HUMILDADE SOCIAL

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Papa Francisco
(Herdeiro Espiritual do Papa João XXIII)

 

 

O outro sempre tem algo a me dar, quando sabemos nos aproximar dele, com a atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Esta atitude eu a definiria como humildade social – que é a que favorece o diálogo. Ou apostamos na cultura do diálogo ou todos nós perderemos.

 

Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco)


 

 

 

Antidiálogo1

 

 

 

ou todos nós perderemos.

Tudo está entrelaçado;2 tudo é análogo.

Não há divisão no Kosmos.

 

Ascensão: só amputando preconceitos

e generalizações açodadas.

Lembremos: todos os nossos conceitos,

 

O outro sempre terá algo a nos ofertar,

e todos nós poderemos acorrer.

Não é outra a água; diferente não é o ar.

Estamos imersos no mesmo Ser.

 

Eventualmente, poderemos discordar,

mas, jamais devemos desunir.

Nenhum de nós é obrigado a perfilhar,

mas, devemos evitar desavir.

 

A miséria de um é a desgraça de todos;

não há necessidade isolada.

A paupérie de um é a carência de todos;

não há pindaíba separada.

 

Ou aprendemos isto ou, então, beleléu.

fazem de cada ser-aí consócio e co-réu,

cujo epílogo será o buikilá.3

 

 

 

Em qualquer contexto,
nós somos todos um.
Esperar o ano bissexto
para compartir algum?

Eu me preocupo muito
com a avarícia humana,
que só –› curto-circuito,
abnormalidade e inana.

O que levaremos daqui?
Aqui, o que deixaremos?
Um tanto de bosta? Xixi?
Um barco sem os remos?

Oh!, ilusão que apocopa!
Oh!, insciência que detrai!
Oh!, pesadelo que dopa!
Oh!, brilhareco que atrai!

 

 

Observação:

 

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Notas:

1. O diálogo, como disse o educador e filósofo brasileiro Paulo Reglus Neves Freire (Recife, 19 de setembro de 1921 – São Paulo, 2 de maio de 1997), é uma relação horizontal entre A e B, que nasce de uma matriz crítica e gera criticidade. O diálogo é oposto ao antidiálogo, que implica em uma relação vertical de A sobre B. Desta forma, o antidiálogo é acrítico, desamoroso, auto-suficiente, desesperançoso, arrogante, e, por isto, não comunica e impede a autonomia. O antidiálogo é opressivo e leva à heteronomia. Toda ação antidialógica manipula as massas oprimidas. Pela manipulação, os opressores conformam as massas de acordo com seus interesses e objetivos. Uma estrutura social rígida, dominadora e antidialógica favorece o desenvolvimento de pessoas que acabem aceitando a dominação.

2. Carta do Chefe Sealth (Seathle, Seathl ou See-ahth), mais conhecido atualmente como Chefe Seattle (1780 – 1866), líder das tribos Suquamish e Duwamish, no que hoje é o Estado americano de Washington, ao Presidente dos Estados Unidos da América em 1854: Como é que se pode comprar ou vender o céu e o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível vendê-los ou comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e cada inseto a zumbir, tudo é sagrado na memória e na experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de todos nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo e a grande águia são também nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem — todos pertencem à mesma família. Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas, isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e de lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de nossos ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e devem ensinar aos seus filhos que os rios são nossos irmãos. E seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a mesma bondade que dedicariam a todo e qualquer irmão. Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado do que qualquer outra; pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga; e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos dos seus antepassados e não se incomoda. Furta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas ou vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite insaciável devorará a terra e seus frutos, deixando somente um árido deserto. Eu sei: nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez, seja porque o homem vermelho é um selvagem e nada compreenda. Não há um lugar sossegado nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde ele possa ouvir o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas, talvez, seja porque eu sou um selvagem e não compreenda. O ruído, para nós, selvagens, parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida, se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o coaxar dos sapos à noite ao redor de uma lagoa? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento esfrolando a face do lago, e o próprio vento limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro — o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não valoriza o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas, se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deverá se lembrar de que o ar é precioso para nós, de que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu aos nossos avós seu primeiro inspirar também recebeu seus últimos suspiros. Se lhes vendermos nossa terra vocês devem mantê-la intacta, protegida e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados. Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus IRMÃOS. Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelos homens brancos que os assassinaram ao passar em um trem. Eu sou um selvagem e não entendo como é que o fumegante cavalo-de-ferro pode ser mais importante do que o búfalo, que sacrificamos com piedade somente para permanecermos vivos. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma insuportável solidão de espírito. Pois, o que ocorrer com os animais, breve acontecerá com o homem. Há uma ligação em tudo, pois tudo está entrelaçado. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: QUE A TERRA É NOSSA MÃE. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cuspirem no solo, estarão cuspindo em si mesmos. Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Isto também sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma interligação indesligável e indissolúvel em tudo. O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos — e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: NOSSO DEUS É O MESMO DEUS. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra Lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminem suas camas e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. Mas, quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe à esta terra, e por alguma razão especial lhes concedeu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos porque todos os búfalos devam ser exterminados, porque todos os cavalos bravios devam ser domados, porque os recantos secretos da floresta densa devam ser impregnados pelo cheiro de muitos homens, e porque a visão dos morros deva ser obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final do viver e o início do sobreviver. Abaixo, a única fotografia conhecida do Chefe Seattle, tirada em 1864.

 

Chefe Seattle

Chefe Seattle

 

3. Buikilá (forma aportuguesada: buiquilá) = desaparecimento total de uma vida.

 

Canto gregoriano de fundo:

Te Deum
Interpretação: Schola Cantorum do Pontifício Col. Intern. dos Beneditinos de S. Anselmo em Roma

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.fixcas.com/cgi-bin/
go.py?2010a.Keachie

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sealth

http://www.pucrs.br/edipucrs/online/
autonomia/autonomia/3.5.html

http://www.presentermedia.com/index.php?
target=closeup&maincat=animsp&id=4967

http://en.wikipedia.org/wiki/Chief_Seattle

http://cancaonova.com/portal/canais/
formacao/internas.php?e=4511

http://humildes.bk2.com.br/noticia/325/pais-so-cresce
-com-dialogo-diz-papa-francisco-sobre-manifestacoes

 

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