Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Mestre Serapis

Mestre Serapis

 

 

Meu irmão: compreende que os germens, uma vez semeados, devem ser entregues a si próprios e à Natureza. Qualquer mão demasiado impaciente que neles interfira diariamente, tentando ajudar seu crescimento, puxando-os para cima e não os deixando quietos, é mais do que provável que os leve a murchar, secar e morrer para sempre.

 


Mestre Serapis

 

 

 

 

 

 

 

 

Por amor, simploriamente interferimos...

Por inépcia, candidamente combalimos...

Por inscícia, ingenuamente adulteramos...

Por imprudência, tolamente deformamos...

 

 

Todas as experiências são pessoais;

sejam alegrias, sejam queixosos ais.

sem que haja possibilidade de bônus.

 

 

Ora sus, viva! E deixe o outro viver!

Ora bem, morra! E deixe o outro morrer!

Misticamente, não há vida nem morte,

tanto quanto não há azar nem sorte.

 

 

 

 

 

 

Observação:

É claro que nada disto se aplica à uma pessoa caída no meio da rua; temos a obrigação fraterna de ajudá-la. É claro que nada disto se aplica a um pobre faminto; temos o dever universal de alimentá-lo. É claro que nada disto se aplica a um doente terminal; temos a incumbência solidária de confortá-lo. É claro que nada disto se aplica a muitas outras coisas; eu sei tudo isto muito bem, e o Mestre Ascencionado Serapis Bey – conhecido também como o Grande Disciplinador – sabe muito melhor do que eu. Mas, quando uma mãe cria seu filho super-hiper-ultra temente a Deus, e diz, usualmente só com o olhar, por exemplo, que menino educadinho não tira melequinha e deve ficar quietinho, sentadinho et cetera e tal, e quando um pai educa seu filho na base do não se traz pancada para casa, homem que é homem não chora e não mija na cama e tantas outras coisas e loisas tão ou mais absurdas do que estas, o resultado, geralmente, são seres humanos – mais ou menos, menos ou mais – do tipo Norman Bates, o serial killer tímido e dominado pela mãe do romance Psicose, de Robert Bloch, transformado em um filme de suspense e terror, dirigido por Alfred Hitchcock, tendo no papel principal Anthony Perkins. Mães e pais dominadores, superprotegedores, impositivos, autoritários, realmente, são capazes de levar seus filhos a murchar, secar e morrer para sempre, como disse o Mestre Serapis Bey. E nós, quando interferimos na vida dos outros, seja lá pelo motivo que for, poderemos mesmo secá-los para a mais fundamental de todas as categorias humanas: a liberdade. Um ser humano que não é livre é menos do que bosta. É preferível, é necessário e é insubstituível fracassar tentando, se for o caso, do que não tentar por receio de fracassar ou de passar vergonha. Mas, bolas! Vergonha de quê? Não há quem não tenha uma bola para empurrar!

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.wabakasworld.net/aniflash.swf

http://ircamera.as.arizona.edu/
NatSci102/NatSci102/movies/

 

Fundo musical:

C'est Magnifique (Cole Porter)

Fonte:

http://www.hamienet.com/
midi6913_C/est-Magnifique.html