Este
texto é a 15ª parte de um resumo, em forma de fragmentos (às
vezes, comentados, às vezes, seguidos de uma animação
explicativa) de um estudo que fiz da obra Isis
Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and
Theology (em português, Ísis sem Véu:
Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência
e Teologia) publicado em 1877. É um livro de filosofia esotérica,
e é a primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky – um
texto-chave no movimento teosófico e um marco na história
do esoterismo ocidental. Como este será um trabalho muito extenso,
para não ficar cansativo para o leitor, cada parte conterá
apenas 30 fragmentos.
Fragmentos
Na
Antigüidade, os gnósticos, normalmente, por prudente política,
acomodavam-se, em todos os países, às formas religiosas predominantes,
mas, permaneciam, secretamente, fiéis às suas próprias
doutrinas essenciais.
Moisés
era um Iniciado.
Desde
a Antigüidade,
sempre foi assim: os ritos grosseiros e populares são sempre mais
bem-vindos do que a Verdade Divina, que é mais simples [mas,
no mínimo, impõe mais responsabilidades.] Daí,
a grande diferença que sempre existiu entre o culto esotérico
e o popular.
Todos
os Iniciados, de todos os países, pertencem à Religião
dos Antigos Magos, a começar por Moisés e terminando com os
essênios.
Os
Sacerdotes Perfeitos conheciam os Mistérios Secretos de Iniciação,
e eram todos Iniciados e Consagrados.
Os
seguidores de Jesus, desde o início, se revelaram reformadores e
inovadores.
O
objetivo de Jesus, como foi evidentemente o de Gautama Buddha, consistia
em prestar um largo benefício à Humanidade, produzindo uma
reforma religiosa que lhe daria uma Religião de pura ética,
pois, até então, o Verdadeiro Conhecimento de Deus e da Natureza
permanecia exclusivamente nas mãos das seitas esotéricas e
dos seus adeptos.
O
Hino Órfico afirma que a água é o maior purificador
dos seres-humanos-aí-no-mundo e dos Deuses.
O
historiador e biógrafo dos antigos filósofos gregos, Diógenes
Laércio (180 –
240) afirma positivamente que Pitágoras
(cerca
de 570 a. C –
cerca
de 495 a. C),
após ter sido Iniciado em todos os Mistérios dos gregos e
dos bárbaros, foi
ao Egito e, em seguida, visitou os caldeus e os Magos.
Precisamos
nunca esquecer de que as Doutrinas Secretas dos magos, dos budistas pré-védicos,
dos hierofantes de Thoth ou o Hermes Egípcio e dos Adeptos de qualquer
século ou nacionalidade, incluindo os cabalistas caldeus e os nazars
judeus, sempre foram idênticas desde o início.
Não
devemos confundir o Budismo exotérico, instituído pelos seguidores
de Gautama Buddha, nem a moderna Religião Budista, com a Filosofia
Secreta de Sâkyamuni, que, em sua essência, é certamente
idêntica à antiga Religião
da Sabedoria do Santuário –
o Bramanismo Pré-védico. Portanto,
por Budismo devemos entender a Religião que significa literalmente
a Doutrina da Sabedoria, e que precede, em muitos séculos, a Filosofia
Metafísica de Siddhârtha-Sâkyamuni.
Também
devemos sempre considerar que todos os deuses, sejam os dos zoroastristas,
sejam os do Veda, são apenas poderes ocultos e
personificados da Natureza, servidores
fiéis dos Adeptos da Sabedoria Secreta –
a Magia.
Tal
como os essênios, que eram pitagóricos em todos os seus hábitos
e doutrinas, Jesus era um reencarnacionista.
Pregamos
a Sabedoria
(apenas) àqueles
que são Perfeitos, disse o Apóstolo Paulo.
Esta frase só pode ser entendida da seguinte forma: Pregamos as Doutrinas
Esotéricas mais profundas (ou finais) dos mistérios (que foram
denominados Sabedoria) apenas àqueles que são Iniciados.
As
Sete Vogais estão estreitamente relacionadas com os Sete Selos apocalípticos.
I
I I I I I I...
E
E E E E E E...
O
O O O O O O...
U
U U U U U U...
A
A A A A A A...
M
M M M M M M...
S
S S S S S S...
Todas
as doutrinas estão estreitamente relacionadas.
Na
Antigüidade, toda a porção civilizada dos pagãos
que conheciam Jesus honrava-O como um Filósofo e um Adepto, a quem
colocavam no mesmo nível de Pitágoras e de Apolônio.
De fato, Jesus foi, sem qualquer margem para dúvida, um dos maiores
reformadores, inimigo inveterado de todo dogmatismo religioso, perseguidor
do fanatismo e mestre de um dos mais sublimes códigos de ética,
o que o faz uma das maiores e mais bem-definidas figuras no panorama da
história humana. Sua luta pode ser resumida da seguinte forma: reconhecimento,
por parte de toda a Humanidade, de apenas um Pai –
o Desconhecido, no alto –
e apenas um irmão –
toda a Humanidade, embaixo.
O
maior de todos os estados sobre a Terra –
o mais raro de todos os fenômenos psicológicos
–
é a união perfeita do Espírito
Imortal com a Díada Terrestre. Mas, são muito raras são
essas encarnações!
Todo
Espírito Imortal que se irradia sobre um ser humano é um Deus
–
o Microcosmo do Macrocosmo, parte e parcela
do Deus Desconhecido, a Causa Primária de que Ele é uma emanação
direta. O que isto significa? Significa que todo ser-humano-aí-no-mundo
possui todos os atributos da sua Fonte Original. Entre esses atributos estão
a onisciência e a onipotência. Dotado de tais atributos, mas,
incapaz de manifestá-los enquanto está no corpo, durante cujo
período estes atributos
são obscurecidos, velados e limitados pelas faculdades
da natureza física, o ser-humano-aí-no-mundo,
habitado pela Divindade, poderá, por esforço e mérito,
se elevar, pôr em evidência seus Conhecimentos Divinos, fazer
prova de seus Poderes Deíficos, se tornar imortal, enquanto está
encarnado na Terra e viver para sempre na Vida Eterna.
Os
antigos jamais sustentaram o pensamento sacrílego de que as Entidades
Perfeitas [Perfeitas
porque se esforçaram para se tornar Perfeitas]
eram encarnações do Supremo, do Deus Para Sempre Invisível.
Nenhuma profanação da terrível Majestade ocupava qualquer
lugar em suas concepções. Moisés e seus protótipos
e tipos eram, para eles, apenas seres-humanos-aí-no-mundo completos,
Deuses sobre a Terra, pois, seus Deuses (Espíritos Divinos) haviam
penetrado seus tabernáculos santificados, os Corpos Físicos
purificados. Os antigos chamavam Deuses aos Espíritos Desencarnados
dos Sábios e dos Heróis. Daí a acusação
de politeísmo e de idolatria por parte de aqueles que foram os primeiros
a antropomorfizar as abstrações mais sagradas e mais puras
de seus ancestrais.
No
passado, os Hierofantes podiam provar a legitimidade das suas afirmações
e a plausibilidade de suas doutrinas, ao passo que hoje os fiéis
devem se contentar com a fé cega.
—
Eu acreditava em demônios,
e morria de medo.
Eu acreditava no inferno,
e morria de medo.
Eu acreditava em bruxaria,
e morria de medo.
Eu acreditava no incrível,
e morria de medo.
Compreendi e me Illuminei,
e perdi o medo!
A
Mente Divina é eterna e é Pura LLuz disseminada através
de esplêndido e imenso espaço (Pleroma1a).
É a Geradora dos Aeons.1b
Se
o mundo
tivesse se desembaraçado dos seus exageros dogmáticos,
teria, certamente, possuído um sistema religioso baseado na pura
Filosofia Platônica, e muito se teria ganho com isto.
Pai
Desconhecido, Eterno, Incriado e Sem Nome (Substância Incriada do
Desconhecido, Mônada Eterna e Ilimitada, o Âdi-Buddha)
—› Nous (Mente)
—› Logos
—› Phronêsis (Inteligências)
—› Sophia (Sabedoria Feminina)
+ Dynamis (Força).
Ao
descrever
o Sistema de Basílides (117 – 138), Ireneu ou Irineu de Lyon
(cerca de 130 – 202), citando os gnósticos, declara o seguinte:
Todo aquele que afirma
que Cristo morreu é ainda escravo da ignorância; todo aquele
que nega tal afirmação está livre, e compreendeu o
Desígnio do Pai.
—
Cristo vive
em cada ente-aí.
Cristo vive
em todos os entes-aí.
Cristo é
cada-todo ente-aí.
Tudo
o que é limitado é [m]i[ra]lusão2;
tudo o que é Eterno e Ilimitado
é Realidade. Forma, cor, o que ouvimos, o
que sentimos
ou o
que vemos
com nossos olhos mortais só existem na medida em que cada um de nós
concebe tais coisas através dos sentidos. O Universo, para um cego
de nascença, não existe em forma ou cor, mas, existe em sua
privação (no sentido aristotélico), e é uma
realidade para os sentidos espirituais do cego. Vivemos todos sob o poderoso
domínio da fantasia –
da [m]i[ra]lusão.
Apenas os Originais Superiores e Invisíveis, emanados do Pensamento
do Desconhecido, são seres, formas e idéias reais e permanentes.
Na Terra, vemos apenas seus reflexos, mais ou menos corretos, e sempre dependentes
da organização física e mental da pessoa que os contempla.
Séculos incontáveis antes de nossa era, o Místico Hindu
Kapila expressou magnificamente essa idéia nos seguintes termos:
O homem
(o ser-humano-aí-no-mundo físico) vale
tão pouco, que é coisa árdua fazê-lo compreender
sua própria existência e a da Natureza. Talvez, o que consideramos
como Universo e os vários seres que parecem compô-Lo nada tenham
de real, e não passem de produto da ilusão contínua
–
mâyâ –
dos nossos sentidos.
E disse o moderno filósofo alemão Arthur Schopenhauer (Danzig,
22 de fevereiro de 1788 –
Frankfurt, 21 de setembro de 1860), repetindo essa idéia filosófica
de 10.000 anos de idade: A
Natureza não existe per se [em
si mesma]. A Natureza é a ilusão ilimitada
dos nossos sentidos.
O
ser-humano-aí-no-mundo que cumpre atos piedosos, mas, interesseiros
[ou seja, hipotéticos]
(visando
exclusivamente à sua salvação),
pode alcançar as fileiras dos devas (santos),
mas, aquele que cumpre desinteressadamente os mesmos atos piedosos
se vê liberto para sempre dos Cinco Elementos (da
matéria). Percebendo a Alma Suprema em todos
os seres-aí e todos os seres-aí na Alma Suprema,
oferecendo sua própria [personalidade-]alma
em sacrifício, ele se identifica com o Ser que brilha em
seu próprio esplendor.
|
O
que a História mostra à saciedade é que os padres da
Antigüidade não buscavam a Verdade, mas, apenas, o reconhecimento
público das suas interpretações subjetivas e afirmações
injustificadas.
Nem
na Cabala Oriental nem no Gnosticismo o 'Deus-de-Tudo' jamais foi antropomorfizado.
Os
Apóstolos receberam de Jesus uma 'Doutrina Secreta' que Ele próprio
a ensinava.
Alegoricamente,
ao comer o Fruto, transgredindo o mandamento egoísta e injusto, o
ser-humano-aí-no-mundo, lentamente, foi se tornando capaz de compreender
os Mistérios da Criação.
[E, simbolicamente, só continuando a comer esse Fruto
ele escapulirá
do calabouço de matéria e se Libertará.]
Continua...