IVAN LESSA – FRASES

 

 

 

Ivan Lessa

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo da Pesquisa

 

 

 

Esta pesquisa que fiz na Internet teve por objetivo garimpar aqui e ali algumas frases do jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa, que ficou conhecido por ser excelente frasista, e que, segundo Chico Caruso, tinha um humor meio dadaísta. Já para Jaguar, Lessa tinha um humor bem surrealista e anárquico. E o escritor Sérgio Augusto comentou: Ivan Lessa foi o humorista mais corrosivo do Brasil que eu conheci. Ele era sarcástico, era implacável nas observações e muito desconcertante. Era uma das pessoas mais inteligentes, brilhantes e bem-humoradas – bem-humorado no sentido de que era muito engraçado. Ele era mal-humorado no trato com algumas pessoas, especialmente as que não conhecia. Ele era muito impaciente com a ignorância, burrice e babaquice alheias. Ele estaria achando horrível tudo isso que a gente está dizendo hoje e o que vão dizer. Ele acharia piegas. No Pasquim, Lessa era a hora do recreio permanente.

 

 

 

Breve Biografia de Ivan Lessa

 

 

 

Ivan Pinheiro Themudo Lessa (São Paulo, 9 de maio de 1935 – Londres, 8 de junho de 2012) foi um jornalista e escritor brasileiro.

 

Ivan Lessa era filho do escritor Orígenes Lessa e da jornalista e cronista Elsie Lessa. Era neto do pastor presbiteriano Vicente Temudo Lessa e bisneto do escritor e gramático Júlio César Ribeiro Vaugham, autor, entre outros, do romance naturalista A Carne e também criador da bandeira do estado de São Paulo. Lessa foi editor e um dos principais colaboradores do jornal O Pasquim (que ganhou fama com a resistência à censura promovida pela ditadura militar), onde assinava as seções Gip-Gip-Nheco-Nheco, Fotonovelas e Os Diários de Londres, escritos em parceria com seu heterônimo Edélsio Tavares. Lessa publicou três livros: Garotos da Fuzarca (contos, 1986), Ivan Vê o Mundo (crônicas, 1999) e O Luar e a Rainha (crônicas, 2005). Ivan Lessa morava em Londres desde janeiro de 1978 e escrevia crônicas três vezes por semana para a BBC Brasil desde janeiro de 1978, quando deixou o Brasil para se radicar na capital britânica.

 

Ivan Lessa criou, junto com o cartunista Jaguar, o ratinho Sig (de Sigmund Freud), baseado na anedota corrente da época na qual se dizia que se Deus criou o sexo, Freud criara a sacanagem. O ratinho se tornou símbolo de O Pasquim, aparecendo também nas capas da coleção As Anedotas do Pasquim, publicada nos anos 70 pela Editora Codecri.

 

 

Sig

 

 

Ivan Lessa também escreveu, em 2003, a apresentação para o livro A Sangue Frio (1965), de Truman Capote, que em nova edição no ano de 2009, integrou a Coleção Jornalismo Literário, junto de outros livros renomados, como Berlim, de Joseph Roth e Hiroshima, de John Hersey.

 

Ivan Lessa vinha sofrendo há alguns anos com dificuldades respiratórias decorrentes de um enfisema pulmonar. A doença havia levado Ivan, nos últimos meses, a deixar de freqüentar diariamente a redação da BBC Brasil para escrever suas colunas. Elizabeth Fiúza, com quem Ivan era casado havia 39 anos, conta que Ivan vinha sofrendo muito nos últimos meses com a falta de ar e tinha dificuldades em sair de casa. — Ele estava sofrendo muito, mas se recusava a ser internado; não queria ir ao hospital — disse Elizabeth. Segundo Elizabeth, o desejo de Ivan era ser cremado, mas ainda não há confirmação sobre data ou local. Lessa morreu na tarde de sexta-feira (8 de junho de 2012), em casa, em seu escritório, em Londres, onde morava com a mulher, desde 1978, e na qual montara uma estrutura para não precisar ser hospitalizado.

 

 

 

Frases de Ivan Lessa

 

 

 

Ivan Lessa

Ivan Lessa
(na redação da BBC Brasil, em Londres)

 

 

 

A cada quinze anos, o Brasil esquece os últimos quinze anos.

 

 

 

 

Sorrir é sempre uma forma de se lidar com simpatia com a realidade.

 

'A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, que a sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois de sua morte.' (Millôr Fernandes, apud Ivan Lessa).

 

Quando a ditadura militar criou o slogan 'Brasil: ame-o ou deixe-o', Ivan Lessa publicou a resposta: O último a sair apague luz do aeroporto.

 

O Sol nasce para todos. Já o crepúsculo é meio classe média.

 

Brasileiro não estaciona carro; é retirado das ferragens.

 

Apanhei-te horóscopo! Pura enganação!

 

Enfim, ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.

 

Custou, mas estou acima de qualquer lei que vocês bolarem aí.

 

Consegui preservar o mistério sempre girando em meu torno.

 

Na verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda de cidadão do mundo.

 

Ei, juventude, pode vir que pelo menos uma vaga está aberta.

 

Bananão: como Ivan Lessa debochadamente chamava o Brasil.

 

Intelectual não vai à praia! Intelectual bebe!

 

A cor? Nada de timidez. Verde pálido, nem pensar. Bom pepino mesmo só o bem escuro.

 

A capital do Brasil é o Rio de Janeiro (no verão), Buenos Aires (no inverno).

 

Declaração de Independência: E algum de nós é verdadeiramente livre?

 

Principais exportações brasileiras: música, borracha, álibis, bauxita, panfletos explicando o que é a bauxita.

 

Principais importações brasileiras: fugitivos, peças de Volkswagen.

 

Zé Carioca é um dos mais famosos cáftens brasileiros.

 

 

Zé Carioca

 

Amar é... ser a primeira a reconhecer o corpo dele no Instituto Médico Legal.

 

Se você juntar miséria e Catolicismo, só pode dar besteira.

 

Festança malévola: trilha de terror aberta pelos Estados Unidos no Iraque.

 

O leitor não tem que escrever, o leitor tem que ler.

 

Os escapistas incorrigíveis, ao entrarem pelo cano, julgam sempre estar vendo a luz no fim do túnel.

 

O Brasil deveria esquecer o cinema. Somos ruins.

 

Sobre Tony Blair: Desconfiem de todo Anthony que se diz Tony.

 

O gol do século: Aquele que Maradona fez com a mão e chutou fora da Copa a seleção inglesa.

 

O belo Leonardo DiCaprio quando emplaca duas chuveiradas em 7 dias está beirando o desmando.

 

'Nunca acredite em nada que não tenha sido negado oficialmente.' (Frase do escritor e jornalista inglês radical Claud Cockburn, apud Ivan Lessa).

 

Circuito de palestras e conferências: Malandragem de alta rentabilidade manjada por todos os ex-1 da vida política.

 

'O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe de forma absoluta.' (John Emerich Edward Dalberg-Acton, primeiro Barão Acton, Nápoles, 10 de janeiro de 1834 – Tegernsee, 19 de junho de 1902, apud Ivan Lessa).

 

 

 

Só se escreve para provocar um amigo, comer alguma mulher ou ganhar muito dinheiro...2

 

Três entre quatro políticos não sabem que país é este. O quarto acha que é a Suíça.

 

Sincretismo religioso é quando um padre não passa debaixo de uma escada.

 

Baiano não nasce, estréia.

 

Todo brasileiro vivo é uma espécie de milagre.

 

Três em cada cinco índios são cada vez mais um só. Os outros dois também.

 

Não há motivo para nos sentirmos à vontade no mundo. Os alienígenas somos nós.

 

 

 

 

O brasileiro tem os dois pés no chão, e as duas mãos também.

 

A Humanidade não suporta muito a Realidade.

 

'Islamofobia: antipatia irrazoável por homens-bomba.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Clássico: qualquer música pop que tenha completado mais de 5 anos.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Banana: fruta empregada para demonstrar às crianças do colégio primário como colocar no membro uma camisinha.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Minorias: subgrupos de indesejáveis politicamente preferíveis.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Ingleses: único povo na face da Terra com direito a ser racista.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Ladrão: larápios que gozam da proteção da lei contra aqueles por eles roubados.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Celebridade: alguém de quem nunca se ouviu falar.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

'Parceiro (ou parceira): companhia sexual com mais de 3 noites de duração.' (O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).

 

Nada do que é irrazoavelmente desumano nos é estranho. Pegamos intimidade com o inusitado.

 

 

 

 

Vamos tirando esse vestidinho e diga 33.
— Doutor, o que é que o senhor está fazendo aí?
— Não se preocupe, minha senhora. A ciência moderna é sempre complicada. Vamos tentar mais uma vezinha.

 

Eu estou por fora de orixá, araçá azul, odara e mandacaru vermelho. Eu estou por fora dessas porras!

 

Três gigantes: Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade... Do outro lado do Atlântico, você tem Fernando Pessoa.

 

O título do romance que não escrevi seria: Nos Astros, Distraído.3

 

Como tudo mais, o futuro é uma incógnita. E só ao demônio pertence.

 

O futuro não chega a ser, para um brasileiro, obscuro, distante e vil como os anos passados. Somos, como diz o vulgo em sua infinita vulgaridade, o país do futuro.

 

Botafogo. Gozado. Flamengo, Vasco, Fluminense. Coitados, têm apenas torcedores; nós temos uma paixão.

 

Na hora em que você acha que um bruto de um ano está domado e seguro em nossas mãos, ele corcoveia, relincha e nos joga no chão.

 

O passado, ao menos, fica lá no canto dele, envolto em sombras, rindo seu riso velhaco, debochando de nós, dos nossos sonhos e das nossas aspirações, da nossa quebração geral de caras.

 

E logo depois da contracultura vem a pró-ignorância.

 

O Brasil é um livro aberto para mim. Ou mar aberto. Com flores brancas e Iemanjá reinando suprema por sobre os mocorongos afogados. Uma coisa assim.

 

Ai, estou ferido! É bala! Acuda! — Vários moradores de apartamentos de alto, médio e baixo luxo na Zona Sul carioca.

 

As telenovelas são a grande contribuição do Brasil à cultura não só sul-americana como também mundial.

 

Em 1959, as mulheres eram mais baratas, eu já estava tomando o meu uísque e tinha carro, um Mercury Monterrey 57. O que eu ganhava por dia dava para comprar um Fusca por mês.

 

 

 

 

 

Eu assisti à destruição do Rio de Janeiro e começo a assistir à decadência de Londres. Espero que não traduzam essa frase e que não me mandem uma bala ao entrar na estação do metrô que me leva à BBC todos os dias.

 

Uma profecia é uma borboleta voando adoidada pelo ar. Um fato é uma bala zunindo em nossa direção.

 

Um camaradinha passou uns meses fora do Rio. Na volta, perguntou ao esplêndido cronista Rubem Braga se havia alguma novidade. O sabiá da crônica, como ele detestava ser chamado (preferia “o vira-bosta da crônica”), do alto de sua serenidade e do seu duplex na Barão da Torre, respondeu sereno de bate-pronto: — Hollywood com filtro.

 

Joel Stein, jornalista e blogueiro americano, apurou que o mundo não terminará, segundo o calendário dos maias, no dia 21 de dezembro de 2012. Tudo é pura fantasia, ou pior, pura má interpretação ou ignorância dos fatos. Não há maia vivo que tenha ouvido falar nessa história de fim de mundo. Para um maia qualquer, previsão apocalíptica é apenas isso: previsão e apocalíptica. No caso, ambas furadas. Joel Stein descobriu ainda que o que acaba é um calendário maia e começa outro. Em dezembro do ano corrente [2012]. Sem banhos de sangue, sem fim de mundo nenhum.

 

Em vez de delivery, é melhor escrever entrega em domicílio. Eu tenho umas implicâncias com brasileiros que querem encaixar palavras em inglês em uma frase em português. Ontem mesmo, eu li: 'a história teve um happy end'. Está errado! O certo é happy ending, um final feliz, e não um fim feliz.

 

Só há uma frase em que nós ganhamos dos ingleses: 'Era uma vez um velhinho'. Em inglês fica: 'Once upon a time there was a little old man'. O dobro do português.

 

O quadro político na Inglaterra é uma chatice inominável. Eu sempre me considerei um animal apolítico.4

 

Ânimo político? Nunca tive, não tenho.

 

Eu tenho uma paisagem interior que anda, marcha, pula...

 

Toda notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por aí.

 

As pessoas que se acham por cima da carne-seca correm o risco de ser confundidas com abóboras.

 

 

 

 

O mundo se divide em dois tipos de pessoas: as que gritam Oba! e as que exclamam Epa! Os Oba! são otimistas, alegres, aproveitadores, oportunistas, barulhentos e donos de um caráter flexível. Os Epa!, por outro lado, são censuradores, precavidos, desconfiados, facilmente escandalizáveis, dotados de um caráter rígido e de pouquíssimo senso de humor.

 

As pessoas que dividem o mundo em dois tipos de pessoas dividem-se em dois outros tipos de pessoas: as pessoas que não gostam dos outros tipos de pessoas e as que gostam dos outros tipos de pessoas.

 

O mundo mente, não importa o progresso tecnológico.

 

 

 

 

A única vantagem da censura é obrigar o cidadão a exercer as disciplinas das entrelinhas, das alegorias e das insinuações.

 

O 'Pasquim' deveria ter acabado logo depois que começaram a botar azeitonas adoidadas em empadas alopradas.

 

Um tipo desagradável: Aquele camarada que, ao falar com você, cola a boca no seu ouvido, como se você fosse surdo.

 

Francês aperta a mão o tempo todo. É um motivo para não ir muito à França.

 

O cara que assoviava no elevador e me irritava – hoje, piorou muito mais. Hoje em dia, ele já entra assoviando dentro da minha alma, não apenas no elevador.

 

Se você não quer torcer num Fla-Flu, se quer ficar sentadinho, deve ter algo de errado com você. E’ melhor vir para Londres, porra!

 

O Pateta, o Mickey e o Pato Donald são vizinhos melhores do que o pessoal que infesta a Barra da Tijuca.

 

Sempre fui muito mais velho e muito mais cético do que Paulo Francis. Por este motivo é que, talvez, ele tenha ido para Nova Iorque e eu tenha vindo para Londres.

 

Eu não guardo o que escrevo. Quem guarda isso é mãe, tia…

 

Pensamentos positivos: Eu quero que o frio vá embora. Meus pulmões estão funcionando cada vez melhor. Semana que vem, ganharei na loteca. Estou cada vez mais jovem, mais alto e mais magro. A pomba da paz pousará finalmente no Iraque e no Afeganistão. A recessão, como a nevasca, passará logo.

 

Nunca, nunca, nunca escrevo sobre mim mesmo. Quando escrevo uma linha ou faço referência, é invariavelmente mentira.

 

Não tomo soníferos. O tempo me ensinou que só há uma técnica para dormir: cansar o corpo durante o dia e, uma vez apagada a luz e fechados os olhos, não pensar em termos de palavras.

 

A insônia é uma máquina do tempo devastadora.

 

De repente é uma locução que o Vinícius tirou patente.

 

O que já foi chamado de 'palavrão', entre nós, acabou de 20 anos para cá. Homem, mulher, criança e papagaio usam, hoje, com a maior naturalidade, o que eram chamados 'termos de baixo calão'. 'Palavrão', asseguram-me profissionais, facilita a comunicação. Aceita esta proposta, apresento minha modesta sugestão. Parem com essa bobagem de 'bumbum'. É bunda mesmo, e não tem nada demais, mesmo que seja mole ou de menos. Bunda significa isso que sabemos: região glútea, nádegas. Seu original era 'mbunda', e era empregada e utilizada pelos angolenses quimbundos da região oeste de Angola – esse simpático país nosso irmão. Então, fica combinado o seguinte: bunda é bunda mesmo e não se fala mais nisso, que eu preciso dormir em paz.

 

Hoje em dia, os vanguardistas não fazem mais do que cumprir necessidades mercadológicas.

 

Sou danado de preguiçoso e falta-me até a vaidade tão necessária ao verdadeiro escritor, que, este sim, precisa porque precisa ser publicado. Com toda razão. Neste sentido, não sou escritor.

 

Nosso jornalismo? Piorou muito. Como quase tudo o mais. Até o xarope de groselha já não é o mesmo.5

 

Eu penso de político o que meu instinto sempre me levou a pensar e, até hoje, nunca me provou enganado. Homem público? Tudo a mesma canalha. E desinteressante, o que é ainda mais grave.

 

O frio me civiliza... Eu, como estou engordando, disfarço melhor a barriga com roupa de frio.

 

Internet —› Dona Nette.

 

Eis o segredo que a ciência acaba de endossar: googleie para viver sem demência ou sentir nas costas o toque gelado dos dedinhos finos de Alzheimer. O vovô e a vovó podem reverter o processo da senilidade ao simples digitar cibernético. 'Digitai para viver' passou a ser o meu lema. Viver mais e melhor, com mais inteligência e sensibilidade. Googlai, irmãos, googlai!

 

 

 

Rodolfo digitando6

 

 

Todo mundo, numa certa altura da vida, quer se botar em ordem. Já que vimos, neste fim de milênio, que o sofá do Freud não deu certo, queremos, então, nos botar em ordem.

 

Quem olhar para a Barra da Tijuca, daqui a trinta anos, vai ver que aquilo é uma cópia de Miami, nos Estados Unidos. Hoje, então, existe um Brasil que aspira a ser Miami…

 

O projeto de reforma ortográfica é uma besteira enorme.7

 

Os acadêmicos [da Academia Brasileira de Letras] estão mais ocupados brincando com suas espadinhas, fantasiados de imortais franceses nos altos edifícios de sua indiferença, ao que fazem em nome da língua que já foi portuguesa do Brasil e, agora, com seu aval, estende seus tentáculos para com Portugal e colônias menores, pois a reforma, que eles gostam de chamar de 'acordo ortográfico', dá um dinheirão para a indústria do livro e aqueles – como os 'imortais' que dela vivem.

 

Os chamados 'alfabetizados' do país estão mais preocupados com BBBs e a eterna questão do denegrir a imagem do país no estrangeiro.

 

A Grã-Bretanha é o país onde gays, lésbicas, transexuais e transgêneros se sentem mais seguros e mais a salvo dos chamados 'crimes de ódio' ou meras galhofas e maldades. Já a Rússia e a Moldávia são países que, juntamente com Ucrânia, Armênia, Belarus, Azerbaijão e Turquia, e talvez até mais surpreendentemente, Macedônia, Lichtenstein, Mônaco e San Marino, estão lá por baixo no ranking gay.

 

 

Chega de Homofobia!8

 

 

Ainda estou moço. Só tenho 64 anos. Pode ser que a depressão ainda venha.

 

O Mundo Cão aí está a ganir em nossas fuças e a gente nem quer saber. Au! Au!

 

Agora, eu vou levantar, vou sair por aquela porta e não vou olhar para trás.

 

Enfim, cavaleiro do reino de sei lá o quê.

 

Só quero ver quanta gente vai ser sincera no meu funeral.

 

Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém ao meu lado.

 

Maioria silenciosa? Essa agora é comigo.

 

Agora é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.

 

Levou tempo, mas cortei, enfim, meu cordão umbilical.

 

 

 

Basta!

 

 

 

Basta de homofobia!

Basta de sobrevalia!

Basta de canalhice!

Basta de bandalhice!

 

Basta de altibaixo!

Basta de só-pra-baixo!

Basta de dessentir!

Basta de sem-porvir!

 

Basta de avareza!

Basta de amareleza!

Soou a Hora! É Hora!

 

Basta de reclamar!

Basta de desandar!

Soou a Hora! É agora!

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Ex-presidentes da República, ex-primeiros-ministros, ex-secretários de Estado, ex-ministros, ex-pessoas importantes, ex-pessoas sem importância alguma, ex-isto, ex-aquilo... E esse troço de fazer palestras e conferências dá uma baba pretíssima!

2. Eu, como não desejo provocar ninguém, comer mulher alguma de ninguém nem ganhar dinheiro (pouco ou muito) de alguém, escrevo puramente por (uma espécie de) amor. Tudo o que aprendi, tudo o que aprendo (e que pode ser divulgado) divulgarei até morrer. E, quando Dona Morte vier inevitavelmente me buscar, só quero ter forças para, mais uma vez, derradeiramente dizer: — Paz ao mundo!

3. Sei lá. Vai ver que a inspiração de Ivan Lessa para dar este título ao romance que ele gostaria de ter escrito tenha vindo de um verso da letra da música Chão de Estrelas, de Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas (1908 – 1998) e Orestes Barbosa (1893 – 1966) – Tu pisavas nos astros distraída... – que Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886 – 1968) dizia ser o mais belo verso de toda a poesia brasileira. Uma curiosidade: o título original de Chão de Estrelas era Sonoridade que Acabou. A mudança foi uma sugestão do advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor paulista Guilherme de Andrade de Almeida (1890 – 1969). Tudo bem, mas, Hoje, eu quero o amor, o amor mais profundo/eu quero toda beleza do mundo/para enfeitar a noite do meu bem, de A Noite do Meu Bem, de Dolores Duran (1930 – 1959), não fica nem um pouquinho atrás.

4. Será que existe um animal apolítico purinho? 100%? O homem, como disse Aristóteles, é um zôion politikón, isto é, um animal político, cuja humanidade, portanto, se estabelece pela necessária relação com a pólis (cidade-Estado). Bem, pense nesta sentença do dramaturgo, poeta e encenador alemão Eugen Berthold Friedrich Brecht (1898 – 1956): O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe ele que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

5, Xarope de groselha é a coisa mais horrível que eu já bebi. Agora, mil vezes pior é você oferecer à uma visita xarope de groselha com cocada. É carreirinha na certa.

6. Só há uma mentirinha naquela animação: eu não tenho todo aquele cabelo! Eu bem que gostaria de ter, mas não tenho. Um dia, há muito tempo atrás, eu tive. Bolas! Meu consolo, que não deixa de ser verdade, é: se cabelo fosse importante, não nasceria naquele lugarzinho.

7. Pois é. Platéia sem acento é desinteressada, meio dispersa e muito chata; idéia sem acento é infelice, uma burrice ou mera mesmice; e uma diarréia sem acento faz o cara se cagar todinho nas calças. Arre! Enfim, por fim, finalmente, como mui (gostou do mui?) acertadamente disse o Poeta Ferreira Gullar, sinceramente, não sei por que, nós, que falamos português, temos essa mania de fazer reformas ortográficas. O português é falado com algumas diferenças nos diferentes países que o falam. A busca de uma uniformidade ortográfica é perda de tempo. Bem, acho que o Poeta foi educadíssimo. Eu, como sou meio mal-educado, com muita honra, teria dito: a busca de uma uniformidade ortográfica é uma merda e acabará dando em merda. Se depender de mim, essa reforma ortográfica de merda jamais medrará! Merdará, isto sim.

8. Nesta matéria, não acho que a coisa se resuma ou se restrinja a ter ou não ter tolerância, a agir ou não agir com magnanimidade ou a condescender ou não com aquilo que é socialmente considerado diferente. Misticismo, aqui, não cabe lá muito bem, pois parece um treco obrigatório e meio onipotente. A coisa é mais simples do que isto: ninguém tem nada com a vida do outro; ninguém tem o direito de julgar o que outro faz com a sua vida. O preconceito (sentimento desfavorável, no caso) aparece exatamente porque o xereta bisbilhota o que o outro está a fazer. E se, por isto ou por aquilo, o mexeriqueiro não gosta ou não concorda com o que o outro está a fazer... Ora, se cada um cuidasse do seu umbigo, já estaria fazendo um excelente trabalho. Mas, como a mediocridade dá de 10 a 0 no bom senso, os medíocres prestam mais atenção, sempre, no umbigo dos outros. Enfim, o fato inconteste é que aquele que ama, que ama de verdade, não dá a menor bola – na verdade, nem presta atenção – se ou outro é negro, amarelo, branco, vermelho, comunista, capitalista, abastado, sem-porra-nenhuma, curiboca, cafuzo, aborígine, judeu, muçulmano, budista, católico, ateu, gnóstico, agnóstico, piroca (no sentido de calvo), cabeludo (no sentido de peludo), desembarrigado, pançudo, baixinho, altão, perneta, maneta, dedeta, bem-dotado, maldotado, mirolho, caolho, roncolho, saquarema, queque, lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, transgênero, hétero ou o que seja ou o que for. 'Maioria' e 'minoria' não se resumem a uma mera continha numérica, estatística; mas, sim, de quanto um grupo, seja ele qual for, consegue efetivar sua cidadania, ou seja, condição de quem se acha no legítimo gozo de todos os direitos assegurados pela Carta Magna. Ponto.

 

 

Haroldo, o Hétero
(Personagem de Chico Anysio)

 

 

Páginas da Internet consultadas:

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story/2009/02/090204_ivanlessa_tp.shtml

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http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos
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jornalista-e-escritor-ivan-lessa-aos-77-anos-em-londres

http://www.ditados.com.br/
autor.asp?autor=Ivan%20Lessa

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/
2012/06/ivan-lessa-em-dez-frases.html

http://s2.glbimg.com/

http://www.ofaj.com.br/
generalidades_contexto.php?cod=3

http://oglobo.globo.com/cultura/
ivan-lessa-invasao-do-iraque-parte-2-3068143

http://www.alashary.org/ivan_jaf/

http://pt.wikiquote.org/wiki/Ivan_Lessa

 

Música de fundo:

Chão de Estrelas
Composição: Sílvio Caldas & Orestes Barbosa
Interpretação: Elizeth Cardoso & Sílvio Caldas

Fonte:

http://www.4shared.com/get/L1Kb
v8me/130_Cho_De_Estrelas.html

 

Direitos autorais:

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