INVULNERABILIDADE

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Nada é axiomático!1

 

 

 

 

Não existe invulnerabilidade;

não existe a coisa absoluta.2

O que persiste é a relatividade

e uma ininterrupta permuta.3

 

 

Logo, não há o eternamente4

e tampouco há o imodificável.

Nem existe o invariavelmente,

portanto, não existe o estável.

 

 

Cada ente depende de outro ente5

– subordinado a um dado princípio.

O que hoje é frio, um dia já foi quente...

 

 

 

 

– Animação meramente pictórica
(provavelmente incorreta)
da curvatura do espaço-tempo –

 

 

 

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Notas:

1. Um axioma é uma premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável, originada, segundo a tradição racionalista, de princípios inatos da consciência ou, segundo os empiristas, de generalizações da observação empírica. O princípio aristotélico da contradição – nada pode ser e não ser simultaneamente (duas proposições contraditórias não podem ser ambas falsas ou ambas verdadeiras ao mesmo tempo; como existe uma relação de simetria, não podem ter o mesmo valor de verdade) – foi considerado, desde a Antigüidade, um axioma fundamental da Filosofia. Assim sendo, o que é axiomático encerra um axioma; é algo evidente, incontestável, inquestionável. Então pergunto: o que poderá haver, no finito e ilimitado Universo, que possa ser evidente, incontestável e inquestionável? O que, no Universo, poderá ser considerado uma certeza absoluta, uma verdade absoluta e incontestável, que não permita contestação, que não dependa senão de si mesma para existir? Resposta: nada, simplesmente porque tudo se movimenta, tudo se modifica e tudo é um. Agora, ontem, hoje e para sempre, em um triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado de hipotenusa (Teorema de Pitágoras). E, quando duas retas transversais cortam um feixe de retas paralelas, as medidas dos segmentos delimitados pelas transversais são proporcionais (Teorema de Tales). E ainda, para qualquer quadrilátero inscritível, a razão entre as diagonais é igual a razão da soma dos produtos dos lados que concorrem com as respectivas diagonais (Teorema de Hiparco).

 

 

 

Representação Pictural dos Ternos Pitagóricos

 

 

2. Por maior que seja o avanço tecnológico, este avanço contemplará sempre vulnerabilidades. Se existe a perfeição absoluta, ela jamais poderá ser alcançada.

3. A velocidade da luz não é constante em todo o Universo. O que eu e você somos hoje não seremos amanhã. O Período Terrestre de hoje será o Período de Júpiter de amanhã. O mânvântâra de hoje será o prâlâya de amanhã!

4. Tudo que puder ser considerado como eterno (in perpetuum) embutirá sempre um grau de eternidade relativa. Entretanto, se alguma coisa puder ser considerada como eterna, esta coisa é o movimento, porque se o movimento se extinguisse, tudo se converteria em uma espécie de nada ou de inexistência, o que é impossível. Mesmo no prâlâya, há movimento. Por este motivo, como do nada, nada, nada também poderá se transformar em nada. E, como tudo é relativamente necessário, não há contingência. Tudo é pertinente; tudo é essencial. E assim, no Universo, o que existe (como essência) não poderá deixar de existir (como essência), pois o Universo não aumenta nem diminui, não biguebangueia nem bigcruncheia. E por aí vai... A sigh is just a sigh... A desire is just a desire...

 

 

Eternidade Relativa
(Carbono – Grafite – Diamante)

 

 

5. Isto significa alteridade (ou outridade), isto é, tudo e todos interagem e interdependem de tudo e de todos. Sobre esta matéria, ouça-se o etnólogo e antropólogo François Laplantine: A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos, notamos que o menor dos nossos comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única.

6. O particípio só pode ser considerado como tal se for metafisicamente entendido como inserido no presente – no desde-sempre-é. Passado e futuro são prisões-ilusões vinculadas (e relativas) ao processo (re)encarnacionista tridimensional, como prisão-ilusão é categorizar o que quer que seja como onicriador, onipoderoso, onipresente, onissapiente, onipróvido, oniclemente etc. Enfim, enquanto formos dependentes – no sentido de querermos ser dependentes – obviamente, não seremos (relativamente) livres.

 

Fundo musical:

As Time Goes By
Compositor: Herman Hupfeld
Intérprete: Frank Sinatra

Fonte:

http://www.pcdon.com/FrankSinatra.html