Este
texto é a 21ª parte de um resumo, em forma de fragmentos (às
vezes, comentados, às vezes, seguidos de uma animação
explicativa) de um estudo que fiz da obra Isis
Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and
Theology (em português, Ísis sem Véu:
Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência
e Teologia) publicado em 1877. É um livro de filosofia esotérica,
e é a primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky – um
texto-chave no movimento teosófico e um marco na história
do esoterismo ocidental. Como este será um trabalho muito extenso,
para não ficar cansativo para o leitor, cada parte conterá
apenas 30 fragmentos.
Fragmentos
Na
Antigüidade, quando o neófito egípcio se tornava um Kristophoros
[quando,
conscientemente, passava a saber que que levava o Cristo, que carregava
o Cristo, que era um portador do Cristo] o Nome
Misterioso IAÔ era comunicado a ele.
Nas
noções egípcias, como nas de todas as outras fés
fundamentais na Filosofia, o ser-humano-aí-no-mundo não era
apenas, como afirmam os cristãos, uma união de [personalidade-]alma
e corpo; ele era uma trindade, da qual o Espírito fazia parte.
Segundo
os Cabalistas, para que a [personalidade-]alma
possa escapar à sua segunda morte –
dissolução gradual da forma astral
nos seus elementos primários
–
ela deverá conhecer o Nome Misterioso –
a Palavra. A catástrofe da dissolução
poderá ocorrer, muitas vezes, muitos anos antes
da separação final do Princípio Vital do Corpo Físico.
A morte implacável libera apenas um cadáver espiritual; no
melhor dos casos, um idiota. Incapaz de se elevar para regiões mais
altas ou de despertar da letargia, a
[personalidade-]alma
se dissolve rapidamente nos elementos da atmosfera terrestre.
Há
um determinado Poder que pertence a uma única Palavra Inefável
[desde sempre
e para sempre
a mesma].
Com
com o fito nominal de proteger os peregrinos, o verdadeiro objetivo dos
Templários era a restauração do primitivo Culto Secreto.
A liberdade de pensamento intelectual e a restauração de uma
Religião Universal eram seus objetivos secretos.1
A
forma eclesiástica [exterior]
de culto dos Templários
era celebrada publicamente nas capelas pertencentes à
Ordem, todavia, as suas próprias cerimônias [Iniciáticas]
eram realizadas no maior segredo, geralmente,
no salão de alguma corporação, e, mais freqüentemente,
em cavernas isoladas ou em choças erguidas no meio de bosques.
A
construção do Templo de Salomão representa, simbolicamente,
a aquisição gradual da Sabedoria Secreta ou Magia. É
o desenvolvimento paulatino do Espiritual a partir do terreno. É
a manifestação do Poder e do Esplendor do Espírito
no mundo físico, por meio da Sabedoria e do esforço-mérito
do Construtor. Este, ao se tornar um Adepto, se torna um Rei mais poderoso
do que o próprio Salomão, o emblema do Sol ou a própria
Luz –
a Luz do Mundo Subjetivo Real, brilhando na escuridão do Universo
objetivo. Este é o Templo, que deve ser edificado sem que o
som do martelo ou de qualquer ferramenta sejam ouvidos na Casa, enquanto
esteja em construção.
Simbolicamente...
O
dodecaedro [poliedro
que possui 12 faces planas] é a figura
geométrica simbólica com que o Universo foi construído.2
Dodecaedro
Fui,
mas, não sou!
A
formação do Universo não
é a criação do
Universo.
Há
um Duplo Princípio (masculino e feminino) manifestado em a Natureza.
Shiva,
Jehovah, Osíris são símbolos do Princípio Ativo
da Natureza 'par excellence'. São as Forças que presidem a
formação ou a regeneração da matéria
e a sua destruição. São os tipos da Vida e da Morte,
sempre fecundados e decompondo sob a influência da Anima Mundi, a
Alma Intelectual Universal, o Espírito Invisível, mas, onipresente,
que está por trás da correlação das forças
cegas.
A
Vida Espiritual é o Princípio Primordial Superior. A Vida
Física é o Princípio Primordial Inferior. Mas, eles
são apenas uma Única Vida em seu aspecto dual.
Não
construamos ídolos à nossa imagem e não confundamos
a sombra com a LLuz Eterna.
Os
mitos,
diz Quintus Horatius Flaccus (Venúsia, 8 de dezembro de 65 a.C. –
Roma, 27 de novembro de 8 a.C.) em sua Ars Poética, foram
inventados pelos sábios para fortalecer as leis e ensinar as verdades
morais. Ao passo que Horácio procurou esclarecer
o espírito e a essência dos mitos antigos, Euhemerus (século
IV a.C.) pretendia, ao contrário, que os
mitos eram a história legendária dos reis e dos heróis,
transformados em deuses pela admiração dos povos.
Foi esse último método que os cristãos seguiram, inferencialmente,
quando concordaram com a aceitação dos patriarcas euhemerizados,
e os confundiram com homens que houvessem realmente existido. [O
Euhemerismo é a teoria que atribui a origem dos deuses à deificação
ou divinização de heróis históricos.]
Segundo
Aristóteles (Estagira, 384 a.C. –
Atenas, 322 a.C.), uma tradição
da mais alta Antigüidade, transmitida à posteridade sob a forma
de mitos variados, ensina-nos que os Princípios Primários
da Natureza devem ser considerados como Deuses, pois, o Divino permeia toda
a Natureza. Os contos de fadas não pertencem exclusivamente às
amas. Toda a Humanidade –
exceto os poucos que, em todas
as épocas, lhes compreenderam o sentido secreto e tentaram abrir
os olhos supersticiosos –
ouviu tais contos, em uma forma
ou outra, e, depois de os transformar em símbolos sagrados, chamaram
o resultado de religião!
Todos
os sistemas de misticismo religioso se baseiam em números. Eles são
uma chave para as antigas concepções sobre a Cosmogonia, em
seu sentido amplo, que inclui o ser-humano-aí-no-mundo, as coisas
e a evolução da raça humana, tanto espiritual como
fisicamente. E assim, o número 7 é o mais sagrado de todos,
e é, indubitavelmente, de origem hindu. Tudo o que tinha alguma importância
foi calculado e moldado tendo por base o número 7 pelos filósofos
arianos
–
tanto
as idéias como as localidades. Por exemplo: Sapta-Rishis ou os Sete
Sábios, Sapta-Lokas ou os Sete Mundos Inferiores e Superiores, Sapta-Kulas
ou as Sete Castas, Sapta-Puras ou as Sete Cidades Sagradas, Sapta-Dvîpas
ou as Sete Ilhas Sagradas, Sapta-Samudras ou os Sete Mares Sagrados, Sapta-Parvatas
ou as Sete Montanhas Sagradas, Sapta-Aranyas ou os Sete Desertos, Sapta-Vrikshas
ou as Sete Árvores Sagradas e assim por diante. No Cristianismo temos
os Sete Sacramentos, as Sete Igrejas na Ásia Menor, os Sete Pecados
Capitais, as Sete Virtudes (quatro cardeais e três teológicas)
etc. Para o Cabalista, o número 7 têm significado inseparável
dos Sete Trabalhos da Magia, das Sete Esferas Superiores, das Sete Notas
da Escala Musical, dos Sete Números de Pitágoras, das Sete
Maravilhas do Mundo, das Sete Eras e dos Sete Passos dos Maçons,
que levam ao Santo dos Santos, depois de passar pelos vôos do três
e do cinco.
Para
os Brâmanes, o mundo veio à existência como conseqüência
de uma Palavra Sacrifical pronunciada pela Primeira Causa. Esta palavra
é o Inefável Nome dos Cabalistas.
Para
todos os povos antigos, o Criador ou Demiurgo estava assentado sobre o sétimo
céu.
A
Palavra Inefável era considerada a Sétima Palavra, a mais
alta de todas, pois, há seis palavras substitutas menores, cada qual
pertencendo a um grau de Iniciação.
Alegoricamente,
o Senhor Deus repousou de seu trabalho de criação no Sétimo
Dia.
Os
elementos nunca descansam.
Os
Elohim nada mais são do que poderes evemerísticos da Natureza.
Os
capítulos introdutórios do Gênese nunca pretenderam
apresentar sequer uma remota alegoria da criação de nossa
Terra. Eles consistem (capítulo I) em uma concepção
metafísica de algum período indefinido na eternidade, quando
tentativas sucessivas estavam sendo feitas, pela Lei de Evolução,
para a formação de universos. Esta idéia consta com
clareza do Zohar: Houve
mundos que pereceram assim que vieram à existência; eram informes
e se chamavam chispas. Assim, o ferreiro, quando amolda o ferro, deixa que
as chispas voem em todas as direções. As chispas são
os mundos primordiais, que não podem continuar, porque o Ancião
Sagrado (Sephirah) ainda
não assumira a Sua Forma (de sexos opostos ou andróginos)
de Rei e de Rainha
(Sephirah e Cadmo) e o Mestre
ainda
não tinha se
posto a Trabalhar.
Todos
os planetas e muitas estrelas são mundos, e habitados,
embora não como nossa Terra.
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O
Dia de Brahmâ
representa um certo período de atividade cósmica;
a Noite de Brahmâ
representa
um período igual de repouso cósmico.
No Dia, os mundos estão em evolução, e passam pelas
quatro idades de existência; na Noite, a inspiração
de Brahmâ reverte a tendência das forças naturais. O
visível se dispersa gradualmente, e se instala o caos. E uma longa
Noite de repouso revigora o Cosmo para o seu termo seguinte de evolução.
Na Manhã de um desses Dias, os processos formativos, gradualmente,
atingem o seu clímax de atividade; à Tarde, os
mesmos processos diminuem imperceptivelmente, até que chega o prâlâya
(período de repouso), e, com ele, a Noite. Uma Manhã e uma
Tarde constituem de fato um Dia Cósmico; e era em um Dia de Brahmâ
que pensava o autor cabalista do Gênese quando escreveu: E
a Tarde e a Manhã foram o primeiro (ou quinto, ou
sexto, ou qualquer outro) Dia.
Seis Dias de evolução gradual, um de repouso, e, então,
a Tarde! Desde a primeira aparição do homem sobre a nossa
Terra, tem sido o tempo um Sabbath eterno de repouso para o Demiurgo. Enfim,
tudo isso tem uma relação puramente astronômica, mágica
e esotérica. E assim, por exemplo, Noé, é o Espírito
que vivifica a matéria, que ademais é o caos representado
pelo Abismo ou as Águas do Dilúvio. De fato, toda uma série
de mundos evolui do caos, e é sucessivamente destruída.
Um
cataclismo parcial ocorre ao término de toda idade do mundo, mas,
não destrói o
mundo; apenas lhe modifica a aparência geral. Novas raças
de seres-humanos-aí-no-mundo e de animais e uma nova flora têm
origem na dissolução das precedentes.
—
Não
poderemos jamais Servir a Deus e a Mamon3
—
disse o Reformador, há vinte séculos. Não poderemos
Servir à verdade e ao preconceito público.
Em
qualquer sistema religioso, há
poucos mitos que não tenham um fundamento histórico e científico.
Os mitos, como
afirma corretamente Richard Pococke (19 de novembro de 1704 –
25 de setembro de 1765),
revelam-se agora como fábulas, apenas na medida em que não
os compreendemos; e como verdades, na medida em que eram outrora entendidos.
Nossa ignorância consiste em ter feito da história um mito;
e esta ignorância é uma herança helênica, conseqüência
da vaidade helênica.
As
Leis de Moisés são cópias do Código do Manu
Bramânico, e, segundo todas as probabilidades, o Egito deve sua civilização,
suas instituições civis e suas artes à Índia.
Continua...