Platão
apontando para o Mundo das Idéias
– A Escola de Atenas –
Raffaello Sanzio (1483 – 1520)
Um
mesmo homem é capaz de mentir e de dizer a verdade. O ignorante,
mesmo querendo mentir, dirá, muitas vezes, por casualidade
e por não saber, involuntariamente, a verdade.
A
justiça é uma força da alma. Logo, a alma mais
forte presumidamente é a mais justa.
É
mais justa a alma mais sábia, e é menos justa a alma
menos sábia.
A
alma mais forte, quando comete uma injustiça, o faz voluntariamente,
e a alma que é má, involuntariamente.
O
homem bom tem uma alma boa, e o mau tem uma alma má.
Entretanto,
é próprio do homem bom cometer injustiças voluntariamente
[porque está
consciente do que faz],
e do mau fazê-las involuntariamente [porque
é inconsciente do que está fazendo],
se, com efeito, o homem bom tem uma alma boa.1a
Logo,
o que comete erros voluntariamente e faz coisas más e injustas,
se este homem existe, não pode ser outro que não seja
o homem bom.1b
Platão
(Hipias
Menor)
______
Notas:
1a
e 1b. Isto, em certos casos, até pode ser assim; todavia,
na maioria das vezes não é, ainda que, tecnicamente,
seja verdade que quem é capaz de fazer bem uma coisa seja,
sem dúvida, o mais capacitado a fazê-la mal, pois só
ele, se quiser fazê-la mal, a fará mal quase com perfeição.
Mas, o curioso é que em nenhum outro diálogo platônico
a discussão foi tão propositalmente aporética
e levada ao ponto de tamanho absurdo, como aqui no Hipias
Menor. Talvez, a pouca (ou nenhuma) admiração
que Platão sentia por Hipias o levou a mostrar a debilidade
com que um sofista poderia abordar adequadamente um argumento raciocinado.
O pior é quando os sábios
vacilam e não encontram uma solução concertada
para as suas dúvidas – o que sói acontecer com
a incapacidade dos sofistas para desvelar e definir um conceito
em um tema relevante. Ainda assim, não deixa de ser uma excentricidade
o desvio da lógica com que se processa o desenvolvimento
do diálogo Hipias
Menor. Seja como for, este ensaio platônico é
útil para que eu possa meditar no fato de que um homem bom
poderá, sim, cometer erros voluntariamente e fazer coisas
más e injustas, mas não chegar ao insano limite de
praticar crueldades, truculências e barbaridades. Ora, por
exemplo, não há quem me convença que o Herr
Führer
era um homem bom. Cometeu e mandou seus lacaios cometer as atrocidades
de todos conhecidas porque era intrinsecamente um sociopsicopata
crudelíssimo, e, provavelmente, um exemplo de homem-sem-alma.
No volume VI da Doutrina Secreta de Helena Petrovna Blavatsky,
está escrito (passim): a
imortalidade pessoal é condicional, pois, segundo alguns
ensinamentos raramente mencionados, há homens 'desalmados'
[sem-alma]... Se a Vida se aparta de vós, sois homens-sem-alma...
Falando em termos esotéricos: todo materialista recalcitrante
é um homem morto, um autômato vivente, por mais poderoso
que seja seu cérebro... Ocorre freqüentemente que depois
de terminada a vida do homem-sem-alma, ele volta a reencarnar em
personalidades cada vez mais abjetas... Na Terra, há duas
classes de seres desalmados: aqueles que perderam seu Eu Superior
na encarnação presente, e aqueles que já nasceram
sem-alma, que se separou do seu Eu Superior na vida precedente.
Em casos raros, o Manas inferior está destinado a ser aniquilado
por consumição...
Enfim, ainda
que a imortalidade
pessoal seja condicional, ninguém deve ficar
preocupado nem perder o sono com estas coisas, pois elas são
uma raridade. E, por pior que alguém tenha sido ou por pior
que tenha se comportado em uma determinada encarnação,
uma microgota de arrependimento sincero é o suficiente para
que a peregrinação não seja interrompida ou
apocopada. Já a aniquilação
do Manas inferior por consumição e a entropização
do ser são casos muitos raros e episódicos. Abaixo,
apresento duas animações em flash que mostram
como um cubo de gelo se transforma em uma poça de água
e como alguns cubos de gelo derretem em um copo com água,
por entropia. A
entropia é uma grandeza termodinâmica que aparece geralmente
associada ao que se denomina de grau de desordem de um
sistema termodinâmico. A Segunda Lei da Termodinâmica
ou Segundo Princípio da Termodinâmica expressa que
a quantidade
de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende
a se incrementar com o tempo, até alcançar um valor
máximo. Pela Segunda Lei da Termodinâmica,
em sistemas isolados, onde ocorrem processos irreversíveis,
a entropia aumenta sempre. Para nós, que não somos
especialistas em Termodinâmica, o que precisamos entender
é muito simples: quando uma pequena quantidade de calor
é adicionada a uma substância à temperatura
T, a entropia
da substância muda
por
= /T.
Enfim, como ensinam André Pedrozini Brandi e Vania Elisabeth
Barlette no trabalho Degradação Ambiental: Uma
Abordagem Por Entropia, a
maior ameaça que o homem tem a enfrentar é o seu próprio
sucesso como espécie, uma vez que, com sua atuação
sobre o meio ambiente, tem provocado um desequilíbrio energético
jamais antes observado. E, citando o zoólogo
e ecólogo Eugene Odum, advertem
que as opções
para um futuro imediato deveriam ser baseadas em fontes que prometessem
melhor produção com menor entropia.