Sorrir
é sempre uma forma de se lidar com simpatia com a realidade.
'A
ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, que a sua
bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza
inimaginável é nas primeiras 24 horas depois de sua morte.'
(Millôr
Fernandes, apud Ivan Lessa).
Quando
a ditadura militar criou o slogan 'Brasil: ame-o ou deixe-o',
Ivan Lessa publicou a resposta:
O último a sair apague
luz do aeroporto.
O
Sol nasce para todos. Já o crepúsculo é meio classe
média.
Brasileiro
não estaciona carro; é retirado das ferragens.
Apanhei-te
horóscopo! Pura enganação!
Enfim,
ano bissexto nunca mais. Esses ficam para o Jaguar. O resto pro Ziraldo.
Custou, mas estou acima de qualquer
lei que vocês bolarem aí.
Consegui
preservar o mistério sempre girando em meu torno.
Na
verdade, nunca me senti à vontade nessa posição incômoda
de cidadão do mundo.
Ei,
juventude, pode vir que pelo menos uma vaga está aberta.
Bananão:
como Ivan Lessa debochadamente
chamava o
Brasil.
Intelectual
não vai à praia! Intelectual bebe!
A
cor? Nada de timidez. Verde pálido, nem pensar. Bom pepino mesmo
só o bem escuro.
A
capital do Brasil é o Rio de Janeiro (no verão), Buenos Aires
(no inverno).
Declaração
de Independência: E algum de nós é verdadeiramente livre?
Principais
exportações brasileiras: música, borracha, álibis,
bauxita, panfletos explicando o que é a bauxita.
Principais
importações brasileiras:
fugitivos, peças de Volkswagen.
Zé Carioca é um dos
mais famosos cáftens brasileiros.
Zé
Carioca
Amar
é... ser a primeira a reconhecer o corpo dele no Instituto Médico
Legal.
Se
você juntar miséria e Catolicismo, só pode dar besteira.
Festança
malévola: trilha de terror aberta pelos Estados Unidos no Iraque.
O
leitor não tem que escrever, o leitor tem que ler.
Os
escapistas incorrigíveis, ao entrarem pelo cano, julgam sempre estar
vendo a luz no fim do túnel.
O
Brasil deveria esquecer o cinema. Somos ruins.
Sobre
Tony Blair: Desconfiem de todo Anthony que se diz Tony.
O
gol do século: Aquele que Maradona fez com a mão
e chutou fora da Copa a seleção inglesa.
O
belo Leonardo DiCaprio quando emplaca duas chuveiradas em 7 dias está
beirando o desmando.
'Nunca
acredite em nada que não tenha sido negado oficialmente.' (Frase
do escritor e jornalista inglês radical Claud Cockburn, apud
Ivan Lessa).
Circuito
de palestras e conferências: Malandragem de alta rentabilidade
manjada por todos os ex-1
da vida política.
'O
poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe de forma absoluta.'
(John
Emerich Edward Dalberg-Acton, primeiro Barão Acton, Nápoles,
10 de janeiro de 1834 – Tegernsee, 19 de junho de 1902, apud
Ivan Lessa).
Só
se escreve para provocar um amigo, comer alguma mulher ou ganhar muito dinheiro...2
Três
entre quatro políticos não sabem que país é
este. O quarto acha que é a Suíça.
Sincretismo
religioso é quando um padre não passa debaixo de uma escada.
Baiano
não nasce, estréia.
Todo brasileiro vivo é uma
espécie de milagre.
Três
em cada cinco índios são cada vez mais um só. Os outros
dois também.
Não
há motivo para nos sentirmos à vontade no mundo. Os alienígenas
somos nós.
O
brasileiro tem os dois pés no chão, e as duas mãos
também.
A Humanidade não suporta muito
a Realidade.
'Islamofobia:
antipatia irrazoável por homens-bomba.' (O
Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Clássico:
qualquer música pop que tenha completado mais de 5 anos.'
(O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Banana:
fruta empregada para demonstrar às crianças do colégio
primário como colocar no membro uma camisinha.'
(O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Minorias:
subgrupos de indesejáveis politicamente preferíveis.'
(O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Ingleses:
único povo na face da Terra com direito a ser racista.'
(O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Ladrão:
larápios que gozam da proteção da lei contra aqueles
por eles roubados.' (O
Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Celebridade:
alguém de quem nunca se ouviu falar.'
(O Léxico Politicamente Incorreto, Peter Mullen, apud
Ivan Lessa).
'Parceiro
(ou parceira): companhia sexual com mais de 3 noites de duração.'
(O Léxico Politicamente
Incorreto, Peter Mullen, apud Ivan Lessa).
Nada
do que é irrazoavelmente desumano nos é estranho. Pegamos
intimidade com o inusitado.
—
Vamos tirando esse vestidinho e diga 33.
— Doutor, o que é que o senhor está fazendo aí?
— Não se preocupe, minha senhora. A ciência moderna é
sempre complicada. Vamos tentar mais uma vezinha.
Eu estou por fora de orixá,
araçá azul, odara e mandacaru vermelho. Eu estou por fora
dessas porras!
Três
gigantes: Manoel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e
Carlos Drummond de Andrade... Do outro lado do Atlântico, você
tem Fernando Pessoa.
O
título do romance que não escrevi seria: Nos Astros, Distraído.3
Como
tudo mais, o futuro é uma incógnita. E só ao demônio
pertence.
O futuro não chega a ser,
para um brasileiro, obscuro, distante e vil como os anos passados. Somos,
como diz o vulgo em sua infinita vulgaridade, o país do futuro.
Botafogo. Gozado. Flamengo, Vasco,
Fluminense. Coitados, têm apenas torcedores; nós temos uma
paixão.
Na
hora em que você acha que um bruto de um ano está domado e
seguro em nossas mãos, ele corcoveia, relincha e nos joga no chão.
O passado, ao menos, fica lá
no canto dele, envolto em sombras, rindo seu riso velhaco, debochando de
nós, dos nossos sonhos e das
nossas aspirações, da
nossa quebração geral de caras.
E
logo depois da contracultura vem a pró-ignorância.
O
Brasil é um livro aberto para mim. Ou mar aberto. Com flores brancas
e Iemanjá reinando suprema por sobre os mocorongos afogados. Uma
coisa assim.
—
Ai, estou ferido! É bala! Acuda! —
Vários moradores de apartamentos de alto, médio e baixo luxo
na Zona Sul carioca.
As
telenovelas são a grande contribuição do Brasil à
cultura não só sul-americana como também mundial.
Em
1959, as mulheres eram mais baratas, eu já estava tomando o meu uísque
e tinha carro, um Mercury Monterrey 57. O que eu ganhava por dia dava para
comprar um Fusca por mês.
Eu
assisti à destruição do Rio de Janeiro e começo
a assistir à decadência de Londres. Espero que não traduzam
essa frase e que não me mandem uma bala ao entrar na estação
do metrô que me leva à BBC todos os dias.
Uma profecia é uma borboleta
voando adoidada pelo ar. Um fato é uma bala zunindo em nossa direção.
Um
camaradinha passou uns meses fora do Rio. Na volta, perguntou ao esplêndido
cronista Rubem Braga se havia alguma novidade. O sabiá da crônica,
como ele detestava ser chamado (preferia “o vira-bosta da crônica”),
do alto de sua serenidade e do seu duplex na Barão da Torre, respondeu
sereno de bate-pronto: — Hollywood com filtro.
Joel
Stein, jornalista e blogueiro americano, apurou que o mundo não terminará,
segundo o calendário dos maias, no dia 21 de dezembro de 2012. Tudo
é pura fantasia, ou pior, pura má interpretação
ou ignorância dos fatos. Não há maia vivo que tenha
ouvido falar nessa história de fim de mundo. Para um maia qualquer,
previsão apocalíptica é apenas isso: previsão
e apocalíptica. No caso, ambas furadas. Joel
Stein descobriu
ainda que o que acaba é um calendário maia e começa
outro. Em dezembro do ano corrente [2012].
Sem banhos de sangue, sem fim de mundo nenhum.
Em
vez de delivery, é melhor escrever entrega em domicílio. Eu
tenho umas implicâncias com brasileiros que querem encaixar palavras
em inglês em uma frase em português. Ontem mesmo, eu li: 'a
história teve um happy end'. Está errado! O certo é
happy ending, um final feliz, e não um fim feliz.
Só
há uma frase em que nós ganhamos dos ingleses: 'Era uma vez
um velhinho'. Em inglês fica: 'Once upon a time there was a little
old man'. O dobro do português.
O
quadro político na Inglaterra é uma chatice inominável.
Eu sempre me considerei um animal apolítico.4
Ânimo
político? Nunca tive, não tenho.
Eu
tenho uma paisagem interior que anda, marcha, pula...
Toda
notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por
aí.
As
pessoas que se acham por cima da carne-seca correm o risco de ser confundidas
com abóboras.
O
mundo se divide em dois tipos de pessoas: as que gritam Oba! e as que exclamam
Epa! Os Oba! são otimistas, alegres, aproveitadores, oportunistas,
barulhentos e donos de um caráter flexível. Os Epa!, por outro
lado, são censuradores, precavidos, desconfiados, facilmente escandalizáveis,
dotados de um caráter rígido e de pouquíssimo senso
de humor.
As
pessoas que dividem o mundo em dois tipos de pessoas dividem-se em dois
outros tipos de pessoas: as pessoas que não gostam dos outros tipos
de pessoas e as que gostam dos outros tipos de pessoas.
O
mundo mente, não importa o progresso tecnológico.
A
única vantagem da censura é obrigar o cidadão a exercer
as disciplinas das entrelinhas, das alegorias e das insinuações.
O
'Pasquim' deveria ter acabado logo depois que
começaram a botar azeitonas adoidadas em empadas alopradas.
Um
tipo desagradável: Aquele camarada que, ao falar com você,
cola a boca no seu ouvido, como se você fosse surdo.
Francês aperta a mão
o tempo todo. É um motivo para não ir muito à França.
O cara que assoviava no elevador
–
e me irritava – hoje, piorou muito mais. Hoje em
dia, ele já entra assoviando dentro da minha alma, não apenas
no elevador.
Se
você não quer
torcer num Fla-Flu, se quer ficar sentadinho, deve ter
algo de errado com você. E’ melhor vir para Londres, porra!
O
Pateta, o Mickey e o Pato Donald são vizinhos melhores
do que o pessoal que infesta a Barra da Tijuca.
Sempre
fui muito mais velho e muito mais cético do que Paulo Francis. Por
este motivo é que, talvez, ele tenha ido para Nova Iorque e eu tenha
vindo para Londres.
Eu não guardo o que escrevo.
Quem guarda isso é mãe, tia…
Pensamentos
positivos: Eu quero que o frio vá embora. Meus pulmões
estão funcionando cada vez melhor. Semana que vem, ganharei na loteca.
Estou cada vez mais jovem, mais alto e mais magro. A pomba da paz pousará
finalmente no Iraque e no Afeganistão. A recessão, como a
nevasca, passará logo.
Nunca, nunca, nunca escrevo sobre
mim mesmo. Quando escrevo uma linha ou faço referência, é
invariavelmente mentira.
Não
tomo soníferos. O tempo me ensinou que só há uma técnica
para dormir: cansar o corpo durante o dia e, uma vez apagada a luz e fechados
os olhos, não pensar em termos de palavras.
A insônia é uma máquina
do tempo devastadora.
De
repente é uma locução que o Vinícius tirou patente.
O
que já foi chamado de 'palavrão', entre nós, acabou
de 20 anos para cá. Homem, mulher, criança e papagaio usam,
hoje, com a maior naturalidade, o que eram chamados 'termos de baixo calão'.
'Palavrão', asseguram-me profissionais, facilita a comunicação.
Aceita esta proposta, apresento minha modesta sugestão. Parem com
essa bobagem de 'bumbum'. É bunda mesmo, e não tem nada demais,
mesmo que seja mole ou de menos. Bunda significa isso que sabemos: região
glútea, nádegas. Seu original era 'mbunda', e era empregada
e utilizada pelos angolenses quimbundos da região oeste de Angola
– esse simpático país nosso irmão. Então,
fica combinado o seguinte: bunda é bunda mesmo e não se fala
mais nisso, que eu preciso dormir em paz.
Hoje
em dia, os vanguardistas não fazem mais do que cumprir necessidades
mercadológicas.
Sou
danado de preguiçoso e falta-me até a vaidade tão necessária
ao verdadeiro escritor, que, este sim, precisa porque precisa ser publicado.
Com toda razão. Neste sentido, não sou escritor.
Nosso
jornalismo? Piorou muito. Como quase tudo o mais. Até o xarope de
groselha já não é o mesmo.5
Eu
penso de político o que meu instinto sempre me levou a pensar e,
até hoje, nunca me provou enganado. Homem público? Tudo a
mesma canalha. E desinteressante, o que é ainda mais grave.
O
frio me civiliza... Eu, como estou engordando, disfarço melhor a
barriga com roupa de frio.
Internet
—›
Dona Nette.
Eis
o segredo que a ciência acaba de endossar: googleie para viver sem
demência ou sentir nas costas o toque gelado dos dedinhos finos de
Alzheimer. O vovô e a vovó podem reverter o processo da senilidade
ao simples digitar cibernético. 'Digitai para viver' passou a ser
o meu lema. Viver mais e melhor, com mais inteligência e sensibilidade.
Googlai, irmãos, googlai!
Rodolfo
digitando6
Todo
mundo, numa certa altura da vida, quer se botar em ordem. Já que
vimos, neste fim de milênio, que o sofá do Freud não
deu certo, queremos,
então, nos botar em ordem.
Quem olhar para a Barra da Tijuca,
daqui a trinta anos, vai ver que aquilo é uma cópia de Miami,
nos Estados Unidos. Hoje, então, existe um Brasil que aspira a ser
Miami…
O
projeto de reforma ortográfica é uma besteira enorme.7
Os
acadêmicos [da
Academia Brasileira de Letras] estão
mais ocupados brincando com suas espadinhas, fantasiados de imortais franceses
nos altos edifícios de sua indiferença, ao que fazem em nome
da língua que já foi portuguesa do Brasil e, agora, com seu
aval, estende seus tentáculos para com Portugal e colônias
menores, pois a reforma, que eles gostam de chamar de 'acordo ortográfico',
dá um dinheirão para a indústria do livro e aqueles
– como os 'imortais' –
que dela vivem.
Os
chamados 'alfabetizados' do país estão mais preocupados com
BBBs e a eterna questão do denegrir a imagem do país no estrangeiro.
A
Grã-Bretanha é o país onde gays, lésbicas, transexuais
e transgêneros se sentem mais seguros e mais a salvo dos chamados
'crimes de ódio' ou meras galhofas e maldades. Já a Rússia
e a Moldávia são países que, juntamente com Ucrânia,
Armênia, Belarus, Azerbaijão e Turquia, e talvez até
mais surpreendentemente, Macedônia, Lichtenstein, Mônaco e San
Marino, estão lá por baixo no ranking gay.
Chega
de Homofobia!8
Ainda
estou moço. Só tenho 64 anos. Pode ser que a depressão
ainda venha.
O
Mundo Cão aí está a ganir em nossas fuças e
a gente nem quer saber. Au! Au!
Agora,
eu vou levantar, vou sair por aquela porta e não vou olhar para trás.
Enfim,
cavaleiro do reino de sei lá o quê.
Só
quero ver quanta gente vai ser sincera no meu funeral.
Roncar, nunca mais. Nem eu nem ninguém
ao meu lado.
Maioria silenciosa? Essa agora é
comigo.
Agora
é conferir se, do outro lado, sobraram tantas virgens assim.
Levou
tempo, mas cortei, enfim, meu cordão umbilical.
Basta!
Basta
de homofobia!
Basta
de sobrevalia!
Basta
de canalhice!
Basta
de bandalhice!
Basta
de altibaixo!
Basta
de só-pra-baixo!
Basta
de dessentir!
Basta
de sem-porvir!
Basta
de avareza!
Basta
de amareleza!
Soou
a Hora! É Hora!
Basta
de reclamar!
Basta
de desandar!
Soou
a Hora! É agora!