HIPIAS MAIOR (ou DO BELO)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo da Pesquisa

 

 

 

sta pesquisa, muito facilzinha de ser entendida, é um resumo, em forma de fragmentos (editados aqui e ali), da obra Hipias Maior, de Platão – tradução de Edson Bini e revisão de Júlia Carolina de Lucca – na qual é examinado e discutido o conceito do belo ou de como pode ser definida a beleza de algo, sob a forma de um diálogo instigante entre o dialético e maiêutico Sócrates e o rico e venerado sofista Hípias.

 

Tenhamos sempre em mente, como lembra Edson Bini, que o Filósofo propriamente dito se distingue do sofista. Enquanto o Filósofo se ocupa da investigação e do aprofundamento das questões metafísicas, éticas, lógicas, políticas etc, o sofista, rejeitando este discurso, esta discussão, como inconseqüente, sem propósito e incapaz de chegar a conclusões esclarecedoras objetivas e universais, dedica-se exclusivamente aos discursos dirigidos a alvos específicos, visando somente à persuasão e, de modo algum, ao estabelecimento da verdade.

 

Seja como for, Platão encerra esta obra afirmando: o belo é difícil.

 

 

 

Fragmentos do Hipias Maior

 

 

 

Nenhum dos antigos pensadores jamais julgou apropriado cobrar dinheiro como pagamento por sua sabedoria ou realizar indiscriminadamente exibições de sua sabedoria.1

 

 

 

 

O sábio deve ser sábio especialmente em seu próprio interesse.

 

Em Estados regidos por boas leis a virtude é objeto da mais excelsa estima.

 

Geralmente, a pessoa que é capaz de transmitir as doutrinas sumamente valiosas para a aquisição da virtude é merecedora de elevadíssima estima.

 

A lei é feita para ser benéfica ao Estado, mas, às vezes, se for mal feita, é danosa.

 

Os legisladores devem fazer as leis como sendo o maior dos bens a serviço do Estado, sem o qual é impossível haver um Estado com boas leis respeitadas e bem governado. Quando os legisladores não conseguem criar boas leis falham no legal e na lei.

 

É pela justiça que os justos são justos.

 

É pela Sabedoria que os sábios são sábios e pelo bem que todas as coisas são boas.

 

Todas as coisas belas são belas pelo Belo. Portanto, o que é belo, é uma coisa; mas o que é o Belo, outra bem diferente.

 

 

 

 

Como poderíamos nos atrever a negar que uma coisa bela é bela? Como poderíamos dizer que algo sendo belo não é belo?

 

'O mais belo dos macacos é feio se comparado à raça humana'. (Heráclito de Éfeso – chamado O Obscuro, foi um filósofo pré-socrático que floresceu em torno de 500 a.C. apud Sócrates).

 

O mais sábio dos seres humanos, se comparado com um deus, parecerá um macaco, quer em Sabedoria, quer em Beleza, quer em tudo o mais.

 

O ouro e o marfim, quando são apropriados, tornam as coisas belas; já, quando não são apropriados, tornam as coisas feias. Enfim, tudo aquilo que é apropriado a qualquer coisa particular a torna bela.

 

O belo é algo de tal tipo que jamais parecerá feio em parte alguma a pessoa alguma.2

 

Aquele que se limita ao riso estará rindo de si mesmo, e fará de si alvo do riso dos presentes.

 

Pelo Belo-ele-mesmo, tudo aquilo a que é agregado passa a ter a propriedade de ser belo, tanto uma pedra quanto um bastão, o homem, o deus, todo ato e toda aquisição de conhecimento.

 

O Belo é sempre belo.

 

O apropriado3 é aquilo cuja adição faz cada uma das coisas em que é adicionado parecer bela ou ser bela.

 

Se o apropriado faz algo parecer mais belo do que é, neste caso, o apropriado é uma espécie de engodo relativamente ao belo. Mas, se o apropriado for realmente belo, fará não só as coisas ser belas, como também parecer belas.

 

Se o apropriado é aquilo que faz as coisas apenas parecer belas, não é o belo que estamos buscando, porque isto faz as coisas apenas parecer belas, porque o mesmo elemento não pode fazer as coisas tanto parecer quanto ser belas, como tampouco pode fazê-las tanto parecer quanto ser qualquer outra coisa mais. Logo, o apropriado não é algo distinto do Belo.

 

É pela extensão que todas as coisas grandes são grandes, visto que, mesmo que não pareçam grandes, tendo extensão são necessariamente grandes. Assim, analogamente, dizemos que o belo é aquilo pelo que todas as coisas são belas, não importa se parecem ou não belas.

 

 

As Sete Maravilhas do Mundo Antigo

 

 

Todas as coisas que são realmente belas – tanto costumes quanto atividades – são consideradas sempre belas por todos, e, assim, parecem a todos? Ou, pelo contrário, quando as pessoas as ignoram, há mais conflito e polêmica a respeito delas do que a respeito de qualquer outra coisa, tanto privadamente entre indivíduos quanto publicamente entre os Estados?

 

Tudo aquilo que é útil é belo. A razão que tenho em meu espírito ao afirmar isto é esta: dizemos que os olhos são belos não quando julgamos que se acham em um estado em que se mostram incapazes de ver, mas, sim, quando são capazes e são úteis à visão.

 

O útil, de preferência a tudo o mais, é belo.4

 

Aquilo que é capaz de executar qualquer coisa é útil para aquilo para o qual é capaz, ao passo que aquilo que não é capaz é inútil. Assim, a capacidade, portanto, é bela (excelente, admirável), enquanto a incapacidade é feia (ruim, deplorável).

 

A Sabedoria [ShOPhIa] é a mais bela (admirável) de todas as coisas, enquanto a ignorância é a mais feia (deplorável) de todas.

 

É pelo poder que os poderosos são poderosos, já que, certamente, não é pela falta de poder que são poderosos.

 

A partir da infância, as pessoas fazem muito mais coisas más do que boas, e cometem erros involuntariamente.

 

O útil e o poderoso, quando voltados para a realização de algo bom, são realmente um exemplo do que é belo.

 

A causa e aquilo de que a causa é a causa são diferentes, uma vez que não é possível que a causa seja causa da causa.

 

O Belo é a causa do Bom.

 

O que é criado por aquilo que cria é a coisa que vem-a-ser, não aquilo que cria. A causa, portanto, não é a causa da causa, mas daquilo que vem-a-ser através dela. Logo, a causa não é nem aquilo que vem-a-ser, nem aquilo que vem-a-ser é a causa.

 

As relações sexuais são sumamente prazerosas, mas aquele que as pratica, se as praticar, deverá fazê-lo onde ninguém possa vê-lo, porque é a coisa mais repulsiva de ser vista.

 

Aquilo que é prazeroso através dos sentidos da visão e da audição não será, de modo algum, prazeroso através de ambos.

 

Os assuntos humanos não são conforme os desejos de um ser humano, mas conforme sua capacidade.5

 

O que é belo é necessariamente belo pela Essência que pertence a ele e está nele, mas não pelo que nele está ausente.

 

É uma irracionalidade admitirmos que duas coisas sejam conjuntamente belas, mas cada uma de per si não o ser; ou, por outro lado, cada uma ser bela, mas ambas não serem belas.

 

O belo é o prazer benéfico. Mas, o benéfico é aquilo que cria o bom; entretanto, aquilo que cria e aquilo que é criado são diferentes. E assim, não é possível o bom ser belo nem o belo ser bom, se cada um diferir do outro.

 

Todo indivíduo deveria renunciar às conversações tacanhas para não ser considerado um completo tolo por se devotar a uma mera tagarelice insensata.

 

 

 

 

O belo é difícil.

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Um Pequenino jamais comercializa – seja lá do jeito que for, seja lá para a finalidade que for – um ensinamento que lhe tenha sido transmitido iniciaticamente, se for mesmo um Pequenino. Essa coisa esdruxulérrima de pedir, exigir, cobrar e vender dízimos e indulgências plenárias (perdão total das penas temporais) é próprio das religiões da segunda via, particularmente da Católica e das suas incontáveis filhas. Não esqueçamos que Martinho Lutero (1483 – 1546), figura central da Reforma Protestante (movimento reformista católico iniciado no início do século XVI que, ao protestar contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propôs uma reforma no Catolicismo), contestou veementemente a alegação de que o livramento da punição de Deus sobre o pecado pudesse, de alguma forma, ser negociado (toma-lá-dá-cá). Salvo melhor juízo, a Reforma Protestante teria sido mais profunda e mais efetiva se acabasse de vez, também, com essa idéia maluca que Deus pune, premia, se aborrece, troveja, relampeja, fica feliz et cetera e tal. Mas, reconheço, querer que Lutero, um sacerdote agostiniano e professor de Teologia alemão, chegasse a tanto seria querer demais.

2. Quem ama o feio bonito lhe parece. Ora, este ditado popular nos ensina que o (conceito de) belo não pode ser algo de tal tipo que sempre e irrestritamente seja ou pareça belo a todas as pessoas. E, por hipótese, o que é ou o que parece ser objetivamente belo hoje poderá obsoletar, caducar, desengonçar e se tornar feio amanhã – como o Jason Voorhees sem máscara. Há apenas um desvio, digamos assim, desta regra-padrão: o Belo-em-si, que, sem impor condições, a todos e para todos foi, é e sempre será belo porque, simplesmente, é Belo-em-si. Portanto, se a beleza ordinária, habitual, é, por assim dizer, um conceito ou um gosto puramente pessoal, o inexplicável Belo-em-si é universal. O Belo – o Belo-em-si ou em si-mesmo – para Platão, está no Plano do Ideal; mais propriamente a idéia do Belo-em-si é absoluta e eterna, não dependendo dos objetos, ou seja, da materialidade. Assim, por idealisticamente se constituir o Belo-em-si na própria Idéia de Perfeição e de Completude, resta ao mundo sensível apenas a imitação ou a cópia desta Beleza Perfeita. Enfim, o Belo-em-si, para Platão, serve para conduzir o homem à Beleza da Perfeição.

 

 

 

 

3. Aqui cabe lembrar que o apropriado para uns poderá ser inapropriado ou cafona para outros. O apropriado, como assevera Sócrates no diálogo com Hipias, faz as coisas parecerem mais belas do que são, não permitindo que pareçam tais como são.

4. Como Sócrates provoca Hipias ininterruptamente, esta afirmação está totalmente incorreta. Basta lembrar, por exemplo, a ação das bombas nucleares, que são úteis para assassinar e para vencer uma guerra, mas nada têm de belo. Então, ao invés de dizer que o útil, de preferência a tudo o mais, é belo, talvez, se possa dizer que o útil, quando é mística e categoricamente útil, é belo.

 

 

 

 

5. Como explica Valerio Arcary no texto Equidade e Igualitarismo: Por quê os Socialistas Defendem as Cotas?, está afirmado: O Marxismo defende que a passagem a uma sociedade socialista deve ser compreendida pelo critério de distribuição de 'a cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades', construído pela socialização da propriedade.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.popularvirals.com/
ugly-men.php?page=1

http://waveformless.blogspot.com/2011/11/
childrens-treasury-of-ugly-synths-part.html

http://blog.timesunion.com/kristi/39786/
ugly-people-hacking-beautiful-website/

http://www.bepeli.com.br/
educacional/maravilhas.html

http://www.mylionking.com/
gallery/animations/?start=40

http://www.blogdoalon.com/ftp/cotas_va.pdf

http://netanimations.net/moving_
animated_fire_explosion_animations.htm

http://www.4shared.com/get/01JWnf_e/
plato__427-347_ac__hipias_maio.html

 

Fundo musical:

Vraho Vraho Ton Kaimo Mou
Compositores: Mikis Theodorakis & Dimitris Hristodoulou

Fonte:

http://search.4shared.com/postDownload/
hRyupI6x/02_M_Theodorakis_D_Christodoul.html