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Notas:
1.
O inferno são os outros. (Jean-Paul Charles Aymard Sartre,
Paris, 21 de junho de 1905 - Paris, 15 de abril de 1980).
As
outras pessoas, segundo Sartre, são fontes permanentes de contingências,
isto é, possibilitam que alguma coisa aconteça ou não.
Todas as escolhas de um ser-no-mundo* levam à transformação
desse mesmo mundo para que ele se adapte ao seu projeto. Mas cada ser-no-mundo
tem, na maioria das vezes, um projeto diferente, e isso faz com que os seres-no-mundo
entrem em conflito sempre que os projetos se sobrepõem ou se contrapõem.
Mas Sartre não defende, como muitos pensam, o Solipsismo**. O homem
por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só
através dos olhos de outros seres-no-mundo
é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência,
um ser-no-mundo não
pode se perceber por inteiro. O ser-no-mundo
para-si só é para-si através do outro, idéia
que Sartre herdou de Hegel. Cada ser-no-mundo,
embora não tenha acesso imediato e objetivo às consciências
dos outros seres-no-mundo,
pode reconhecer neles o que têm de igual e de diferente. E cada um
precisa desse reconhecimento. Por mim mesmo, não tenho acesso integral
à minha essência; sou um eterno tornar-me, um
eterno vir-a-ser que nunca se completa. Só através
dos olhos dos outros posso ter acesso à minha própria essência,
ainda que temporária. Só a convivência é capaz
de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que desejo. Daí
vem a idéia de que o inferno são os outros, ou seja,
embora sejam eles que impossibilitem a concretização de meus
projetos, colocando-se sempre no meu caminho, não posso evitar sua
convivência. Sem eles o próprio projeto fundamental não
faria sentido.
* Ser-no-mundo
= no heideggerianismo, constituição necessária
e apriorística do ser-aí (no hegelianismo,
o ser-aí é o ser que alcançou um desenvolvimento
pleno, superando o caráter abstrato e indeterminado que apresentava
no início do seu processo transformativo; já no heideggerianismo,
o ser-aí é a existência humana, caracterizada
por seu enraizamento na historicidade do mundo cotidiano, sua angústia
diante da morte, e sua capacidade de se interrogar a respeito do Ser) que
deve ser compreendido em sua inserção na realidade cotidiana,
na historicidade e na relação que estabelece com os outros
entes.
** Solipsismo
[sol(i)- + radical do latim ipse, a, um 'mesmo, de si
mesmo' + -ismo] é a crença filosófica de que,
além de nós, só existem as nossas experiências.
O Solipsismo é a conseqüência extrema de se acreditar
que o conhecimento deve estar exclusivamente fundado em estados de
experiência interiores e pessoais, não se conseguindo estabelecer
uma relação direta entre esses estados e o conhecimento objetivo
de algo para além deles. O solipsismo do momento presente
estende este ceticismo aos nossos próprios estados passados, de tal
modo que tudo o que resta é exclusivamente o eu-presente.
Com o intuito de demonstrar como considerava ridícula esta idéia,
Bertrand Russel refere o caso de uma mulher que se dizia solipsista, estando
espantada por não existirem mais pessoas como ela.
Fonte
(editado):
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre
Obviamente,
não concordo integralmente com o pensamento de Sartre. Por que o
homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade? Por
que sem a convivência um ser-no-mundo não pode se
perceber por inteiro? Por que por
mim mesmo não posso ter acesso integral à minha essência?
Por
que só através dos olhos dos outros posso ter acesso à
minha própria essência? Por que só a convivência
é capaz de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que
desejo? Mas é incontraditável que sou um eterno tornar-me,
um eterno vir-a-ser que nunca se completa. A Peregrinação
é ilimitada; não há céus ou infernos a priori
ou definitivos. Por isso, se por um lado é fato incontestável
e irrecorrível que nossas vivências interiores são necessárias
e fundamentais para o nosso desenvolvimento psíquico e místico,
por outro não podemos desqualificar nem desvalorizar nossas experiências
objetivas e o insubstituível contato com os outros seres-no-mundo.
Muito pelo contrário. Se assim procedermos, acabaremos inúteis
e arremedos do que há de pior no mundo. Ou coisa pior.
2. Porque
nós permitimos. Às vezes, provocamos essa mãozinha
e até adoramos ser sacaneados.
3. Isso
não é sempre assim, mas muitas vezes é. O balaio, inclusive,
pode crescer em decorrência dos nossos atos de bondade e de solidariedade.
Interferir diretamente nas experiências alheias é algo
que um Místico evoluído não faz.
4. Relativamente.
5. De
certa forma, isso não é tão difícil. O primeiro
passo é aprender a ouvir
o Silêncio. Nossa Voz Interior fala em qualquer situação,
em qualquer lugar e sob quaisquer circunstâncias. Basta esquecer
o mundo e visualizar o centro da cabeça. Depois de um certo tempo,
o contato é praticamente imediato. Em um ponto mais avançado,
poderemos nos projetar para dentro
do nosso Coração. Quem pratica esses dois simples experimentos
jamais padece de solidão e passa a ter uma relativa invulnerabilidade.
Mas nada disso funciona sem um supremo e desinteressado Amor no Coração.
Ouvir. Esquecer. Dentro.
Música
de fundo:
On The
Sunny Side Of The Street (Dorothy Fields & Jimmy McHugh)
Fonte:
http://perso.orange.fr/jc.boudrant/Liens.htm