Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Causas geram efeitos...
Que produzem causas...
Que deflagram efeitos...
Que provocam causas...
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Quatro de outubro. Anoitecer de uma belíssima quinta-feira. A Primavera austral, mal havia começado, e já começara a lembrar ao Verão: — Prepare-se direitinho; o Natal está chegando. O Verão, meio impaciente, respondeu: — Eu sei, eu sei; todo ano você me lembra a mesma coisa! Você acha que eu poderia me esquecer do Natal?

 

Em uma Loja de uma determinada Fraternidade Mística, os membros começavam a chegar. Aquela noite prometia ser especial. Um Alto Iniciado iria fazer uma palestra. Pouco se sabia dele; apenas que era uma pessoa boníssima, proprietário de um bom humor incomum e, chovendo ou ensolarando, sempre estava disponível para o que desse e viesse.

 

Lá pelas sete horas da noite, chegou o Alto Iniciado. Era bem alto, cabelos louros nazarenos arrumados em um rabo-de-cavalo e um sorriso de fazer inveja à Senhora Lisa. Mas, os olhos... O olhar... Seus olhos azuis, como o céu, transmitiam uma mistura de carinho, proteção, alegria, amor e paz. Era mesmo difícil desgrudar o olhar daqueles olhos! Todavia, a sua idade... Bem, era impossível determinar a idade daquele homem. Poderia ter qualquer idade, mas, não aparentava ter mais do que trinta anos. Isto me faz lembrar a resposta que Madame Blavatsky deu à pergunta do escritor Charles Johnston sobre a idade do Mestre Morya: — Meu querido, não posso dizer exatamente, porque não sei. Mas, conto-lhe o seguinte. Eu encontrei Morya pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de sua força, na época. Agora, sou uma mulher velha, mas, ele não parece nem um dia mais velho. Ele ainda está no auge da sua força. Isto é tudo o que posso dizer. Tire suas próprias conclusões. Quando Charles Johnston insistiu e perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da longa vida, Blavatsky respondeu seriamente: Isto não é um mito. É apenas o véu que esconde um processo oculto real: o afastamento da velhice e da dissolução durante períodos que pareceriam fabulosos. O segredo é o seguinte: para todo ser humano há um climatério, quando ele deve se aproximar da morte. Se ele desperdiçou as suas forças vitais, não há escapatória; mas, se ele viveu de acordo com a Lei, poderá atravessar este período, e, assim, continuar no mesmo corpo quase indefinidamente.

 

O Alto Iniciado cumprimentou os presentes, e, em seguida, a palestra teve início, tendo durado mais ou menos uns quarenta minutos. No final, alguns membros fizeram algumas perguntas, e ele respondeu a todas com a maior boa vontade. E a coisa acabou às quinze para as nove.

 

Por volta das nove horas da noite, os membros começaram a se despedir para retornar às suas casas. Em um canto da sala, o Alto Iniciado conversava com alguns oficiais da Loja, quando um senhor de uns sessenta anos se aproximou, claudicando. Por um momento, todos pararam de conversar.

 

O senhor, então, educadamente, dirigindo-se a todos, disse: — Obrigado por esta noite; foi muito ilustrativa.

 

A partir daí, se deu o seguinte diálogo, e aconteceu o que relatarei:

 

O Alto Iniciado: — Fico feliz por ter sido útil.

 

O senhor: — Você foi mais do que útil. Confirmou algumas descobertas que fiz depois da minha doença.

 

O Alto Iniciado: — O que você teve?

 

O senhor: — No ano passado, em julho, pensei que iria morrer. Primeiro, tive um infarto violentíssimo; logo em seguida, sobreveio um acidente vascular cerebral, que deixou seqüelas sérias e irredutíveis no meu corpo.

 

O Alto Iniciado: — Hum... Hum... Eu observei que você tem uma certa dificuldade para andar.

 

O senhor: — É. Mas, agora, a cada dia que passa, me sinto fisicamente mais cansado e sem forças. O lado bom dessa coisa toda que me aconteceu, é que pude olhar para trás, para o meu passado, e rever todas as transgressões que cometi. Como sei que não existe efeito sem causa, quem fabricou este estado catastrófico em que me encontro fui eu. Estou profundamente compungido, mas, fazer o quê?

 

O senhor parou um instante, respirou profundamente, e continuou: — Hoje, já aposentado, me dedico a auxiliar os alcoólatras e os dependentes do uso de drogas. Não sei o que seria de pessoas como estas se não existissem instituições como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos. Mas, sinto que o meu tempo está se esvaindo.

 

De repente, fez-se um silêncio sepulcral. O Alto Iniciado ficou olhando fixamente nos olhos do senhor por aproximadamente um minuto, e, finalmente, disse: — Eu percebo que você compreendeu os descumprimentos e as violações que cometeu. Por outro lado, o trabalho que você está desenvolvendo é, ao mesmo tempo, útil, nobre e categórico. Talvez, eu possa ajudar e melhorar um pouquinho a sua saúde. O que você acha?

 

O senhor: — Fico imensamente grato, apesar de saber que não sou digno. Todavia, quanto mais eu puder compensar meus equívocos passados nesta encarnação, mais preparado estarei para a próxima. Não é assim?

 

O Alto Iniciado: — É assim mesmo. Mas, lembre-se: ninguém é completamente indigno.

 

Naquela altura, todos os membros já haviam se retirado da sala de conferências da Loja, e ali só estavam o Alto Iniciado, o senhor e três oficiais.

 

Dirigindo-se ao senhor, o Alto Iniciado disse: — Por favor, sente-se naquela cadeira e relaxe. Não pense em nada. Com humildade, apenas aceite o que vier, e tenha confiança.

 

Aproximando-se do senhor, o Alto Iniciado, em silêncio... Meus Irmãos: Eu-sou-Deus, Eu-sou-tudo, mas, sem vocês, não posso nada. Consultei o Registro da Vida deste homem, e vi que se arrependeu sinceramente e que compreendeu seus erros. O trabalho que agora vem desenvolvendo é augusto e necessário. Mas, seu coração está por um fio. Ajudem-me a ajudá-lo, porque sozinho sou incapaz.

 

Quando o Alto Iniciado terminou esta oração silente, as luzes da sala tremeluziram, um vento suave perpassou pelo ambiente e uma luz azul-violeta envolveu todos os presentes. O Alto Iniciado colocou a mão direita sobre a cabeça do senhor e a esquerda sobre o seu coração. E assim permaneceu por uns dez minutos. No final, inspirou profundamente e, de uma só vez, pronunciou de forma audível um conjunto de vogais desconhecido dos oficiais da Loja e do próprio senhor. Novamente em silêncio, mentalizou: Está selado. Meus Irmãos, obrigado! Obrigado! Obrigado!

 

O Alto Iniciado: — Então, como você está?

 

O senhor: — Estranho; senti um calor imenso enquanto você estava com as mãos sobre a minha cabeça e sobre o meu coração. Agora, sinto como se tivesse remoçado trinta anos. E, se levantando, tentou dar uns passos, e viu que já não claudicava mais e que o cansaço havia desaparecido. Mas, o que aconteceu?

 

O Alto Iniciado: — Tudo em você foi re-harmonizado. Mas, isto foi possível porque você compreendeu os desacertos que cometeu, se arrependeu sinceramente e está trabalhando com afinco pela Humanidade. Por isto, lhe foi concedida uma moratória, e você terá um tempo extra na Terra para levar a efeito o seu trabalho. Lembre-se da Parábola da Figueira Seca. Figueira que dá figos deve continuar a viver.

 

O senhor: — Então, fiquei curado? Para sempre? Aconteceu um milagre?

 

O Alto Iniciado: — Como eu disse, você foi re-harmonizado. Não aconteceu nenhum milagre, pois, milagres não existem; por mérito seu, apenas isto, a Lei foi acionada. Mas, sozinho, eu não poderia ter feito nada. Três Adeptos me auxiliaram na restauração do seu Corpo Físico. Agora, para sempre depende de você. Como está no 'Caibalion', e você sabe, 'toda causa produz um efeito, todo efeito tem sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei; no Universo, o acaso é inexistente; nada escapa à Lei.'

 

O senhor: — Eu sei que não sou digno de nada disto, mas, obrigado. Muito obrigado.

 

Novamente, silêncio sepulcral. E todos foram para casa. E a Primavera, que assistira a tudo, sorriu. O Verão, esfuziante como sempre, bateu palmas.

 

 

 

Nada acontece por acaso;
para tudo, há uma causa.

 

 

 

Música de fundo:

Days of Wine and Roses
Composição: Henry Mancini (música) & Johnny Mercer (letra)
Interpretação: Andy Williams

Fonte:

http://tempfile.ru/file/1914341

 

Páginas das Internet consultadas:

http://www.todayifoundout.com/index.php/
2010/03/how-a-sewing-machine-works/

http://mographicsrssfeed.tumblr.com/

http://www.grandefraternidadebranca.com.br/
mestre_morya.htm

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.