ÍSIS SEM VÉU
(Parte 23)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Este texto é a 23ª e última parte de um resumo, em forma de fragmentos (às vezes, comentados, às vezes, seguidos de uma animação explicativa) de um estudo que fiz da obra Isis Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and Theology (em português, Ísis sem Véu: Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência e Teologia) publicado em 1877. É um livro de filosofia esotérica, e é a primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky – um texto-chave no movimento teosófico e um marco na história do esoterismo ocidental. Como este será um trabalho muito extenso, para não ficar cansativo para o leitor, cada parte conterá apenas 30 fragmentos.

 

Agora, que estamos terminando de estudar juntos esta obra, se você achou que ela foi útil, por favor, divulgue-a. Quanto mais pessoas conhecerem estes ensinamentos, mais próxima a Liberdade estará de todos nós.

 

 

 

Fragmentos

 

 

 

O diabo moderno é o legado principal da Cibele romana, Babilônia, a Grande Mãe das religiões idólatras e abomináveis da Terra.

 

A porção mais culta dos teólogos bramânicos e budistas considera o diabo uma abstração metafísica, uma alegoria do mal necessário; ao passo que para os cristãos o mito se tornou uma entidade histórica, a pedra fundamental sobre a qual se erigiu a Cristandade, com seu dogma de redenção.

 

A Magia, nos tempos antigos, sempre foi considerada como Ciência Divina, Sabedoria e Conhecimento de Deus. A arte de curar, nos Templos de Esculápio e nos Santuários do Egito e do Oriente, sempre foi Magia. Mas, tudo, agora, está mudado. A ignorância foi entronizada como a mãe da devoção. A erudição foi condenada e os sábios prosseguiram em sua obra científica como o perigo de suas vidas. Foram obrigados a expor suas idéias em uma linguagem enigmática, compreendida apenas pelos seus Adeptos e a aceitar o opróbrio, a calúnia e a pobreza.

 

Os primeiros Evangelhos, que já foram tão canônicos quanto os quatro atuais, contêm páginas tomadas quase integralmente das narrativas budistas.

 

Entre todas as várias nações da Antigüidade, não houve uma só que acreditasse num diabo pessoal mais do que os cristãos liberais do século XIX.

 

No Velho Testamento, as expressões portas da morte e câmaras da morte aludem simplesmente às portas do túmulo, mencionadas especificamente nos Salmos e nos Provérbios. O inferno e seu soberano são ambos invenções do Cristianismo, contemporâneos do seu poder e do recurso à tirania. São alucinações nascidas dos pesadelos dos Antônios do deserto.

 

Como se poderia saber o que é o dia, se não se conhecesse a noite?

 

O Cristianismo herdou a degradante superstição de diabos investidos de poderes pestilentos e assassinos.

 

Afirmou o salmista: Todos os deuses das nações são ídolos.

 

Para os Cabalistas, o diabo foi sempre um mito o aspecto invertido de Deus ou do Bem. O Mago moderno, Éliphas Lévi (8 de fevereiro de 1810 31 de maio de 1875), chamou o diabo de l'ivresse astrale [embriaguez, intoxicação ou envenenamento astral].1

 

 

 

 

A comunhão sempre consistiu de pão e de vinho, tendo sido usada na adoração de quase todas as divindades importantes da Antigüidade.

 

Hermes falou da seguinte maneira a Prometeu, acorrentado no rochedo árido do Cáucaso: Teu tormento não cessará, até que Deus (Hércules, o Unigênito, e o Soter ou o Salvador) o substitua em tua aflição, e desça ao lúgubre Hades e às profundezas sombrias do Tártaro!

 

Hércules não sujeitou as nações pela força, mas, pela Sabedoria Divina e pela persuasão, diz Luciano. Hércules disseminou cultura e uma religião suave, e destruiu a doutrina da punição eterna expulsando Cérbero (o Diabo pagão) do mundo inferior. Foi também Hércules quem libertou Prometeu (o Adão dos pagãos), pondo um fim à tortura infligida a ele por transgressões, descendo ao Hades e ao Tártaro. Como Cristo, Hércules apareceu como um substituto para as aflições da Humanidade, oferecendo-se em sacrifício em uma pira funerária. Sua imolação voluntária, diz Bart, augurou o novo nascimento etéreo dos homens. (...) Com a libertação de Prometeu e a ereção de altares, vemos nele um mediador entre os credos antigos e os novos. (...) Ele aboliu o sacrifício humano onde quer que fosse praticado. Desceu ao reino sombrio de Plutão, como uma sombra (...) E ascendeu, como Espírito, a seu Pai, Zeus, no Olimpo.

 

O sacrifício humano [e de qualquer animal] a qualquer deus é uma prática abominável. Todos os Profetas Iniciados da Antigüidade, conhecedores da Doutrina Secreta, se opuseram aos sacrifícios humanos [e de animais].

 

As virtudes cristãs, inculcadas por Jesus no Sermão da Montanha, não são exemplificadas como deveriam ser no mundo cristão.

 

Os Demônios Cabalísticos alegorias que têm um significado mais profundo foram adotados como entidades objetivas, e passaram a constituir uma hierarquia satânica cuidadosamente elaborada pelos demonólogos ortodoxos, [com uma só finalidade: exercer domínio temporal sobre os cagarolas ignorantes]. Mutatis mutandis, o Mote Rosacruz Igne Natura Renovatur Integra (INRI) que os Alquimistas sempre interpretaram como Natureza Renovada Pelo Fogo ou matéria pelo Espírito tem sido imposto até hoje como Iesus Nazarenus Rex Iudeorum. Ora, Jesus, o Iniciado do Santuário Interior, nunca atribuiu a Si-mesmo a posição ou a dignidade de um deus. Disto tudo, após vinte séculos de dogmas, de massacres, de interpolações e de adulterações, a Humanidade está tão irremediavelmente confusa, com sei lá quantas seitas brigando entre si e com um diabo pessoal reinando sobre uma cristandade aterrorizada. Toda esta degradação vem derivando de um zelo piedoso renovado sistematicamente, que só pode ser ultrapassado pela ignorância dos que dogmatizaram, massacraram, interpolaram e adulteraram. Enfim, levantaram-se cruzadas e povos inteiros foram massacrados, a Sabedoria e a Erudição foram condenados como magia e feitiçaria, a ignorância se tornou a mãe da devoção hipócrita, o físico, matemático, astrônomo e filósofo florentino Galileo Galilei (Pisa, 15 de fevereiro de 1564 Firenze, 8 de janeiro de 1642) penou durante longuíssimos anos na prisão por ensinar que o Sol era o centro do Universo Solar e o teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano Giordano Bruno (Nápoles, 1548 Roma, 17 de fevereiro de 1600) foi queimado vivo em Roma em 1.600 por tentar restaurar a Filosofia Antiga.

 

Os Filósofos antigos sempre tiveram como característica metafísica principal proclamar a realidade e a supremacia do Espírito, com uma veemência proporcional à negação da existência objetiva de nosso mundo material fantasma passageiro de formas e de seres temporários. Sempre difundiram a idéia de que tudo é uma ilusão, exceto o Grande Desconhecido e a Sua Essência direta. Essas crenças filosóficas se estendiam como uma rede sobre todo o mundo pré-cristão, e a perseguição e as falsificações supervenientes formam a pedra angular de todas as religiões atualmente existente, além do Cristianismo. Mas, seja como for, os chamados pagãos nunca descobriram nada de novo nos ensinamentos de Jesus por mais sublimes que sejam que Krishna e Gautama não tenham ensinado antes.

 

Sempre que a Humanidade está prestes a cair no materialismo e na degradação moral, nasce [projeta-se] um Salvador, que ajuda a Humanidade a retornar ao caminho da verdade e da virtude. Kapila, Orfeu, Pitágoras, Platão, Basilides, Marcion, Amônio e Plotino fundaram escolas e semearam os germes de muitos e nobres pensamentos, e, ao desaparecerem, deixaram atrás de si o brilho de semideuses. Mas, as três personalidades de Krishna, de Gautama e de Jesus surgiram como Deuses Verdadeiros, cada qual em sua época, e legaram à Humanidade três religiões edificadas na imperecível rocha dos séculos. O fato de que as três, especialmente a fé cristã, tenham sido adulteradas com o tempo, e de que a última seja quase irreconhecível, não se deve a nenhuma falha dos nobres reformadores. São os clérigos, que se intitulam de cultivadores da vinha do Senhor, que devem prestar contas à posteridade. Purificai os três sistemas da escória dos dogmas humanos, e a Pura Essência permanecerá a mesma. Mesmo Paulo, o grande, o honesto apóstolo, no ardor de seu entusiasmo, perverteu involuntariamente as Doutrinas de Jesus, ou, então, seus escritos foram desfigurados depois de reconhecidos.

 

Do outro lado do Rio está o Verdadeiro S[h]aber.

 

 

 

Não havia Ponte.
Lá longe, o Rio.
Do lado de cá, frio,
noite, desmonte.

Não havia Ponte.
Lá longe, o Rio.

Do lado de lá, Alívio,
Dia, a Fonte.

Construí a Ponte.
Atravessei o Rio.
Fim de todo suplício.
Novo Horizonte.

 

Jesus nada ensinou ao mundo que não tivesse sido convenientemente ensinado antes por outros Instrutores. Ele começou seu Sermão da Montanha com certos preceitos puramente budistas (Budismo Monástico) que haviam encontrado aceitação entre os essênios, e eram geralmente praticados pelos Orphikoi e pelos neoplatônicos.

 

Tanto o homem Jesus como o homem Krishna estavam unidos aos seus Cristos.

 

Nem Buddha nem Jesus jamais escreveram uma única palavra de Suas Doutrinas.

 

Quando Jesus diz Bebei (...) este é o meu sangue, tinha em mente apenas uma comparação metafórica de Si-mesmo com a vinha, que produz a uva, cujo suco é Seu Sangue vinho. Era esta uma indicação de que, tendo Jesus sido Iniciado pelo Pai, desejava também Iniciar os outros. Seu Pai era o agricultor, Jesus a vinha e Seus Discípulos os ramos.

 

Os maiores Mistérios da Religião Bramânica estão abarcados no magnífico poema Bhagavad Gita: Sê desprendido e subjuga teus sentidos e tuas paixões, que obscurecem a razão e conduzem à ilusão, diz Krishna a seu discípulo Arjuna, enunciando, assim, um princípio puramente budista. Os pequenos seres-humanos-aí-no-mundo seguem os exemplos, os grandes os dão (...) a [personalidade-]alma deve se libertar dos vínculos da ação, e agir absolutamente de acordo com a sua origem divina. Só há um Deus, e todas as outras devatâs são inferiores, meras formas, poderes de Brahmâ ou de mim mesmo. A adoração por feitos predomina sobre a da contemplação.

 

Um Adepto da Ordem Superior pode viver indefinidamente.

 

Em verdade, em verdade te digo, quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. (Evangelho de João, III, 3). Disse Jesus a Nicodemos: O que nasce da carne é carne, o que nasce do Espírito é Espírito. Esta alusão, tão ininteligível em si mesma, é explicada no Satapatha-Brâhmana. Ele ensina que um ser-humano-aí-no-mundo que se esforça para atingir perfeição espiritual deve passar três nascimentos: 1°) o físico, de seus pais mortais; 2°) o espiritual, através do sacrifício religioso (Iniciação); e 3°) o Nascimento Final no Mundo do Espírito.

 

Todo Iniciado da Última Hora se torna, pelo próprio fato de sua Iniciação, um Filho de Deus.

 

Quando mais amplo for o alcance da Visão Espiritual de um ser-humano-aí-no-mundo, mais poderosa será a sua Divindade.

 

A melhor demonstração d'Ele [da Divindade] está no próprio ser-humano-aí-no-mundo nos Poderes Espirituais e Divinos que jazem adormecidos em cada um de nós. [In Corde.] O sangue, disse o hindu Ramatsariar, contém todos os Misteriosos Segredos da Existência, pois, nenhum ser vivo pode existir sem ele. O ato de comer sangue é profanar a Grande Obra do Criador. Moisés, seguindo a Lei Universal e Tradicional, proibia comer sangue.

 

Tal como as fogueiras de comunicação dos tempos antigos, que, acesas e extintas alternadamente no topo das montanhas, transmitiam certas informações, vemos assim uma longa linhagem de Sábios, desde o início da História até os nossos tempos, comunicando a Palavra da Sabedoria [Verbum Dimissum et Inenarrabile] aos seus sucessores diretos. Passando de Profeta a Profeta, a Palavra cintila como relâmpago. Entrementes, as nações se matam umas às outras em nome de outra palavra, uma coisa vazia aceita literalmente por cada um delas, e mal interpretada por todas!

 

 

 

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Nota:

1. Mais tarde, na Doutrina Secreta (volume II), Helena Petrovna Blavatsky escreveria: Os chamados 'Anjos Caídos' são a própria Humanidade. O Demônio do Orgulho, o Demônio da Luxúria, o Demônio da Rebeldia e o Demônio do Ódio não existiam antes de aparecer o ser-humano-aí-no-mundo físico consciente. Foi o ser-humano-aí-no-mundo quem engendrou e criou o Demônio, e permitiu que medrasse em seu Coração; foi ele também quem contagiou o Deus Interno o Deus que nele reside enlaçando o Espírito Puro com o Demônio impuro da Matéria. E, assim como o aforismo cabalístico 'Demon est Deus inversus' encontra sua corroboração metafísica e teórica em a Natureza dual manifestada, é igualmente verdade que sua aplicação prática se verifica somente na Humanidade.

 

Música de fundo:

The Spheres
Interpretação: Stetson University Concert Choir

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=52J1RIINUYM

 

Páginas da Internet consultadas:

https://giphy.com/

https://www.presentermedia.com/

https://edoc.site/queue/isis-sem-veuvoliiihpblavatsky-pdf-free.html

 

Direitos autorais:

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