A HISTÓRIA DE UM ZÉ QUALQUER

 

 

 

Zé Carioca

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O Cordão dos Zé Qualquer

 

 

 

Esta é a história

de um Zé qualquer.

História sem glória,

que ninguém quer.

 

Um Zé negacionista

esse qualquer se tornou.

Adispois, antivacinista,

o qualquer acrescentou.

 

Aí, a PanCOVIDmia pintou:

de a foi matando.

E a desgraçada não parou:

de a foi ceifando.

 

Matou fino, caipira e cafona,

escurinho, branquelo e curiboca,

sóror, menina veneno e mocetona,

caturra, up-to-date e cocoroca.

 

Don Corona nunca escolheu:

quem caiu na rede, virou peixe.

E a Cloroquina não o tolheu

nem levar bíblia no almofreixe.

 

 

 

 

Mas, biruta e delirante,

o Zé qualquer não se isolou.

Arremedador e aberrante,

também não se distanciou.

 

 

Don Corona

 

 

E acabou pegando a coisa.

Adoentou. Sofreu. Morreu.

Então, já debaixo da loisa,

o cadáver do Zé percebeu:

 

Que foi um descomunal babaca,

e que ainda poderia estar vivo.

Que foi um sesquipedal panaca,

e que, de si mesmo, foi abortivo.

 

E agora, Zé? Fazer o quê?

O que foi feito já está feito.

Na nossa vida, cada porquê,

invariavelmente, é um efeito.

 

Todos nós somos a causa

das dolores e das aflições.

Também somos a concausa

das ruínas e das destruições.

 

Se quiser, chame de karma;

não faz a menor diferença.

O que não adianta é parma,

para malfeito e malquerença.

 

 

Parma
(Escudo circular pequeno usado, na Roma antiga,
pela infantaria e pela cavalaria do exército romano.)

 

 

E, ,

o cordão vai avultando mais,

pois, de cuca, só dá anaco.

E vão engordando os anais.

 

Mas, quem está na frente,

em geral, é passado pra trás.

E isto acontece de repente,

mesmo para quem é ferrabrás.

 

Pomba! E qual é a solução?

Ora, em Silêncio, a Voz ouvir

do Deus de nosso Coração,

e mudar sem descer. Só subir.