IDENTIFICAÇÃO COM O PASSADO
(E sei lá quantas saudades!)1

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

A identificação com o passado, a retrogressão e os velhos métodos [mágicos e sombrios] são para o ser-humano-aí-no-mundo uma inversão na senda da evolução autoconsciente, e, oportunamente, poderão conduzir ao egotismo ou a perder o Princípio Egóico – Princípio que distingue o ser-humano-aí-no-mundo e o Homem Celestial do resto da evolução.

 

Alice Ann Bailey, in: Tratado Sobre o Fogo Cósmico

 

Observação:

Como venho anunciando, em breve, publicarei um exaustivo estudo sobre esta obra baileyriana.

 

 

 

 

 

LSD (Microponto)

 

 

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do azul do Golfo di Surriento!

Ah!, quanta, quanta saudade

do vai-e-vem forte do vento!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do tempo da régua de calcular!

Ah!, quanta, quanta saudade

das buretas e de poder titular!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das pipetas e das provetas!

Ah!, quanta, quanta saudade

de colocar tinta nas canetas!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do meu Aero Willys antiquado!

Ah!, quanta, quanta saudade

do meu black tie bem passado!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Colégio Werneck, em Petrópolis!

Ah!, quanta, quanta saudade

de uma boa saladinha de brócolis!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de viver tolhido com argolas!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando eu bifava mariolas!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

dos antigos bailes de carnaval!

Ah!, quanta, quanta saudade

de trapacear na batalha-naval!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de guardar rapé nas bocetas!

Ah!, quanta, quanta saudade

de brincar com pega-varetas!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de trepar no alto do caralho!

Ah!, quanta, quanta saudade

de dar arroto fedendo a alho!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das cobrinhas da M.me !

Ah!, quanta, quanta saudade

de ver u'a moçoila tirar a blusa!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de usar Sabonete !

Ah!, quanta, quanta saudade

de escalar dois paus-de-sebo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de antes do III Reich e do 18!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Sacrossanta Visita do 888!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de antes de Auschwitz II-Birkenau!

Ah!, quanta, quanta saudade

de antes de Treblinka e de Dachau!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de antes do !2

Ah!, quanta, quanta saudade

de papar um suculento hamburgo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da placidez sem Boko Haram!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando não existia a RAM!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de quando não havia o   !

Ah!, quanta, quanta saudade

de ter estudado no Curso Infantil!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Arpoador e do Samarangue!

Ah!, quanta, quanta saudade

do John-Wayne-bang-bang!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de não precisar usar antivírus!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Tom Jobim e do Vinicius!

 

h!, quanta, quanta saudade

da Rua Nascimento Silva, 107!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Jailhouse-Rock-e-seu-topete!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da Rua Raul Pompéia, 25, 101!

Ah!, quanta, quanta saudade

do AUM MANI PADME HUM!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do poker com o Bebeto e o Bolonha!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando fumei um fino de maconha!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de ouvir o gato Faíco miando!

Ah!, quanta, quanta saudade

de ouvir o corrupião gorjeando!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da Betina, do Thor e da Faísca!

Ah!, quanta, quanta saudade

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do vai-levando despreocupante!

Ah!, quanta, quanta saudade

da irresponsabilidade variante!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Pedro Freire e suas lições!

Ah!, quanta, quanta saudade

de Simba Safari e dos leões!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da R+C Maria Aparecida de Moura!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Bruxa Alcéia e da sua vassoura!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do R+C José de Oliveira Paulo!

Ah!, quanta, quanta saudade

do sorriso do 1º João Paulo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das marafas que eu namorei!

Ah!, quanta, quanta saudade

das garrafas que eu entornei!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do regozijo lá em Pasárgada!

Ah!, quanta, quanta saudade

do tempo alegre da barrigada!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do aromático cheirinho-da-loló!

Ah!, quanta, quanta saudade

de ficar girando em volta do Ó!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da boa Tia Alba e da Bocaina!

Ah!, quanta, quanta saudade

de um sarrabulho e bebezaina!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do tio Pedro e dos seus selos!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando eu tinha cabelos!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do cocô ir saindo de mansinho!

Ah!, quanta, quanta saudade

de poder fazer xixi rapidinho!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de não ter que fazer xixi sentado!

Ah!, quanta, quanta saudade

de dormir um sono só demorado!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de quando a pressão era 11 por 7!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando eu traquinava pelos 7!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do velho Método de Folin-Wu!

Ah!, quanta, quanta saudade

de aquele magnífico déjà-vu!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de viver sem pensar na Cruz!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Mário Lago no Silva Cruz!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da Amélia, mulher de verdade!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Amélia, mulher sem vaidade!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de papear na Boca do Lixo!

Ah!, quanta, quanta saudade

de um bom prefixo-não-prolixo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de o par que venceu uma trinca!

Ah!, quanta, quanta saudade

do sem-hemorróida-zé-de-quinca!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

Ah!, quanta, quanta saudade

de degustar uma boa minestra!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Herb Alpert & Tijuana Brass!

Ah!, quanta, quanta saudade

do álbum The Beat of the Brass!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de macarronada com carne assada!

Ah!, quanta, quanta saudade

de queijinho branco com goiabada!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de cirandar atirando o pau no gato!

Ah!, quanta, quanta saudade

da baratinha com saiote e de sapato!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Sinatra e do Perry Como!

Ah!, quanta, quanta saudade

de friccionar mercúrio-cromo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das aulas do Fessô Raimundo!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Moreno zanzando pelo mundo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das confas do Charlie Chaplin!

Ah!, quanta, quanta saudade

de assistir a filmes no drive-in!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Padre Faria, do Santo Inácio!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Cs-137 dentro do gazofilácio!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da porta do barraco sem trinco!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Lua furando o nosso zinco!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de ver o Garrincha driblando!

Ah!, quanta, quanta saudade

de ver o Carne Frita sinucando!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Doutor Botelho e do Costa!

Ah!, quanta, quanta saudade

de cair estatelado na bosta!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da Salímia e do Hélio (gordo)!

Ah!, quanta, quanta saudade

de misericórdia em desbordo!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das festinhas mela-cuecas!

Ah!, quanta, quanta saudade

de groselha com panquecas!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

dos hotéis de um só banheiro!

Ah!, quanta, quanta saudade

de não faltar água no chuveiro!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de lambiscar um Danoninho!

Ah!, quanta, quanta saudade

de namorar bem agarradinho!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de cinema, pipoca e guaraná!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando tudo se dividia aná!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de quando não rolava mensalão!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando não pintava petrolão!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da antiga Brilhantina Glostora!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quem sabe —› Faz a Hora...

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de brincar de esconde-esconde!

Ah!, quanta, quanta saudade

de dar uns passeios de bonde!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Ka-lu, do Ja-já e do Ton-bon!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Chica-bon e do Eski-bon!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do velho Dom Henrique Infante!

Ah!, quanta, quanta saudade

de queimar peido num instante!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de amarrar cachorro com lingüiça!

Ah!, quanta, quanta saudade

de apanhar mel em uma algariça!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de, no cabelo, passar babosa!

Ah!, quanta, quanta saudade

de jogar volibol com o Feitosa!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Seu Tomaz, do Tião e do Everest!

Ah!, quanta, quanta saudade

do padre concluindo: — Ite, missa est!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da peça A Cegonha se Diverte!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Espraguejado... Meio solerte!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do meu quinininho abdome!

Ah!, quanta, quanta saudade

do com-um-fio-o-negro-telefone!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de Os Canhões de Navarone!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Spaghettilândia-canelone!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do William-Holden-Falso-Traidor!

Ah!, quanta, quanta saudade

de antes de surgir a idade do condor!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de Love is a Many Splendored Thing!

Ah!, quanta, quanta saudade,

cheek-to-cheek, in the dark, dancing!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de um pilulito que bate-bate!

Ah!, quanta, quanta saudade

de, na praia, tomar um mate!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Hidrolitol e da raspadinha!

Ah!, quanta, quanta saudade

de um velho amigo alfacinha!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das crônicas do Nelson Rodrigues!

Ah!, quanta, quanta saudade

dos pastéis do Ku. Oh!, eram bigues!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do Stanislaw Ponte Preta!

Ah!, quanta, quanta saudade

de provar uma amora-preta!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do chachachá e do hully gully!

Ah!, quanta, quanta saudade

de uma certa madrugada lovely!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

dos meus filhos pequenininhos!

Ah!, quanta, quanta saudade

dos respeitáveis afinadinhos!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das mentirinhas que eu contei!

Ah!, quanta, quanta saudade

da branquinha que não cheirei!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do microponto que não viajei!

Ah!, quanta, quanta saudade

da anfetamina que não usei!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

das sacanagens que aprontei!

Ah!, quanta, quanta saudade

dos pecados que não confessei!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

dos concertos beethovenianos!

Ah!, quanta, quanta saudade

dos velhos tempos lemurianos!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de Sócrates e de Arístocles (Platão)!

Ah!, quanta, quanta saudade

de Victor Hugo e da furtadela do pão!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

do R+C Harvey Spencer Lewis!

Ah!, quanta, quanta saudade

do R+C Ralph Maxwell Lewis!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da minha Iniciação ao Espelho!

Ah!, quanta, quanta saudade

de ter despedaçado o bedelho!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de quando não havia covardia!

Ah!, quanta, quanta saudade

de voltar a ser o que fui um dia!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

de, um dia, não ser mais fosco!

Ah!, quanta, quanta saudade

do Excelso Dia Sê Conosco!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

da finalização do desnorteio!

Ah!, quanta, quanta saudade

da Morte que ainda não veio!

 

 

h!, quanta, quanta saudade

daquela Metafísica Saudadinha!

Ah!, quanta, quanta saudade

de quando minh'alma era alvinha!

 

 

 

 

Saudade Metafísica
(Morte que ainda não veio
!)

 

 

 

 

______

Notas:

1. Este poeminha retrata a identificação com o passado, a retrogressão e os velhos métodos e hábitos, que, como advertiu Alice Bailey, poderão conduzir ao egotismo ou a perder o Princípio Egóico. Bem, parte do poeminha é autobiográfica; parte, claro, não é. Com relação aos fatos relatados, algumas coisas são verídicas; outras são apenas cômicas e risíveis, mas, são francamente inautênticas, ainda que não sejam impossíveis. Seja como for, no geral, não sinto saudades de nada. Apenas mora comigo uma espécie de Saudade Metafísica, meio difícil de explicar, mas, que destaquei em alguns versos, que você identificará sem dificuldade. Ora, não há prisão mais dantesca do que viver agrilhoado ao passado. O que passou expirou o prazo de validade: foi experiência adquirida (quando a experiência foi real e efetivamente adquirida). Como alguém pode viver querendo fotografar com Polaroid? Almejando datilografar em máquina de escrever? Ambicionando usar um relógio com calculadora? Pretendendo usar telefone público? Planejando armazenar dados em disquete? Sonhando em assistir a filmes no videocassete ou em LD (Laser Disc)? Pensando em usar papel carbono para fazer cópias? Querendo jogar futebol com as gigantes esferas de pedra da Costa Rica? Utopizando passear de Romisetta? Fantasiando viajar de Constellation? Cismando de beber Crush ou Grapette de canudinho? Devaneando em saborear chocolate Surpresa? Tencionando comprar um sapato Kichute? Fazendo de tudo para arrumar goma de mascar Ping Pong? Crendo que irá encontrar Adão e Eva no paraíso? Querendo que o diabo vá para o céu e que o inferno congele? Pretendendo ser perdoado e, depois, imaginando que será arrebatado por um superpoder? Et cetera e tal... E coisa e loisa... Enfim, como é possível que alguém possa acreditar que se afogará em uma lágrima? Nem que fosse a lágrima de um Dreadnoughtus, (cujo nome significa temente de nada) – o maior dinossauro que já existiu, e, conseqüentemente, o maior animal que já pisou na Terra, há 77 milhões de anos.

 

 

Eu me identifico com o passado e com a retrogressão!

 

2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Expurgo

 

Música de fundo:

Caruso
Composição: Lucio Dalla
Interpretação: Luciano Pavarotti

Fonte:

http://minhateca.com.br/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dreadnoughtus_schrani

https://johntmcgowan.wordpress.com/category/animation/

https://italoveloso.wordpress.com/tag
/40-coisas-que-nao-usamos-mais/

http://www.datacorruption.org/index.php?/
selected-works/past-lives/

http://www.contandohistoria.com/o_patinho_feio.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Jo%C3%A3o_Paulo_I

http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Expurgo

http://www.instructables.com/

http://www.emofaces.com/smilies/medusa-smile

http://caccioppoli.com/

http://drogasporque.miltoncampos.org.br/
tipos-de-drogas-alicinogenas-drogas_lsd25

http://pt.wikipedia.org/wiki/LSD

http://etc.usf.edu/

 

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