Quatro
de outubro. Anoitecer de uma belíssima quinta-feira. A Primavera
austral, mal havia começado, e já começara a lembrar
ao Verão: — Prepare-se
direitinho; o Natal está chegando. O Verão, meio
impaciente, respondeu: — Eu
sei, eu sei; todo ano você me lembra a mesma coisa! Você acha
que eu poderia me esquecer do Natal?
Em
uma Loja de uma determinada Fraternidade Mística, os membros começavam
a chegar. Aquela noite prometia ser especial. Um Alto Iniciado iria fazer
uma palestra. Pouco se sabia dele; apenas que era uma pessoa boníssima,
proprietário de um bom humor incomum e, chovendo ou ensolarando,
sempre estava disponível para o que desse e viesse.
Lá
pelas sete horas da noite, chegou o Alto Iniciado. Era bem alto, cabelos
louros nazarenos arrumados em um rabo-de-cavalo e um sorriso de fazer inveja
à Senhora Lisa. Mas, os olhos... O olhar... Seus olhos azuis, como
o céu, transmitiam uma mistura de carinho, proteção,
alegria, amor e paz. Era mesmo difícil desgrudar o olhar daqueles
olhos! Todavia, a sua idade... Bem, era impossível determinar a idade
daquele homem. Poderia ter qualquer idade, mas, não aparentava ter
mais do que trinta anos. Isto me faz lembrar a resposta que Madame Blavatsky
deu à pergunta do escritor Charles Johnston sobre a idade do Mestre
Morya: — Meu
querido, não posso dizer exatamente, porque não sei. Mas,
conto-lhe o seguinte. Eu encontrei Morya pela primeira vez quando tinha
vinte anos. Ele era um homem no auge de sua força, na época.
Agora, sou uma mulher velha, mas, ele não parece nem um dia mais
velho. Ele ainda está no auge da sua força. Isto é
tudo o que posso dizer. Tire suas próprias conclusões. Quando
Charles
Johnston insistiu e perguntou
se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da longa vida, Blavatsky
respondeu seriamente: —
Isto não é um mito. É apenas o véu que esconde
um processo oculto real: o afastamento da velhice e da dissolução
durante períodos que pareceriam fabulosos. O segredo é o seguinte:
para todo ser humano há um climatério, quando ele deve se
aproximar da morte. Se ele desperdiçou as suas forças vitais,
não há escapatória; mas, se ele viveu de acordo com
a Lei, poderá atravessar este período, e, assim, continuar
no mesmo corpo quase indefinidamente.
O
Alto Iniciado cumprimentou os presentes, e, em seguida, a palestra teve
início, tendo durado mais ou menos uns quarenta minutos. No final,
alguns membros fizeram algumas perguntas, e ele respondeu a todas com a
maior boa vontade. E a coisa acabou às quinze para as nove.
Por
volta das nove horas da noite, os membros começaram a se despedir
para retornar às suas casas. Em um canto da sala, o Alto Iniciado
conversava com alguns oficiais da Loja, quando um senhor de uns sessenta
anos se aproximou, claudicando. Por um momento, todos pararam de conversar.
O
senhor, então, educadamente, dirigindo-se a todos, disse: —
Obrigado por esta
noite; foi muito ilustrativa.
A
partir daí, se deu o seguinte diálogo, e aconteceu o que relatarei:
O
Alto Iniciado: — Fico
feliz por ter sido útil.
O
senhor: — Você
foi mais do que útil. Confirmou algumas descobertas que fiz depois
da minha doença.
O
Alto Iniciado: — O
que você teve?
O
senhor: — No
ano passado, em julho, pensei que iria morrer. Primeiro, tive um infarto
violentíssimo; logo em seguida, sobreveio um acidente vascular cerebral,
que deixou seqüelas sérias e irredutíveis no meu corpo.
O
Alto Iniciado: — Hum...
Hum... Eu observei que você
tem uma certa dificuldade para andar.
O
senhor: — É.
Mas, agora, a cada dia que passa, me sinto fisicamente mais cansado e sem
forças. O lado bom dessa coisa toda que me aconteceu, é que
pude olhar para trás, para o meu passado, e rever todas as transgressões
que cometi. Como sei que não existe efeito sem causa, quem fabricou
este estado catastrófico em que me encontro fui eu. Estou profundamente
compungido, mas, fazer o quê?
O
senhor parou um instante, respirou profundamente, e continuou: —
Hoje, já aposentado, me dedico a auxiliar os alcoólatras e
os dependentes do uso de drogas. Não sei o que seria de pessoas como
estas se não existissem instituições como os Alcoólicos
Anônimos e os Narcóticos Anônimos. Mas, sinto que o meu
tempo está se esvaindo.
De
repente, fez-se um silêncio sepulcral. O Alto Iniciado ficou olhando
fixamente nos olhos do senhor por aproximadamente um minuto, e, finalmente,
disse: — Eu
percebo que você compreendeu os descumprimentos e as violações
que cometeu. Por outro lado, o trabalho que você está desenvolvendo
é, ao mesmo tempo, útil, nobre e categórico. Talvez,
eu possa ajudar e melhorar um pouquinho a sua saúde. O que você
acha?
O
senhor: — Fico
imensamente grato, apesar de saber que não sou digno. Todavia, quanto
mais eu puder compensar meus equívocos passados nesta encarnação,
mais preparado estarei para a próxima. Não é assim?
O
Alto Iniciado: — É
assim mesmo. Mas, lembre-se: ninguém é completamente indigno.
Naquela
altura, todos os membros já haviam se retirado da sala de conferências
da Loja, e ali só estavam o Alto Iniciado, o senhor e três
oficiais.
Dirigindo-se
ao senhor, o Alto Iniciado disse: — Por
favor, sente-se naquela cadeira e relaxe. Não pense em nada.
Com humildade, apenas aceite o que vier, e tenha confiança.
Aproximando-se
do senhor, o Alto Iniciado,
em silêncio... Meus
Irmãos: Eu-sou-Deus, Eu-sou-tudo, mas, sem vocês, não
posso nada. Consultei o Registro da Vida deste homem, e vi que se arrependeu
sinceramente e que compreendeu seus erros. O trabalho que agora vem desenvolvendo
é augusto e necessário. Mas, seu coração está
por um fio. Ajudem-me a ajudá-lo, porque sozinho sou incapaz.
Quando
o Alto
Iniciado terminou
esta oração silente, as luzes da sala tremeluziram, um vento
suave perpassou pelo ambiente e uma luz azul-violeta envolveu todos os presentes.
O Alto Iniciado
colocou a mão direita sobre a cabeça do senhor e a esquerda
sobre o seu coração. E assim permaneceu por uns dez minutos.
No final, inspirou profundamente e,
de uma só vez, pronunciou
de forma audível um conjunto de vogais desconhecido dos oficiais
da Loja e do próprio senhor. Novamente em silêncio, mentalizou:
Está selado.
Meus Irmãos, obrigado! Obrigado!
Obrigado!
O
Alto Iniciado: — Então,
como você está?
O
senhor: — Estranho;
senti um calor imenso enquanto você estava com as mãos sobre
a minha cabeça e sobre o meu coração. Agora, sinto
como se tivesse remoçado trinta anos. E,
se levantando, tentou dar uns passos, e viu que já não claudicava
mais e que o cansaço havia desaparecido. —
Mas, o que aconteceu?
O
Alto Iniciado: — Tudo
em você foi re-harmonizado. Mas, isto foi possível porque você
compreendeu os desacertos que cometeu, se arrependeu sinceramente e está
trabalhando com afinco pela Humanidade. Por isto, lhe foi concedida uma
moratória, e você terá um tempo extra na Terra para
levar a efeito o seu trabalho. Lembre-se da Parábola da Figueira
Seca. Figueira que dá figos deve continuar a viver.
O
senhor: — Então,
fiquei curado? Para sempre? Aconteceu um milagre?
O
Alto Iniciado: — Como
eu disse, você foi re-harmonizado. Não
aconteceu nenhum milagre, pois, milagres não existem; por mérito
seu, apenas isto, a Lei foi acionada. Mas,
sozinho, eu não poderia ter feito nada. Três Adeptos me auxiliaram
na restauração do seu Corpo Físico. Agora, para sempre
depende de você. Como está no 'Caibalion', e você sabe,
'toda causa produz um efeito, todo efeito tem sua causa; tudo acontece de
acordo com a Lei; no Universo, o acaso é inexistente; nada escapa
à Lei.'
O
senhor: — Eu
sei que não sou digno de nada disto, mas, obrigado. Muito obrigado.
Novamente,
silêncio sepulcral. E todos foram para casa. E a Primavera, que assistira
a tudo, sorriu. O Verão, esfuziante como sempre, bateu palmas.
Nada
acontece por acaso;
para
tudo, há uma causa.
Música
de fundo:
Days of Wine and Roses
Composição: Henry Mancini (música) & Johnny Mercer
(letra)
Interpretação: Andy Williams
Fonte:
http://tempfile.ru/file/1914341
Páginas
das Internet consultadas:
http://www.todayifoundout.com/index.php/
2010/03/how-a-sewing-machine-works/
http://mographicsrssfeed.tumblr.com/
http://www.grandefraternidadebranca.com.br/
mestre_morya.htm
Direitos
autorais:
As animações,
as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo)
neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar
o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright
são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a
quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las,
se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar
que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei
do ar imediatamente.