MINHAS HIPOCRISIAS HIPOTÉTICAS

 

 

 

Galo

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Reduzimos as religiões a meros ritos e crenças, [e não raramente a negócios e mandingas], e nossos deuses e disciplinas não nos levam à REALIDADE, mas, tão-somente à respeitabilidade. O que são todos os nossos deuses? Os nossos deuses nada mais são do que autoprojeções nossas. Criamos os deuses e seguimos ideais e crendices [inventados por nós mesmos] porque nos dão satisfação, conforto, consolação [e segurança]. Nossos deuses, portanto, não têm significação nenhuma, e as religiões se converteram em um simples conjunto de crenças e de rituais também sem qualquer significado. A influência das religiões é condicionadora, como qualquer outra influência organizada, não importa se é comunista, cristã, hinduísta ou todas as demais. O domínio dos dogmas, das crenças e dos rituais é tirânico e limitante, porquanto condiciona a mente, tornando-a restrita, [assustadiça] e trivial. O fato é que estamos sendo desafiados por problemas imensos, e os enfrentamos com as nossas mentes condicionadas, com o que tornamos estes vastos problemas em conflitos estúpidos, [insolúveis] e superficiais, multiplicando, deste modo, as nossas tribulações. Conclusão: as religiões organizadas, tal como são conhecidas, são processos de hipocrisia, e, por isto, não conduzem à REALIDADE, pois, a REALIDADE só poderá surgir se e quando a mente for livre, isto é, se e quando não estiver mais condicionada de forma alguma por coisa nenhuma. [In: Viver Sem Temor, de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

 

religiões

 

 

 

Letra Eu tinha tanto medo de tudo,

que passei a crer em Zeus.

Se alguém falasse no diabo,

eu me persignava 77 vezes.

 

 

Diabo

 

 

Eu queria tanto me tornar casto,

que decidi imitar os Pais do Deserto.1

 

 

Macaco

Eu sou santo, santo, santo,
de marré, marré, marré...
O diabo não me tenta,
de marré, marré, deci.

Vou pro céu, pro céu, pro céu,
de marré, marré, marré...
São Longuinho me protege,
de marré, marré, deci.

 

Eu queria tanto me salvar,

que me tornei religioso.

Eu queria tanto demonstrar minha fé,

que peregrinei à Terra Santa.

Eu queria tanto reforçar minha fé,

que fiz o Exercício da Via Sacra.

Eu queria tanto zerar os feitiços,

que, ajoelhado, rezei o Kyrie 165 vezes.

Eu queria tanto ir para o céu,

que fiz alguns negócios com Zeus.

Eu queria tanto agradar a Zeus,

que virei um cara bem-comportado.

Eu queria tanto obstar a tentação,

que decidi me tornar eremita.

Eu queria tanto não mais 'pecar',

que resolvi virar celibatário.

Eu queria tanto dominar os diabos,

que jejuei e me abstive por 77 anos.

Eu queria tanto pagar pelos meus erros,

que me automartirizei diariamente.

Eu queria tanto escapar do inferno,

que passei a comungar todos os dias.

Eu queria tanto não visitar o purgatório,

que comprei algumas indulgências.

Eu queria tanto melhorar de vida,

que quadrupliquei o dízimo.

Eu queria tanto ser abençoado,

que preguei a palavra de Zeus.

Eu queria tanto ser um soldado de Zeus,

que condenei a homossexualidade.

Eu queria tanto fazer a obra de Zeus,

que proscrevi todos os melancias.

Eu queria tanto concretizar a obra de Zeus,

que persegui todos os heresiarcas.

Eu queria tanto ver um milagre,

que, de mala e cuia, fui para o deserto.

Eu queria tanto louvar todos os Santos,

que cantei a Litaniæ Sanctorum.

Christe,
audi nos!
Christe,
exaudi nos!
Pater de Cælis, Deus,
miserere nobis!
Sancte Antoni,
ora pro nobis!
Omnes Sancti et Sanctæ Dei,
intercedite pro nobis!
Omnes Sancti Apostoli et Evangelistæ,
orate pro nobis!
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
parce nobis, Domine!

Eu queria tanto ser arrebatado,

que, sentado, confiei e aguardei.

Eu queria tanto confirmar tudo isto,

que executei a Grande Promessa.

E fui ficando velhinho e gagá...

E foi chegando a Hora de embarcar...

 

 

Velhinho e Gagá

 

 

E, um belo dia, botei o paletó de madeira,

e fui dançar noutra freguesia.

E não é que, do lado de lá,

tudo se mostrou tão diferente!

Nada do que me ensinaram era verdade.

Céu? Zeus? Necas de pitibiriba!

Ainda bem que, lá, tiveram paciência comigo.

Mas, foram séculos para ordenar a minha cuca.

Eu só espero, quando eu retornar,

não me esquecer do que estou vendo aqui.

Então, vou 'dar grátis' um conselho:

vocês, que ainda estão vivos,

tratem logo de se mancar,

para não ficarem, como eu, no Plano Astral

– que nem Leucophæa maderæ tonta

a andar por ceca e meca e olivais de Santarém,

buscando uma equiparação que não existe.

Isto nem São Longuinho resolve!

 

 

 

 Leucophæa maderæ

Leucophæa maderæ Tontinha da Silva

 

 

 

_____

Nota:

1. Os Padres do Deserto ou Pais do Deserto foram eremitas, ascetas, monges e freiras que viviam majoritariamente no deserto da Nítria (Escetes), no Egito a partir do século III. O mais conhecido deles foi Santo Antão ou Santo Antônio, o Grande, (251 – 356), que se mudou para o deserto em 270 ou 271, e se tornou conhecido tanto como o pai quanto como o fundador do monasticismo no deserto. Quando Antão morreu, em 356, milhares de monges e freiras haviam sido atraídos para a vida no deserto, seguindo o exemplo do grande santo. Seu biógrafo, o Doutor da Igreja Atanásio de Alexandria (328 – 373), escreveu que o deserto havia se tornado uma cidade. Os Padres do Deserto tiveram uma enorme influência no desenvolvimento do Cristianismo primitivo. As comunidades monásticas do deserto, que cresceram destes encontros informais de monges eremitas, se tornaram o modelo para o monasticismo cristão. A tradição monástica oriental, representada em Monte Atos, e ocidental, sob a Regra de São Bento, foram ambas fortemente influenciadas pelas tradições iniciadas no deserto. Todos os renascimentos monásticos da Idade Média buscaram no deserto alguma inspiração e orientação. Muito da espiritualidade do Cristianismo Ortodoxo, incluindo o Movimento Hesicasta (um processo de retiro interior), tem as suas raízes nas práticas dos Padres do Deserto. Mesmo renascimentos religiosos mais modernos, como os Evangélicos Alemães, os Pietistas da Pensilvânia e o Renascimento Metodista na Inglaterra foram vistos por estudiosos atuais como tendo sido, em alguma medida, influenciados pelos Padres do Deserto.

 

 

Santo Antão

Santo Antão
(Por Francisco de Zurbarán)

 

 

Música de fundo:

Litaniæ Sanctorum

Fonte:

https://grincheux.typepad.com/weblog/2014/04/
mp3-semaine-17-litaniae-sanctorum.html

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Padres_do_Deserto

https://br.pinterest.com/pin/201184308331401501/

https://zohaibamjad251.wixsite.com

https://gifimage.net/monkey-animated-gif-8/

https://www.picgifs.com/alphabets/frogs-2

https://br.pinterest.com/pin/364017582363207926/

https://www.animatedimages.org

https://gfycat.com

https://gifer.com/en/gifs/bomb

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_
religions_and_spiritual_traditions

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.