Este
texto é a 9ª parte de um resumo, em forma de fragmentos (às
vezes, comentados, às vezes, seguidos de uma animação
explicativa) de um estudo que fiz da obra Isis
Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and
Theology (em português, Ísis sem Véu:
Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência
e Teologia) publicado em 1877. É um livro de filosofia esotérica,
e é a primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky – um
texto-chave no movimento teosófico e um marco na história
do esoterismo ocidental. Como este será um trabalho muito extenso,
para não ficar cansativo para o leitor, cada parte conterá
apenas 30 fragmentos.
Fragmentos
Devido
ao incêndio da Biblioteca de Alexandria e à destruição
de Nínive, o mundo foi privado, durante muitos séculos, dos
dados necessários para poder avaliar o verdadeiro conhecimento, esotérico
e exotérico, dos Antigos.
O
instinto é mais digno de fé do que a razão mais instruída
e desenvolvida no que concerne ao sentido interior do homem, que lhe assegura
a sua imortalidade. O instinto é o dote universal da Natureza conferido
pelo Espírito da própria Divindade; a Razão, o lento
desenvolvimento de nossa constituição física, é
uma evolução de nosso cérebro material adulto.
O
primeiro lugar deve ser dado ao Espírito Informe; a forma e a substância
material têm importância secundária. Cada espécie,
aperfeiçoada na evolução física, apenas oferece
mais campo de ação à Inteligência Dirigente,
para que ela aja no interior do sistema nervoso melhorado.
Inevitavelmente,
a Humanidade, encabeçada pela própria Ciência, para,
de fato, Compreender, terá que retornar, inevitavelmente, ao ponto
de partida das Filosofias mais antigas. Enquanto isso, ficará com
a mesma velha dúvida dos Banqueteadores de Plutarco: saber se foi
o pássaro ou se foi o ovo que primeiro fez a sua aparição
no mundo.1
Os
deuses das seitas e dos cultos,
disse o médico, cirurgião, professor e um dos primeiros pesquisadores
em Parapsicologia e Hipnoterapia Rufus Osgood Mason (22 de janeiro de 1830
–
11 de maio de 1903, talvez,
estejam frustrados com o respeito a que estão acostumados, mas, ao
mesmo tempo, está demonstrado no mundo, com uma luz doce e mais serena,
a concepção, tão imperfeita quanto ainda possa ser,
de uma alma consciente, originadora de coisas, ativa e que tudo penetra
- a 'Super-alma', a Causa, a Divindade, todavia, não-revelada pela
forma humana ou pela palavra, mas, que preenche e inspira toda [personalidade-]alma
vivente no vasto Universo, de acordo com as suas medidas, e cujo templo
é a Natureza e cuja adoração é a admiração.
O
pouco de instinto que uma criança possui se extingue à medida
que a razão, passo a passo, se desenvolve.
O
zoólogo
e geólogo suíço Jean
Louis Rodolphe Agassiz (Môtier, 18 de maio de 1807 —
Cambridge, 14 de dezembro de 1873) não pôde conceber a idéia
de uma existência futura que não fosse partilhada pelos animais
e mesmo pelo reino vegetal que nos cerca.
Os
Filósofos Esotéricos professavam que tudo em a Natureza é
apenas uma materialização do Espírito. A Primeira Causa
Eterna é Espírito Latente, disseram eles, e matéria
desde o começo. No
princípio era o Verbo (...) e o Verbo era Deus. Admitindo
sempre que essa Idéia de um Deus é uma abstração
impensável para a razão humana, pretendiam eles que o instinto
humano infalível Dela se apoderasse como uma reminiscência
de algo concreto para ele, embora fosse intangível para os nossos
sentidos físicos. Com a Primeira Idéia, que emanou da Divindade
Bissexual e até então inativa, o primeiro movimento foi comunicado
a todo o Universo, e a vibração elétrica foi instantaneamente
sentida através do espaço sem fim. O Espírito engendrou
a Força e a Força, a Matéria (que não é,
certamente, a nossa matéria visível, tangível e divisível,
mas, a sua sublimação extrema). O Espírito Puro é
apenas um degrau superior. E assim, a Divindade latente se manifestou como
uma Energia Criadora [que
nunca criou nada do nada.]
Tanto
Platão (Atenas, 428/427 –
Atenas, 348/347 a.C.) como Aristóteles (Estagira, 384 a.C.
–
Atenas, 322 a.C.) ensinaram que tudo,
antes de aparecer sobre a Terra, primeiramente, existiu
em Espírito.
Houve,
desde sempre,
um Arquétipo Eterno Imutável
que sempre gerou os tipos.
Há, presentemente,
um Arquétipo Eterno Imutável
que gera os tipos.
Haverá, para sempre,
um Arquétipo Eterno Imutável
que sempre gerará os tipos.
Houve +
Há +
Haverá =
1.
A
Vedanta2
afirma que todo aquele que obtêm o Completo Conhecimento do seu Deus
Interior se torna um Deus, e, embora estando em seu corpo mental, adquire
supremacia sobre todas as coisas. Existe,
na verdade, apenas uma Divindade, o Espírito Supremo, e Ele é
da mesma natureza que a [personalidade-]alma
do ser-humano-aí-no-mundo. O olho nunca veria o Sol se ele não
fosse da mesma natureza do Sol, disse
Plotino (cerca de 204/5 –
270). Só por meio da pureza e da castidade superiores
nós nos aproximaremos de Deus e receberemos, na contemplação
d'Ele, o Conhecimento Verdadeiro e a Intuição, escreveu
Porfírio (cerca de 234 –
cerca
de 304/309). Os antigos diziam que existe
um Corpo Celestial sempre unido à [personalidade-]alma,
e que é imortal, luminoso e da natureza da estrela.
De
acordo com os Antigos, a Razão procede do Divino; o instinto procede
do que é puramente humano. O instinto é um
produto dos sentidos, uma sagacidade compartilhada com os animais mais inferiores,
mesmo aqueles que não têm razão; a Razão é
o produto das faculdades reflexivas, que denota a judiciosidade e a intelectualidade
humanas. Em conseqüência, um animal desprovido de poderes de
raciocínio tem, no instinto inerente ao seu ser, uma faculdade infalível,
que é apenas uma Centelha do Divino que reside em cada partícula
de matéria inorgânica –
o próprio Espírito materializado. Na Cabala Judaica, o segundo
e o terceiro capítulos do Gênese são explicados da seguinte
maneira: quando o segundo Adão foi criado "do pó",
a matéria se tornou tão grosseira, que ela passou a reinar
soberana. Dos seus desejos, emanou a mulher, e Lilith possuía a melhor
parte do Espírito. O Senhor Deus, passeando
no Éden no frescor do dia (o crepúsculo do
Espírito ou a Luz Divina obscurecida pela sombra da matéria),
amaldiçoou não só aqueles que cometeram o pecado, mas,
também, o próprio solo e todas as coisas vivas –
acima de tudo, a tentadora serpente-matéria.
Quem, a não ser os Cabalistas, é capaz de explicar este aparente
ato de injustiça? Como devemos compreender esta maldição
de todas as coisas criadas, inocentes de todo crime? A alegoria é
evidente. A maldição é inerente à própria
matéria. Segue-se que ela está condenada a lutar contra a
sua própria grosseria, para conseguir a purificação.
A Centelha Latente do Espírito Divino, embora asfixiada, ainda permanece,
e a sua invencível atração ascensional a obriga a lutar,
com dor e com suor, a fim de se libertar. Plotino (204/5 –
270), discípulo do grande Ammonius Saccas (cerca de 175 –
240/242), o principal fundador da Escola Neoplatônica, ensinou
que o conhecimento humano tinha três degraus ascendentes: Opinião,
Ciência e Illuminação. Explicou-o
dizendo que o meio ou instrumento da Opinião é
o sentido ou a percepção; o da Ciência, a Dialética;
e o da Illuminação,
a Intuição (ou
o Instinto Divino). A esta última, se subordina a
Razão; ela é o conhecimento abstrato fundado na identificação
da mente com o objeto conhecido.
Platão
(Atenas, 428/427 –
Atenas, 348/347 a.C aconselhava àqueles que oravam permanecer
em Silêncio na presença dos Seres Divinos, até que eles
removessem a nuvem de seus olhos e os tornassem aptos a Ver, graças
à Luz que sai Deles mesmos.
—
Em silêncio, eu orei,
porém, bulhufas alcancei.
Então, no Silêncio mergulhei,
e, aí, tive acesso à Lei.2
Existe
uma Faculdade da mente humana [Visão
Interior ou Intuição], escreveu
o filósofo neoplatônico assírio Jâmblico (245
– 325),
que é superior a
tudo o que nasce ou é engendrado. Através dela, somos capazes
de conseguir a união com as Inteligências Superiores, ser transportados
para além das cenas deste mundo e participar da Vida Superior e dos
Poderes Peculiares dos Seres Celestiais.
Infelizmente,
lamentavelmente e absurdamente, os
teólogos que sucederam Moisés e Jesus adulteraram
dogmática e, muitas vezes, blasfemamente, as Verdadeiras Doutrinas
que ambos, como
fruto de suas Intuições ou Illuminações,
deram
ao mundo. [O
que sobrou, quase totalmente, mais do que coisas adulteradas e blasfemas,
são coisas abaixantes, aberrantes, agrilhoantes, asfixiantes e ultrajantes.
Eu não sei qual é a pior, mas, para dar apenas um exemplo,
cito a confissão auricular, um verdadeiro desastre espiritual.]
O
que sustenta a fé do ser-humano-aí-no-mundo em Deus e em uma
Vida Espiritual vindoura é a intuição, esse Produto
Divino de nosso íntimo que desafia as pantomimas do padre católico
romano e os seus ídolos ridículos, as mil e uma cerimônias
do brâmane e seus ídolos e as jeremiadas dos pregadores protestantes
e o seu credo desolado e árido, sem ídolos, mas, com um inferno
sem limites e uma danação esperando ao final de tudo. Não
fosse por essa intuição –
imortal, embora freqüentemente indecisa por
ser obscurecida pela matéria –
a vida humana seria uma paródia e a Humanidade
uma fraude. Este sentimento inerradicável de uma Eterna Presença
é tal, que nenhuma contradição dogmática e nenhuma
forma externa de adoração podem destruir na Humanidade, façam
os cientistas e o clero o que decidirem fazer.
Maimônides
(1135 – 1204), cuja
autoridade e cujo conhecimento da História Sagrada dificilmente podem
se recusados, diz: Quem
quer que encontre o sentido verdadeiro do livro do Gênese deve ter
o cuidado de não o divulgar. Se uma pessoa descobrir o seu verdadeiro
significado, por si mesma ou com o auxílio de outra pessoa, ela deve
guardar silêncio. Se falar dele, deve falar apenas obscuramente e
de uma maneira enigmática.3
A
Ciência moderna, não se preocupando em decifrar o verdadeiro
sentido da Bíblia e permitindo que toda a cristandade acredite na
letra morta da teologia judaica, se constitui, tacitamente, em cúmplice
do clero fanático.
Um
dos caracteres mais tristes do Catolicismo é o fato de os seus textos
sagrados terem sido dirigidos contra Ele, e de os ossos dos homens mortos
terem sufocado o Espírito da Verdade!
Os
Deuses existem, disse
o filósofo grego do período helenístico Epicuro de
Samos (341 a.C., Samos –
271 ou 270 a.C., Atenas), mas,
eles não são o que a turba supõe Eles sejam. Por
cerca de quinze séculos, graças às perseguições
brutalmente cegas dos grandes vândalos dos primeiros tempos da História
Cristã, particularmente do imperador
romano Flavius Valerius Constantinus
272 – 337)
e do imperador bizantino Flavius Petrus Sabbatius Iustinianus Augustus (cerca
de 482 –
565), a Sabedoria Antiga degenerou
lentamente, até mergulhar no pântano mais profundo da superstição
monacal e da ignorância. O pitagórico conhecimento
das coisas que são, a profunda erudição
dos gnósticos, os ensinamentos dos grandes filósofos honrados
em todo o mundo e em todos os tempos foram rejeitados como doutrinas do
anticristo e do Paganismo e levado às chamas. Com os últimos
sete homens sábios do Oriente, o grupo remanescente dos neoplatônicos
–
Herméias, Priciano, Diógenes,
Eulálio, Damácio, Simplício e Isidoro –
que se refugiaram na Pérsia,
fugindo das perseguições fanáticas de Justiniano, o
Reino da Sabedoria chegou ao fim.
Afirmação
de Santo Agostinho (354
–
430), um dos mais
importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do Cristianismo,
emprestada por ele das obras do filósofo neoplatônico Ammonius
Saccas (240 –
242): Não
há nenhuma falsa religião que não contenha alguns elementos
de verdade.
Ammonius
Saccas (240 –
242):
A religião da multidão caminhava de mãos dadas
com a Filosofia, e com ela dividia a sorte de ser gradualmente corrompida
e obscurecida com presunções, superstições e
mentiras puramente humanas. Ela deveria, em conseqüência, ser
levada de volta à sua pureza original, por meio da purgação
da sua escória e do seu estabelecimento em Princípios Filosóficos.
O único objetivo do Cristo foi reinstalar e restaurar em sua integridade
primitiva a Sabedoria dos Antigos.
Em
um passado remoto, a Doutrina Secreta ou Sabedoria era idêntica em
todos os países. Em conseqüência, é nos textos
mais antigos –
aqueles mesmos que acabaram contaminados por falsificações
posteriores –
que devemos procurar a Verdade.
A
Semente da Vida
(Será que foi assim?)
—
Eu queria muito conhecer a Verdade.
Procurei em Bagdade. Não encontrei.
Procurei em Hanói. Não encontrei.
Procurei em Niterói. Não encontrei.
Procurei em Atibaia. Não encontrei.
Procurei em Saramandaia. Não encontrei.
Procurei em Feira de Santana. Não encontrei.
Procurei em Copacabana. Não encontrei.
Procurei em Barroquinha. Não encontrei.
Procurei em Frecheirinha. Não encontrei.
Procurei em Jacarta. Não encontrei.
Procurei em Esparta. Não encontrei.
Procurei em Pamplona. Não encontrei.
Procurei em Barcelona. Não encontrei.
Procurei no Quirguistão. Não encontrei.
Procurei no meu Coração. Aí, encontrei!
Todos
os seres, tanto divinos quanto humanos, estão sujeitos às
Leis Universais e Morais, que agem sobre todos, de acordo com a escala de
atos morais.
Um
Adepto, para a produção de fenômenos físicos,
convoca os Espíritos da Natureza como poderes obedientes, não
como inteligências.
Para
os caldeus, que Marcus Tullius Cicero (106
a.C
–
43 a.C) incluía entre os Magos
mais antigos, Magia era sinônimo de religião e de ciência.
A
realidade objetiva dos íncubos e dos súcubos medievais
–
uma superstição abominável
da Idade Média que custou tantas vidas humanas
–
são produtos monstruosos
do fanatismo religioso e da epilepsia.
O
Diabo, em suas várias metamorfoses, é uma falácia.
Quando imaginamos que o vemos, o ouvimos e o sentimos, é, mais freqüentemente,
o reflexo de nossa [personalidade-]alma
perversa, depravada e poluta que vemos, ouvimos e sentimos.
O
semelhante atrai o semelhante, dizem. Assim, de acordo com a disposição
segundo a qual a nossa forma astral escapa durante as horas de sono, de
acordo com os nossos pensamentos, as nossas tendências e as nossas
ocupações diárias, todos eles impressos claramente
sobre a cápsula plástica chamada [personalidade-]alma
humana, esta última atrai para si seres semelhantes a si mesma. Donde
alguns sonhos e visões serem puros e bonitos e outros, perversos
e bestiais.
Freqüentemente,
o verdadeiro crente é forçado a desacreditar de Deus, quando
ele percebe claramente que o Diabo leva a melhor sobre o seu Criador ou
Senhor.
Que
os estudiosos de Ciência Oculta façam a sua própria
natureza tão pura e os seus pensamentos tão elevados, e eles
poderão dormir sem serem molestados pelos vampiros, íncubos
e súcubos. Ao redor da forma invisível daquele que dorme,
o Espírito Imortal irradia um Poder Divino que o protege das investidas
do mal, como se fosse uma parede de cristal.
Continua...