Como
ensinou Raymond Bernard (19 de maio de 1923 – 10 de janeiro de 2006),
na Via Iniciática
prestigiosa que seguimos, as tentações são numerosas,
as quedas ocasionais e a dúvida periódica.
Há,
entretanto, um quarto fator: as recaídas ou reincidências,
que não deixam de ser também possíveis quedas
ocasionais.
Às
vezes, podem até se passar anos sem que repitamos
coisas, deslustres, que pensávamos já ter dominado e ultrapassado,
e, de repente, nos vemos cometendo deslizes que admitíamos sinceramente
já ter superado. Quanto a isto, preliminarmente, quero dizer duas
coisas: 1ª) é assim mesmo e será sempre assim mesmo,
até que...; e 2ª) por nada, por absolutamente nada, podemos
desistir.
Mas,
por que estas coisas infamantes (recaídas ou reincidências)
acontecem? Simplesmente porque o defeito, o desdouro, que nos incomodava
– e presumidamente havia sido dominado – foi por nós
compreendido apenas racionalmente e subtraído pela (força
de) vontade. Na época, raciocinamos e concluímos que uma determinada
prática não era boa, um determinado procedimento não
era bom. E tentamos mudar. E mudamos.
Entretanto,
se internamente for disparado o mecanismo catalítico que, no passado,
colocava em funcionamento aquela prática, pode ser que recaiamos
ou reincidamos. Ora, certamente ficaremos envergonhados; talvez, até,
tenhamos um momento de profunda depressão. Mas, repito: por nada,
por absolutamente nada, podemos desistir. É assim mesmo e será
sempre assim mesmo, até que...
O
que fazer, então? O possível para voltar
à normalidade, isto é, tentar não prosseguir praticando
o defeito que ressurgiu, que aparentemente reapareceu do nada, comprometendo-nos,
inclusive e mais esforçadamente, a não o repetir, até
que...
Até
que ocorra a Compreensão Iniciática, interna, in
Corde, que é definitiva, insubstituível e irredutível.
É o que em trabalhos anteriores denominei de Razão ou Compreensão
Transnoética. A Transnoese não deixa margem para dúvidas
ou inseguranças. É um tipo de Sabedoria (SOPhIa)
eterna e imutável – adquirida e realizada internamente
– garantidora de que as Leis Universais são
o que sempre foram e sempre serão.
Seja
como for – e agora me refiro exclusivamente a mim – ainda assim,
por teimosia, por fraqueza ou pela rodolfice
que seja, ainda assim, repito, poderemos episodicamente recair e reincidir,
como eu que, eventual ou inesperadamente, mas cada vez menos, recaio e reincido.
Depois, fico envergonhado e choro.
Como
nada tenho a esconder, declaro que o poema a seguir é autobiográfico.
Por amor, eu o escrevi para você, que, se tiver passado por
algo semelhante e se desesperado, apenas siga em frente honesta e sinceramente.
As Chaves são estas: Honestidade e Sinceridade! Não sei quando,
mas estou absolutamente convencido de que todo aquele que, com honestidade
e sinceridade, orar, ler, ler, ler, reler e trabalhar, um dia, em si, encontrará.
(Ora Lege Lege Lege
Relege labora et invenies, 14ª prancha do Mutus Liber,
1677).
Enfim,
se colocarmos tudo isto em um gráfico, pitorescamente, a coisa ficará
mais ou menos assim:
Ou
seja: à medida que aumenta a Razão (ou Compreensão)
Transnoética, diminuem as recaídas ou reincidências.
Agora, preste atenção, não como consolação
ou chucha: não houve, não há e não haverá
Santo ou Mestre Ascenso que não tenha recaído ou reincidido.
Recair ou reincidir fazem
parte da experiência encarnativa,
fazem parte do Caminho prestigioso que seguimos,
fazem parte da Peregrinação prestigiosa que escolhemos. Fazem
parte, enfim, do
mérito com que nos empenhamos em Compreender para podermos, um dia,
conquistar a Libertação. Vamos nessa e que assim seja!