ÍSIS SEM VÉU
(Parte 20)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução

 

 

 

Este texto é a 20ª parte de um resumo, em forma de fragmentos (às vezes, comentados, às vezes, seguidos de uma animação explicativa) de um estudo que fiz da obra Isis Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and Theology (em português, Ísis sem Véu: Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência e Teologia) publicado em 1877. É um livro de filosofia esotérica, e é a primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky – um texto-chave no movimento teosófico e um marco na história do esoterismo ocidental. Como este será um trabalho muito extenso, para não ficar cansativo para o leitor, cada parte conterá apenas 30 fragmentos.

 

 

 

Fragmentos

 

 

 

Os Buddhas não são Deuses, mas, simplesmente, indivíduos protegidos pelo Espírito de Buddha o Raio Divino.1

 

Na Palestina, muito antes da Era Cristã, não havia cristãos, pois, a Cristolatria ainda não havia sido introduzida; havia Crestãos (Chrêstos significa Bom, Princípio do Bem). E os essênios pertenciam a essa última seita, assim como todas as outras Fraternidades de Iniciados.

 

A maioria dos simbologistas afirma que, na Antigüidade, os ofitas foram acusados de praticar ritos licenciosos durante seus encontros religiosos. A mesma acusação, todavia, sem evidências diretas testemunhais, foi feita contra os maniqueus, os carpocratas, os paulicianos, os albigenses, em suma, contra toda as seitas agrupadas sob o nome genérico de Gnosticismo, que cometiam a ousadia de reclamar o direito de pensar por si mesmas, e que duraram até o seu extermínio sob a rigorosa execução da lei constantina. Dizem, alguém disse, ouvimos tais foram os termos gerais e indefinidos utilizados pelos antigos acusadores patrísticos. Enfim, a grande culpa destas seitas foi sua concepção sincretista, pois, em nenhum outro período da História da Humanidade a Verdade teve uma chance mais pobre de triunfo do que nesses dias de fraudes ilimitadas, de sofismas ilusórios, de tradições imaginárias, de deturpações vergonhosas, de mentiras abjetas, de falsificações escandalosas e de malevolência deliberada em relação aos fatos.

 

A majestade do Deus único sempre foi adorada em reverente silêncio por todos os ditos pagãos.

 

Toda a pirâmide de dogmas do Catolicismo Romano repousa não sobre provas, mas, sobre suposições. [Mas, esta pirâmide desmoronará!]

 

 

Pirâmide de Dogmas

 

 

Estreiteza de espírito só pode produzir uma coisa: fanatismo. [Fanatismo só pode produzir uma coisa: intolerância.]

 

Não é preciso descer na natureza humana para reconhecer que raros são os traidores e renegados que, tendo denunciado seus cúmplices, em um momento de perigo, não mintam tão sem ressentimentos, como foi o caso de Epifânio de Salamina (cerca 310/320 – 403), que pertenceu a um grupo de gnósticos, e se comprouve em os trair, tendo divulgado minuciosos detalhes dos toques e de outros sinais de reconhecimento entre os gnósticos. Seja como for, onde quer que haja um verdadeiro e sincero sentimento religioso, não há aí lugar para detalhes mundanos.

 

Incapaz de apreciar uma religião baseada na pura espiritualidade de uma concepção ideal, o Cristianismo se entregou à adoração da força bruta, representada pela Igreja edificada por Constantino (272 337). Desde então, entre os milhares de ritos, dogmas e cerimônias copiados do Paganismo, a Igreja só pode reivindicar uma única invenção, absolutamente original, a saber: a doutrina da condenação eterna, e um costume, o do anátema. Os chamados pagãos rejeitavam a ambos com horror.

 

 

Constantino

Fragmento de uma estátua monumental de Constantino
(Museus Capitolinos)

 

 

Uma execração é uma coisa temerária e terrível, disse o historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego Plutarco (cerca de 46 d.C. 120 d.C.). Por tal razão, a Sacerdotisa de Atenas foi condenada por ter recusado a amaldiçoar Alcebíades (por profanação dos Mistérios), quando o povo lhe pedia para fazê-lo, pois, disse, ela que era Sacerdotisa de Preces, não de maldições.

 

A comunidade cristã primitiva era composta de pequenos grupos espalhados por toda parte, e organizados em sociedades secretas, com senhas, toques e sinais. Para evitar as incessantes perseguições de seus inimigos, eles eram obrigados a buscar segurança e a se reunirem em catacumbas abandonadas, em locais inacessíveis das montanhas e em outros esconderijos seguros. Toda reforma religiosa depara, em seu início, com tais dissabores. Desde a sua primeira aparição, vemos Jesus e seus doze discípulos se reunindo à parte, em refúgios seguros no deserto e entre os amigos de Betânia. Se, desde o início, a cristandade não se tivesse composto de comunidades secretas, a história teria mais fatos para relatar sobre seu fundador e seus discípulos do que aqueles que agora dispõe.

 

Todas as máximas transmitidas pelo Mestre Jesus tinham um espírito pitagórico (inclusive, repetições 'verbatim'), seu código de ética era puramente budista, seu modo de vida e seus atos eram essênios e sua maneira mística de expressão, suas parábolas e seus hábitos eram os de um Iniciado, seja grego, seja caldeu, seja mágico (pois, os Perfeitos, que falaram da Sabedoria Oculta, pertenciam à mesma Escola de Saber Arcaico em todo o mundo. É um pobre tributo pago ao Mestre Jesus essa tentativa de impingir-Lhe quatro evangelhos, nos quais, contraditórios como são, não há uma única narrativa, sentença ou expressão peculiar, cujo paralelo não possa ser encontrado em alguma Doutrina ou Filosofia mais antiga. Enfim, o espírito reverente do Mestre Jesus apenas fracassa quando o representamos como um Deus onipotente. A fraude já teve a sua hora, e cometeu o que havia de pior. Comparações aforísticas:

 

 

Máximas de Sexto - o Pitagórico - e de Outros Pagãos
Versículos do Novo Testamento
Possui apenas as coisas que ninguém te possa roubar.
Não ajunteis para vós tesouros na Terra...
É melhor queimar uma parte do corpo do que deixá-la no estado em que está, assim como é melhor para um homem depravado morrer do que viver.
Se tua mão te escandalizar, corta-a; é melhor para ti entrares mutilado na Vida, do que, tendo duas mãos, ir para o inferno.

Considerai-vos como o Templo de Deus.

Não sabeis que sois um Templo Deus?

A melhor honra que se pode prestar a Deus é conhecê-Lo e imitá-Lo.

Sede perfeitos como o vosso Pai que está no céu é Perfeito.

O que não desejo que os seres-aí me façam, eu também não faço para os seres-aí.

Fazei ao próximo o que desejais que o próximo vos faça.

A Lua brilha mesmo na casa do pecador.
Ele faz nascer o Sol igualmente sobre maus e bons, e cair a chuva sobre justos e injustos.
Dá-se àqueles que dão; rouba-se de aqueles que roubam.
Àquele que tem, lhe será dado; ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.
Só a pureza da mente permite ver a Deus.

Bem-aventurados os puros de Coração, porque verão a Deus.

 

 

Entre outras coisas, o que propiciou a deificação de Jesus foi o posterior e conveniente Dogma da Expiação [Sacrifício Vicário – sacrifício crucificatório substituto de Jesus pelo pecado dos seres-humanos-aí-no-mundo], inventado pelos cristãos, e o grande drama do Calvário foi, em um certo sentido, o catalisador da fundação da cristandade.

 

Buddha, Jesus e o filósofo neopitagórico e professor de origem grega Apolônio de Tiana (Tiana, 15 d.C. Éfeso, cerca de 100 d.C ) foram todos intransigentes inimigos de toda a ostentação exterior de piedade, de toda a exibição de cerimônias religiosas inúteis e de toda a hipocrisia fideísta [e egoísta].

 

 

Apolônio de Tiana

Busto de Apolônio

 

Quando Jesus assegurava a Seus Discípulos que o Espírito da Verdade que o mundo [ainda] não pode recebê-Lo porque não O vê nem O conhece estava com eles e neles, e que Eles estavam nEle e Ele neles, Ele apenas expôs a mesma Doutrina que reconhecemos em toda Filosofia digna deste nome.

 

Afirmam corretamente os Cabalistas: A morte não existe, e o homem jamais abandona a Vida Universal. Aqueles que pensamos estarem mortos ainda vivem em nós, assim como nós vivemos neles, e quanto mais vivermos para os nossos semelhantes, menos deveremos temer a morte. E poderíamos acrescentar: aquele que vive para a Humanidade faz muito mais por ela do que aquele que morre.

 

O Inefável Nome, em busca dO qual tantos Cabalistas consumiram seus conhecimentos e suas vidas, repousa latente no Coração de todos os seres-humanos-aí-no-mundo. Este Nome Mirífico pode ser obtido de duas maneiras: pela Iniciação regular e através da Pequena Voz [Interior]. A posse da combinação secreta do Nome confere a quem O conhece o Poder Supremo sobre qualquer ser, humano ou não, inferior a ele em força de [personalidade-]alma.

 

As Leis Cósmicas não podem ser alteradas, e o mal do mundo [e o mal individual] não podem ser extirpados através de um 'milagre' [que não existe]. Portanto, a Divindade não permite e não admite ser propiciada, ou antes subornada, por preces, dízimos, sacrifícios, autoflagelações, jejuns, celibatos etc.

 

A Justiça Divina está encarnada na Lei da Compensação e da Retribuição. [Lei da Causa e do Efeito.] Só honraremos a Divindade [em nós] cultivando a Pureza Moral.

 

A injustiça deriva apenas da ignorância.

 

O conteúdo da Merkabah só deve ser confiado aos Sábios Anciães. Todavia, nem o Zohar nem qualquer outro tratado cabalístico contém doutrina puramente judaica e própria, sendo o resultado de milênios de pensamentos, e, por isto, é patrimônio comum dos Adeptos de todas as nações que viram o Sol. Seja como for, a Verdadeira Magia prática contida no Zohar e em outras obras cabalísticas só deve ser utilizada por aqueles que as podem ler interiormente.

 

O Livro de Jó e o Apocalipse são simplesmente narrativas alegóricas dos Mistérios e da Iniciação.

 

Que cada um meta na testa
e tente ler em seu Coração:
666 tanto é o Número da Besta
quanto é o Ouro de Salomão.

Os Sete Selos que são abertos
são as Sete Regras ou Mistérios,
que estão e permanecerão cobertos
e protegidos dos gaudérios.

 

Na Pedra Branca há um nome escrito a PALAVRA que não O conhece senão quem o recebe.

 

Ninguém pode ser acusado de ser um blasfemador, se apenas fez aquilo que a sua consciência invencivelmente lhe ordenou ser verdadeiro.

 

Todo o Conhecimento possuído pelas diferentes Escolas do passado, fossem elas mágicas, egípcias ou judaicas, derivou da Índia, ou, antes, de ambos os lados do Himalaia.

 

Mais do que um segredo perdido repousa sob as vastas extensões de areia do Deserto de Gobi, no Turquestão Oriental.

 

Por volta da Décima Segunda Dinastia Egípcia, alimentar o faminto, dar de beber ao sedento, vestir o nu e cremar o morto constituíam as primeiras tarefas de um homem piedoso.

 

Se, por um lado, o Homem Espiritual se esforça continuamente para ascender cada vez mais à sua Fonte de Origem, passando pelos ciclos e pelas esferas da vida individual, o ser-humano-aí-no-mundo físico tem de descer com o grande ciclo da criação universal, até se revestir das vestes terrestres.

 

Só o Espírito é Imortal. A [personalidade-]alma, per se, não é eterna nem divina.

 

Entre os egípcios, como entre os gregos, um dos obstáculos mais difíceis para a Iniciação era ter cometido um assassinato em qualquer grau.

 

Um assassino é um suicida,
e um suicida
não pode ser um Iniciado,
porque, acima de tudo,
a Iniciação é Vida.
Um suicida é um assassino,
e um assassino
não pode ser um Iniciado,
porque, acima de tudo,
a Iniciação é Vida.

 

Na Antigüidade, entre as regras nas quais era instruído, ao o neófito era ordenado: Nunca desejar ou procurar vingança; estar sempre pronto a ajudar um irmão em perigo, mesmo com risco de sua própria vida; enterrar todos os mortos; honrar seus pais acima de tudo; respeitar os anciães e proteger os mais fracos, e, finalmente, ter sempre em mente a hora da morte e a da ressurreição em um corpo novo e imperecível. Pureza e castidade eram altamente recomendadas e o adultério era punido com a morte.

 

 

 

Continua...

 

 

 

_____

Nota:

1. Os Buddhas não são Deuses no sentido antropomórfico que é dado à palavra deus, mas, são Deuses, sim, em um sentido Esotérico, Espiritual e Oculto que ainda, de maneira geral, a Humanidade não compreende. Como nós, os Buddhas foram seres-humanos peregrinos aqui-no-mundo, e, por esforço e mérito, se Divinizaram. A mesma possibilidade está aberta e à disposição de cada ser-humano-aí-no-mundo, que, in potentia, é um Deus. Mas, uma coisa precisamos saber: ninguém se tornará um Deus se tornando, religiosamente, eremita e celibatário, e indo morar no deserto, em uma caverna ou em um claustro. Isolamento e separação são as duas formas mais egoístas de buscar o que jamais será encontrado.

 

Ser-humano-aí-no-mundo —› (m + n) Iniciações —› Deus

 

Música de fundo:

The Spheres
Interpretação: Stetson University Concert Choir

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=52J1RIINUYM

 

Páginas da Internet consultadas:

http://exegeseoriginal.blogspot.com/
2017/03/apolonio-de-tiana-paulojesus.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Constantino#Religião

https://edoc.site/queue/isis-sem-veu
voliiihpblavatsky-pdf-free.html

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.