No
Budismo, a não-diferenciação entre samsara
(existência cíclica, perambulação, encadeamento
de causas e efeitos)
e nirvana é denominada Essência
de Néctar para Bom Mérito.
Na verdade – samsara e nirvana – são
meros reflexos da mente mortal do ente. As múltiplas formas de
compreensão e/ou de percepção de um objeto qualquer
(ou de muitos objetos) fazem parte da realidade compulsória da
vida neste Plano, e isto ocorrerá até que o ser alcance
a libertação da prisão dos seus próprios
sentidos, o que não é possível, nem de forma permanente
nem de modo integral, enquanto houver (e for necessária) a manifestação
no Plano da Dualidade – o Plano Terra, por exemplo – e houver
dependência das coisas da Terra, dependência essa manifestada
por um triângulo 'samsárico' arrasador: ambição,
fanatismo e lubricidade.
É
contado que o Buda certa vez perguntou aos seus monges: — O
que vocês acham que é maior: a água nos grandes
oceanos ou as lágrimas que vocês derramaram nessa perambulação?
Com base nesse conceito, Thanissaro
Bhikkhu
pergunta: — Quando você pensa em todo o sofrimento incorrido
para manter apenas uma pessoa vestida, alimentada, abrigada e saudável
– o sofrimento tanto daqueles que têm que pagar por essas
necessidades, bem como daqueles que labutam ou morrem na sua produção
– você verá o quão explorador [e devorador]
pode ser mesmo o mais rudimentar processo de construção
de mundos. De qualquer forma, tudo é Um, tudo é Mente
(sem qualquer conotação panteísta), e o processo
duplo de devoração (anabolismo + catabolismo) faz parte
da peregrinação e da busca da LLUZ.
Mas essa devoração precisa encerrar seu ciclo (egoísmo-preguiça)
para cada ser que almeje alcançar a Illuminação
(ou a ascensão a um Plano mais elevado), porque o processo devorante
implica, minimamente, em compensações para cada devoração
praticada – qualquer que seja ela. Ainda que para tudo que aconteça
exista um motivo plausível e uma Lei Cósmica subjacente
ordenadora, renunciar, por hipótese, a um presumido direito em
favor de outrem é um ato manumissor e de incomparável
grandeza. Este é um tema muito interessante para reflexão.
Por isso, devo repetir: TUDO
É UM. Mesmo e outro são ilusões
dos sentidos.
É
muito difícil (talvez seja mesmo impossível) uma independência
completa das ilusões da existência fenomenal. Os intercondicionamentos
próprios da dualidade nada mais são do que
ilusão,
e aquilo que é entendido como Mente Cósmica é um
algo
incriado e destituído, portanto, de uma causa primeira e de uma
finalidade em si, não podendo, esse algo,
ipso facto, ser dissolvido ou destruído e mesmo integralizado
pela consciência do ser. Essa impossibilidade de percepção
integral da Consciência Cósmica é, possivelmente,
a maior agrura da encarnação, ainda que percepções
parciais sejam possíveis. Mas, qualquer qualificativo à
Ela emprestado é falho na origem.
Nesse
sentido, de forma equivalente, a dupla classificação (coisificação)
samsara-nirvana é também uma arquitetação-ilusão
da mente, sendo o próprio mal e o próprio bem criações
poderosas da mente objetiva oriundos de conceitos a priori
ou a posteriori de estados vibratórios que o ser pensa
conhecer, a eles atribuindo distintos valores de acordo com a cultura
que possui em um dado momento. Ter a coragem de sacrificar o próprio
filho já foi considerado uma coisa boa (e que ainda hoje é
citado como exemplo de de fé e de confiança), como é
considerado uma coisa boa, hoje, para certos grupos, combater, condenar
e discriminar, por exemplo, o feminismo e o homossexualismo, ou, da
mesma forma, invadir, dominar, assassinar e espoliar povos soberanos.
O
fato é que,
acima e além da própria meditação não
existe propriamente um estado meditativo, porque não há
em que meditar nem por que meditar. A VIDA é.
O próprio ato de meditar é, em si, preliminarmente, uma
forma de pensamento, um direcionamento para uma finalidade que, anterior
e objetivamente, classificamos como bom, útil, unificador, desejável,
reintegrador, fraterno, espiritual etc. Eu diria que o ato de meditar
é um estágio intermediário (útil, desejável
e necessário), ponte para o estado não-meditativo no qual
é realizado in totum (mas, episodicamente) que tudo
é Um. Se o Iniciado alcançar este estado, ainda que efemeramente,
perceberá que realmente não há em que meditar nem
por quê meditar nesse estado de consciência. Esse mergulho,
por assim dizer, é de tal forma impessoal e isento de categorias,
que ainda que a individualidade seja mantida a personalidade não
tem como se manifestar.
Assim,
os conceitos de infinito e finito, de ilimitado e limitado e de absoluto
e relativo são, em última instância, construções
mentais duvidosamente necessárias para expressarmos condições
que estão além dessas mesmas categorias. Por isso, não
poderemos jamais explicar a Mente com a mente, e quando tentamos atribuir
qualquer valor a qualquer coisa que identificamos como existente ou
provavelmente existente, então, aparecem, por exemplo, as distinções
e as realizações objetivas (quiméricas e polarizadas)
entre samsara e nirvana, entre mal e bem, entre aversão
e paixão, entre errado e certo, entre guerra e paz, entre a noite
e o dia, entre a morte e a vida (ou entre a vida e a morte). E também
a confusão inconciliável entre concentração
e meditação.
Como
ensina um sábio budista: Primeiro obtenham a certeza de que
tudo que percebem é só Mente. Então, percebam que
toda a mente e todas as percepções são ilusórias,
e entendam que isto é uma ilusão que só aparece
por causa das ligações. Depois de terem percebido que
os significados destas ligações de suporte estão
separadas de todo limite expressável, percebam a certeza de não
confiar em qualquer estado natural; assim é a Visão. Mas,
ainda assim, não nos desvincularemos totalmente dos padrões
que construímos para operar neste Plano. E esses padrões
são, muitas vezes, as causas dos nossos infortúnios e
dos infortúnios que causamos aos outros.
Tentarei,
a seguir, com alguns modelos, explicar ou desenhar o real procedimento
da autêntica e necessária meditação como
eu consigo compreender. Comparativa e semelhantemente, a meditação
deverá acontecer, smj, como se fosse um cristal (ou muitos microcristais)
de sal (cloreto de sódio) se dissolvendo lentamente em água,
ou como se fora um cubo de gelo se fundindo (derretendo) em água
ou, ainda, analogamente a várias gotas de água caindo
no mar. Elas continuariam água (H2O),
mas não seriam mais gotas. Nós, normalmente, não
percebemos a existência, por exemplo, do dedão do pé
direito nem do cotovelo esquerdo. Mas, se pensamos em qualquer um dos
dois passamos a perceber que existem. Essa é a dificuldade ou
o obstáculo que deve ser ultrapassado no processo meditativo:
não pensar, não avaliar e não classificar. Contrapor,
por hipótese, o amor ao ódio ou o viável ao inviável
no ato de meditar é também um equívoco da razão
especulativa. A própria idéia dual de vacuidade/unidade
é um obstáculo para o sucesso do alcançamento da
Unidade (ou de um de seus estágios de realização
ou de percepção) na meditação. Na autêntica
meditação não há qualquer forma de desejo
ou de comando. As animações a seguir resumem estes conceitos,
mas se prestam também para recordar a possibilidade real de dissolução
após a transição, já que a Reencarnação
é uma Lei Cósmica que não se cumpre necessariamente
para todos os entes. Precisamos, todos nós, examinar com todo
empenho o verdadeiro significado da palavra MÉRITO.
E, como tem enfatizado o Frater +Vicente
Velado,
FRC,
Iniciado do Sétimo
Grau do Faraó
e Abade Especial da Ordo
Svmmvm Bonvm
para o Terceiro Mundo: Estejamos sempre atentos para que
não se perca a Luz de vista. Este pensamento está
alinhado com a observação do poeta, escritor e filósofo
grego Nikos Kazantzakis (1883-1957) que nos adverte que somos seres
espirituais experienciando vivências humans, e não seres
humanos tendo fortuitas e descontroladas experiências espirituais
ou místicas. Com calma, observe as cinco animações
abaixo. Todas estão vinculadas à meditação.
Não esqueça, contudo, de que o processo meditativo não
significa indiferença, amorfismo ou inexistência de aprendizado.
Muito pelo contrário!
|
|
|
Como
conclusão deste despretensioso folheto, acredito que o grande
e multifacetado problema que se afigura nos processos meditativos é,
no mínimo, a união de quatro vontades
ou atitudes equivocadas: vaidade, egoísmo, autoritarismo e direcionabilidade.
Pela vaidade achamos que somos onipotentes; pelo egoísmo pensamos
que somos seres especiais ou escolhidos; pelo autoritarismo admitimos
que nossa vontade deverá sempre prevalecer; e pela direcionabilidade
queremos atuar, quando na autêntica meditação não
pode existir qualquer forma de desejo. Quatro equívocos que a
nada levam. Quando levam (e acabam levando mesmo), levam ao desconforto
educativo de nada alcançar ou de aprender pela dor que a Primeira
Regra de Ouro para a libertação/ascensão/illuminação
é a Humildade.
Retornando
a Thanissaro Bhikkhu, acompanho sua reflexão quando afirma que
temos que nos esforçar para estancar nossas ‘samsar-izações’.
Mas não as estancaremos sem compreendê-las e sem dominar
nosso Corpo Astral. Somos efetivamente os arquitetos e os construtores
de nossos infernos pessoais (e dos outros), porque, geralmente, queremos
e optamos pelo que é transitório e detrimentoso, e não
pelo que é eterno e libertador. Mas, há uma Caminhada
disponível para os Corações pressurosos!
E
mais, diz Thanissaro: Quando você aprende as habilidades necessárias
para parar de criar os seus próprios mundos de sofrimento, você
poderá compartir essas habilidades com os outros para que eles
possam parar de criar os deles. Ao mesmo tempo, você nunca mais
terá que se alimentar dos mundos dos outros, portanto, você
estará reduzindo o fardo deles também. Por
isso, acredito, o Amor é o prerrequisito fundamental
para que samsara
possa ser minimizado, vencido e ultrapassado. Quando nos afastamos do
Centro
– do
Eterno Amor Impessoal –
mergulhamos nas trevas de nossa ignorância-ilusão. Mas,
aprenderemos, certamente, que somos todos UM.
De alguma forma teremos
que aprender, pois não há reencarnação,
inferno ou purgatório que nos ensine o que devemos (e teremos
que) aprender por nós mesmos.
E,
para concluir, vou deixar uma imagem para reflexão. Imagine uma
pessoa que tirou uma fotografia digital e que vá ao visor digital
da máquina para ver o resultado. A foto só será
guardada e eventualmente revelada se o operador achar que vale a pena.
Se resolver que a foto não ficou boa – que não valeu
a pena –
ela é apagada
do chip (arquivo digital) e é trocada por outra que
valha a pena (ou que, potencialmente, possa vir a valer a pena).
|
PRINCIPAIS
WEBSITES
CONSULTADOS
http://www.acessoaoinsight.net/caminho_liberdade/ciclo_de_renascimentos.htm
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/samsara.htm
http://jchemed.chem.wisc.edu/JCESoft/CCA/CCA3/MAIN/ENTROPY/PAGE1.HTM