Observação
1:
Escrevi
este sonetinho-avisamento em virtude de uma certa mistureba de preocupação
+ irritação + tristeza que tem eventualmente oprimido minha
alma. Ao 'controlerremotear' a telinha de vinte polegadas do aparelho
Sony receptor de imagens televisionadas que mora aqui em casa,
lá muito de vez em quando (muito mais para de quando em quando do
que para de vez em vez), costumo ver, ligeira e circunstancialmente, geralmente
de madrugada, com uma certa melancolia irritadiça, certos ninguéns*
eletrônicos, que se acham alguéns iluminados,
pregando alucinadamente e aos berros (sempre de forma ameaçadora)
a pequenas multidões, com a esquizofrênica intenção
de convencê-las das coisas mais estapafúrdias, excêntricas,
bizarras, doidivanas, adoidadas, ilógicas, disparatadas e incoerentes
a respeito de Deus, da vida, da morte, do céu, do inferno, do maligno
(que alguns ninguéns também chamam de inimigo), do
depois, da eternidade etc. Se esses pregadores de meia-pataca soubessem
o mal que estão fazendo costurariam os lábios e fariam voto
de silêncio perpétuo.
Já
por diversas vezes afirmei que somos responsáveis por tudo. Ora,
somos responsáveis também por aquilo que dizemos. A intenção,
ainda que nobre, quando é, pode ser doentia e contagiosa; e isto
é dangerosíssimo. Quando esses bangalafumengas dizem, por
exemplo, que uma pessoa que está resfriada está possuída
por um demônio da gripe, ou que outra que está com dor aqui
ou ali é porque há um sacana de um diabo dolorífero
fazendo doer ali ou aqui, isto é mais do que um horror: é
uma miséria completa. O infeliz que ouve isso – e acredita
– passa a ver satanases em tudo e a devanear que qualquer faniquito
é obra do maligno. Isso é mesmo uma miséria completa.
O que,
por exemplo, irá pensar um crédulo que temporariamente esteja
acometido de uma crise de flatulência e que creia inapelavelmente
nessas babaquices? Certamente irá logo imaginar que está cheio,
abarrotado, saturado, repleto, do intestino até a caixa óssea
que contém e protege o encéfalo, de demônios de peidos.
E, fantasticamente, pensará o crédulo, que quanto mais alto
e mais fedorento for o gás emitido pela abertura cirúrgica
da luz intestinal para a superfície externa do corpo, mais podre
e mais algazarrão será o raio do demônio-borborigmo
peidão encarcerado. E por aí vai.
Para
quem conhece Matéria Médica Homeopática sabe que, dependendo
do caso e dos sintomas, pode-se usar Argentum nitricum 5ª,
Carbo vegetabilis 5ª ou 30ª, Lycopodium clavatum
30ª, Ferula assafoetida 12ª, Valeriana officinalis
1ªx, Melaleuca cajuputi 3ª, Spartium scoparium
3ªx, Raphanus sativus 5ª, Antimonium crudum 5ª,
Nux moschata 3ª et cetera. Detalhe: para flatos muito
fétidos, Rhus glabra 1ª é tiro e queda. No Guia
de Medicina Homeopática, 22ª edição, do Dr.
Nilo Cairo está escrito: Quando gases e fezes são muito
fétidos, Rhus glabra tira-lhes o mau cheiro. O que o Dr. Nilo
Cairo omitiu, coisa que não deveria ter feito, é que não
há demônio que resista à ação limpante
do Rhus carolinense ou Rhus elegans, que são os
dois outros nomes deste santo remédio para quem sofre dessa coisa
de cocô e gases fedorentos. Agora, se a criatura não ficar
curada, de jeito nenhum, com esses medicamentos homeopáticos –
raio que a parta – eu me rendo: deve ser demônio mesmo. Do brabo!
Fazer o quê?
Mas,
com sinceridade: essas coisas que eu abordei, penso que com airosidade e
bom humor, podem ter algum cabimento? Por mínimo que seja? Como é
possível que alguém acredite nesse treco absurdante de demônio
ceratinoso da unha encravada, demônio fedegoso-odorifumante do mau
hálito, demônio hipertrófico da hipergênese das
papilas, demônio hemorroidal da dilatação das veias
varicosas do ânus e da parte inferior do reto, demônio assanhado-sem-vergonha
do órgão genital masculino dos vertebrados superiores? Est
modus in rebus. Em tudo convém medida. Principalmente naquilo
que concerne ao espiritual.
Vou
concluir misturando dois provérbios: Quanto maior a nau, maior
a tormenta; quem brinca com fogo faz xixi na cama. O que eu pretendi
com esse mélange nem eu sei.
*
Ninguéns no sentido de desconhecimento total das
Leis elementares, básicas, que regem o Kosmos. Quanto ao
resto, são meus irmãos.
Observação
2:
A animação
em flash da Cobrinha Serelepe foi produzida a partir do
desenho de Mauricio de Sousa que ilustra a crônica O Que Estão
Fazendo Com o Meu Veneno? O desenho e a crônica estão
disponibilizados na página:
http://www.monica.com.br/
mauricio/cronicas/cron249.htm
Observação
3:
A animação
em flash do Zé Bocão foi produzida e editada
a partir do desenho disponibilizado na página:
http://www.kevadamson.com/
illustrations/illustrator-22j.htm
Observação
4:
A animação
em flash Você Está Realmente Ouvindo? foi
produzida e editada a partir do desenho disponibilizado na página:
http://ohrm.cc.nih.gov/
train/customerservice/tip5.htm
Observação
5:
Você
quer se divertir um pouquinho? Desopilar a little bit? Então,
se não apontou o mouse para todas as animações
deste rascunho, exceto o título, está esperando o quê?
Aponte já. Isto é uma ordem hilariante. Rir é melhor
remédio.
Muitíssima
atenção:
A velha
senhora aí embaixo tem um recadinho para você. Aponte o mouse
bem para a pontinha do nariz desta simpática micróbia, e ouça
o que ela tem para lhe dizer. Desculpe, não foi intencional. Eu quis
dizer: desta simpática macróbia. Até porque ela não
é um makróbios e o que ela ensina é uma coisa
muito séria.
Você
Está Realmente Ouvindo?
Música
de fundo:
Singing
In The Rain (música: Nacio Herb Brown; letra: Arthur Freed)
Fonte:
http://www.fortunecity.com/
tinpan/pettruciani/35/