IMITAÇÃO DE CRISTO
(Tomás de Kempis, 1380 - 1471)

(Fragmentos escolhidos
retir
ados do Livro I)

 

 

Uma colaboração de

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Música de fundo: Natal - Noite de Paz
Fonte:
http://www.coralsantaotilia.com.br/midis.html

 

INTRODUÇÃO

 

It is difficult to say when I first came across the Imitation, but I remember the thrill of certitude that its composer was a man of deep spiritual awareness. I could see right away why Swami Vivekananda, a direct disciple of Sri Ramakrishna and founder of the Vedanta Society, had travelled to the West with the Bhagavad Gita in one pocket, and the Imitation of Christ in the other.

Eknath Easwaran


 

 

De Imitatione Christi
Tomás de Kempis
Veneza, 1483

 

 

De Imitatione Christi
Tomás de Kempis
Paris, 1842

 

O misticismo, na Idade Média, teve um especial impulso com Meister Eckhart (1260-1327/8), João Ruysbroeck (1293-1381), João Tauler (1300-1361), Henrique Suso (1300- 1365), Gerson (1364-1429), Tomás de Kempis (1379/1380 - 1471), Nicolau de Cusa (1401-1464) e Dionísio Cartusiano (1402-1471).

Thomas Haemerken ou Tomás de Kempis foi um agostiniano germânico nascido na localidade alemã de Kempten, na Diocese de Cologna, próximo a Düsseldorf, na Renânia, autor do livro devocional De Imitatione Christi (Imitação de Cristo), tido como a mais importante obra da literatura cristã, depois da Bíblia. Filho de um artesão e de uma professora, John e Gertrudes Haemerken, seguiu seu irmão mais velho John Haemerken, e foi estudar em Deventer (1392), na Holanda, centro religioso e sede da Irmandade da Vida Comum, comunidade dedicada ao cuidado e à educação dos pobres. Estudou sob a orientação de Florentius Radewyns, agostiniano e fundador da Congregação de Windesheim. Depois de completar as Humanidades em Deventer (1399), por recomendação de seu superior, Florêncio Radewyn, procurou admissão entre os Cônegos Regulares de Windesheim no Monte S. Agnes, perto de Zwolle, mosteiro do qual seu irmão John era o prior. Ingressou no Mosteiro de Agnietenberg, no qual permaneceria por mais de setenta anos e no qual recebeu o hábito de noviço (1406). Ordenou-se (1413), passando a dedicar sua vida à cópia de manuscritos e ao ensino de noviços. Seu primeiro mandato como subprior foi interrompido pelo exílio da comunidade de Agnetenberg (1429-1432), porém foi eleito como subprior novamente (1448). Escreveu numerosos textos teológicos e espirituais, tendo como expoente a De Imitatione Christi já citada, obra cuja autoria é ainda controvertida. Esse livro escrito em estilo simples enfatizava a vida espiritual, afirmava a comunhão como prática para fortalecer a fé e encorajava uma vida pautada no exemplo de Cristo. Para muitos críticos de literatura seus textos são provavelmente a melhor representação da devotio moderna, um movimento religioso criado por Gerhard Groote ou Gerardus Magnus, fundador da Irmandade da Vida Comum. Séculos após sua morte, ocorrida em Agnietenberg, Países Baixos, uma esplêndida edição do Opera Omnia foi publicada por Herder sob a apta editoração do Dr. Pohl, em 17 volumes (1902-1922). Suas obras têm sido repetidamente republicadas ao longo dos tempos, como Imitação de Cristo (1441), Opera Omnia (1607), Chronicon Montis Sanctae Agnetis (Antuérpia, 1621), Orações e Meditações da Vida de Cristo e Encarnação e Vida de Nosso Senhor (Londres, 1904, 1907), Crônica dos Cônegos Regulares do Monte S. Agnes (Londres, 1906), Sermões aos Noviços Regulares (Londres, 1907).

Fonte: http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/ThomKemp.html

Este trabalho foi realizado tendo como base a obra de Kempis Imitação de Cristo (1441), e constitui-se de alguns fragmentos de seu pensamento colhidos no Livro Primeiro. Pensei em fazer o estudo sobre toda a obra, mas o arquivo ficaria muito pesado. Brevemente completarei esta tarefa. Uma boa prática será meditar sobre cada fragmento um dia por semana. Nada será alcançado com pressa e não se vencem ou se modificam defeitos e opiniões equivocadas de uma hora para a outra. A pressa não é propriamente inimiga da perfeição; ela é totalmente impeditiva para que se processe qualquer tipo de mudança e de maturação. Isto não significa que não se possa ou não se deva ler todos os excertos de uma vez, para depois refletir concertada e cuidadosamente sobre cada um deles. Penso que isso até seria mais conveniente.

Tomás de Kempis foi muito mais do que um simples religioso, e sua obra, ainda que aparente ter um ordenamento religioso, embute nas entrelinhas conceitos esotéricos e espirituais irredutíveis. Sempre as entrelinhas! Obras como a Imitação de Cristo não podem ser lidas pelas linhas – que geralmente não mostram nada. Devem ser, sim, examinadas em seus ocultos ensinamentos interlineares. Garimpei alguns desses ensinamentos e ofereço a todos como fonte de meditação. Para compreendê-los, é preciso isolar (pôr entre parêntesis) as exortações religiosas e aproveitar a essência desses ensinamentos. Ao final, apresento alguns comentários, e acredito que quem estiver lendo este texto ficará muito feliz com uma citação que retirei de um texto que recebi recentemente de meu Irmão +Vicente Velado. Sintetizei esse pensamento de +Velado em uma animação em flash muito interessante. Paz e LLuz.

 

 

FRAGMENTOS

 

 

 

 Exorta-nos Cristo a que lhe imitemos a vida e os costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda a cegueira do coração.

 Quem quer entender e saborear toda a plenitude das palavras de Cristo deve esforçar-se por moldar nEle toda a própria vida.

 Em verdade, as palavras sublimes não fazem o homem santo e justo; é a vida pura que o torna querido de Deus.

 A suprema sabedoria consiste em tender para o reino do Céu pelo desprezo do mundo.

 Vaidade, pois, amontoar riquezas caducas e nelas pôr a sua confiança. Vaidade, ainda, ambicionar honras e guindar-se a altas posições. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar o que mais tarde será gravemente punido. Vaidade, desejar viver muito e descuidar de viver bem. Vaidade, preocupar-se só com a vida presente e não prever a futura. Vaidade, amar o que tão vertiginosamente passa e não demandar pressuroso a alegria que sempre dura.

  Os que se deixam levar pela própria sensualidade mancham a consciência.

  Se te parece que sabes e compreendes bem muitas coisas, tem por certo que muito mais são as que ignoras.

  Se vires outrem pecar abertamente e ainda cometer faltas graves, nem por isto te deves ter por melhor, porque não sabes por quanto tempo poderás perseverar no bem. Somos todos fracos, mas a ninguém tenhas por mais fraco que tu.

  Quanto maior progresso fizer cada um na unidade e na simplificação interior, tanto mais numerosas e mais sublimes coisas entenderá sem esforço, porque do alto receberá a luz da inteligência.

 Este deverá ser o nosso maior empenho: vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia mais fortes e fazermos algum progresso no bem.

 Oh! Quão depressa passa a glória do mundo!

  Verdadeiramente grande é quem tem grande caridade! Verdadeiramente grande é aquele que, pequeno aos próprios olhos, em nada estima as maiores honras. Verdadeiramente sábio é aquele que considera 'todas as coisas da Terra como lodo para ganhar a Cristo' (Filip. III, 8).

 Os homens perfeitos não prestam facilmente fé a tudo o que se lhes conta, porque conhecem a natureza humana, inclinada ao mal e leviana no falar.

 Quem ainda não morreu perfeitamente a si mesmo é bem depressa tentado e vencido em coisas pequenas e insignificantes.

 É, com efeito, resistindo e não obedecendo às paixões que se encontra a verdadeira paz de coração. Paz não terá, pois, o homem carnal nem o dissipado, mas o fervoroso e espiritual.

 Se em ti reconheceres algum bem, pensa que são melhores os outros, e assim te conservarás em humildade. Nenhum mal há em te colocares abaixo de todos; grande mal, porém, se – ainda a um – só te preferires. No coração humilde, paz contínua; no soberbo, freqüente o ciúme e a irritação.

  Não bajules os ricos nem gostes de aparecer na presença dos poderosos. Procura a companhia dos humildes e simples, dos piedosos e de bons costumes e com eles entretém-te de coisas edificantes.

 É mister que algumas vezes renunciemos ao nosso modo de ver por amor da paz. Quem é tão sábio que chegue a saber tudo perfeitamente? Não confies, pois, demais na tua opinião, mas de bom grado ouve também a dos outros.

  Importa vigiar e orar para que não passe inutilmente o tempo. Quando for permitido ou conveniente falar, fala de coisas edificantes.

 Como poderá permanecer muito tempo em paz aquele que se intromete em negócios alheios, que procura dissipar-se nas coisas externas e dentro de si, pouco ou raras vezes, se recolhe? Bem-aventurados os simples porque terão muita paz!

 Se estivéramos inteiramente mortos a nós mesmos e menos embaraçados no nosso interior, poderíamos saborear as coisas divinas e ter alguma experiência da contemplação celestial. O maior, o único obstáculo é que não nos desvencilhamos das paixões e concupiscências nem nos decidimos a entrar no caminho perfeito dos santos. Mal surge uma pequena contrariedade, deixamo-nos logo entrar de desânimo e voltamos às consolações humanas.

 Levemos o machado à raiz para que, purificados das paixões, tenhamos a alma em paz.

 Bom é que, de quando em quando, passemos por sofrimentos e contrariedades, porque muitas vezes fazem o homem entrar em si, lembrando-lhe que vive no desterro e em coisa nenhuma do mundo deve pôr a sua esperança. Bom é que, por vezes, padeçamos contradições e de nós se não tenha boa estima, ainda quando são boas as nossas ações e intenções. Isto muito nos ajuda a ser humildes e preserva-nos da vanglória.

 Segurança perfeita e paz completa não pode haver neste mundo.

 Não há homem tão perfeito e santo que, de quando em quando, não tenha tentações; totalmente livres delas não podemos viver.

 As tentações, porém, ainda que molestas e graves, são muitas vezes de grande utilidade para o homem; nelas se adquire humildade, pureza e experiência. Por muitas tentações e tribulações passaram todos os santos e com isto aproveitaram; os que não puderam resistir-lhes, sucumbiram e perderam-se. Não há Ordem religiosa tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades.

  A paciência e a verdadeira humildade nos tornam mais fortes do que todos os inimigos.

 O fogo prova o ferro; a tentação, o justo... Por isto disse alguém: 'Atalha no princípio; tarde chega o remédio se o mal, por longo tempo, fundas raízes lançou' ('Principiis obsta; sero medicina paratur Quum mala per longas invaluere moras' – Ovídio).

 Põe os olhos em ti e guarda-te de julgar as ações alheias.

 Se confias mais em tua razão e habilidade do que na virtude que nos submete a Jesus Cristo, tarde e raras vezes terás a alma iluminada.

 Por coisa nenhuma deste mundo, nem por amor de quem quer que seja, se deve praticar o mal.

 Sem a caridade de nada vale nenhuma obra exterior.

 Oh! quem tivera uma centelha de verdadeira caridade! Como lhe pareceriam vãs todas as coisas da Terra!

Esforça-te por suportar com paciência os defeitos e fraquezas alheias; também os outros terão muito que suportar de ti.

 Todos têm a sua carga; ninguém há sem defeitos, ninguém se basta a si mesmo, nem é suficientemente sábio para guiar-se. Mas, reciprocamente, devemos suportar-nos e consolar-nos; uns aos outros devemos prestar auxílio, instrução e conselho. Na adversidade melhor se manifesta a virtude de cada um; a ocasião não faz o homem fraco, revela-o tal qual é.

 É mister que te faças 'louco por amor de Cristo' se queres seguir a vida religiosa.

  De pouco valem o hábito e a tonsura; é a mudança dos costumes e a perfeita mortificação das paixões que fazem o verdadeiro religioso. Quem procura outra coisa fora de Deus e da salvação de sua alma só achará tribulação e dor. Não pode também viver muito tempo em paz quem não se esforça por ser o menor e o mais submisso de todos.

 Os Santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor 'em fome e sede, em frio e nudez, em trabalhos forçados e fadigas, em vigílias e jejuns' (II Cor. XI, 27), em orações e santas meditações, em mil perseguições e opróbrios.

 A decisão do nosso propósito é a medida do nosso aproveitamento; e de muita diligência há mister quem deseja progredir no bem.

 Importa examinar e ordenar tanto o nosso exterior quanto o interior porque um e outro contribuem para o nosso aproveitamento.

 Pela manhã toma as tuas resoluções; à noite, examina as tuas ações, como te houveste hoje em palavras, obras e pensamentos; porque pode ser que nisso muitas vezes tenhas ofendido a Deus e ao próximo.

  Nunca estejas ocioso; lê ou escreve, reza, medita ou trabalha em alguma coisa útil aos outros.

 Deixa-te de curiosidades e entrega-te a leituras que antes excitem a compunção do que distraiam o espírito. Aparta-te das conversas supérfluas e dos passeios ociosos. Fecha os ouvidos às novidades e às atoardas e acharás tempo suficiente e propício para te entregar às santas meditações. Os maiores santos evitavam, quanto podiam, a companhia dos homens e preferiam viver a sós com Deus.

 Quem aspira à vida interior e espiritual deve, com Jesus, apartar-se das turbas. Só aparece em público com segurança quem gosta de viver oculto. Só fala com acerto quem cala de boa vontade. Só ocupa sem risco os primeiros lugares quem de bom brado se coloca nos últimos. Só não corre perigo em mandar quem se exercitou em obedecer.

 Nunca te dês por seguro nesta vida, por mais que pareças bom religioso ou devoto ermitão.

 Se queres arrepender-te de coração recolhe-te em teu aposento e afasta-te do bulício do mundo, segundo está escrito: "compungi-vos em vosso cubículo" (Salmos IV,5).

 Os desejos dos sentidos arrastam-te aos divertimentos; mas, passada aquela hora, que te fica senão o remorso da consciência e a dissipação do coração? A uma saída alegre sucede muitas vezes uma volta triste; e a uma noite passada em prazeres, uma manhã de tristezas. Assim, todo prazer dos sentidos insinua-se brandamente, mas no fim resolve-se em sofrimentos e morte.

 Encerra-te em teu aposento e chama por Jesus – o Amigo Dileto. Permanece com Ele... em nenhum outro lugar encontrarás tanta paz. Se não saíras nem ouviras novidades, melhor te conservaras em paz.

 Ditoso aquele que pode desembaraçar-se do impedimento das distrações para unir-se a Deus no recolhimento da santa compunção! Ditoso aquele que de si aparta tudo o que lhe pode manchar ou agravar a consciência!

 Não te metas na vida alheia e não te enredes nos negócios dos grandes. Põe sempre os olhos em ti primeiro, e repreende-te a ti mesmo de preferência a todos os teus amigos. Não te aflijas por não ter o favor dos homens; só deve entristecer-te o não viver com a virtude e circunspecção... É muitas vezes mais útil e seguro não ter nesta vida muitas consolações, sobretudo consolações sensíveis.

 Se mais amiúde pensaras na morte do que na duração da vida, sem dúvida te emendarias com mais fervor.

 Ninguém há neste mundo, ainda que rei ou papa, sem alguma tribulação ou angústia.

 Quanto mais espiritual quer ser o homem tanto mais amarga se lhe torna a vida presente, porque sente melhor e vê com mais clareza as deficiências da natureza humana corrompida.

 Não percas, irmão, a esperança de progredir na vida espiritual: tens ainda tempo e oportunidade. Por que razão queres adiar o teu propósito? Levanta-te, começa neste mesmo instante e dize: 'É tempo de agir, é tempo de pelejar, é tempo de corrigir-me.' Quando te sentes aflito e atribulado, então tempo é de merecer. É preciso 'passares por fogo e por água antes de chegares ao refrigério' (Salmos LXV, 11).

 Deves pensar e agir sempre como se hoje houveras de morrer... O dia de amanhã é incerto; quem sabe se lá chegarás?

 Feliz daquele que traz sempre diante dos olhos a hora da morte e cada dia se prepara para morrer. Se já viste morrer alguém, pensa que pelo mesmo transe hás de passar.

 Poucos melhoram com a enfermidade; como raros são os que se santificaram com muitas romarias.

 Não confies em parentes e amigos, nem deixes para mais tarde o negócio de tua salvação; mais depressa do que imaginas, de ti se hão de esquecer os homens. Melhor é prover a tempo e mandar boas obras diante de ti do que esperar no auxílio dos outros. Se não cuidas de ti agora, quem cuidará de ti mais tarde? Agora é o tempo precioso; 'eis o tempo propício, eis os dias de salvação' (II Cor. VI, 2).

 Quem se lembrará de ti depois da morte? Quem rezará por ti? Faze, faze agora, irmão meu, tudo o que puderes; não sabes quando hás de morrer nem o que te há de suceder depois da morte. Enquanto tens tempo, entesoura riquezas imperecíveis. Preocupa-te unicamente com a tua salvação e cuida só das coisas de Deus. 'Faze, agora, amigos', venerando os santos de Deus e imitando-lhes as ações, para que, 'ao saíres desta vida, eles te recebam nas moradas eternas' (Luc. XVI,9).

 Grande e salutar purgatório tem o homem paciente que, injuriado, mais se aflige com a maldade alheia do que com a ofensa própria; que roga sinceramente pelos que o contrariam e de coração lhes perdoa; se a alguém magoa, não tarda em pedir-lhe perdão; que mais facilmente se inclina à compaixão do que à cólera; que, muitas vezes, faz violência a si mesmo e se esforça por sujeitar de todo a carne ao espírito. Mais vale purificar agora os pecados e extirpar os vícios do que deixar para expiá-los na outra vida. Em verdade nos enganamos a nós mesmos pelo amor desordenado que temos à carne.

 Bem te podes envergonhar ao considerares a vida de Jesus Cristo, por não haver feito mais esforço de te conformar com ela apesar de trilhares há tanto tempo o caminho de Deus.

 O que procura uma vida fácil e relaxada estará sempre em angústias; alguma coisa haverá sempre que lhe desagrade.

 Quem não evita as faltas pequenas pouco a pouco cairá nas grandes. Alegrar-te-ás sempre à noite quando houveres empregado bem o dia. Vela sobre ti mesmo; anima-te; admoesta-te e aconteça o que acontecer aos outros, não te descuides de ti.

 

 

BREVE COMENTÁRIO

 

Ao concluir o exame deste primeiro Livro da Imitação de Cristo de Kempis, fiz uma associação interessante que desejo partilhar com todos. Basicamente, para uma compreensão fácil de ser assimilada, um átomo, segundo a física moderna, é uma unidade eletricamente neutra composta de um centro positivo e de uma periferia negativa.

 

 

De uma maneira geral, tanto o centro quanto a periferia dos átomos são compostos de (múltiplas) partículas, mas para que o átomo se mantenha íntegro como átomo (desconsiderado aqui o fenômeno da radioatividade natural), todas as partículas se mantêm em movimento e são independentes e interdependentes. Devo enfatizar que esta explicação está absolutamente simplificada no que concerne a um entendimento mais avançado sobre física atômica e nuclear. A própria atomística Rosacruz difere em muitos pontos das leis físicas ensinadas nas academias. Mas, de qualquer forma, considerando apenas um único átomo, a carga elétrica de cada partícula atômica – tanto positiva, quanto negativa – afeta a si própria e a todas as outras, e todas as cargas das outras partículas, menos uma, afetam uma partícula específica constituitva do átomo (do núcleo ou da periferia). Interessante também é que o nêutron, ainda que eletricamente neutro, quando livre é instável decaindo em cerca de 10 minutos, gerando um próton e emitindo um elétron e um antineutrino. As possibilidades de reações e interações intranucleares e extranucleares são tantas que eu acho que ainda estamos no berço da compreensão de como funciona o Universo ( universos). Também se admite hoje que o próton seja uma partícula instável com uma meia-vida superior a 1031 anos. As animações abaixo ilustram esses dois fenômenos.

 


 

 

Ora, isso tudo não é uma maravilha? Que grande ensinamento místico podemos tirar daí? Muito simples: um átomo é semelhante ao Universo macro – que é um grande átomo ou uma grande célula, e portanto está 'vivo' e não poderá 'morrer' jamais. Tudo é movimento, e a percepção de que algo está parado (estático) só reforça o que ensinam os místicos e ocultistas: os sentidos mais iludem do que ensinam. As próprias partículas de um átomo funcionam como universos individuais, mas vinculadas indissoluvelmente a todas as outras partículas e por elas sendo afetadas em sua órbita e em seu núcleo, e, por assim dizer, em sua individualidade. Assim, por exemplo, ainda que um elétron da camada K seja energeticamente diferente de um elétron da camada L ou da camada M, ele sofre as influências desses outros elétrons e neles influi. Isso vale identicamente para as interações vibratório-energéticas elétron-próton, elétron-nêutron, próton-próton, próton-nêutron, nêutron-nêutron etc. Quando, por um processo qualquer, o elétron é arrancado da esfera de influência do núcleo, ele passa a ter 'vida' independente; mas se encontrar em seu caminho um pósitron (que é um elétron positivo), eles se abraçarão e perderão suas identidades para se transformarem em energia. (Isto pode acontecer também com o elétron girando em sua órbita). No inexistente tempo, essa energia novamente gerará um par elétron-pósitron. Mas, não é assim que parece funcionar todo o Universo? As duas animações abaixo mostram esse fenômeno. (Na equação reversível abaixo, h = constante de Planck e f = freqüência da radiação). A física contemporânea admite que da aniquilação elétron-pósitron também se forme um par neutrino-antineutrino. Há um power point muito bem feito disponibilizado no link abaixo que interessará a quem aprecia o tema da formação do Universo:

http://www.oal.ul.pt/download/ace2004/escalaoa/ArteCosmica.ppt#2

 

 

 

 

e  +  e+  ‹—›  Energia (2 hf)

 

 

 

 

 

 

 

Da mesma forma, todos os possíveis universos são unidades individualizadas, que somadas compõem o Universo Total – o TODO UNO – influindo e sofrendo influências, sem poderem existir e se manifestar fora desse TODO UNO.

Se relativizarmos esse entendimento para o nível dos seres humanos, evidentemente que concordaremos que influímos em tudo e em todos, e somos influenciados por tudo e por todos, em meio a uma unidade que, em princípio, não pode ser desmantelada – a Humanidade. E esta mesma Humanidade, à semelhança dos elétrons, é parte do TODO UNO, tudo influenciando (individual e coletivamente) e de tudo recebendo influências as mais variadas. A independência–interdependência é um fato do qual nenhum ser (qualquer que seja o ser) pode escapar. Por isso, sabem os Místicos:

 

 

O sentimento de individualidade, assim, é uma ilusão imposta à nossa consciência objetiva pelo Corpo Astral, que nos faz ser egoístas, vaidosos e indiferentes. Quando compreendermos que TUDO É UM, os desejos darão lugar ao desprendimento, as cobiças cessarão para que se evidencie o desapego fraterno e solidário e as paixões serão substituídas pela imparcialidade e pela paz interior. Nesse momento, a humildade, a misericórdia e o amor reinarão soberanos em nossa consciência. Observe a animação abaixo (um átomo!) e reflita sobre o que poderá significar uma unidade manifestada no seio da UNIDADE.

 

 

Muito recentemente o Frater +Vicente VeladoFRC, Iniciado do Sétimo Grau do Faraó e Abade Especial para o Terceiro Mundo da Ordo Svmmvm Bonvm (OS+B) – divulgou na Web um fantástico texto sobre a paz (e a Paz), que está inteiramente vinculado com o pensamento de Tomás de Kempis. Penso que muito brevemente esse texto estará disponível na OS+B. Mas, em um parágrafo da mais perfeita inspiração ele ensina: Compreende-se, assim, que a Paz Profunda é totalmente linear e plana, sem oscilações. Se tivéssemos uma linha imaginária cujas pontas simbolizassem opostos confrontantes, a Paz Profunda seria precisamente essa linha quando totalmente abstraída do significado dessas pontas. Quando isso acontece em uma mera imagem ilustrativa essa linha se volta sobre si mesma e deixa de ter pontas, porque passa a ser um círculo - um Círculo de Paz. É nessa condição que tal linha que pode ser uma vida humana, ou várias vidas juntas adquire a condição de irradiar algo, no caso a Paz. Por essa transformação, melhor dizendo, sublimação, deve um estudante de Misticismo trabalhar com persistência, ao longo dos dias, das semanas, dos meses e dos anos, sem pressa de chegar ao objetivo, pois quanto menos apressado for, mais o objetivo dele se aproximará. Se é ele, ainda, uma linha de existência com pontas de opostos uma positiva, a outra negativa, digamos neutralizar as polaridades deve ser o seu trabalho, para que possa tornar-se um círculo em favor da Grande Obra. Eu não vou comentar essa explicação porque não há o que comentar. Ela é clara e perfeita por si mesma. Mas, tentei, com todas as limitações que ainda tenho com esse tal de computador, fazer uma animação muito próxima das explicações dadas pelo Frater +Velado. Acho, quem sabe, que a animação não representa exatamente a idéia do meu Irmão, mas admito que auxiliará visualmente a completar a clarísima explicação que ele deu. Essa animação, portanto, pertence ao Frater +Velado, pois a idéia que ele expôs (que nunca havia me passado pela cabeça da forma como ele explicou) é dele, e não minha. Confesso que gostei imensamente de ver o conceito de Paz Profunda visto dessa maneira.

Por último, não se pode esquecer de que, em síntese, o Homem é um ser dual, entendimento místico que não encontra qualquer contradição no pensamento de Tomás de Kempis (que completarei proximamente em um texto semelhante a este). Isto está perfeitamente simbolizado na animação abaixo em cada esfera que fecha o círculo, e no próprio fechamento do círculo em si – um Círculo de Paz – de Paz Profunda como explicou o Frater +Vicente Velado. Nossos equívocos devem ser compreendidos de maneira circular, para que a paz interior possa ser alquimizada em PAZ PROFUNDA.

 

 




 

 

WEBSITES CONSULTADOS

 

http://paginas.terra.com.br/arte/ecandido/doc00009.htm

http://www.johnpiazza.net/kempis.htm

http://www.muzeumliteratury.pl/pol/dzialy.htm

http://www.kufs.ac.jp/toshokan/japitaly/3.htm

http://www.fisica.ufc.br/renan/Pesquisa/linha.html

http://www.ck.com.br/materias/1998_08_arquivos/0898.htm

http://www.rstp.uwaterloo.ca/manual/interaction/positron_interactions.htm

http://www.astro.iag.usp.br/~ronaldo/intrcosm/Glossario/index.html

http://aol.klickeducacao.com.br/Conteudo/Referencia/Content/1237/Images/proton.swf

http://lxsa.physik.uni-bonn.de/outreach/wyp/exercises/bonn1/de/materieaufbau.htm