NOS IDOS DE MARÇO
(Uma Croniquinha Desenxabida)

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

— De repente, pintou Demia,

e acabou com a nossa alegria,

com todo o nosso sossego

e com todo tipo de apego.

Everybody macacada medrou,

o Sol se ocultou e o fogo apagou.

Quem contava dinheiro parou,

e o assanhado desassanhou.

Até padre morreu de medo,

e o airoso ficou fedo.

O colorido ficou sem cor,

e em cada alma uma dor.

Virou um deus-nos-acuda;

não muda nem com arruda.

Quem é ladravão gostou,

pois, a corrupção aumentou!

 

 

Corrupção na Demia

 

 

— Eu? Não quis nem saber:

botei mesmo pra derreter.

E eu lá sou de isolamento?

E eu lá sou de afastamento?

E eu lá sou de ficar em casa?

Meu negócio é mandar brasa.

Então, flexibilizei rapidinho,

e sassariquei de mansinho.

Vila Mimosa na sexta-feira;

forrobodó no sábado-feira.

Máscara? Qual é? Nem a pau.

C2H5OH-gel? Isso é coisa de curau.

Se precisar: Hidroxicloroquina.

Pra complementar: Azitromicina.

Ouço e sigo o meu Presidente,

e vou levando a vida contente.

Afinal, não sou maricas,

e, muito menos, um barbicas.

 

— Enfim, eu pensava que era cid,

mas, acabei pegando a COVID!

Fiquei brocha e até apavorado,

e me senti um pobre coitado.

Ovo de codorna? Não adiantou nada,

e cada vez era a maior furada.

Dona Encrenca ameaçou se mandar,

se eu não parasse de brochar!

É isso o que dá ouvir negacionista.

Quem bobeia derrapa na pista!

 

 

 

 

— E assim se deu: o Corona me picou,

e quem eu era – oh! – já não sou.

Pois é. Acabei camarço.

Como Cesare... nos idos de março!

 

 

 

Morte di Giulio Cesare
(Quadro de Vincenzo Camuccini, 1798)