IMBROCHÁVEL
(O 7 de setembro de 2022 que não será esquecido
– um kick in the head pra ninguém botar defeito)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Imbrochável? Como? Quando? Onde?

Por que toda essa propaganda?

Por que todo esse proselitismo?

Por que toda essa mise-en-scène?

Por que todo esse assanhamento?

Por que toda essa teatralidade?

Por que esse papo de frege-moscas intempestivo e de tanto mau gosto?

Por que logo no Bicentenário da Independência?

Este informe oral e público diminuirá o processo inflacionário?

Freará o crescimento excessivo e persistente da oferta monetária?

Diminuirá a infelicidade, a desgraça e a desventura do povão?

Mimizará o encarecimento do custo de vida?

Porá arroz e feijão na barriga dos que estão vivendo à míngua?

Tornará menor a exclusão e a desintegração sociais?

Tornará maior a inserção e a incorporação sociais?

Eliminará o subemprego e o desemprego?

Reduzirá a aflição, o desalento e a desesperança dos mais pobres?

 

Ora, eu quero ver, sim, é ser imbrochável,

sempre, com tenacidade, na luta contra a antidemocracia.

Na luta contra o desrespeito e a desconsideração com o Livrinho,

que era como o General Eurico Gaspar Dutra,

nosso Presidente da República de 1946 a 1951,

denominava a Constituição Brasileira, a nossa Carta Magna.

O folclore político registra que sempre que era acionado

para tomar alguma medida ou editar alguma lei,

Dutra indagava a seus interlocutores: O que diz o livrinho?

Eu quero ver, sim, é ser imbrochável

na luta contra o desmonte do Estado Democrático de Direito.

Na luta contra o anti-republicanismo.

Na luta contra o anticonstitucionalismo.

Na luta contra qualquer forma de patriotismo enviesado e inadequado,

que, na verdade, é um antipatriotismo (ou despatriotismo) inconsciente.

 

 

Antipatriotismo (ou Despatriotismo) Inconsciente
(Animação composta de seis imagens)

 

 

Na luta contra a antiliberdade.

Na luta contra o antichumbo.

Na luta contra o antiambientalismo.

Na luta contra as desigualdades sociais.

Na luta contra a fome, a miséria e a pobreza.

Na luta contra a deseqüidade sega-vidas.

Na luta contra o preconceito.

Na luta contra o arbítrio.

Na luta contra o retrocesso.

Na luta contra o medievalismo.

Na luta contra o reacionarismo.

Na luta contra o declínio político-social.

Na luta contra o lugar-comum.

Na luta contra a vulgaridade.

Na luta contra todas as formas de analfabetismo:

comum, emocional e funcional.

Na luta contra a ausência de cultura (de erudição).

Na luta contra o autoritarismo.

Na luta contra o despotismo.

Na luta contra a homofobia.

Na luta contra a negrofobia.

Na luta contra a indiofobia.

Na luta contra a mulherfobia.

Na luta contra a outrofobia.

Na luta contra a mais-valia.

Na luta contra o mais-trabalho.

Na luta contra a escravização.

Na luta contra a falácia.

Na luta contra o sofisma.

Na luta contra a inverossimilhança.

Na luta contra a incoerência.

Na luta contra a boçalidade entranhada.

Na luta contra todas as formas de corrupção e de injustiça.

Na luta contra a Grande Heresia da Separatividade.

Na luta contra a desfraternidade assassina.

Na luta contra...

Na luta contra...

Na luta contra...

Para todas estas coisas, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim,

vale a pena, é necessário e é importante ser imbrochável.

 

Agora, imbrochabilidade no leito nupcial?

No escurinho do cinema?

Vendo corrida de submarino no Arpoador?

Uma referência ao próprio desempenho sexual?

Sinceramente, isso interessa a quem? A quem?

Sei lá, mas, acho que as mulheres pobres e esquecidas do Brasil

– como, sem exceção, todas as outras mulheres –

que estão preocupadas com o seu prato de comida diário,

com a fome dos seus filhos, que não têm o que comer,

com as despesas da casa, que não têm como pagar,

com as contas, que, dia-a-dia, ficam maiores e se acumulam,

com os remédios, que não têm dinheiro para comprar,

com a pendura na birosca, que não têm como saldar,

e com tantas, tantas, tantas outras coisas mais,

não querem nem saber quem é imbrochável ou quem não é.

Em um certo sentido, isto chega a ser uma ofensa, um ultraje, uma afronta.

Fome, miséria, pobreza, indigência, anemia, barriga vazia, inópia, lazeira,

mendicidade, zerolhufas, míngua, miserê, necessidade, paupérie, pauperismo,

penúria, pinda, pindaíba, privação, quebradeira, revés, tribulação e vicissitude

nunca jamais s(er)ão resolvidos com ou por um simples pénis 'imbrochabilis'!

Por outro lado, pénis 'imbrochabilis' nem sempre enseja o esperado.

E mais: essa coisa de pénis eréctus monumentális et 'imbrochabilis'

é mollis disputatio pro bove ad somnum!

Pequenito e brincalhão é mais útil do que grandão e bobalhão.

Ou seja: apenas fazer não é necessário; necessário é saber como fazer.

Bem, estou afirmando isto, mas, nunca fui um especialista no assunto,

ainda mais agora, que rompi a fronteira dos 76 anos,

e estou mais para 'brochabilis' do que para 'imbrochabilis'.

Eu namorei muito e me casei quatro vezes,

porém, jamais me considerei um 'imbrochabilis'.

O que, de fato, sempre me afligiu é o bem-estar do outro,

a eqüidade, a imparcialidade e a paz mundial.

Agora pénis eréctus russèus, monumentális et 'imbrochabilis'?

Tenha santa paciência. Ponha a mão na consciência.

Eu só espero não ter pesadelos com isso.

Ora, tudo isso é mesmo um terrível kick in the head!

 

 

 

Deus Min dos Antigos Egípcios
(Baixo-relevo representando o Deus com o falo ereto visível)

 

 

 

Música de fundo:

Ain't That a Kick in the Head?
Composição: Jimmy Van Heusen (música) & Sammy Cahn (letra)
Interpretação: Dean Martin

Fonte:

https://ain-t-that-a-kick-in-the-head.snappea.me/en31

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.osguedes.com.br/2020/05/29/o-livrinho-de-que
-falava-dutra-e-a-situacao-estressante-que-o-pais-vive/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Falo

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.