do poder ou através do poder de qualquer coisa. Ela é Ela mesma e reside unicamente dentro de Si sem ser afetada por qualquer coisa, porque não há nada fora ou anterior à Ela.

Ninguém deve confiar demais em sua razão e na inteligência aguçada, pois isto nada mais é do que a constelação das estrelas externas que seduzem o homem ao invés de levá-lo à unidade de Deus. A razão deve se submeter completamente a Deus para que o 'Archæus' possa ser revelado e para que isto atue e atraia uma verdadeira região de compreensão espiritual, uniforme com Deus, onde o Espírito de Deus será revelado e trará a compreensão até Deus. E então, nesta região, 'O espírito investiga todas as coisas, mesmo as mais profundas coisas de Deus', como disse São Paulo.

A Liberdade Eterna possui a Vontade e é a Vontade. Na Vontade há um desejo de realizar ou um impulso de desejar alguma coisa. Não há nada além dessa Vontade para o que tal impulso pudesse ser dirigido. A Vontade, portanto, vê em Si mesma como na eternidade; ela vê o que é, e assim cria em Si um espelho.

Deus é a eterna, imensa e incompreensível Unidade que se manifesta em Si mesma, de Eternidade em Eternidade, pela Trindade. É Pai, Filho e Espírito Santo em uma atuação tripla. A primeira emanação e manifestação desta Trindade é o Verbo Eterno, ou o pronunciamento da Virtude e do Poder Divino. A primeira substância pronunciada deste Poder é a Sabedoria Divina, que é a substância através da qual o Poder atua. Da Sabedoria flui o Poder e a Virtude da respiração que entra na separabilidade (sic) e na formação manifestando o Poder Divino em suas Virtudes. Estes Poderes e Virtudes separáveis transformam-se em um Poder de Recepção para sua própria perceptibilidade; e da perceptibilidade surge a própria Vontade e o Desejo; esta Vontade é a região da Natureza Eterna que invade com o Desejo as Propriedades tão longe quanto o Fogo. No Desejo está a origem das trevas; no Fogo a unidade eterna se manifesta com a Luz, na Natureza Ígnea. Os anjos e as almas têm sua origem nesta propriedade ígnea e na propriedade da Luz, que é a Divina Manifestação.

As Trevas se tornam substancial em si mesmas. A Luz também se torna substancial no Desejo Ígneo. Ambas formam dois Princípios, ou seja, a Ira de Deus nas trevas e o Amor de Deus na luz; cada qual trabalha por si mesmo e só há uma diferença entre eles, aquela que há entre o dia e a noite. Ambos possuem uma única região e um é sempre a causa do outro; um se faz conhecido e manifestado do outro, como a Luz do Fogo.

Todas as criaturas mundanas nada mais são do que uma substância do mundo exterior, exceto o homem, criado tanto do tempo como da Eternidade – do Ser de todos os Seres – e feito uma imagem da Manifestação Divina.

O Poder e a Virtude do Fogo e da Luz são chamados de Tintura, e o movimento desta Virtude de Elemento Santo e Puro.

Deus é a Vontade da Sabedoria Eterna, a Sabedoria eternamente gerada Dele, em Sua revelação. Essa revelação ocorre através de um Espírito Ternário. Primeiro através da Vontade Eterna, em seu aspecto de Pai; depois, através da Vontade Eterna em seu aspecto de amor divino, o centro ou o coração do Pai; e, finalmente, através do Espírito, o poder que emana da Vontade e do Amor.

O Paraíso Eterno está oculto neste mundo, na região interna, mas se manifesta no interior do homem, onde opera o Poder e a Virtude de Deus.

Neste mundo só irão perecer os Quatro Elementos juntamente com o céu estrelado e as criaturas terrenas, ou seja, a vida grosseira e exterior de todas as coisas. O Poder e a Virtude interna de todas as substâncias permanecem eternamente.

O Pai é a Vontade do não-fundamento (Absoluto). Essa Vontade concebe em Si mesma o desejo de se manifestar. Esse Amor ou Desejo é o Poder concebido pela Vontade ou Pai, dentro de Si – ou seja, o Filho, coração ou morada (a primeira fundação dentro da não-fundação ou não-fundamento), o primeiro princípio dentro da Vontade. A Vontade é falada através da concepção de Si mesma, e essa emissão da Vontade em fala ou respiração é o Espírito da Divindade.

Deus manifestou o 'Mysterium Magnum' do Poder e Virtude de seu Verbo. Neste 'Mysterium Magnum' toda a criação permanecia em essência, sem forma, no temperamento. Por Ele, Deus pronunciou as formações espirituais na separabilidade (sic) (variedades). Em tais formações as ciências dos Poderes e das Virtudes no Desejo, isto é no 'FIAT', permaneceram, onde cada ciência, no desejo de manifestação, transformou-se em uma Substância Corpórea. Tal 'Mysterium Magnum' também reside no homem, ou seja, na Imagem de Deus, e é o Verbo Essencial do Poder de Deus, de acordo com o tempo e a eternidade, através do qual a Palavra viva de Deus se pronuncia, ou se expressa, tanto no Amor como na Ira ou na Concepção. Tudo, assim como o 'Mysterium', se encontra num desejo móvel para o bem ou para o mal. Assim são as pessoas, assim é o Deus que elas possuem. O 'Mysterium' está despertado no homem, em qualquer propriedade que seja. Deste modo, seu verbo também se revela a partir de seus poderes. Estamos cansados de saber que nada além da futilidade se revela do que é ruim. Louvado seja o Senhor e todas as suas obras. 'Halleluyah'.

A primeira vontade inconcebível, sem qualquer origem, gera em si mesma o único e eterno Deus – uma vontade conceptível, sendo o filho da vontade sem causa, mas igualmente eterna com a primeira. Esta outra vontade é a sensibilidade e a conceptibilidade da Vontade Primordial pela qual aquilo que não é nada se encontra como sendo algo. Ao fazer isso, a vontade inconcebível sem causa emerge o que encontrou eternamente, penetrando em um estado de meditação eterna sobre seu próprio ser. A primeira Vontade sem causa é chamada de Pai eterno; a Vontade concebida e gerada do não fundamento é seu Filho congênito; a emissão da Vontade insondável através do Filho concebido é o Espírito. Assim, a Vontade única do Absoluto – através da concepção primeira, eterna e sem princípio – manifesta uma atividade ternária, mas permanece sendo uma vontade indiferenciada.

A primeira atividade em Deus é a Contemplação Divina ou Sabedoria, pela qual o Espírito de Deus, com seus poderes exalados, atua como um poder único e uniforme. Não tem começo nem fim, mas é infinito, e seu poder formativo não tem limites.

A palavra Ciência não é tomada por mim da mesma forma que os homens compreendem a palavra 'Scientia' da Língua Latina como em outras Línguas; pois toda palavra – em sua impressão, formação e expressão – fornece a verdadeira compreensão sobre o que uma determinada coisa é de tal forma denominada. Os homens entendem por Ciência alguma habilidade ou conhecimento, onde se diz a verdade mas não se explica completamente o significado. A Ciência é a raiz do centro de impressão do nada em alguma coisa; como quando a vontade da profundidade atrai a si mesma, para si mesma e para um centro de impressão, ou seja, para o Verbo, surgindo então a verdadeira Compreensão. A vontade está na separabilidade (sic) da Ciência e aí se separa da compactação impressa. Os homens, antes de tudo, compreendem a essência onde a Ciência está separada. Esta separabilidade (sic) se imprime numa Substância. A Essência é um poder e uma virtude substancial, mas a Ciência é um poder e uma virtude móvel e incerto, assim como os sentidos; de fato ela é a Raiz dos Sentidos. Ainda que se entenda por Ciência uma compreensão, não há uma percepção, mas uma causa da percepção. Desta forma, quando a compreensão se imprime na mente, necessariamente deve ter havido em primeiro lugar uma causa que deu origem a mente por onde flui a compreensão até a sua contemplação. Depois disto, podemos dizer que esta Ciência é a Raiz da Mente Ígnea, e é, em poucas palavras, a raiz de todos os 'Princípios Espirituais'; é a região de onde surge a vida. Não poderia dar à Ciência um nome melhor. Este produz uma completa harmonia e concordância nos sentidos, pois a Ciência é a causa pela qual a profunda Vontade Divina se compacta e se imprime em a natureza para a separável (variada), inteligível e perceptível vida da compreensão e distinção. Na impressão da Ciência, por onde a Vontade a atrai para Si, surge a vida natural e o Verbo de toda a vida original. A distinção ou separação a partir do Fogo deve ser compreendida da seguinte maneira: A Ciência Eterna, na Vontade do Pai, atrai a Vontade (dentro de si mesma) que passa a ser chamada de Pai e se fecha formando um Centro de Geração em um Verbo de compreensão; neste pronunciamento encontra-se a separação da Ciência. E em toda separação há o desejo de impressão da expressão; a impressão é essencial e é chamada de Essência Divina. A partir desta Essência o Verbo se expressa na segunda separação, isto é, na Natureza, e nesta expressão (onde a Vontade Natural se separa no seu Centro) transforma-se num preceito. Assim se explica a separação da Ciência Ígnea, pois aqui surgem a Alma e todos os Espíritos Angélicos. A terceira Separação ocorre segundo a Natureza externa do Verbo, expresso e formado onde reside a Ciência Bestial.

Ó Tu, grande Deus intocável, Senhor de todas as coisas; Tu que, em Jesus Cristo, por grande amor para conosco, manifestastes a Ti mesmo, com Tua santa substância, em nossa humanidade: Eu, pobre, pecador e indigno miserável, venho diante de Tua presença, manifestada na humanidade de Jesus Cristo, embora não seja digno de levantar os olhos a Ti, reconhecendo e confessando diante de Ti que sou culpado de infidelidade, de romper com Teu grande amor e graça que Tu assegurastes livremente a nós. Abandonei o pacto, que pela graça Tu fizestes comigo no Batismo, pelo qual me recebestes como criança e herdeiro da vida eterna; coloquei meu desejo na vaidade deste mundo, e com ela empurrei minha alma a um desfiladeiro, tornando-a bestial e terrestre. Com isto, minha alma não conhece a si mesma, por causa do lodo de pecados; mas se considera uma criança estranha diante de Tua face, indigna de desejar Tua graça. Repouso na culpa e na corrupção do pecado, e a vaidade de minha carne corrupta inunda minha alma; tenho não mais do que uma centelha de fôlego vivificante em mim, que deseja Tua Graça. Estou morto no pecado e na corrupção, e, nesta condição miserável, não ouso sequer levantar os olhos a Ti.

A sabedoria coloca-se diante de Deus como um espelho ou reflexo, onde a Divindade vê seu próprio ser e todas as grandes maravilhas da eternidade, que não têm começo nem fim, no tempo, cujo princípio e fim são eternos. A sabedoria é uma revelação da Santíssima Trindade; isso não deve ser compreendido como se ela revelasse a si mesma à Deus, através de seu próprio poder ou escolha, mas o centro divino, o coração e essência de Deus torna-se revelado nela. Ela é como um espelho da Divindade, e como qualquer outro espelho simplesmente permanece quieta; ela não produz imagem alguma, mas simplesmente a concebe.

Ó Deus em Jesus Cristo, Tu que por causa de pobres pecadores Te tornastes homem para socorrê-los, a Ti lamento, para Ti ainda tenho um pequeno refúgio em minha alma. Não considerei a Tua herança, garantida a nós pobres homens através de Tua morte amarga, mas me fiz parte da herança da vaidade, na fúria de meu Pai no curso da Terra, e mergulhei no pecado. Encontro-me quase que morto para Teu Reino. Permaneço na fraqueza enquanto Tua força e a morte colérica me aguardam. O Gênio do Mal me envenenou a fim de que eu não conheça meu Salvador. Tornei-me um galho selvagem em Tua árvore, e consumi, com os porcos do demônio, minha herança que está em Ti. O que direi diante de Ti, eu que não sou digno de Tua Graça? Permaneço no sono da morte que me cativou, e me encontro atado por três fortes correntes. Ó Tu que Interrompes através da morte, assista-me. Eu Te imploro. Não posso, não sou capaz de fazer nada! Estou morto em mim mesmo, não tenho força diante de Ti. De tanta vergonha, não ouso levantar os olhos diante de Ti. Sou o degradante guardador de porcos, e gastei minha herança com a falsa e adúltera prostituta da vaidade, na luxúria da carne; busquei a mim mesmo em minha própria luxúria, e não a Ti. Agora, me tornei um tolo; estou nu e exposto; minha vergonha permanece diante de meus olhos e não posso escondê-la. Teu julgamento me aguarda. O que devo dizer diante de Ti, que és o Juiz de todo o mundo? Nada tenho para trazer diante de Ti. Permaneço aqui, nu e exposto em Tua presença, e caio diante de Tua face lamentando minha miséria. Recorro à Tua grande misericórdia, embora dela não seja digno; recebe-me ainda que em Tua morte, e me deixe apenas morrer da minha morte na Tua. Oro para que Tu me arranques do solo de meu ser inato, e mate este meu ser através de Tua morte, a fim de que eu não viva mais para mim, visto que não opero em mim mais do que o pecado. Portanto, rogo a Ti: arranca da Terra esta besta fraca que está cheia de fraudes falsas e de desejo próprio. Liberta esta minha pobre alma destas pesadas amarras.

A Sabedoria é a Palavra revelada do Poder Divino, do conhecimento e da santidade, uma antítese da insondável Unidade na essencialidade onde o Espírito Santo forma uma imagem. Ela é passiva, mas o Espírito de Deus é ativo, como a alma no corpo.

O Espírito ternário é uma unidade, um único ser. Falando mais corretamente: não um ser, mas Razão eterna; conseqüentemente um mistério comparável à inteligência do homem, que também é incompreensível.

Deus, em seu aspecto primitivo, não deve ser concebido como um Ser, mas como um poder ou inteligência constituindo a potencialidade para ser – uma Vontade insondável e eterna na qual tudo está contido. Embora tudo seja um, Ele deseja se revelar e entrar em um estado de ser espiritual. Isso ocorre através do Fogo no desejo do amor, ou seja, no poder da Luz.

Não temos porque falar que Deus é três pessoas, mas Ele é trino em sua evolução eterna. Ele dá nascimento a Si mesmo na Trindade; nesse desdobramento eterno continua sendo um Ser, nem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo, mas unicamente a Vida Eterna ou Deus. A Vontade ternária torna-se compreensível em Sua eterna revelação só quando Ele revela a Si mesmo por meio da natureza eterna – ou seja, na Luz através do Fogo.

Sobre a eternidade não podemos falar de outra forma senão como de um Espírito, pois tudo era Espírito no princípio; mas esse Espírito também tem se envolvido num Ser, desde toda a eternidade.

Aquilo que é tranqüilo e sem ser repousa em si mesmo. Não contém as trevas, mas é uma felicidade lúcida, clara e calma. Isso é, pois a eternidade, sem nada mais, e significa, acima de tudo, Deus. Mas como Deus não pode existir sem um Ser, Ele concebe em Si mesmo uma Vontade, e essa Vontade é Amor.

A totalidade do Ser Divino está em um estado de contínua e eterna geração, comparável à mente de um homem, mas imutável. Os pensamentos nascem continuamente da mente de um homem, e deles surgem o desejo e a vontade. Do desejo e da vontade surge a ação, e as mãos realizam suas obras, de modo a se tornar substancial. Desta forma, a ação está com a evolução eterna.

Ó Deus misericordioso: é pertencendo ao Teu amor e longo sofrimento que ainda não me encontro no inferno. Submeto-me, com toda minha vontade, sentido e mente, à Tua graça, e rogo à Tua misericórdia. Clamo a Ti através de Tua morte, daquela pequena chispa de vida em mim, rodeada pela morte e pelo inferno, que abrem suas gargantas contra mim, prestes a me engolir totalmente na morte. A Ti clamo, Tu que prometestes que não irias extinguir o linho. Não tenho outro caminho a Ti senão o de Tua própria e amarga morte e paixão, porque Tu tornastes nossa morte em vida pela Tua humanidade quebrando as correntes da morte. E, portanto, mergulho o desejo de minha alma em Tua morte, no portão de Tua morte, que Tu rompestes para abrir.

Ó Tu, grande fonte do amor de Deus, eu Te imploro: auxilia-me, a fim de que possa morrer para a vaidade e para o pecado na morte de meu Redentor, Jesus Cristo.

No princípio, a vontade é fraca como um nada; depois, ela deseja e aspira a ser algo e a se manifestar. Esse nada faz com que a vontade entre em um estado de desejo; esse desejo é uma imaginação. A vontade, observando-se no espelho da sabedoria, faz com que sua própria imagem apareça no não-fundamento, criando o fundamento em sua própria imaginação.

Ó Deus em Cristo Jesus: sou um cego, e não conheço a mim mesmo por causa da vaidade. Tu te tornaste oculto a mim em minha cegueira, e, mesmo assim, Tu estás perto de mim. Mas Tua ira despertada pelo meu desejo me encheu de trevas. Oh! Toma senão o desejo de minha alma para Ti; prova-o, Ó Senhor, e esmaga-o a fim de que minha alma possa obter um raio da Tua doce Graça.

A Sabedoria, a virgem eterna, a companheira de Deus para Sua honra e alegria, torna-se cheia de desejo de observar as maravilhas de Deus, contidas em si mesma. Devido a esse desejo, as essências divinas dentro dela tornam-se ativas e atraem o Santo Poder. É assim que a sabedoria entra em um estado de ser permanente; sua inclinação repousa no Espírito Santo. Ela simplesmente movimenta-se diante de Deus com a finalidade de revelar as maravilhas de Deus.

Permaneço diante de Ti como um homem que está morrendo, cuja vida está deixando seus lábios, como uma pequena chispa que se vai; inflama-a, Ó Senhor, e faze surgir a vida de minha alma diante de Ti. Senhor, eu espero a Tua promessa, que fizestes dizendo: 'Enquanto Eu viver, não viverei a morte de um pecador, mas que ele se volte e viva.' Mergulho na morte de meu Redentor Jesus Cristo, e espero por Ti, cuja Palavra é verdade e vida. Amém.

A corporalidade de Deus resulta de Sua essencialidade. Essa essencialidade não é espírito, mas é como se fosse uma impotência, se comparada com o poder onde o Três reside. Essa essencialidade é o elemento de Deus, onde está a Vida, mas não a inteligência.

Ó Tu, Vida da minha carne e da minha alma em Cristo meu Irmão: rogo a Ti na fome de minha alma, imploro com todos os meus poderes, ainda que sejam fracos, dá-me aquilo que prometeste e livremente conferiu a mim em meu salvador Jesus Cristo, Sua Carne por alimento, Seu Sangue por bebida, para aliviar minha pobre alma faminta, a fim de que possa ser vivificada e fortalecida no Verbo que se tornou homem, o qual deve almejar e desejar.

O Um não tem nada em si que poderia desejar; tal Unidade tampouco poderia sentir o seu próprio ser. Isso só é possível em um estado de dualidade.

Ó Jesus Cristo, Filho de Deus e homem, rogo para que Tu recebas a herança adquirida, dada por Teu Pai. Clamo em mim para que possa entrar em Ti através de Teu Santo Sangue e morte. Abre-Te em mim, para que o espírito de minha alma possa Te alcançar e Te receber em seu interior. Que a minha sede seja a Tua sede; traga Tua sede diante dos homens, aquela que tivestes na cruz. Que ela seja a minha sede, e que seja aliviada com Teu Sangue. Que a morte em mim – a qual me mantém cativo – seja submergida no Sangue do Teu amor, e que minha extinta ou suprimida imagem, desaparecida em meu pai Adão, para o Reino do céu através do pecado, possa se tornar viva através de Teu poderoso Sangue, e que minha alma seja novamente revestida por ela, assim como com o novo corpo que habita no céu. Imagem na qual habita Teu Santo Poder e o Verbo que se fez homem, imagem que é o Templo do Espírito Santo, que habita em nós, de acordo com a Tua promessa: Viremos a Vós, e com Vós faremos a nossa morada.

Se não houvesse angústia a alegria não poderia ser conhecida.

Deus introduz Sua Vontade em a natureza a fim de revelar Seu Poder na luz e na majestade, para constituir um reino de alegria. Se não houvesse uma natureza se originando na Unidade Eterna, não haveria nada mais do que a tranqüilidade eterna. A natureza entra em um estado de dor, a tranqüilidade transforma-se em movimento, e os poderes tornam-se audíveis como as palavras.

Ó Tu grande amor de Jesus Cristo, não posso fazer mais do que mergulhar meu desejo em Ti. Teu Verbo que se tornou homem é verdade. Tu ordenaste que eu viesse; venho agora. Que seja de acordo com Teu Verbo e Vontade. Amém.

A Vida-Luz tem seu impulso e movimento próprio, assim como o Fogo-Vida; mas esse gera a primeira, que é o senhor da segunda. Se não houvesse Fogo, não haveria nem Luz nem Espírito; e se não houvesse Espírito para soprar sobre o Fogo, esse seria extinto e as trevas governariam. Nenhum dos dois seria nada sem o outro; ambos são dependentes um do outro.

Profundo amor de Deus em Cristo Jesus: não me deixes nesta aflição. Confesso, sou culpado dos pecados que agora surgem em minha mente e consciência; se Tu me abandonares irei perecer. Mas não prometestes a mim, em Tua palavra, dizendo: Se uma mãe pudesse esquecer seu filho, o que dificilmente poderia ocorrer, ainda assim Tu não me esquecerias? Tu me colocaste como um sinal em Tuas Mãos, transpassadas com pregos afiados, em Teu lado aberto, de onde correram Água e Sangue. Pobre miserável que sou, fui pego em Tua ira, minha habilidade nada vale diante de Ti, mergulho em Tuas chagas e morte.

A Vontade é como uma vida insensível, mas encontra o desejo, e querendo o desejo se constitui em um Ser. A Vontade é superior ao desejo, pois embora o desejo seja uma causa excitante para a Vontade, a Vontade é uma vida sem uma causa e é também inteligência. É, portanto, senhora do desejo. Ela rege a vida do desejo e o usa como convém. Essa Vontade-Espírito eterna sabemos ser Deus, mas a vida ativa do desejo é a natureza eterna.

Deus é, desde a eternidade, Poder e Luz, e é chamado Deus por causa disso, mas não de acordo com o Espírito-Ígneo. Quanto a esse, não falamos dele como Deus, mas como ‘a cólera de Deus’ e a parte de Seu Poder que consome. A Luz de Deus também possui a qualidade do Fogo, mas Nela a cólera é transformada em Amor; ódio e amargor doem em numa humilde beneficência e em um doce desejo ou satisfação.

Lanço-me a Ti, Tu reto juiz, através da angústia de meu Redentor Jesus Cristo, quando Ele, realmente suou Sangue, suou no Monte das Oliveiras por minha causa. Foi condenado por Pôncio Pilatos por mim; sofreu com a coroa de espinhos, enterrada em Sua cabeça, a fim de derramar Seu sangue.

A fonte do amor é detentora e mantenedora da corrente colérica, um superar do poder áspero, pois a brandura afasta o comando do poder duro e pungente do Fogo. A Luz da Paz mantém as trevas aprisionadas e reside nas trevas. O poder rigoroso deseja unicamente o colérico e o aprisionamento na morte; mas a brandura emerge como um doce crescimento desabrochando e superando a morte, dando a Vida Eterna.

Ó grande Amor! Pelo Sangue e pela morte de Jesus Cristo, eu Te imploro: rompe a fortaleza da presa que o demônio criou e construiu em mim, onde ele me impede de seguir o caminho da graça. Conduze-o para fora de mim, a fim de que não me domine, pois nenhum ser vivo pode permanecer diante de Tua vista se Tu dele tirares a Tua Mão.

Quando o Amor se revela na Luz através do Fogo, corre pela natureza e a penetra como o brilho do Sol penetra em uma erva ou o fogo penetra o ferro.

Quando a Nobre Sophia2 (Sabedoria Eterna) beija a alma com seu amor oferecendo-o a ela. Ó graciosíssimo e profundo amor de Deus em Cristo Jesus!

Rogo que Tu me concedas a Tua Pérola, imprimindo-a em minha alma; toma minha alma em Teus braços.

A Essência eterna, desejando revelar-se a si mesma (para obter autoconsciência), teve que conceber em si uma vontade; mas como em si mesma não havia objeto para sua vontade ou desejo, exceto o Verbo poderoso, que na eternidade tranqüila não existia, os sete estados da natureza eterna tiveram que nascer ali. Daí procede, então, de eternidade em eternidade, o Verbo poderoso, o poder, o coração e a vida da eternidade tranqüila e de sua sabedoria eterna.

Ó Tu, doce Amor! Confesso: sou impuro diante de Ti. Limpa-me através de Tua morte, levando a fome e a sede de minha alma através de Tua morte, em Tua ressurreição, em Teu triunfo! Lança todo o meu ser ao chão em Tua morte: mantém o cativo e leva minha fome em Tua fome.

A primeira Qualidade e a sétima Qualidade devem ser consideradas como uma, assim como a segunda e a sexta, e também a terceira e a quinta; mas a quarta é objeto de divisão. A primeira refere-se ao Pai, a segunda ao Filho e a terceira ao Espírito Santo.

 

 

 

 

Não imaginem esses Sete Espíritos como as estrelas, vistas uma ao lado da outra no céu; todos são como que Um Espírito. Da mesma forma, o corpo do homem possui vários órgãos, mas cada órgão participa do poder dos outros.

Sabe-se que um único espírito não pode gerar outro, mas o nascimento de um espírito resulta da cooperação de todos os Sete. Seis deles sempre geram o Sétimo, e se algum deles estivesse ausente os outros não poderiam estar presentes.

Todos os Sete Espíritos de Deus nascem um nos outros. Um dá origem ao outro; não há primeiro ou último. O último gera o primeiro, assim como o primeiro gera o segundo, o terceiro gera o quarto, até o último. Todos os Sete são igualmente eternos.

Ó Amor Altíssimo, não apareceste em mim? Fica em mim; inclui-me em Ti a fim de que eu não seja capaz de me afastar de Ti. Sacia minha fome com Teu amor, alimenta minha alma com Tua substância celeste, dá a ela o Teu sangue para que ela beba e se lave em Tua Fonte.

Cada qualidade do espírito deseja a outra, e quando ela adquire esse objeto, torna-se como se tivesse sido transformada na outra; mas sua própria qualidade não se perde, simplesmente se adapta à outra e manifesta um outro tipo de angústia (consciência), mas ambas mantêm suas próprias qualidades especiais.

Ó grande amor! Desperta em mim minha imagem desaparecida, que assim como o reino do céu, desapareceu em meu pai Adão. Com aquele Verbo que despertou a mesma imagem na Semente da Mulher em Maria, vivifique-a, eu te imploro.

Quando o quarto princípio penetra o primeiro, todos os espíritos misturam sua luz, triunfo e regozijo. Eles surgem uns nos outros, e envolvem cada um como num movimento circular; a luz no meio deles começa a brilhar oferecendo-lhes a luminosidade. A qualidade áspera permanece oculta como uma semente na fruta. Assim como uma maçã amarga ou azeda se transforma ao amadurecer sob o Sol adquirindo um sabor adocicado, ainda que mantenha as características que a constitui como maçã, a Divindade retém suas próprias qualidades essenciais, mas elas se tornam manifestas de forma doce e agradável.

Fortalece-me, ó doce Amor, em Tua força. Vivifica-me em Ti, a fim de que meu espírito possa provar Tua doçura. Acredita em mim pelo Teu Poder, pois sem Ti nada posso fazer.

Ó minha nobre Vinha, Te suplico, dá seiva a mim, Teu ramo, a fim de que eu possa florescer e crescer em Tua força e seiva, em Tua essência. Gera em mim a verdadeira força pela Tua força.

Todos os Sete Princípios são espirituais dentro da natureza eterna, e ali aparecem em uma substancialidade translúcida, cristalina e clara.

Os Sete Candelabros na Revelação de São João referem-se aos Sete Espíritos na Divindade e também às Sete Estrelas. Os Sete Espíritos estão no centro do Pai, ou seja, no Poder do Verbo. O Verbo transforma a cólera em doce satisfação e lhe confere a forma de um oceano cristalino; ali os Sete Espíritos aparecem numa forma que queima, como sete tochas luminosas.

A primeira qualidade é o desejo. Ela pode ser comparada com a atração magnética, é a compreensibilidade da vontade. A vontade se concebe como algo. Por esse ato de impressão ou contração ela encobre a si mesma e se torna treva.

Estou mergulhado na vaidade, neste vale de miséria, neste exterior, no sangue e na carne terrestres. Minha alma e minha nobre imagem, semelhante a Ti, estão cercadas de inimigos por todos os lados; com o desejo do demônio contra mim, com o desejo da vaidade na carne e sangue; há também a oposição de todos os homens que não conhecem Teu nome. Flutuo com minha vida exterior nas propriedades das estrelas e dos elementos, meus inimigos mentem e me esperam em todos os lugares, interna e externamente, junto com a morte, a destruidora desta vida vã. Busco a Ti, ó Santa Força de Deus, vendo que Te manifestastes com Tua misericórdia em nossa Humanidade, através de Teu Santo Nome Jesus, e que o concedestes a fim de que fosse nossa companhia e guia. Imploro a Ti, deixa que os anjos de Jesus, seus administradores, assistam minha alma e a dos meus, acampando perto de nós, defendendo-nos das flechas agudas do desejo do fraco, que nos lança diariamente, pelo curso da cólera de Deus, despertada em nossa carne terrestre. Afasta, por Tua força divina, a influência maligna das estrelas em oposição, por onde o fraco e inimigo da Humanidade se mistura com seu desejo e imaginação, a fim de envenenar a alma e a carne, nos atraindo a desejos falsos e demoníacos, para a enfermidade e a miséria.

Não há vida ativa ou inteligência; trata-se meramente do primeiro princípio da substancialidade, ou o primeiro começo do transformar-se.

O desejo é uma qualidade (contrativa) atraente, adstringente e ácida. É um poder ativo, e sem ele nada haveria senão tranqüilidade. Ele se contrai e se preenche de si mesmo; mas aquilo que é atraído constitui nada mais do que trevas, um estado que é mais compacto do que a Vontade original, sendo essa tênue como um nada, mas depois se torna plena e substancial.

Jesus: afasta as influências demoníacas de nossas almas e espíritos com Teu Santo Poder; deixa que Teu santo e bom anjo fique perto de nós afastando os efeitos nocivos de nossos corpos.

O movimento divide e atrai o desejo causando a diferenciação, o que acaba despertando a verdadeira vida.

A dureza (solidez) e o movimento da vida são opostos. O movimento rompe a solidez (expande), e através da atração também causa dureza (contrai).

O Desejo, sendo uma forte atração, causa a liberdade etérea, que é comparável a um nada, para contrair e entrar em um estado de trevas. A vontade primitiva deseja ser livre das trevas, pois deseja a Luz. A vontade não pode reter essa Luz, e quanto mais ela deseja a liberdade maior será a atração causada pelo desejo.

Ó Emanuel! Tu, Câmara de Núpcias, Deus e Homem: eu me rendo aos braços de Teu desejo para conosco, em nós. És Tu quem desejo. Apago em mim a cólera de Teu Pai com Teu amor; manifesto Tua força em minha fraqueza, para que possa subjugar e dominar o mal da carne e do sangue, para então servir a Ti em santidade e retidão.

Deve haver uma oposição, pois a vontade não deseja ser trevas, e este mesmo desejo causa as trevas. A vontade ama o excitamento causado pelo desejo, mas não ama a contração e o obscurecimento. A vontade propriamente dita não se torna obscura, apenas o desejo que nela existe. O desejo está nas trevas, e, portanto uma grande angústia resulta dentro da vontade, na medida em que o desejo pela liberdade se fortalece; mas por esse desejo torna-se mais áspera e obscura.

A terceira qualidade, a angústia, é desenvolvida da seguinte maneira: a adstringência é fixa, o movimento é volátil; uma qualidade é centrípeta, outra centrífuga. Mas como são um e não podem se separar uma da outra (nem do seu centro), tornam-se como uma roda giratória onde uma força para cima e a outra força para baixo. A solidez fornece substancialidade e peso, enquanto o 'amargor' (desejo em movimento) fornece espírito (vontade de liberdade) e vida volátil. Tudo isso causa uma circulação de dentro e para fora, sem, no entanto, ter um destino. Aquilo que a atração do desejo faz com que se torne fixo se torna novamente volátil através da aspiração por liberdade. Ocorre então a grande inquietude, comparável a uma loucura furiosa, de onde surge uma terrível angústia.

Pobre homem que sou. Ando cheio de angústia e problemas em meu retorno ao país de origem, do qual perambulei em Adão, para onde estou voltando através dos cardos e espinhos deste mundo atribulado. Ó Deus, meu Pai, os espinheiros me ferem em todos os lados; sou afligido e desprezado por meus inimigos. Eles escarnecem de minha alma, insultando-a como uma malfeitora que com eles rompeu; ridicularizam minha caminhada em direção a Ti, considerando-a uma bobagem. Pensam que sou insensato por cursar este estreito e penoso caminho, por não acompanhá-los em seu amplo e hipócrita caminho.

Quanto mais o primeiro princípio acumular sua aspereza a fim de capturar o segundo princípio, maior a ação desse princípio e mais forte é a fúria e a ruptura. O amargor recusa-se a ser subjugado, mas a vontade (de onde se origina) o aprisiona fortemente impedindo-o de seguir seu impulso. Ele luta para subir, a vontade para descer, pois a adstringência puxa para dentro e se torna pesada. Assim, um luta para surgir, no alto; o outro para mergulhar, em baixo, sendo que nenhum dos dois atinge seu objetivo. Com isso a natureza eterna se torna semelhante a uma roda giratória.

Os três primeiros princípios não são Deus propriamente dito, apenas a Sua revelação. O primeiro destes três estados, sendo um princípio de toda força e poder, origina-se da qualidade do Pai; o segundo, sendo a fonte de toda atividade e diferenciação, surge da qualidade do Filho; e o terceiro, sendo a raiz de toda vida, origina-se na qualidade do Espírito Santo.

Ó querido Emanuel, recebe-me, carrega-me em Ti, através do caminho de Tua peregrinação...

Os antigos diziam que todas as coisas estão contidas no Sal, no Súlfur e no Mercúrio. Isso não se refere tanto às coisas materiais, mas ao aspecto espiritual de todas as coisas, ou seja, ao espírito das qualidades de onde surgem as coisas materiais. Pos Sal compreendiam o desejo metálico e agudo na natureza; Mercúrio simbolizava o movimento e diferenciação do primeiro, através do qual cada coisa torna-se objetiva e entra em formação. Súlfur, a terceira qualidade, significava a angústia da natureza.

O Fogo é originalmente, trevas, aspereza, frio eterno e secura, e não há nada nele senão uma fome eterna. Como então se transforma em fogo? O Espírito de Deus, em seu aspecto de Luz Eterna, vem em auxílio da fome-ígnea. A fome origina-se da Luz porque quando o Poder Divino se espelha nas trevas, essas se tornam cheias de desejo da Luz, e esse desejo é a vontade (da natureza eterna). Mas a vontade ou o desejo na secura não podem atingir a Luz, consistindo, então, de angústia e súplica pela Luz. Essa angústia e essa súplica persistem até que o Espírito de Deus entre como que um raio de Luz”.

Ó grande Deus, tenha misericórdia de Adão e seus filhos, resgate-os em Cristo, o novo Adão.

A liberdade por meio da vontade eterna alcança as trevas, essa alcança a luz da liberdade, mas não pode retê-la. A vontade aprisiona-se pelo próprio desejo que há em si, tornando-se trevas. Dessas duas coisas, ou seja, da impressão de trevas e do desejo da luz ou liberdade, que é direcionado para as trevas, resulta o raio de luz nas trevas, a condição primitiva do fogo. Mas como a liberdade é um nada, e portanto inapreensível, não pode reter a impressão. Assim, a impressão entrega-se à liberdade; essa, por sua vez, devora a natureza obscura da impressão. Assim, a liberdade governa nas trevas, e não é compreendida por ela.

UMA ORAÇÃO PARA O AMANHECER: Abençoa-me, Ó Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, Deus único e verdadeiro. Agradeço a Ti através de Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador, pela Tua preservação em mim , e por todos os outros benefícios. Coloco-me em Tuas mãos, de corpo e alma, assim como tudo o que me designastes fazer em meu trabalho ou chamamento, dentro de Tua proteção. Sê Tu o início de minhas concepções, meus empreendimentos e tudo o que faço. Trabalha Tu em mim, a fim de que eu dê início a todas as coisas para a glória de Teu nome, que eu possa concluir todas elas em Teu amor para o bem e serviço de meu próximo. Envia Teu santo anjo para me acompanhar, para desviar todas as tentações do demônio e da natureza corrupta para longe de mim. Preserva-me da malícia dos homens maus. Faze com que todos os meus inimigos se reconciliem comigo e traze minha mente para Teu vinhedo, a fim de que eu exerça meu ofício em meu trabalho comportando-me como um obediente servo de Tua vinha. Abençoa-me, assim como tudo pelo o que irei passar e fazer neste dia, com a benção de Teu amor e misericórdia. Perdure Tua graça e amor em Jesus Cristo sobre mim, e me dê uma mente alegre para seguir Tuas direções e executar Tuas ordenações. Deixe teu Espírito Santo guiar-me em meu princípio e em meu progresso até o final. Sê a vontade, o trabalho e a realização de tudo em mim. Amém.

UMA ORAÇÃO PARA A NOITE: Ergo meu coração a Ti, Ó Deus, Tu Fonte da Vida Eterna, agradecendo através de Jesus Cristo teu Filho bem amado, nosso Senhor e Salvador, por teres me protegido e preservado neste dia de todo dano que pudesse ter me ocorrido. Coloco ao Teu dispor minha condição e meu trabalho, juntamente com as obras de minhas mãos e humildemente as repouso em Ti. Assim, enche minha alma com Teu espírito, e que nem aquele grande inimigo o demônio, nem qualquer outra má influência ou desejo, possa nela encontrar abrigo. Permite que minha mente apenas se deleite em Ti, em Teu templo, e deixa que Teu anjo bom esteja comigo, para que eu possa descansar com segurança em Teu poder e sob Tua proteção. Amém.

A unidade eterna ou liberdade, per se, é de infinito amor e brandura, mas as três qualidades são ásperas, dolorosas e até mesmo terríveis. A vontade das três qualidades anseia pela unidade branda, e a unidade anseia pelo fundamento ígneo e pela sensibilidade. Assim, um penetra o outro, e quando isso ocorre o raio de Luz aparece, comparável à chispa produzida pela fricção entre a pedra e o aço. É desta forma que a unidade retém a sensibilidade, e a vontade da natureza recebe a unidade suave. Assim. a unidade se torna uma fonte de fogo, e o fogo penetrado pelo desejo, uma fonte de amor.

Quando o Fogo e a Luz espirituais são acesos nas trevas (tendo, contudo, queimado desde a eternidade), o grande mistério do poder e do conhecimento divino revela-se eternamente ali, porque no Fogo todas as qualidades da natureza aparecem exaltadas na espiritualidade. A natureza permanece o que é, mas a sua expressão, ou seja, aquilo que ela produz, torna-se espiritualizado. A vontade obscura é consumida no Fogo, expressando com isso o puro Espírito-Fogo, penetrado pelo Espírito-Luz.

Observe como toda vida, no mundo externo, atrai para si o seu alimento. Irás reconhecer como a vida se origina da morte. Não pode haver vida sem que aquilo de onde a vida se expressa surja em suas formas. Todas as coisas têm que entrar em um estado de angústia para reter o raio de Luz, e sem isso não haverá ignição.

Se algo se torna aquilo que não era antes, isso não se constitui um princípio; um princípio está onde uma forma de vida e movimento começam, o qual não existia anteriormente. Desta forma, o fogo é um princípio, assim como a luz que nasce do fogo, mas que, contudo, não é uma qualidade do fogo, mas tem uma vida própria.

Se a Divindade, de acordo com o primeiro e segundo princípios, é considerada apenas como um espírito, sem qualquer essencialidade concebível, há nela, contudo, o desejo de envolver um terceiro princípio, onde repousa o espírito dos dois primeiros princípios, onde se tornará manifestada como uma imagem.

O Fogo recebendo em si a essência do desejo como seu alimento, a fim de poder queimar, fornece um espírito alegre e abre o poder da humilde essencialidade na Luz.

O Fogo, atraindo para si a humilde essencialidade da luz, emana, através da cólera da morte, o humilde espírito que ali estava, o qual contém em si as qualidades da natureza.

Os primeiros três princípios são meramente qualidades condutoras da vida; o Quarto é vida propriamente dita, mas o quinto é o verdadeiro Espírito. Toda vez que esse poder se envolve do Fogo, vive em todos os outros transformando-os em sua própria natureza doce, de modo que a dor e a inimizade não podem ser encontradas ali, de forma alguma.

A Quinta Qualidade é o verdadeiro Fogo-Amor, que, na Luz, separa-se do fogo doloroso, e onde o Amor Divino aparece como um ser substancial. Ele tem consigo todos os poderes da Sabedoria Divina; é o tronco ou o centro da Árvore da Vida Eterna, onde Deus, o Pai, revela-se em Seu Filho através do Verbo pronunciado.

A Sexta forma da natureza eterna é a vida inteligente ou som. As qualidades, estando em um estado de equilíbrio na luz (a Quinta), agora se regozijam e se tornam audíveis. Com isso, o desejo da unidade entra em um estado de (consciência) querendo e atuando, percebendo e sentindo.

Para constituir a vida audível ou o som dos poderes é necessário solidez e brandura, ou compacidade, delgadeza e movimento. Para constituir o sexto princípio, portanto, se faz necessária a presença de todas as outras qualidades da natureza. A primeira forma fornece a aspereza, a segunda o movimento, através do qual a terceira divisão ocorre. O Fogo transforma a aspereza da essência concebida ao consumi-la num ser espiritual, representando delicadeza e suavidade, e esta se forma em um som, de acordo com as qualidades que contém.

O Sétimo Princípio é a compreensão corpórea das outras qualidades. É chamado de 'Sabedoria Essencial' ou 'O Corpo de Deus'. O terceiro princípio aparece nas sete formas da natureza desde que eles tenham sido trazidos para a compreensibilidade no sétimo. Esse princípio ou estado de ser é santo, puro e bom. É chamado de Eterno Céu Incriado ou de Reino de Deus, e emerge do primeiro princípio, do obscuro mundo-fogo e do santo mundo-amor de Luz Flamejante.

A Sétima forma é o estado de ser no qual todas as outras manifestam sua atividade, como a alma no corpo. É chamada de Natureza, e também de eterna e essencial Sabedoria de Deus.

O sétimo espírito de Deus é o corpo, que nasce dos outros seis espíritos, e nele todas as figuras celestiais tomam forma. Dele surge toda beleza, toda satisfação. Se esse espírito não existisse Deus seria imperceptível.

A Sabedoria é a substancialidade do Espírito. O Espírito dela se reveste, como um ornamento, e assim se revela. Sem a Sabedoria a forma do Espírito não seria conhecida; ela é a corporalidade do espírito. Não se trata de um corpo de substância tangível, como os corpos dos homens, mas contém qualidades visíveis e substanciais que o Espírito per não possui.

A linguagem terrestre é inteiramente insuficiente para descrever o que há de satisfação, felicidade e de amor contidos nas maravilhas internas de Deus. Mesmo se a Virgem Eterna as mostrassem em nossas mentes, a constituição do homem é muito fria e escura para ser capaz de expressar mesmo uma centelha sobre elas em sua linguagem.

Assim como a Terra continua a produzir plantas, flores, árvores, metais e seres de várias espécies, um mais glorioso, forte e belo do que o outro; e como no nosso plano terrestre uma forma aparece enquanto outras perecem, havendo um contínuo trabalho e envolvimento das formas, do mesmo modo a geração eterna com o santo mistério continua ocorrendo com grande poder; em conseqüência dessa contorção de poderes espirituais, os frutos divinos aparecem um ao lado do outro, todos e cada um deles, em uma radiação de belas cores. Tudo aquilo pelo qual estamos rodeados no mundo terrestre não passa de um símbolo terrestre que existe no reino celestial em uma bela perfeição, em um estado espiritual. Não existem ali meramente como um espírito, uma vontade ou um pensamento, mas numa substancialidade corporal, em essência e poder, e aparece inconcebível se comparado com o mundo material externo.

Não é a Sabedoria, mas o Espírito de Deus, o centro ou o revelador. Como a alma está se manifestando em um corpo através da carne, e como a carne não teria poder algum se não fosse habitada por um espírito vivo, da mesma forma a sabedoria de Deus é a corporalidade do Espírito Santo, através da qual ele adquire substancialidade a fim de Se manifestar. A Sabedoria dá a Luz, mas isso não seria possível se o Espírito não atuasse Nela. Ela revela sem o poder da Vida-Fogo, ela não possui desejo ardente, mas sua satisfação encontra sua perfeição na manifestação da Divindade, e, portanto é chamada de virgem em castidade e pureza diante de Deus.

A luz e o poder do sol revelam os mistérios do mundo externo através da produção e do crescimento de vários seres. Da mesma forma, Deus, representando o Sol eterno ou o único e eterno Bem, não se revelaria sem a presença de sua natureza espiritual eterna, único lugar em que pode manifestar seu Poder. Somente quando o Poder de Deus se torna diferenciado e relativamente consciente, de modo que haja poderes individuais combatendo entre si durante seu jogo de amor, se abrirá Nele o grande e imensurável Fogo de Amor, através da aproximação da Santíssima Trindade.

A Vontade Eterna – o Pai– conduz Seu Coração, Seu Filho eterno, pelo Fogo, ao grande triunfo, ao Seu Reino de glória.

Quando o Pai pronuncia Seu Verbo – ou seja, quando Ele gera Seu Filho – o que é feito contínua e eternamente, esse Verbo tem sua origem, em primeiro lugar, na primeira qualidade adstringente, onde se torna concebido. Na segunda qualidade ou qualidade doce recebe sua atividade; na terceira, se movimenta; no calor ele surge e acende o doce fluxo do poder e do Fogo. Todas as qualidades são feitas para queimar pelo Fogo aceso, e o Fogo é por elas alimentado; mas esse Fogo é só um, não muitos. Esse Fogo é o verdadeiro Filho de Deus, que continua nascendo de eternidade em eternidade.

O Pai é o primeiro de todos os seres concebíeis, mas se o segundo princípio não se tornasse manifesto no nascimento do Filho, Ele não seria revelado. Assim, o Filho, sendo o Coração, a Luz, o Amor e a bela e doce Beneficência do Pai, mas sendo distinto Dele em Seu aspecto individual, entrega-se ao Pai reconciliado, amoroso e misericordioso. Seu nascimento ocorre no Fogo, mas Ele obtém sua personalidade e nome pela ignição da luz clara, branca e suave, que Ele próprio é.

O Filho nasce perpetuamente, de eternidade em eternidade, e brilha continuamente nos poderes do Pai, enquanto que esses poderes são continuamente gerados no Filho.

O Pai Eterno manifesta-se no Fogo; o Filho manifesta-se na Luz do Fogo; o Espírito Santo manifesta-se no Poder da Vida e no movimento que emana do Fogo e da Luz.

O Espírito Santo revela a divindade na natureza. Ele estende o esplendor da majestade, a fim de que Ele possa ser reconhecido nas maravilhas da natureza. Ele não é o esplendor propriamente dito, mas seu Poder; Ele introduz esse esplendor da majestade na substancialidade, onde a Divindade é revelada.

Nós, Cristãos, dizemos que Deus é ternário, mas Um em essência. Isso é mal interpretado pelo ignorante ou pelo mal informado, pois Deus não é uma pessoa, exceto em Cristo. Deus é um Poder gerado eternamente...

Ele gera a si mesmo em um aspecto ternário, e nessa geração eterna deve-se compreender uma única essência e geração. Nem o Pai, nem o Filho, mas unicamente a Vida Eterna, ou Deus.

Deus criou os santos anjos, não através de alguma substância estranha a seu próprio Ser. Ele os criou de seu próprio Ser, de Seu Poder e Sabedoria eterna.

Sempre haverá que se fazer uma distinção entre a Divindade e a Humanidade, entre a vontade humana e a Vontade de Deus.

Se um homem diz a si mesmo: ‘Eu, o Verbo vivo de Deus, realizo isso e aquilo, nessa santa carne e osso’, ele desonra o Sagrado Nome de Deus.; Isso também vai contra a doutrina da Bíblia, pois, sempre que o intelecto de um homem foi escolhido para a profecia, o profeta não dizia: ‘Eu, Fulano de Tal, digo isso ou aquilo, mas ‘Assim fala o Senhor!’. Isso significa que o Senhor fala nesse homem e através desse homem, que é Seu intermediário e Seu instrumento.

Não imagine Deus como sendo um poder cego existindo ou se movimentando no céu ou além e acima do céu, desprovido de razão ou conhecimento, comparável ao Sol, que gira em torno de sua órbita, emitindo luz e calor, sem se importar se isso beneficia ou não a Terra e suas criaturas. Não! O Pai não é isso; mas Ele é onipotente, sábio, o Deus que tudo sabe. Nele mesmo, Ele é bom, generoso e misericordioso, alegre e se regozija em Si mesmo.

Se o leitor considerar a profundeza do céu, as estrelas, os elementos e a terra, não irá, com certeza, ver com seus próprios olhos, a Divindade pura e cristalina, embora Deus esteja ali, dentro de tudo isso. Mas se você elevar seus pensamentos e direcionar sua mente a Deus, que em Sua santidade governa com o Todo, estará então penetrando o céu e alcançando o próprio Coração Sagrado de Deus.

Não podemos dizer, verdadeiramente, que este mundo foi feito a partir de algo.

Não podemos supor racionalmente qualquer formação ou diferenciação existente no Eterno UM, da qual, ou de acordo com a qual (formação) algo poderia ser feito; pois se tal forma ou predisposição de fazer uma forma existisse, haveria de ter outra causa, além de Deus, de onde a forma resultaria. Então haveria algo mais (outro deus) e não o Um e eterno Deus.

A criação nada mais é do que a revelação do Deus insondável e essencial e tudo o que existe em sua própria evolução eterna – que não tem princípio – também está nessa criação. Mas a criação está para Deus, assim como uma maçã está para a árvore. A maçã não é a árvore, mas cresce pelo poder da árvore. Do mesmo modo tudo tem sua origem no desejo divino; o desejo é o que O faz entrar em num ser. No princípio não havia nada para produzir o todo, exceto o mistério da geração eterna.

Imagine uma mãe (um ventre) contendo uma semente em si. Enquanto ela contém a semente como tal, esta pertence a ela, mas quando a semente se torna uma criança, então a semente não pertence à ela, mas é propriedade da criança. O mesmo ocorre com os anjos. Todos foram configurados a partir da semente divina; mas depois que isso foi feito cada um possui seu próprio ser corpóreo.

A razão pela qual o Deus imutável criou o mundo é um mistério insondável; só se pode dizer que Ele o fez em seu Amor.

Como é que Deus se movimentou para produzir a criação, sendo Ele imutável, não se sabe, e qualquer tentativa de descobrir só produziria confusão na mente.

Não podemos dizer como é que aquilo que estava eternamente na essencialidade de Deus entrou em movimento, pois não havia nada que pudesse ter feito Deus se movimentar, e a Vontade de Deus é eterna e imutável. Só podemos dizer que o Três estava desejoso de ter filhos de sua própria espécie.

 

 

 

 

Como a Luz e o Coração de Deus, como tais, nada pode ser criado; porque, a Luz é o fim da natureza e não possui qualidade. Portanto, ela não pode mudar ou se tornar algo, mas permanece sempre a mesma na eternidade.

O Deus Trino e eterno criou todas as coisas através do Verbo, de Seu próprio Ser, ou seja, de Seus dois aspectos ou qualidades: da natureza eterna – a fúria ou cólera – e de Seu amor, através do qual, a cólera ou ‘natureza’ era pacificada. Assim, Ele tudo criou, fazendo com que tudo adquirisse uma existência.

O Pai, sendo a Vontade Primordial, pronuncia todas as coisas através do Verbo, do centro da liberdade; mas a emissão do Pai através do Verbo é o Espírito do Poder, e esse Espírito dá forma àquilo que foi falado, a fim de que apareça como um Espírito.

A Sabedoria é uma imaginação divina, onde as idéias dos anjos e das almas foram vistas na eternidade; não como criaturas reais e substanciais, mas não-essencial como as imagens em um espelho.

A semelhança de Deus, tendo sido vista na Sabedoria de Deus desde toda eternidade, e na qual Deus criou o Homem, era sem vida e sem substancialidade antes do princípio dos tempos deste mundo. Era um mero reflexo da imagem onde Deus viu como Ele seria em uma imagem.

O Homem não existe desde a eternidade; mas apenas como uma sombra de uma imagem, onde Deus, em Sua sabedoria, soube de todas as coisas desde a eternidade, no espelho de Sua própria Sabedoria.

As espécies e criaturas são tão variadas quanto os pensamentos eternos na Sabedoria de Deus.

Como os poderes divinos são múltiplos, inumeráveis, há uma diferenciação de idéias e uma diferença entre os anjos; em conseqüência disso, alguns aparecem como reis ou governantes e outros como servos.

Como não há nada perfeito exceto a Árvore Divina, conseqüentemente todas as coisas diferem uma das outras; do mesmo modo, os anjos possuem diferentes qualidades.

A Cólera (o Fogo) é a raiz de todas as coisas e a origem de toda vida; Nela está a causa de toda força e de todo poder, e Dela emanam todas as maravilhas (manifestação de poder). Sem aquele Fogo não haveria consciência e tudo seria um mero nada.

Nenhum ser pode nascer a menos que tenha em si o triângulo ígneo, ou seja, as três primeiras formas naturais.

Tudo existe desde toda eternidade, mas apenas como idéias, não como coisas existentes corporalmente. Somente espíritos incorpóreos existiam (como idéias) na eternidade, como em um mundo de magia, onde uma coisa contém a outra na potencialidade.

A criação dos anjos tem um princípio, mas não aquele dos poderes, de onde foram criados. Esses poderes são coeternos com o Princípio Eterno.

Na eternidade, na Vontade eterna, havia uma natureza, mas ela existia ali apenas como um Espírito, e sua essencialidade não estava manifesta exceto no espelho daquela Vontade, ou seja, na Sabedoria Eterna.

O Mysterium Magnum é o Caos de onde se originam bem e mal, luz e trevas, vida e morte. É o fundamento ou ventre de onde emanam almas, anjos e todos os tipos os outros tipos de seres, onde estão contidos como em uma causa comum comparável à uma imagem que está contida em um pedaço de madeira antes que o artista a corte.

O mundo criado existia antes do Mysterium Magnum, pois todas as coisas se encontravam em uma condição espiritual na Sabedoria, como em uma contínua atividade ou luta de amor. A Vontade única concebeu essa forma espiritual no Verbo, e permitiu a inteligência (a consciência separada, ou seja, a qualidade azeda e adstringente) agir sem restrição, a fim de que cada poder pudesse entrar ou se construir numa forma de acordo com essa própria qualidade específica.

A Mente Eterna está sempre desejosa de poder, e o poder é a adstringência, e a adstringência é a contração, atração, ou o 'Fiat Eterno', que cria e torna corporal aquilo que a Vontade Eterna deseja em sua própria benevolência. A Vontade deseja, através do 'Fiat' agudo, trazer para a substancialidade (tornar objetivo) aquilo que mantém na Sabedoria Eterna.

O Universo, com todos os seus seres, foi criado da natureza eterna, dos Sete Espíritos da Natureza Eterna.

Sempre que algo nasce da Essência Divina, é trazido para a forma, não meramente por um espírito, mas por todos os Sete.

Quando a Divindade se movimentou com o propósito de criar um mundo, movimentou suavemente a qualidade adstringente, contraindo-a no Divino Sal-Nitre.

O centro de cada coisa é Espírito coexistindo com o Verbo. A separação (diferenciação) de algo (através da qual esse algo se distingue do resto) está na qualidade de sua vontade, através da qual assume uma forma ou estado de ser de acordo com seu próprio desejo essencial (predominante)).

Ainda hoje, o ato de criação continua, e não terá fim até a chegada do Julgamento de Deus. Então, aquilo que cresceu na Santa Árvore da Vida irá se separar das ervas e dos espinhos.

Se Deus irá ou não criar algo mais de Sua Vontade, após o fim desses tempos, não é perceptível pelo meu espírito, pois ele não vai além do próprio centro onde habita, e ali é o paraíso e o reino do céu.

Deus, constituindo a Si mesmo um ser criado, assumiu o aspecto de um ser com relação à sua Trindade; e como essa Trindade é o mais elevado e grandioso em Deus, Ele também criou três princípios de anjos (reflexos divinos de Sua própria imagem), superiores a todos os outros. Michael3 representa Deus, o Pai. Ele não era Deus, o Pai propriamente dito; mas há entre os seres criados (os anjos) um que representa Deus, o Pai. O círculo ou espaço onde ele e seus anjos são criados é o seu Reino; ele é um filho amado de Deus, uma alegria para seu Pai. Não o compare com o Coração ou a Luz de Deus, que está na totalidade do Pai, os quais não têm começo nem fim, assim como o Pai. Esse príncipe é um ser criado, e como tal tem um princípio; mas ele está em Deus, o Pai, e se curva a Ele no amor. Portanto, ele usa sobre sua cabeça a coroa da honra, do poder e da força, e a não ser o próprio Deus em Sua Trindade, não se pode encontrar nada no céu que seja maior ou mais bonito ou mais poderoso do que Ele.

Assim como Michael fora criado segundo o tipo e a beleza de Deus, o Pai, Lúcifer fora criado segundo o tipo e a beleza de Deus o Filho, unido à Ele em amor; seu coração repousava no centro da Luz, como se fosse o próprio Deus.

O terceiro rei, Uriel, é formado segundo o tipo e o caráter do Espírito Santo. Ele é um magnífico e belo príncipe de Deus, também unido em amor com os outros príncipes, como num só Coração.

Há sete qualidades principais no Poder Divino, de onde o centro de Deus nasce; da mesma forma há alguns poderosos príncipes angélicos criados, cada um, de acordo com sua qualidade principal, sendo um regente no exército ao qual pertence. Cada um deles está ao lado de seu rei ou arcanjo, o comandante de outros anjos subordinados.

Deus também chamou à existência outros príncipes dos anjos, correspondendo a Sete Espíritos, tais como Gabriel, Rafael etc.

Os anjos possuem entre si uma única Vontade-Amor. Nenhum deles inveja o outro por causa de sua beleza e , se reconhecem ente si como os espíritos de Deus. Eles amam uns aos outros, e nenhum deles sequer imagina superar o outro em beleza; cada um se regozija na beleza e na graça do resto. Quando os espíritos de Deus surgem em sua glória divina, não podem estar amarrados de forma a evitar que se misturem uns com os outros, e os anjos não se limitam pela localidade em que residem. Os espíritos de Deus surgem perpetuamente uns dentro dos outros, e em sua geração eterna, desfrutam de uma contínua troca de amor. Assim, os santos anjos se movimentam uns nos outros e vão juntos em todos os três reinos, de onde cada um recebe de outro, beleza de forma, graça e virtude, felicidade suprema. Mas cada um mantém a posição que lhe pertence, que em seu aspecto, como um ser criado, lhe fora transmitido como sua própria propriedade especial.

Quando Deus criou os anjos, o príncipe do Fogo e da Luz se manifestou. Seu Espírito ou Vida-Angústia tem sua origem no Fogo. Ele foi, então, passado pela Luz, tornando-se ali a Angústia do Amor, através da qual a cólera foi extinta.

Todos os anjos foram criados no primeiro princípio, formados e corporificados pelo Espírito em movimento e iluminados pela Luz de Deus.

Desde toda eternidade a Luz de Deus era clara, doce e graciosa; mas quando Deus se movimentou para criar, a 'matrix', com suas qualidades, amarga, ácida, obscura e ígnea, tornou-se manifesta. Os anjos foram criados desta 'matrix' para a Luz, tornando-se corpóreos pelo Espírito em movimento.

Cada anjo possui em si o poder dos Sete Espíritos primitivos.

O corpo dos anjos, ou seja, sua apreensibilidade, origina-se dos Sete Espíritos, e os espíritos geradores de poder naquele corpo são os Sete Espíritos.

Há uma Vida Superior à vida neste mundo, na eternidade. O espírito deste mundo (a mente terrestre) não pode conceber a sua natureza. Ela contém em si todas as qualidades desta vida terrestre, mas não em essências inflamadas como no último. Verdadeiramente, ela também contém um fogo, e muito poderoso, mas que queima de forma diferente; ele é doce, humilde e sem dor; ele não consome, mas causa majestade e esplendor vivo, seu espírito é puro amor e alegria”.

Toda localidade do mundo, as profundezas da Terra e acima da Terra, até o céu e o próprio céu criado, que vemos com os nossos olhos, mas que, no entanto, não podemos compreender com nossos sentidos, todo esse espaço é um reino onde Lúcifer era o governador antes de sua queda; mas os outros dois reinos, o de Michael e Uriel, existem além do céu criado (espaço) e são iguais ao primeiro reino.

Quando a melodia celeste dos anjos começa a ser ouvida, estarão surgindo com o Divino Salitre vários mundos de crescimento, figuras e cores magníficas.

Cada país possui seu espírito guardião principal com suas legiões. Do mesmo modo, há anjos governando os quatro elementos – Fogo, Água, Ar e Terra.

Saiba que o demônio sempre luta com os anjos. Quando a alma do homem está segura em Deus, então o demônio deseja entrar, mas ele é impedido, não podendo realizar a sua vontade. Sempre que a alma imagina, fazendo com que surjam os desejos luxuriantes, ocorre a vitória do demônio.

Cada princípio é atraído pelo conhecimento e pelos sentimentos semelhantes em seu próprio ser. Os princípios existentes na periferia atuam sobre seus princípios correspondentes no centro. Amor atua sobre amor e ódio sobre ódio. O bem é atraído pelo bem e o mal pelo mal. Se não há desejo do mal ativo no homem, as influências malignas não podem criar raízes em seu Coração.

A pessoa de Cristo, assim como a sua encarnação, não pode ser conhecida pela compreensão comum ou pela letra das Santas Escrituras sem a Iluminação Divina.

A razão pessoal, no conhecimento e sabedoria deste mundo, não pode conhecer ou compreender Deus.

Convém a todos que pretendem falar sobre os mistérios Divinos ou mesmo ensiná-los, que possuam o Espírito de Deus e que saibam, à luz Divina, o que expressar como verdade. Nunca se deve extrair o ensinamento da própria razão nem se apoiar meramente na letra sem o conhecimento Divino, arrastando-se nas Escrituras como faz a razão. Muitos erros surgem daqui, pois os homens têm buscado o conhecimento Divino em sua própria compreensão e ciência, passando da verdade de Deus para a razão pessoal, considerando a encarnação de Cristo como algo remoto e distante, enquanto todos devemos nascer novamente de Deus, nesta encarnação, se pretendemos escapar da cólera da natureza Eterna.

Encontramos, na Luz da natureza, que o Fogo, em sua essência própria, na fonte amarga do desejo, era trevas, e estava como que absorvido na brandura de Deus, sem inflamação. Embora queimasse, só era perceptível como um princípio especial, na brandura de Deus. Pois, desde a eternidade só havia dois princípios: o Mundo Ígneo, em si mesmo, e o outro também contido em si mesmo, o Mundo da Luz-flamejante; embora não estivessem separados, como o Fogo e a Luz não estão separados, a Luz habitava o Fogo sem ser capturada por Ele.

Cada forma anseia pela outra e pela ânsia do desejo. Uma forma é impregnada pela outra, sendo que uma traz a outra à existência, de forma que a eternidade permanece em uma perpétua Magia, onde a natureza se encontra em um processo de crescimento e fortalecimento na qual o Fogo a consome e a origina, formando um laço eterno. Mas a Luz da Majestade e da Trindade de Deus é imutável, pois o Fogo não pode apreender a Luz que vive livre em si mesma.

O homem foi criado à semelhança de Deus , a partir dos Três Princípios – uma imagem completa e semelhante a toda esfera de existência.

A criação do homem ocorreu em todos os Três Princípios, ou seja, na natureza e na propriedade eterna do Pai, na natureza e na propriedade eterna do Filho e na natureza e na propriedade deste mundo. No homem – criado pelo 'Verbum Fiat' – foi soprado o Espírito Ternário a partir de Três Princípios e Fontes.

Em Deus, tudo é Poder, Espírito e Vida. Mas o que é substância não é Espírito. Aquilo que descende do Fogo não é Poder, é substância. Pois o Espírito continua no Fogo, mas separado em duas fontes: a do Fogo e a que se inclina para a Liberdade e para a Luz. Esta última é chamada Deus, pois é branda e amorosa contendo em si o Reino da satisfação. O mundo angélico é compreendido na liberdade que descende da substancialidade.

O corpo é uma semelhança, de acordo com a substancialidade de Deus, e a alma e o espírito uma semelhança, de acordo com a Santíssima Trindade. Deus deu ao corpo sua substancialidade a partir dos Três Princípios, e o espírito e a alma a partir da fonte do Espírito Trino da Divindade Onipresente.

A alma é, por si só, um Olho de Fogo ou um Espelho de Fogo, na qual a Divindade se manifestou segundo o Primeiro Princípio, ou seja, de acordo com a natureza. Ela é uma criatura sem ter sido criada como semelhança. Mas sua imagem – gerada a partir de seu Olho de Fogo na Luz – é a verdadeira criatura por causa da qual Deus se tornou homem e trouxe-a novamente para o Santo Ternário, resgatando-a da cólera da Natureza eterna.

Deus soprou nas narinas do homem, ao mesmo tempo e de uma só vez, o Espírito deste mundo com a fonte das estrelas e dos elementos, ou seja, o Ar ('Spiritus Mundi').

O homem ama os metais preciosos e os emprega para seu sustento, mas não conhece seu fundamento e origem. Não é por nada que são amados pela mente; se refletirmos sobre eles, veremos que possuem uma origem elevada. Mas não diremos nada sobre isto aqui, pois mesmo sem dizer nada o homem já os amam demasiadamente, e com isso abandonam o Espírito de Deus. Não se deve amar o corpo mais que ao Espírito, pois o Espírito é a vida.

Se queres encontrar a 'lapis philosophorum' atenha-se ao novo nascimento em Cristo, do contrário será difícil apreendê-la. Pois ela possui considerável comunhão com a substancialidade celeste, o que seria notável caso fosse libertada da cólera feroz. Seu brilho indica algo que certamente reconheceríamos, se tivéssemos olhos paradisíacos. O fundamento afetivo (das 'Gemüth') nos mostra isso, mas a compreensão e completa cognição encontram-se mortas quanto ao Paraíso. Por usarmos o que é nobre para desonrar à Deus e para nossa própria perdição – e não louvarmos à Deus com isso – não penetramos com nosso espírito o Espírito de Deus, mas abandonamos o Espírito e nos apegamos à substância; a Tintura Metálica tornou-se um mistério para nós porque nós nos tornamos alienados à Ela... O homem foi criado para ser o Senhor da Tintura...

Toda opinião sem conhecimento não passa de tolice terrestre, compreendendo a Terra e os Quatro Elementos. Mas o Espírito de Deus compreende Um Só Elemento no qual os Quatro permanecem ocultos.

 


 

 

Adão era um homem e uma imagem de Deus, uma completa semelhança de Deus, embora Deus não seja imagem. Ele é o Reino e o Poder, também a Glória e a Eternidade, Tudo em Tudo. Mas a profundidade infundada desejou se manifestar em similitudes. De fato, tal manifestação ocorreu da eternidade, na Sabedoria de Deus, como em uma imagem virginal, que, contudo, não era uma 'genetrix', mas um espelho da Divindade e da eternidade, como se apresenta no fundamento e no não-fundamento – um Olho da Glória de Deus. De acordo com este mesmo Olho, foram criados, ali, os tronos dos príncipes como anjos, e, por fim, o homem, que tinha novamente o trono em si. Ele foi criado da Magia Eterna, da Essência de Deus, do Nada para Algo, do Espírito para o corpo. Como a Magia Eterna o gerou de Si Mesma no Olho das Maravilhas e Sabedoria de Deus, da mesma forma Ele poderia e deveria gerar de Si mesmo um outro homem, de forma mágica, sem a dilaceração de seu Corpo. O homem, assim, foi concebido no desejo ardente de Deus, sendo gerado e trazido à luz pelo desejo de Deus. Conseqüentemente, ele possuía o mesmo desejo ardente em si, para sua própria fecundação. Pois, a Tintura de Vênus é a Matriz e se torna fecunda com a substância, como com o Súlfur no Fogo, o qual ainda obtém a substância na Água de Vênus. A Tintura do Fogo oferece a Alma; a Tintura da Luz oferece o Espírito; a Água ou a substância oferece o Corpo; o Mercúrio ou o 'Centrum Naturæ' oferece a Roda das Essências e a Grande Vida no Fogo e Água, celeste e terrestre; e o Sal, celeste e terrestre, mantém tudo isso no Ser, pois Ele (o Sal) – é o 'Fiat'.

Adormecer indica morte e subjugação... É dia! Por que devemos dormir durante o dia? ... Destrói o reino do demônio na Terra!

A Razão é tola e nada compreende sobre o Espírito de Deus.

Deus é a Luz Eterna; Sua fonte e seu poder residem na Luz. A Luz produz brandura, e da brandura o ser é produzido; esse ser é o ser de Deus, e a fonte da Luz é o Espírito de Deus, que é a origem. Não há outro Deus do que este Deus. Na Luz está o Poder, e o Poder é o Reino.4 A Luz e o Poder possuem apenas uma Vontade-Amor que não deseja o mal. Ela, de fato, deseja ser, mas a partir de sua própria essência, ou a partir do amor e da doçura, pois isso é como a Luz. Mas, a Luz surge do Fogo, e sem o Fogo ela não seria nada; não haveria essência sem o Fogo. O Fogo provoca a vida e o movimento e é a natureza, mas tem uma vontade diferente da Luz. Pois Ele é uma fúria ou voracidade e seu único desejo é consumir. Ele só tira e cresce no orgulho; enquanto que a Luz nada tira, mas oferece, sendo assim preservado o Fogo. A fonte do Fogo é a ferocidade, sua essência é amarga, seu ferrão é hostil e desagradável. Ele é um inimigo em si, e se autoconsome; e se a Luz não vier em seu auxílio, Ele se devora a fim de se tornar um nada.

Toda criatura tem sua subsistência no Súlfur, no Mercúrio no Sal Espiritual. Mas o Espírito, por si só, não realiza tudo isso; deve haver Súlfur onde há o 'Fiat', ou seja, a Matriz Salgada para o 'Centrum Naturæ', onde o Espírito é mantido; é preciso haver substância. Pois, onde não há substância, não há forma. Um espírito criaturalizado (sic) não é um ser compreensível; ele precisa atrair substância para si, através da imaginação, caso contrário não subsistirá.

Todos aqueles que pela fé e pelo desejo penetram a Carne e o Sangue de Cristo, em sua morte e repouso na Terra florescem em Espírito e Vontade na Essencialidade Divina e são uma bela flor na Majestade de Deus.

O Verbo da Vida tirou de Adão a Tintura de Vênus com o 'Fiat' celeste e terrestre; tirou também uma costela de seu lado e a meia-cruz T na cabeça, que é a marca da Santíssima Trindade estampada com o Verbo da Vida, assim como o severo nome de Deus que possuía a mesma caracterização. T indica a Cruz de Cristo, na qual iria padecer a morte e regenerar Adão, e no Nome de Jesus, introduzi-lo na Santíssima Trindade. O 'Fiat' tomou tudo isso para si, com todas as essências da qualidade humana, da mesma forma que a propriedade do Fogo da alma, mas na Tintura de Vênus, não de acordo com o Poder do Centro; e dividiu inteiramente a forma do homem.

Cristo, o segundo Adão, não sofreu em vão a sua crucificação e a perfuração do lado direito pela lança, e nem seu Sangue foi derramado em vão. Temos aqui a chave. Adão foi aberto em seu lado direito, junto à sua costela, para a formação da mulher. Neste mesmo lado, deve surgir a Lança de Longines, com a cólera de Deus, pois ela penetrou Adão, e através da terrenidade (sic) de Maria também penetrou o lado de Cristo, e o Sangue de Cristo tinha que extinguir a cólera e afastá-la do primeiro Adão; pois o segundo Adão tinha também o Sangue Celeste, e este tinha que extinguir a turba terrestre a fim de que o primeiro Adão pudesse ser feito completo novamente.

Notem isto, prostitutas e libertinos: o caminho que seguis em segredo, freqüentemente com grande duplicidade, penetra suas consciências e transforma-se, para vós, um verme mal e roedor. A Tintura é um ser eterno e gostaria de viver no amor de Deus. Mas se, sob o impulso da região astral, através da infecção do demônio, vós a colocais em um vaso falso e impuro, na abominação e na desordem, dificilmente irá conter o amor de Deus; ao contrário, passa desejando o primeiro lugar, em vós. Se a Tintura se tornou falsa, em um falso vaso, não podendo repousar, Ela irá vos corroer e trazer o abismo infernal para a consciência. Não se trata de ficção ou brincadeira. Não sejais, portanto, totalmente animal; pois um animal toma sua tintura unicamente deste mundo, mas vós a tomais da eternidade. O que é eterno não morre. Ainda que vós corrompeis o Súlfur, ainda assim a vontade espírito no Súlfur penetra a nobre Tintura no mistério, e cada mistério toma aquilo que lhe pertence. E no último dia, quando o Espírito de Deus irá se movimentar em todos os três Princípios, o mistério será revelado: ali vereis vossas boas obras.

Tenham a certeza de que, se o Verbo da promessa não tivesse se imprimido na Luz da vida – quando Adão e Eva caíram na fonte terrestre – o espírito da alma teria se tornado um demônio feroz e o corpo uma besta má, como de fato é. Se a Água Elementar (que é Santa) não abatesse o orgulho da ferocidade, veríamos muito bem como a maioria seria um demônio feroz.

O Cristo teve que tomar para si a forma de um homem, embora internamente permanecesse uma imagem virgem, para que o propósito do Poder de Deus prevalecesse. Pois a propriedade do Fogo ou do homem deve governar, e a propriedade da Luz ou da mulher deve abrandar seu Fogo e trazê-Lo para a branda imagem de Deus.

Protejam-se da prostituição e do falso amor, pois a Verdadeira Imagem é por ela destruída. A prostituição é a maior fraqueza que o homem opera em si. Outros pecados saem dele para uma imagem; mas a prostituta continua nele. Pois ele produz uma falsa imagem na qual a Virgem de Deus não é conhecida, mas somente uma forma bestial. Que isto seja dito ao homem: há um horror tão grande por detrás da prostituição, que o céu estremece diante dela, assim como aqueles que não penetram facilmente a imaginação bestial.

Quando o Verbo se colocou em movimento para a revelação da Vida, Ele se revelou na essencialidade divina, na Água da Vida Eterna; ele a penetrou e se tornou Súlfur, ou seja, Carne e Sangue. Produziu a Tintura Celestial que envolve e preenche a Divindade, onde a Sabedoria de Deus permanece eternamente com a Magia Divina. Compreenda corretamente: a Divindade desejou se tornar Carne e Sangue; embora o puro e imaculado Deus permaneça Espírito, tornou-se o Espírito e a Vida da carne, operando na carne. Assim, quando penetramos, através de nosso desejo, em Deus, nos doando totalmente a Ele, podemos dizer que penetramos a Carne e Sangue de Deus – vivemos em Deus – pois o Verbo se fez homem e Deus é o Verbo.

O Coração de Deus repousava desde a eternidade. Mas, pelo movimento e penetração das essências, manifestou-se em todos os lugares, embora em Deus não haja lugar ou limite, exceto na criatura de Cristo. Ali, toda a santa Trindade se manifestou em uma criatura, e através da criatura em todos os céus da criação.

O Cristo trouxe novamente aquilo que Adão havia perdido; sim, e muito mais. Pois o Verbo se fez homem em todo lugar, ou seja, está revelado em todo lugar, na essencialidade divina, onde se encontra nossa humanidade eterna. Pois, na eternidade, viveremos na mesma essência corporal em que está a Virgem de Deus; devemos nos revestir da Virgem de Deus, pois o Cristo Dela se revestiu. Ele se tornou homem na Virgem Eterna e também na virgem terrestre, embora esta última não fosse exatamente uma virgem. Mas a Virgem Divina e celeste fizeram dela uma virgem na benção, ou seja, na revelação do Verbo e do pacto. Aquela parte em Maria, herdada de Adão, da essencialidade celeste, que Adão transformou em terrestre, aquela parte foi abençoada. Assim, o elemento terrestre simplesmente morreu dentro dela e o outro elemento passou a viver eternamente, voltando a ser uma virgem casta, não na morte, mas na benção. Quando Deus revelou a Si mesmo dentro dela, ela se revestiu com a bela Virgem de Deus, tornando-se uma virgem viril pela parte celeste.

O homem foi criado na Virgindade – na Sabedoria de Deus – mas foi capturado pela cólera e pela ira de Deus. Assim se tornou, de uma só vez, corrupto e terrestre. E como a Terra passa e deve ser testada pelo Fogo e penetrar novamente Aquilo que era, o mesmo deve fazer o homem: deve penetrar novamente a virgindade na qual foi criado.

O nascimento e a encarnação de Cristo significa algo poderoso em operação: foi o movimento do próprio Coração insondável de Deus fazendo com que a essencialidade celeste, que se encontrava enclausurada na morte, se tornasse novamente viva, para que agora se possa dizer, com razão: o próprio Deus deteve a sua cólera, já que através do Centro de Seu Coração, que preenchia a eternidade de forma ilimitada, revelou-se novamente, afastando o poder da morte e rompendo a dor da ira e da cólera feroz, vendo que o amor e a brandura haviam sido reveladas na cólera, extinguindo o poder do Fogo.

A encarnação de Cristo é um mistério do qual a razão exterior nada sabe. Ela ocorreu em todos os três Princípios e não pode ser penetrada, a menos que conheçamos totalmente o primeiro homem em sua criação, antes da queda. Adão deveria gerar de si próprio o segundo homem, de acordo com o caráter da Santíssima Trindade, onde o nome Jesus estava incorporado, mas isto não foi possível. Portanto, outro Adão teve que surgir, para quem isto era possível; pois o Cristo é a imagem virgem, segundo o caráter da Santíssima Trindade. Adão foi concebido no amor de Deus e nasceu neste mundo. Ele tinha a essencialidade divina e sua alma era do primeiro princípio, da propriedade do Pai. Ela deveria ser direcionada, através da imaginação, ao Coração do Pai, ou seja, ao Verbo e Espírito do amor e pureza. Deveria alimentar-se da essencialidade do amor. Desta forma, preservaria a natureza de Deus em si – no Verbo da Vida – podendo se tornar fecunda pelo poder que brotava do Coração do Pai. Com isso, poderia imaginar, de si mesma, em suas essências; ela mesmo tornaria suas essências fecundas, a fim de que uma completa semelhança, de acordo com a primeira imagem, surgiria através da imaginação e da vontade da alma, que a envolve, sendo concebida no poder da essência.

A Terra recebeu o Sangue de Cristo, o que a fez estremecer. A cólera de Deus estava agora dominada, e na Terra penetrou o Sangue vivo vindo do céu – da essência de Deus. Este Sangue celeste abriu o túmulo dos santos, e também a morte. Ele fez um caminho através da morte, e a morte tornou-se uma exibição aberta. Pois, quando o Corpo de Cristo se levantou da morte, Ele fez em seu corpo uma morte aberta; pois o poder da morte fora rompido.

Devemos considerar a alma humana da seguinte forma: ela foi tirada do 'centrum naturæ', não do espelho do Eterno, como se fosse tirada da fonte deste mundo, mas da essência eterna do Espírito de Deus, do primeiro Princípio, da propriedade do Pai, de acordo com a Natureza. A alma não foi tirada de uma substância ou de algo; o próprio Espírito da Divindade soprou-lhe a Vida, na imagem em Adão, a partir dos três Princípios. Soprou dentro dele o 'centrum naturæ', da fonte ígnea para a vida e também a brandura do amor, a partir do ser da Divindade, ou seja, o segundo Princípio com a essencialidade celeste e divina, assim como o espírito deste mundo, como o espelho e o modelo da Sabedoria de Deus com suas maravilhas.

O Verbo de Deus, verdadeiramente, se fez homem na virgindade de Adão, que estava encerrada na morte. O Coração de Deus se movimentou na virgindade de Adão e da morte – através do Fogo de Deus a introduziu na fonte divina. O Cristo tornou-se Adão, não o Adão dividido, mas o Adão virgem, tal como era antes de seu sono. Ele trouxe o Adão corrupto para a morte, para o Fogo de Deus, e trouxe o Adão puro e virgem da morte através do Fogo. O Seu filho és tu, caso não permaneças na morte como madeira verde que não qualifica, que estando no fogo não exprime essência alguma, mas que toma a forma de cinzas negras.

A Divindade ou o Verbo – que se movimentou em Maria e se tornou homem – também tornou-se homem, ao mesmo tempo, em todos os homens descendentes de Adão, que haviam entregado e comprometido seu espírito à Deus ou ao Messias prometido.

O movimento da Divindade na encarnação de Cristo permanece ativo e está aberto a todos os homens; há falha unicamente no poder de entrar, quando o homem permite ser recapturado pelo demônio.

O Cristo, certamente, rompeu a morte e saciou a cólera. Mas, se desejamos nos tornarmos como a Sua imagem, devemos segui-lo também em sua morte, tomar sua cruz sobre nós, sofrermos a perseguição, o escárnio, a ridicularização e o assassínio. Pois, a velha casca pertence à cólera de Deus; ela deve ser eliminada, visto que não é o velho homem que deve viver em nós, mas o novo. O velho é entregue à cólera. Pois, da cólera floresce o novo, assim como a Luz surge do Fogo. O velho Adão deve ser, portanto, lenha para o fogo, a fim de que o novo possa nascer na Luz do Fogo... Nada é eterno se não puder subsistir no Fogo e que não, originalmente, não surja do Fogo.

Nossa alma vem do Fogo de Deus; nosso corpo vem do Fogo da Luz.

Um Mestre deve, necessariamente, nascer do Cristo; do contrário, ele é um ladrão e assaltante, e se exibe pregando por conta própria. Ele faz isso por dinheiro e honra, ensina sua própria palavra e não a palavra de Deus. Mas, se ele Nascer novamente do Cristo, ensinará a palavra de Cristo, pois vive na Árvore do Cristo, e emite seu som da Árvore de Cristo, na qual vive. Por isso, há tanta contrariedade na Terra, porque os homens amontoam mestres para si, para falarem a eles o que seus ouvidos querem ouvir, aquilo que o velho Adão está pronto para ouvir, o que ministrar para sua elevação e prazer carnal, o que conduz ao poder e à magnificência.

Sim, mestres demoníacos, como irão se apresentar diante da cólera de Deus? Por que ensinam, se não são enviados de Deus? Vós sois enviados de Babel, da grande prostituta, da mãe da grande prostituição espiritual sobre a Terra. Vós não nascestes da Virgem, mas da mulher adúltera. Pois não só ensinam ficções humanas, mas também perseguem os enviados que nasceram do Cristo. Vocês lutam por causa da religião, mas em Religião não há luta: há diversidade de dons, mas um único e mesmo Espírito fala.

Nesta vida, a Porta da Graça permanece aberta ao homem. Por maior que seja o pecador, se ele se voltar e produzir frutos honestos de arrependimento, ele pode renascer daquilo que é mal. Mas aquele que deliberadamente lança sua raiz ao fogo do demônio (corrupção) desperdiça o seu florescimento: quem irá ajudar aquele que não se ajuda a si próprio? Contudo, se ele voltar sua vontade para Deus, então Deus o terá. Pois aquele que deseja na cólera de Deus, a Cólera de Deus terá; mas aquele que deseja o amor, o Amor de Deus terá.

Revelamos aos iluminados um outro grande mistério: quando a pérola é semeada, a alma coloca a coroa pela primeira vez, no 'Ternarius Sanctus', com grande honra e satisfação, diante dos anjos de Deus e de todas as santas virgens. Ocorre aqui grande satisfação, pois Deus se faz homem. Mas esta coroa se oculta novamente. Como não poderia haver satisfação naquele lugar? O velho Adão também dança, mas como um asno ao som da lira; mas a coroa está designada à encarnação.

O homem terrestre é indicado pela pedra bruta. O Verbo que se fez homem é indicado pelo Sol, que torna o homem corrupto fecundo. A causa disso é a seguinte: O homem corrupto é, de fato, terrestre, mas contém em si o 'centrum naturæ' eternamente. Ele anseia pelo Sol de Deus, pois na sua criação o Sol de Deus foi tomado em seu ser. A pedra bruta, contudo, cobriu e engoliu o Sol, e este se misturou com o Súlfur bruto, a menos que seja purificado no Fogo, a fim de que o que seja bruto se derreta e o Sol permaneça isolado. Compreenda assim a morte e a corrupção, na qual a carne terrestre e inferior se dissolve, e a Carne Espiritual e Virgem continua sem a outra.

Deus não abandona o que Lhe pertence (ou seja, o que Lhe é melhor e mais querido, criado à sua semelhança). Ao contrário, Ele mesmo se tornou tal ser, como o havia criado, a fim de regenerar da corrupção o que havia sido corrompido e transformá-lo no que há de melhor, onde Ele possa habitar eternamente.

Falaremos agora, com base na verdade, sobre a encarnação ou humanidade, usando uma linguagem clara, plena e desvelada; não nos basearemos em conjecturas ou opiniões, mas em nosso próprio e verdadeiro conhecimento, que nos foi dado por Deus na Iluminação:

a) O novo homem regenerado, que se encontra oculto no velho, como o ouro na pedra, possui uma Tintura Celeste e um Corpo e Sangue também celestes; o Espírito desta carne, não é espírito de outro, mas dele próprio, gerado de sua própria essência.

b) Reconhecemos e afirmamos que o Verbo – que se fez homem em Maria, a Virgem – é a causa primordial da Tintura que teve início no Súlfur; reconhecemos que o Espírito de Cristo, que preenche todos os céus, reside nesta Tintura.

c) Reconhecemos esta carne celeste como a carne de Cristo, onde o Espírito Santo habita de forma indivisível.

d) Confessamos a possibilidade deste mesmo Sangue e Carne tornarem-se corruptos através da imaginação e do desejo, durante a existência do velho Adão, o que ocorreu com Adão.

e) Dizemos que no processo de corrupção, nada surge da Divindade, nem Ela é tocada por nada que seja mal; pois aquilo que o amor de Deus perde, é lançado à cólera de Deus. Aquilo que se afasta da Luz é caçado pelo Fogo, e o Espírito de Deus permanece incorruptível.

f) Afirmamos que existe, em todos os homens, a possibilidade de um novo nascimento, senão Deus estaria dividido, e não em um lugar assim como em outro. Reconhecemos que o homem é atraído pelo Fogo e pela Luz: para onde inclina sua vontade, ali cai; ele pode, no curso deste tempo levantar novamente o fiel da balança ou a vontade. Dizemos que a Divindade pura não deseja nenhum mal, nenhum demônio; deseja, muito menos, ver um homem no inferno, na cólera de Deus. Mas como não há luz sem fogo, reconhecemos que o demônio, pelo desejo, colocou sua imaginação no fogo-colérico. Desta forma todos os homens condenados não serão auxiliados; eles preenchem a fonte ígnea gananciosa. Eles se deixam ser atraídos, ainda que seria perfeitamente possível permanecerem firmes.

g) Dizemos que o Verdadeiro Templo no qual o Espírito Santo prega encontra-se no Novo Nascimento; morto, mudo, falso, cego e imperfeito é aquele que não é ou que não ensina do Espírito de Deus. O Espírito Santo não se mistura ao som da boca do ímpio; nenhum deles é pastor de Cristo. Pois, embora no homem santo o tempo seja parado pela voz do ímpio, o que também poderia ser feito pelo grito de uma besta, se seu grito fosse inteligível, ou se o precioso nome de Deus fosse mencionado. Pois tão logo o nome de Deus é mencionado, provocando um som, o outro som fica aprisionado no lugar onde está soando, ou seja, na alma santa. Mas nenhum ímpio desperta outro ímpio da morte, pois ambos se encontram na cólera de Deus, fechados na morte. Se nós mesmos tivéssemos sido capazes de surgir da morte, nos tornando vivos, o Coração de Deus não necessitaria de se tornar homem. Portanto, dizemos com razão, que somente aquele Verbo que se fez Homem pode despertar o pobre pecador de sua morte para o arrependimento, gerando uma nova vida. Desta forma, nenhum dos blasfemadores ímpios se beneficia do Templo de Cristo. Mas aqueles que possuem o Espírito de Cristo são os Seus pastores.

h) Dizemos que todos os mestres que professam serem servos e ministros de Cristo, mas que não trilham o caminho da regeneração por causa da honra e do orgulho, são Anticristos e a mulher no dragão na Revelação de João.

i) Dizemos que toda tirania injusta e todo poder usurpador – pelo qual o fraco é oprimido, sugado, esmagado e atormentado, através do qual ele se torna inconstante e perdido, sendo levado e atraído para todo tipo de excessos e injustiça – são a horrível e abominável besta na qual o Anticristo se esconde.

j) Sabemos e afirmamos que se aproxima o tempo e o dia em que a besta e a prostituta irão para o abismo. Amém! Halleluya! Amém!

Deus é, em, si o não-fundamento, ou seja, o primeiro mundo, do qual nenhuma criatura sabe coisa alguma, pois vive de Corpo e Espírito unicamente no Fundamento. Deus, também não se manifestaria a si próprio no não-fundamento, mas da eternidade sua Sabedoria se transformou em seu Fundamento, o qual a Vontade Eterna do não-fundamento da Divindade desejou, por onde a Divina Imaginação surgiu a fim de que a Vontade insondável da Divindade, desde a eternidade na imaginação, se fecundasse do poder da visão ou forma do espelho das maravilhas. Ora, por fecundação se entende a origem eterna dos dois princípios, ou seja: as trevas eternas de onde surgem o Mundo do Fogo e a essência da cólera nas trevas, onde compreendemos a cólera de Deus e o abismo da natureza. Assim, reconhecemos o Mundo do Fogo como a grande vida.

A Luz habita no Fogo e o Fogo não pode movimentá-La; não há nada ali que possa movimentar a Luz, pois Ela é como a Liberdade Eterna, e habita a Liberdade.

O não-fundamento é desprovido de vida, mas numa propriedade nasce a Vida Eterna. O não-fundamento não tem movimento ou sentimento, mas com a propriedade ambos são gerados; é desta forma que o nada encontra a si próprio na Vontade Eterna, cujo Fundamento não conhecemos, nem tampouco devemos buscar, já que nos confundiria. O que sabemos é que há uma vida essencial sem compreensão, como a terra, a morte e a agonia, onde há, de fato, uma fonte em si mesma, obscura, sem compreensão; pois a angústia adstringente se contrai, e o que é atraído em seu interior causa as trevas, de modo que a vida angustiante se encontra nas trevas. Pois todo ser é obscuro em si, a menos que possua a Tintura da Luz. A Tintura é a Liberdade das trevas; Ela não é atingida pela dor da angústia, pois pertence ao Mundo da Luz. Embora esteja envolvida na essência, como num corpo escuro, sua natureza é do Mundo da Luz, onde não existe circunscrição.

Quando o homem morre, despoja-se de todos os véus que o cobrem.

A palavra TINCTVR (Tintura: Poder e Virtude do Fogo e da Luz) é a Palavra separável de onde decorrem as Sete Qualidades:

 

TINCTVR
T
Deus, o Pai
I
O criado, Jesus
N
Tríplice I do Espírito
C
Cristo
T
O Pai em Cristo
V
Espírito de Cristo no Verbo que vivifica
R
Reino ou Trono

 

Deus, o Pai, é em Si a Liberdade na natureza, mas se torna manifestado pelo Fogo em a natureza. A natureza do Fogo é a sua propriedade, embora Ele seja, em si, o não-fundamento, onde não há nenhum sentimento de dor. Mas ele traz a sua vontade desejosa para a dor (qualidade), e atrai para si, na dor, outra vontade, a de sair da dor e mergulhar novamente na liberdade além da dor. Essa outra vontade é seu Filho, que Ele gera de sua Vontade única e eterna desde a eternidade. Ele a conduz através do Fogo, através do rompimento da fonte da morte, fora de seu feroz fervor. É esta Vontade, ou seja, o Filho de Deus, o Pai, que vence a morte cuja fonte é obscura e que ilumina o Fogo e que procede do Fogo como um brilho-lampejo do Fogo, preenchendo a primeira vontade, chamada de Pai; pois o lampejo também é frágil como um nada ou como a Vontade chamada de Pai. Portanto, ela pode habitar na Liberdade, ou seja, na Vontade do Pai, e tornar o Pai brilhante, claro, gracioso e amigável, pois é o Coração do Pai ou misericórdia. É a substancialidade do Pai e preenche o Pai em sua plenitude, ainda que Nele não haja lugar, nem começo, nem fim.

A Divindade é um laço eterno que não pode se dissolver. Ela se manifesta de eternidade em eternidade, onde o primeiro é também sempre o último, e o último novamente o primeiro.

Todas as coisas criadas são uma só coisa, embora os atributos de sua formação sejam diferentes.

Tudo o que é corpóreo é um ser com as diferenças que traz de sua origem.

Tudo se apresenta em um mistério manifesto pelo movimento da Vontade...

O que, realmente, constitui o homem é a alma.

Deus anseia pela alma. Ele se tornou nosso Tronco;, nós somos seus ramos e galhos. Como um tronco sempre transmite sua seiva aos galhos, a fim de que vivam e gerem frutos para a glória de toda a árvore, o mesmo faz à nós o nosso Tronco. A Árvore Jesus Cristo no Mundo-Luz, que se revelou em nossa alma, terá nossas almas como galhos. Ele veio no lugar de Adão, quem nos fez decair e perecer; Ele se tornou Adão no Novo Nascimento. Adão trouxe nossa alma para este mundo, para a morte da cólera feroz; Cristo trouxe nossa alma para fora da morte, através do Fogo de Deus, e a reacendeu no Fogo, a fim de que obtivesse novamente a Luz brilhante, pois de outra forma, teria que permanecer na morte obscura – na fonte de angústia.

Encontrar e conhecer a si próprio é ver e saber o que é Deus... O Reino de Deus deve surgir em nosso interior e Sua Vontade deve ser feita em nós...

A Essência Divina não pode ser inteiramente expressa pela linguagem humana. A penas o Sopro da Vida – o Espírito da Alma que prescruta a Luz – A compreende.

Um conhecimento sem realização é igual a um fogo que brilha mas não queima por causa da umidade. Se queres que teu Fogo Divino... queime, deves soprar esse Fogo e extrair dele a umidade do demônio e do mundo; deves penetrar a vida do Cristo. É hipócrita aquele que pronuncia o Nome de Deus em vão.

Um homem disposto a realizar uma jornada para Deus deve partir pelo caminho do peregrino. Deve partir, mais e mais, da razão terrestre, da vontade da carne, do demônio e do mundo. A dor e a angústia freqüentemente ocorrem quando se tem que abandonar aquilo que se poderia ter e com o que se poderia movimentar nas glórias temporais. Mas, para trilhar o Caminho Estreito é preciso se revestir do casaco da retidão, despindo-se daquele da cobiça e da vida hipócrita e ilusória. É preciso partir seu pão com o faminto, dar a sua túnica como veste e não ser um opressor do fraco, desejando apenas encher os bolsos, extorquindo o suor do homem simples e miserável, aplicando-lhe leis que servem unicamente a seu próprio orgulho e prazer. Aquele que assim procede não é um Cristão, mas alguém que segue o caminho deste mundo... é a infecção e o desejo do demônio o que o impele. Ainda que ele conheça o rito de fé relacionado à Misericórdia de Deus e à reparação de Cristo, isso não servirá para nada. Pois nem todos aqueles que dizem 'Senhor, Senhor, permita que eu entre no Reino dos céus', entrarão; mas aqueles que fazem a Vontade de meu Pai, que estás no céu, entrarão'. Essa Vontade é: 'Amar ao próximo como a si mesmo'; Seja o que quer que os homens tenham feito a ti, faças tu algo bom por eles.


 

 

 

 

Addendum

 

Continuando no firme propósito de não cometer a imprudência de tentar interpretar ou especular a respeito do pensamento de Jacob Boehme, concluo este trabalho reproduzindo algumas passagens contidas no livro Símbolos Secretos dos Rosacruzes dos Séculos XVI e XVII. Elas não têm a finalidade de complementar os excertos do Autor estudado (isto seria desnecessário), mas como estão intimamente relacionadas com o que foi examinado serão úteis para todos aqueles que se interessam pelo Misticismo, que não envelhece e nem obsolesce, pois é, desde sempre, idêntico a Si mesmo. Mudam as formas de apresentação (a linguagem), mas a Essência é a mesma porque Ela é Una e não pode ser alterada. Ad æternum. Quem puder compreender, compreenderá; quem não puder compreender deverá se esforçar para compreender. E, de repente, quando menos se espera...

1. Flutuam quatro fogos neste Mundo em que Deus mantém um Centro.

2. Procura bem o Magneto de Ouro. Se O achares, livrar-te-ás de teus cuidados. Estuda bem a Lei que diz 'Conhece-te a ti mesmo', para que nunca mais te enganes. 'Unum sunt omnia, per quod omnia'. Faz com que conheças a 'Terra Sancta', para que não te possas desviar.

3. A Mente interna e externa sem a Luz Divina não poderás encontrar.

4. Só o Espírito sabe. A razão encarnada é cega.

5. Se Deus a ti muito concede em tua vida, dá liberalmente aos pobres. À Arte sê fiel, e Dela nada digas, pois é certo que tal é a Vontade de Deus. Conserva-te veraz e fiel... para que estejas livre de todo o mal.

6. Nunca esqueças dos pobres.

7. 'Saturnus' significa avareza, 'Mercurius' inveja, 'Marte' ira, 'Sol' vaidade, 'Venus' luxúria, 'Jupiter' astúcia e 'Luna' desejo corporal. Estes são os sete maus espíritos que reinam no interior do primitivo ser humano.

8. A 'Prima Materia' deriva do 'Fiat' – o Verbo – da Criação.

9. Ó homem, conhece a Deus e a ti mesmo, para que possas saber o que está no Céu e na Terra.

10. AZOTh: nome formado da primeira e das últimas letras das línguas latina, grega e hebraica.

11. Tudo que está no Grande Mundo também está no homem, pois este Daquele foi criado. Portanto, ele é o Pequeno Mundo e seu Coração é o seu Centro.

12. Ó Senhor, misericordioso Deus, abre o Coração humano para que entenda Teus segredos através do Espírito Santo.

13. Visita Interiora Terræ Rectificando Invenies Occultum Lapidem [Veram Medicinam]. (VITRIOL)[VM].

14. Lembra sempre que são teus irmãos os pobres que existem no mundo; e não esqueças, por um só momento, da miséria que os faz sofrer.

15. Tudo de Uma; tudo para Uma.

16. A mentira e a jactância conduzem ao inferno.

17. Simples e honesto, cortando todo o mal, que é um obstáculo ao 'Pathmos'.

18. Mata o velho Adão com seus maus desejos.

19. Mata os 1.2.3.4. Elementos com seus maus vapores.

20. Luta pelo Fogo. Busca o Fogo... Arremessa corpo, alma e espírito ao Fogo... E assim Fogo no Fogo permaneçam.

21. O Deus Único e Eterno revela-Se na Santíssima Trindade.

22. O portentoso número secreto, isto é, 1.2.3.4., a verdadeira RosaCruz e a revelação e o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo.

23. A nobre e custosa Pedra – 'Misterii Magni' e 'Lapis Philosophorum'. Nesta Pedra fica oculto aquilo que Deus e a Eternidade, Céu, Estrelas e Elementos possuem e são capazes de fazer.

24.

ROSÆ
CRUCIS
De acordo com a Teosofia
e com a Teologia.
A secreta, oculta
Rosa-Cruz que o
Mundo não conhece
e, contudo,
tanto tem a dizer.

 

25. Há um Verbo que fala eternamente.

26. Entende de acordo com a 'Phisophia Cœlesti' e não com a 'Terrestri'.

27. 'Deus Trinus exivit ex Centro in Centrum'.

28. Estava eu morto, e vede! Vivo novamente.

29. Deus é um Espírito eterno, incriado, infinito, sobrenatural, auto-sustentado, celestial e existente que no curso da Natureza e do tempo tornou-se um homem visível, corpóreo, mortal.

30. A Natureza é um espírito criado, natural, oportuno, definido, espiritual, existente e corpóreo – uma imagem, semelhança e sombra formada segundo o Espírito Eterno Incriado e Oculto e entretanto visível.

31. Omnia ab Uno; Unum ad Omnia.

32. Quem quiser bem entender comece de baixo e suba ao topo; e, então, volva do topo para baixo, e os prodígios de Deus entenderá.

33. Através de está o Princípio de nossa vida e o de todas as coisas.

34. 'LIBER VITÆ CHISTVS': A maneira certa de se chegar à única e boa compreensão de Deus e da Natureza e conseguir a Verdadeira Perfeição.

35. A Besta Celestial: 666; o animal no tempo: 666.

36. Ó Homem, por quanto tempo viverás sem Conhecimento; por quanto tempo continuarás ignorando até a ti mesmo?

37. Ó Homem, conhece a Deus e a ti, e nada te faltará no Céu e na Terra.

 

 

 

Agora que você, junto comigo, concluiu este estudo, percebeu porque eu afirmei no começo que não há qualquer mérito no que fiz?

 

 

 

 

_______

Notas:

1. Em The Lost Key of Freemasonry, escreveu Manly Palmer Hall: O verdadeiro maçom não está preso a um credo. Ele percebe que, com a divina iluminação de sua Loja, como maçom, sua religião precisa ser universal. Cristo, Buda ou Maomé, o nome pouco significa, porque ele reconhece somente a Luz e não o portador. Adora em todo santuário, ajoelha-se diante de todo altar – seja em um templo, uma mesquita ou uma catedral – percebendo com sua maior compreensão a unicidade de toda a verdade espiritual. Fiz questão de transcrever esta passagem porque ela não deve viger apenas para os franco-maçons; é uma regra que precisa e deve ser seguida por todos os Iniciados de todas as Fraternidades. É também de Palmer Hall o seguinte passo: Não há mestres nesse mundo e nem nos planos invisíveis que não tenham passado por todas as aflições e incertezas da experiência humana. Eles chegaram a sua posição atual por terem dominado tais incertezas e elevado suas consciências por sobre as circunstâncias que encadeiam a maioria das pessoas no egoísmo.

2. Nobre Sophia = SOPhIa (300 + 6 + 80 + 10).

3. ALHIM —› MIHeLA (Milícia Celeste) —› MIHAeL (função central).

4. Buddhi. Manas, Buddhi e Athma correspondem aos mesmos Princípios existentes na própria Divindade ou Consciência Cósmica.

Bibliografia

BLAVATSKY, Helena Petrovna. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (cosmogênese). Vol. I. São Paulo: Pensamento, 1999.

_______. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (simbolismo arcaico universal). Vol. II. São Paulo: Pensamento, 1999.

_______. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (antropogênese). V. III. São Paulo: Pensamento, 1999.

._______. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (o simbolismo arcaico das religiões do mundo e ciência e doutrina secreta comparadas). Vol. IV. São Paulo: Pensamento, 1997.

_______. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (ciência, religião e filosofia). Vol. V. São Paulo: Pensamento, 1993.

_______. A doutrina secreta: síntese da ciência, da religião e da filosofia. (objeto dos mistérios e prática da filosofia oculta). Vol. VI. São Paulo: Pensamento, 1998.

______. A voz do silêncio. São Paulo: Pensamento, s. d.

_______. Síntese da doutrina secreta. Introdução, seleção e tradução de textos por Cordélia Alvarenga de Figueiredo. São Paulo: Pensamento, 1994.

JACOB BOEHME (O príncipe dos filósofos divinos). 2ª edição. Ordem Rosacruz AMORC. Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa. Brasil, Curitiba: AMORC, 1991.

SAINT-YVES D’ALVEYDRE. El Arqueómetro. 2ª ed. Traduzido por Manuel Algora Corbí. España: Editorial Humanitas, 1997.

SÍMBOLOS SECRETOS DOS ROSACRUZES DOS SÉCULOS XVI E XVII. Coordenação de Maria A. Moura. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1978.

 

Páginas da Internet e Websites Consultados:

http://www.espada.eti.br/ef511-a.asp

http://www.fraternidaderosacruz.org/mphall1.htm

http://www.esoteric.msu.edu/Image_Library.html

http://www.sophia.bem-vindo.net/
tiki-slideshow.php?page=BoehmeQuotes

http://www.geocities.com/athens/2341/oracoes/ojb14.htm

http://www.geocities.com/athens/2341/index.htm

http://www.geocities.com/athens/2341/livros/lacjb1.htm

http://www.grandeoriente.it/Logge/Lombardia/
1116Paracelso/1116ConoscereSeStessi.htm

http://mahabaratha.vilabol.uol.com.br/
Livros/elevi00apendice.htm#jacobboheme

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacob_B%C3%B6hme

http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/
modules/wfsection/article.php?articleid=85

 

Música de fundo:

Nel Tuo Silenzio

Fonte:

http://cinellips.interfree.it/MID%20Cattolici.htm