O
Preço da Honra
As
coisas que mais ocorrem na vida – e são tidas pelos homens
como o supremo bem – resumem-se, ao que se pode depreender das
suas obras, nestas três: as riquezas, as honras e a concupiscência.
Por elas, a mente se vê tão distraída, que de
modo algum poderá pensar em qualquer outro bem. Realmente,
no que tange à concupiscência, o espírito fica
por ela de tal maneira possuído como se repousasse num bem,
tornando-se de todo impossibilitado de pensar em outra coisa; mas,
após a sua fruição, segue-se a maior das tristezas,
a qual, se não suspende a mente, pelo menos a perturba e a
embota. Também procurando as honras e a riqueza, não
pouco a mente se distrai, mormente quando são buscadas apenas
por si mesmas, porque, então, serão tidas como o sumo
bem. Pela honra, porém, muito mais ainda fica distraída
a mente, pois sempre se supõe ser um bem por si, e, como que
o fim último, ao qual tudo se dirige.
Além
do mais, nestas últimas coisas não aparece, como na
concupiscência, o arrependimento. Pelo contrário, quanto
mais qualquer delas se possuir, mais aumentará a alegria, e
conseqüentemente sempre mais somos incitados a aumentá-las.
Se, porém, nos virmos frustrados alguma vez nesta esperança,
surge uma extrema tristeza. Por último, a honra representa
um grande impedimento pelo fato de precisarmos, para consegui-la,
adaptar a nossa vida à opinião dos outros, a saber,
fugindo do que os homens em geral fogem e buscando o que vulgarmente
procuram.
Baruch
Espinoza, in:
Tratado da Correção do Intelecto.
Fonte:
http://www.citador.pt/textos/o-preco-da-honra-baruch-von-espinoza