As
Pedras no Caminho
Frater Vicente Velado (*)
Existem
pessoas que além de nada produzirem se dedicam com extremo
afinco a tentar prejudicar os que tentam construir alguma coisa,
por mais simples que seja, por mais banal que possa ser. Essas
pessoas são as pedras que as Leis Cósmicas, governantes
da evolução, colocam no caminho de todos, para
que, diante delas, possam se manifestar, exteriorizando reações
causativas.
Para uns, as
pedras devem ser simplesmente transpostas, sem que se dê
maior importância a elas; para outros, são motivos
de grande sofrimento, de choros e lamentações;
e para outros, ainda, são obstáculos que devem
ser destruídos, pulverizados e esquecidos.
Essas pedras,
sejam elas pessoas, situações ou condições
– como deficiências físicas, que tantas e
tantas vezes têm motivado seus portadores a se manifestarem
como artistas, na pintura (pintando com os pés ou com
a boca), na literatura de ficção e na poesia (ditando
o que não podem escrever, por paralisia ou outro motivo)
e na música (compondo e tocando mesmo sendo surdos, como
Beethoven) – são as originadoras da iniciação.
Portanto, não
as maldiga e nem as odeie – nem mesmo as discrimine como
más no rol dos eventos do mundo fenomênico –
pois essas pedras são a causa da evolução
que você possa vir a ter nesta vida terrestre. Neste mundo,
uns são as pedras dos outros e, assim, de alguma forma,
todos se ajudam mutuamente, mesmo que não saibam disso.
Citarei um pequeno
exemplo, tirado da minha própria vida: quando me tornei
eremita meu dinheiro era escasso e sofrido, pois tinha de trabalhar
exclusivamente pela Net, em um país imerso na depressão
econômica e ante uma série de condições
adversas. Eu usava um 486DX com OS/2 Warp 3.0, onde estava montado
meu IDE, ou seja, meu ambiente de desenvolvimento de softwares.
Certo dia, esbarrando com um problema de clipboard,
que me atrapalhava o trabalho no compilador, recorri ao Suporte
da IBM por telefone e me encaminharam para a Lista de Discussão
OS/2 Brasil.
Naquela Lista
o meu problema foi resolvido, pois vários de seus membros
eram feras da programação, principalmente no Pascal.
Com isso pude ganhar o dinheirinho e passar para o OS/2 Warp
4.0, muito moderno, que tinha até comandos por voz. Eu
podia falar para aquele computador e ele obedecia. Vivendo sob
voto de silêncio, em estrita observância da Regra
de São Bento, eu não falava com pessoas e aquilo
me empolgou. Achei de exteriorizar minha empolgação
produzindo uma pequena imagem, de apenas 3,7K, com os dizeres
"Sou Um Micreiro Feliz: Uso o OS/2 Warp 4.0".
Atachei aquela tirazinha colorida (chama-se merlin.jpg) em uma
mensagem e a mandei para a Lista na primeira oportunidade.
Mal a mensagem
estourou na Lista pipocaram as reclamações:
"Tem como
não vir esse tipo de coisa?"
"Olha,
cara, nós somos liberais. Se isso fosse na Lista de Linux
da Unicamp você já teria levado um unsubscribe
do moderador..."
... E por aí
afora. Decidi não mais atachar imagens às mensagens,
mas aquilo me incentivou. Disse comigo mesmo: vou fazer um site
de informática e colocarei lá todas as imagens
que eu achar que mereçam ser publicadas, por um motivo
ou por outro. E assim fiz. Foi assim que construí um
site que hoje tem cerca de sete mil páginas e é
um sucesso comercial, tendo me tornado dono do meu nariz. Esse
site pode ser visitado em: http://macarlo.com/
... E até
hoje agradeço aos participantes daquela Lista que rechaçaram
minha pequena imagem. Se não fosse por eles eu ainda
seria um obscuro programador, ralando em cima de um compilador
para faturar alguns níqueis com os quais pudesse comprar
comida. Graças àquelas mensagens adquiri completa
autonomia dentro da sociedade de consumo e posso comprar praticamente
tudo que quiser, desde obras de arte e livros raros aos mais
sofisticados equipamentos tecnológicos.
Mas o mais interessante
é que agora que posso fazer essas compras simplesmente
não as faço, a não ser por extrema necessidade
ou para ajudar alguém, pois posses materiais nada mais
significam para mim. E somente agora é que posso dar
o devido valor às pedras que foram colocadas em meu caminho,
porque sem elas eu não teria conseguido nada. É
importante, muito importante mesmo, que se consiga alguma coisa,
pois somente através da realização é
que se obtém a libertação do ego dessa
autêntica prisão que é a necessidade compulsiva
de realizar.
Obrigado pedras,
muito obrigado!
NOTAS:
(*) o Frater
Velado é Abade da Ordo Svmmvm Bonvm Para o Terceiro Mundo.
http://svmmvmbonvm.org/
Este artigo
está online em:
http://macarlo.com/rosacruzrj3/pedras.htm