FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA
(Considerações Preliminares)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Edmund Husserl

 

 

Aprender cientificamente não é nunca aceitar passivamente uma matéria estranha ao espírito; sempre depende de uma espontaneidade, de uma recriação interna, segundo princípios e conseqüências, das intuições racionais adquiridas pelos espíritos criadores. (Sublinhado meu).

 

Edmund Husserl (1859 – 1938)

 

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

 

 

 

Esta monografia (que não foi escrita propriamente para filósofos ou para estudantes de Filosofia) é um exercício filosófico despretensioso e preliminar, que tem por objetivo condensar em poucas palavras e analisar sucintamente os fundamentos da Fenomenologia – escola filosófica fundada pelo matemático e filósofo alemão Edmund Husserl.

 

Resumidamente, a Fenomenologia (vocábulo que pode ser considerado como derivado de duas palavras gregas: phainesthai, que significa aquilo que se mostra, e logos, que significa estudo) é uma disciplina da Filosofia que estuda os objetos e as estruturas da consciência purificada ou transcendental isto é, da consciência cognitiva e não da consciência individual ou empírica, à qual se reporta a Psicologia. Trata-se, portanto, de uma investigação sobre a consciência em geral, comum a todos os sujeitos cognitivos plenos, independentemente das idiossincrasias psicológicas (ou quaisquer outras) de cada um. Enfim, a Fenomenologia husserliana é um método que visa encontrar as leis puras da consciência intencional. A intencionalidade é o modo próprio de ser da consciência, uma vez que não há consciência que não esteja em ato, dirigida para um determinado objeto. Por sua vez, todo objeto somente existe enquanto apropriado por uma consciência. 'Sujeito' e 'objeto' constituem, para esta concepção, dois pólos de uma mesma realidade. Em última análise, como afirma Monsenhor Urbano Zilles na Introdução à Obra de Edmund Husserl – A Crise da Humanidade Européia e a Filosofia a tarefa da Fenomenologia é, pois, estudar a significação das vivências da consciência.

 

Portanto, nunca devemos deixar de ter em mente que os sentidos sistematicamente nos enganam.

 

 

 

 


 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Edmund Husserl Epokhézando
(Ma non troppo!)

 

 

 

Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 – 1938) foi um matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da Fenomenologia.

 

Nascido em uma família judaica em uma pequena localidade da Morávia (região da atual República Checa), Husserl foi aluno de Franz Brentano e de Carl Stumpf. Husserl influenciou, entre outros os alemães, Edith Stein, Eugen Fink e Martin Heidegger, e os franceses Maurice Merleau-Ponty, Michel Henry, Jacques Derrida e Jean-Paul Sartre, que afirmou que o homem é não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja. Como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais do que ele faz.

 

O interesse do matemático Hermann Weyl pela Lógica Intuicionista e pela noção de impredicatividade (conceito da Filosofia da Matemática que refere o caráter que certas coleções têm de não terem um predicado que as possa definir segundo o esquema: para todo o x, tal que x pertence ao conjunto M, se e somente se, x é subsumido pelo predicado f) teria resultado de contatos com Husserl.

 

Na verdade, a impulsão primeira da Lógica Positivista, como seus desenvolvimentos mais recentes, seriam estreitamente tributários da crítica de certos aspectos da Filosofia de Husserl pelas filosofias insulares e americanas. Ao reverso, a obra do discípulo Heidegger foi considerada pelo mestre como resultando de graves desinterpretações de seus ensinos e métodos.

 

Em 1887, Husserl converteu-se ao Cristianismo e juntou-se à Igreja Luterana. Começou ensinando Filosofia em Halle como tutor (Privatdozent) desde 1887. Continuou em Göttingen como professor em 1901, e, mais tarde, em Friburgo (Freiburg am Breisgau) a partir de 1916, até que se aposentou em 1928. Em 1933, com a tomada do poder pelo Partido Nazista, Husserl foi proibido de sair da Alemanha, mas continuou suas pesquisas e atividades nas instituições de Friburgo, até que foi definitivamente demitido por causa de sua ascendência judia, sob o reitorado de seu antigo aluno e protegé, Heidegger.

 

Husserl faleceu em 27 de abril de 1938, em Freiburg im Breisgau, uma cidade do Estado Federal de Baden-Württemberg, na Alemanha.

 

 

 

 

Algumas Reflexões Husserlianas

 

 

 

Eu existo, e tudo o que não sou eu é um mero fenômeno que se dissolve em ligações fenomenais.

 

Não possuímos, agora, nenhuma ciência válida nem um mundo existente... Isto também se relaciona à existência dos outros Egos... Desaparecem naturalmente todas as estruturas sociais e culturais... A partir de agora, resta apenas o fenômeno da existência.

 

Toda consciência é consciência de algo.

 

Não é da Filosofia que deve partir o impulso da investigação, mas, sim, das coisas e dos problemas.

 

Pelo fato de conceber idéias, o homem se torna um homem novo, que, vivendo na finitude, se orienta para o pólo do infinito.

 

A Matemática – a idéia do infinito, das tarefas infinitas é como uma torre babilônica, que, apesar de seu inacabamento, permanece uma tarefa cheia de sentido, aberta ao infinito; este infinito tem por correlato o homem novo, de metas infinitas.

 

Como o Sol é o único sol que ilumina e aquece todas as coisas, assim também a razão é a única razão. O método cartesiano também deverá penetrar os segredos do espírito. O espírito é uma realidade natural, um objeto do mundo, e como tal fundado na corporeidade. Por conseguinte, a compreensão do mundo adota imediatamente e em todos os domínios a forma de um dualismo psicofísico. A mesma causalidade, apesar de estar dividida em duas, abrange o único mundo; a explicação racional tem o mesmo sentido em toda a parte, entendendo-se que toda explicação do espírito, se deve ser única e ter um alcance filosófico universal, há de se conduzir para o plano físico. Não pode haver uma investigação explicativa pura e fechada em si do espírito, uma psicologia ou teoria do espírito voltada totalmente para o interior, que vá diretamente desde o eu, desde o psíquico imediatamente vivido, à psique do outro; é preciso tomar o caminho exterior, o caminho da Física e da Química… O ser espiritual é fragmentário. Indagando, agora, pela fonte de todas as tribulações pode-se responder: este objetivismo ou esta concepção psicofísica do mundo é, apesar de sua aparente evidência, uma unilateralidade ingênua que, como tal, permanecia incompreendida. É um absurdo conferir ao espírito uma realidade natural, como se fosse um anexo real dos corpos e pretender atribuir-lhe um ser espácio-temporal dentro da Natureza.

 

A Filosofia é o movimento histórico da revelação da razão universal, inata como tal, na Humanidade.

 

Como idéia que jaz no infinito, a Filosofia é Teologia. Assim, a Fenomenologia científica é o caminho a-religioso à religião; um caminho a-teu para Deus.

 

A 'ratio' não é senão a compreensão realmente universal e realmente radical de si, do espírito, na forma de uma ciência universal responsável, na qual se instaura um modo completamente novo de cientificidade, na qual tem seu lugar todas as questões do ser, as questões da norma, assim como as questões do que se designa como existência. É minha convicção de que a Fenomenologia intencional fez, pela primeira vez, o espírito como em campo de experiência e ciência sistemáticas, determinando assim a reorientação total da tarefa do conhecimento. A universalidade do espírito absoluto abrange todo o ser em uma historicidade absoluta, dentro da qual se situa a Natureza como obra do espírito. Só a Fenomenologia intencional, e precisamente a transcendental, trouxe clareza graças a seu ponto de partida e a seus métodos. Só ela permite compreender, e pelas razões mais profundas, o que é o objetivismo naturalista, e, em particular, mostra que a Psicologia, condenada devido a seu naturalismo, a carecer da atividade criadora do espírito, que é o problema radical e específico da vida espiritual.

 

O conhecimento é necessariamente devir.

 

O espírito é, por essência, capaz de exercer o conhecimento de si mesmo, e como espírito científico é capaz de exercer o conhecimento de si, e isto reiteradamente. Só no puro conhecimento científico-espiritual o cientista escapa à objeção de que se encobre a si mesmo em seu saber. Por isto, é errôneo, da parte das ciências do espírito, lutarem com as ciências da Natureza por uma igualdade de direitos [entre elas]. Logo que aquelas reconhecem às últimas uma objetividade que se basta a si mesmas, elas mesmas sucumbem no objetivismo.

 

Nessa atitude [fenomenológica] consegue-se construir uma ciência do espírito absolutamente autônoma, no modo de uma conseqüente compreensão de si mesmo e compreensão do mundo como obra do espírito. Aí o espírito não é espírito na Natureza ou a seu lado. Mas a própria Natureza entra na esfera do espírito. O eu então já não é mais uma coisa isolada ao lado das outras coisas similares dentro de um mundo dado de antemão; a exterioridade e a justaposição dos eus pessoais cedem lugar a uma relação íntima entre os seres que são um no outro e um para o outro.

 

Toda ciência (empírica ou pura) deve ser antecedida por uma investigação eidética que defina a essência ou a estrutura necessária do objeto a ser estudado.

 

O mundo da vida ('Lebenswelt') – que é aquele no qual vivemos intuitivamente com as suas realidades, tais como elas se dão, mais ou menos válidas ou mesmo aparentes é uma espécie de rio heraclitiano meramente subjetivo e aparentemente inapreensível.

 

Qualquer homem leva dentro de si um Eu Transcendental.

 

 

 

 

 

 

O Método Fenomenológico

 

 

 

 

 

O método fenomenológico (que não se constitui, por assim dizer, em uma invenção dos existencialistas, pois foi apresentado pela primeira vez na segunda metade do século XIX por Franz Brentano) elaborado por Husserl ofereceu marcante e decisiva contribuição para o Existencialismo, tendo como característica central o aprimoramento do homem. Entretanto, é importante assinalar que apesar de o método fenomenológico ter influído substantivamente esta corrente de pensamento filosófico, o próprio Husserl não pode ser considerado como um existencialista no sentido estrito do vocábulo nem no conceito exato do termo. Husserl é fundamentalmente fenomenólogo. Ele ultrapassa o cogito ergo sum cartesiano para alcançar uma possibilidade em um campo experiencial mais profundo, mais completo, mais integrado, qual seja, cogito et sum. Portanto, rotulá-lo em uma corrente específica de pensamento, além de difícil é inconveniente. Husserl é fenomenólogo. Husserl é Husserl.

 

Este método se caracteriza por ser conduzido no âmbito da própria experiência, objetivando aceitar e acolher qualquer mensagem que o processo experiencial possa transmitir e comunicar, entretanto, não à luz de princípios, normas ou preceitos, sejam metafísicos, sejam transcendentais. A Fenomenologia, portanto, em última análise, pretende apurar a realidade efetiva das coisas, e delas absorver e tirar o próprio sentido da vida. No meio acadêmico, por exemplo no campo da Física, o conceito de fenomenologia é geralmente usado em trabalhos que tentam explicar fenômenos experimentais a partir de teorias bem conhecidas ou de hipóteses e modelos específicos que não partem de uma teoria.

 

A grande questão que se impõe é: será isto possível? Sem o auxílio da Metafísica? Penso que não podemos assim, sem mais nem menos, jogar para escanteio ou no lixo a Metafísica, cujo ramo central é a Ontologia, que investiga em quais categorias as coisas estão no mundo e quais as relações dessas coisas entre si. A Metafísica também tenta esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo, incluindo a existência e a natureza do relacionamento entre objetos e suas propriedades, espaço, tempo, causalidade e possibilidade. Seja como for, vamos dar uma espiada rápida na Fenomenologia proposta por Husserl.

 

 

 

A Fenomenologia Husserliana

 

 

 

Husserl é considerado o fundador da escola fenomenológica, que pretende estudar o objeto absolutamente puro tal como se manifesta em sua realidade efetiva, imaculadamente livre de qualquer mistura; a Fenomenologia, assim, pretende distinguir a verdade da aparência. Ora, isto não é Metafísica?

 

O próprio Kant falou de uma phenomenologia generalis que deveria preceder a Metafísica (parte da Filosofia que com ela muitas vezes se confunde). Segundo Kant, a Fenomenologia deveria estabelecer a linha divisória entre os mundos sensível e o inteligível, para evitar transposições não legítimas de um a outro. Kant admitia que um fenômeno que, de fato, seja um fenômeno deve possuir duas propriedades elementares: caracterizar-se no tempo e no espaço. No tempo, através da aplicação das categorias do entendimento a priori (uma dedução lógica da coisa) e, em seguida, a posteriori (o que pode ser identificado positivamente quanto a este objeto). Com a coisa inserida em um contexto temporal e espacial, está apta a receber todos os componentes da ciência a fim de estudá-la. E, para a aplicação dos diversos juízos da ciência (sintético/a priori e analítico/a posteriori), deve existir o ser que transcenda a ciência, o objeto e a própria Terra. Hegel, por sua vez, denominou de Fenomenologia do Espírito à ciência que mostra a sucessão das diferentes formas ou fenômenos da consciência, até chegar ao saber absoluto. Ora, isto não é Metafísica?

 

E assim, diversos pensadores se referiram à Fenomenologia de diferentes formas, mas mantendo um ponto comum: estudar a significação das vivências da consciência. Toda consciência é consciência de alguma coisa. Assim sendo, a consciência não é uma substância, mas uma atividade constituída por atos (percepção, discernimento, imaginação, especulação, identificação, volição, paixão etc.), com os quais visa algo.

 

Na época atual, pretende-se entender por Fenomenologia aquela proposta por Husserl (e por seus contemporâneos e pelos que o sucederam), e, neste sentido, o movimento fenomenológico apresenta duas fases marcantes: a primeira, a fase alemã, com a Fenomenologia de Husserl; e a segunda, a fase francesa, com o movimento fenomenológico de Gabriel Marcel e as bases fenomenológicas de Sartre, de Merleau-Ponty e de Paul Ricoeur. Todavia, não faltaram em outros países representantes meritórios, como Ortega y Gasset, na Espanha, e Nicola Abbagnano e Enzo Paci, na Itália.

 

Fundamentalmente, a Fenomenologia é um método e um modo de ver. Ambos são interdependentes, pois o método é constituído mediante um modo específico de ver, e este só se efetiva pelo método.

 

 

Tal método, que propicia o modo de ver, consta de duas fases principais, denominadas, respectivamente, de negativa e de positiva. A fase negativa – epoché (epokhé) ou redução fenomenológica – pretende colocar o objeto (o fenômeno) isolado de tudo o que não lhe é próprio, a fim de poder se revelar em sua pureza, em uma espécie de contemplação desinteressada de quaisquer vinculações com o existir e/ou com a existência. Em outras palavras: a suspensão fenomenológica do juízo não põe em dúvida a existência, mas se abstém de emitir juízos sobre ela. A epoché nada mais é do que deixar de lado o racional, os [pre]julgamentos e os [pre]conceitos; implica em suspender todos os juízos aprendidos e adquiridos sobre os mundos real ou ideal, sobre idéias e coisas, sobre instituições, sobre, inclusive, as concepções de nascer, de viver e de morrer. É um total renunciar aos juízos [pre]concebidos, aos hábitos adquiridos e aos aprisionamentos [con]sentidos, para que – livres destas cascas abolorecidas – as coisas possam se manifestar em sua pureza prístina, cristalina, transparente e original. O processo da epoché parte da premissa que, para se adentrar e poder conhecer o fenômeno em sua integralidade e verdadeira natureza, é insubstituível dele nos aproximarmos com a consciência pura e limpa, abstendo-nos de levar de arrasto neste processo coisificações e conceitos enunciados e admitidos pela História, pela ciência, pela literatura, pelas religiões, pela Filosofia e até mesmo pelo nosso presumido bom senso. Enfim, o que a epoché pretende é exclusivar a atenção no objeto, no dado ou no fenômeno enquanto tais, e descrevê-los em sua pureza. A redução, diz Husserl, suspende a tese natural do mundo. Ora, isto não é Metafísica?

 

 

 

 

 

Na fase positiva, a mente, indiferente às realidades, se dirige para a própria coisa, e, penetrando-a, permite sua plena manifestação em toda a sua atualidade cósmica. Ora, isto não é Metafísica?

 

O método fenomenológico reconsidera todos os conteúdos da consciência, e pretende oferecer um fundamento último e definitivo, isento totalmente de dúvida ou inconsistência, que Husserl denominou de evidência apodíctica – que não pode ser refutada, contradita, contestada.

 

Para Husserl, o fenômeno intuitivo é de capital e basilar importância no desabrochar do conhecimento, e toda intuição primordial é uma fonte legítima de conhecimento. Tudo o que se apresenta por si mesmo na intuição (e, por assim dizer, na pessoa) deve ser aceito como se oferece e tal qual se oferece, ainda que somente dentro dos limites nos quais se apresenta. A conseqüência é que a Fenomenologia não pressupõe nada, não contempla o apriorismo e, no dizer do próprio Husserl, é um positivismo absoluto.

 

Com base nestes conceitos preliminares, pode-se considerar agora, rapidamente, o processo de redução no que concerne ao conhecimento, dividindo-o em dois momentos denominados respectiva e sucessivamente de redução eidética e de redução transcendental. A redução eidética coloca entre parêntesis a existência individual da coisa, para que reste apenas a consideração do mais imediato que ela oferece – a essência. A redução transcendental coloca entre parêntesis (mais do que a consideração da existência) tudo o que não diz respeito à consciência pura; desconsidera a realidade do objeto, para retê-lo simplesmente como referência da vivência intencional. Como resultado desta última redução, nada mais resta do objeto além do que é dado ao sujeito. Em suma: na fase transcendental não se trata mais daquilo que conhecemos, desejamos, observamos, sentimos, pensamos, mas do que o eu que conhece deseja, observa, sente e pensa. Esta fase visa à Essência da própria Consciência. Enfim, é neste nível que noesis (formas) e noemas (conceitos) se revelam como absolutamente a priori.

 

 

 

Conclusões

 

 

 

Na Fenomenologia, Husserl acreditou ter encontrado e elaborado um método capaz de oferecer à ciência um fundamento sólido e, aplicando-o ao estudo do conhecimento, mostrou que ele (o conhecimento) tem caráter essencialmente intencional. Este método objetiva reduzir, em instância derradeira, toda e qualquer experiência a uma singular experiência perceptiva do eidos – conceito usado por Platão para indicar a 'idéia', por Aristóteles para referir-se à 'forma' e por Husserl para indicar a 'essência'. No momento exato da experiência, o Eu, enquanto consciência transcendental, manifesta todos os seus atos como intencionalidade, tendendo para um objeto.

 

Para Husserl, a intuição assume relevância ímpar no processo do conhecimento. Todavia, outros processos de caráter racional sobrevêm à intuição, quais sejam: a redução eidética e a redução transcendental. A intuição, portanto, antecede o conhecimento apodictamente evidente, de natureza indiscutível e indubitável, que pretende explorar o campo de riquezas incomensuráveis e certamente dificilmente descritíveis por palavras, gestos ou símbolos, da consciência transcendentalmente pura. Mais uma vez, pergunto: isto é ou não é Metafísica?

 

Seja como for, ensinam os fenomenólogos o que os místicos e metafísicos sempre souberam: o processo eidético e, posteriormente, a fase transcendental só conduzirão a êxito, se o pesquisador eliminar todo e qualquer conceito apriorístico, concebido ou apre(e)ndido, e colocar entre parêntesis até a própria existência da consciência. Neste mágico momento, então, com a mente livre de teias aracnídeas e de coisismos [pre]conceituais de qualquer ordem, o Eu, livre, pode penetrar, absorver, sentir, vivenciar e conceber o próprio Eidos.

 

Nas esferas espiritual, mística e/ou Iniciática, a depender do grau vibratório e do transcendentalismo da própria experiência, o buscador sincero poderá ter a nítida sensação de se ter tornado um-com-o-Eidos.

 

 

 

 

 

Bibliografia:

HUSSERL, Edmund. La filosofia como ciencia estricta. Tradução de Elsa Tabernic. Buenos Aires: Editorial Nova, s.d.

______. Investigações lógicas. Sexta investigação (elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento). Tradução de Zeljko Loparié e Andréa Maria Altino de Campos Loparié. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

MARTINS, José Salgado. Preparação à filosofia. 4ª edição. Porto Alegre: Globo, 1981.

MONDIN, Battista. Curso de filosofia. Vol. III. Tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulinas, 1983.

______. Introdução à filosofia. Tradução de J. Renard. São Paulo: Paulinas, 1983.

MORA, Jose Ferrater. Diccionário de filosofia. Vol. I. 5ª edição. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1965.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/
modules/lexico/entry.php?entryID=3241

http://www.cfh.ufsc.br/
~simpozio/novo/2216y744.htm

http://vicenteoficina.blogspot.com/
2005/10/fenomenologia.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Suspens%
C3%A3o_do_ju%C3%ADzo

http://www.euniverso.com.br/
Oque/fenomenologia.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fenomenologia

http://pt.wikipedia.org/wiki/Metaf%C3%ADsica

http://cepcariri.blogspot.com/

http://www.montfort.org.br/

http://www.algosobre.com.br/
sociofilosofia/fenomenologia.html

http://www.citador.pt/cliv.php?
op=7&author=20370&firstrec=0

http://pimentanegra.blogspot.com/
2006/02/frases-e-ditos-filosficos.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fenomenologia

http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-husserl.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl

http://pt.wikipedia.org/wiki/No%C3%
A7%C3%A3o_de_impredicatividade

 

Fundo musical:

Concerto para Harpa
Compositor: Georg Friedrich Händel

Fonte:

http://www.espada.eti.br/musicas-1.htm