ENTREVISTA COM O MUNDO CIVILIZADO

 

 

 

Bandeira do Haiti

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ter conquistado a independência em 1804, tendo se tornado a primeira nação independente da América Latina e do Caribe, e, hoje, ter um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tão baixo de 0,510 (170º)?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de a expectativa de vida no Haiti ser de apenas 60 anos?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, os serviços de saneamento ambiental serem destinados a menos da metade das residências?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, cerca de 60% dos habitantes serem subnutridos, o índice de analfabetismo ser de 38% e a taxa de mortalidade infantil ser de 62 para cada mil nascidos vivos?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

 

Haiti – Subnutrição

 

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ser o país mais pobre da América, medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de a violência política no Haiti ocorrer regular e sistematicamente ao longo da história do País, o que tem levado à instabilidade no Governo?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ter sido o primeiro país das Américas e, talvez, do mundo a abolir a escravidão, e ser tão pobre?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como foi possível o Haiti ter sobrevivido como nação, se, a partir de 1804, os escravocratas europeus e estadunidenses o mantiveram sob bloqueio comercial por 60 anos?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de François Duvalier, conhecido como Papa Doc, apoiado pelos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, tenha se tornado Presidente entre 1957 e 1971, quando morreu, e tenha instaurado uma feroz ditadura baseada no terror policial dos tontons macoutes (bichos-papões) sua guarda pessoal e na exploração do vodu, tendo, inclusive, exterminado a oposição e perseguido a Igreja Católica?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de no Haiti, com a morte de Papa Doc, em 1971, seu filho, Jean-Claude Duvalier o Baby Doc tenha assumido a presidência do País, dando prosseguimento ao mesmo estado de terror imposto por seu pai?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de haver tantas convulsões internas e tanta instabilidade política no Haiti, o que tem mantido a Economia destroçada?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti viver mergulhado em crises?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti continuar, até hoje, a se constituir em uma ameaça para a paz internacional e para a segurança na região?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o pouco interesse internacional com o terremoto de proporções catastróficas, com magnitude sísmica 7,3 na Escala de Richter, que atingiu o País a aproximadamente 22 quilômetros da capital, Porto Príncipe, em 12 de janeiro de 2010?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o recente assassinato do Presidente Jovenel Moïse, em sua casa, na madrugada de 7 de julho de 2021?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

 

Jovenel Moïse

 

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de as autoridades haitianas não combaterem a erosão do solo e o desmatamento, o que tem causado inundações periódicas graves no Haiti, como, por exemplo, a que ocorreu em 17 de setembro de 2004?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de milhões de haitianos viverem no exterior, como, por exemplo, nos Estados Unidos, na República Dominicana, em Cuba, no Canadá (principalmente em Montreal), nas Bahamas, na França, nas Antilhas Francesas, na Jamaica, em Porto Rico, na Venezuela, no Brasil e na Guiana Francesa?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, os mulatos, que compõem apenas 5% da população, mantenham uma preeminência na hierarquia política, econômica, social e cultural do País?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o sincretismo religioso entre o Catolicismo e o Vodu no Haiti?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, em sua história de 200 anos, que o Haiti tenha sofrido 32 golpes de Estado?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ter sido o único País do Hemisfério Ocidental que conseguiu ter uma revolução de escravos bem-sucedida, mas, com uma longa história de opressão por ditadores, como François Duvalier e seu filho Jean-Claude Duvalier?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti depender sobremodo das importações, o que tem minado a auto-suficiência econômica do País?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato, de acordo com um relatório do Índice de Percepção da Corrupção de 2006, que o Haiti tenha ficado em primeiro lugar entre todos os países pesquisados para os níveis de corrupção interna?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de a Cruz Vermelha Internacional, recentemente, ter informado que sete em cada dez haitianos vivam com menos de dois dólares por dia?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de Cité Soleil, a maior favela do País, na capital Porto Príncipe, com cerca de 500 mil habitantes, ter sido considerada, pela Organização das Nações Unidas, "o lugar mais perigoso da Terra"?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o World Factbook ter relatado uma escassez de mão-de-obra qualificada, desemprego generalizado e subemprego no País, dizendo que "mais de dois terços da força de trabalho não têm empregos formais"?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, desde 1990, ter havido 14 presidentes, mas, apenas 2 terem completado o mandato de cinco anos?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ser o país mais pobre do Hemisfério Ocidental, com 80% da população vivendo abaixo da linha da pobreza e 54% em extrema pobreza?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, a corrupção ser generalizada e a estrutura judicial continuar ineficiente?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Banco Mundial ter estimado que mais de 80% dos haitianos com ensino superior estarem vivendo no exterior em 2004 (fenômeno conhecido como fuga de cérebros)?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, os 1% mais ricos do País possuam quase metade da riqueza nacional?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de, no Haiti, que os turistas estrangeiros sejam vítimas de crimes violentos, incluindo assassinato e seqüestro, predominantemente na região de Porto Príncipe?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti, que regularmente participa dos Jogos Olímpicos desde 1900, tenha ganho apenas duas medalhas, em 1924 e 1928?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de a maioria dos cidadãos do Haiti não ter acesso ao sistema de saúde?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ser o único País das Américas sem vacinas contra a COVID-19, e, até agora, não ter vacinado um único habitante contra a PanCOVIDmia?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti ser o único País das Américas a não ter uma campanha de vacinação em andamento?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — O assassinato do Presidente Jovenel Moïse poderá anular as tentativas de o Haiti lidar concertadamente com a PanCOVIDmia-19?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor avalia a possibilidade de piora nas condições sociais e de segurança no Haiti por causa do aumento de casos de Coronavírus e a polarização cada vez maior da política haitiana?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de muitos haitianos acreditarem que COVID-19 não é real e que, se, de fato, for real, os haitianos são invulneráveis a ela?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

O entrevistador: — Como o senhor explica o fato de o Haiti, recentemente, em abril, ter recusado as 750.000 doses da vacina Oxford/AstraZeneca, oferecidas gratuitamente pelo Esquema COVAX, da OMS, para os países mais pobres?

O mundo civilizado: — Não interessa.

 

 

 

 

O entrevistador: — O que o senhor acha do fato de países como Haiti, que não acompanham o ritmo do esforço mundial de vacinação, comprometerem a efetividade do programa internacional de vacinação e a imunização global da Humanidade contra o Coronavírus?

O mundo civilizado: — Bem, isto, sim, é preocupante, e já interessa.

 

O entrevistador: — Enfim, que o senhor acha da necessidade de investir na força de trabalho em saúde, com a ampliação e o treinamento de médicos, enfermeiros, técnicos e de outras profissões da área, bem como em pesquisa no tema, laboratórios e em tecnologias de vigilância epidemiológica em saúde?

O mundo civilizado: — Isto também interessa. A todo custo, precisamos evitar que esses países desgraçados e miseráveis ponham a nossa segurança em risco. Acho até que todos eles e suas respectivas populações deveriam 'ser desaparecidos' do mapa. Essa gentalha desprezível é um perigo perigosíssimo para a nossa sobrevivência! Hitler tinha razão.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

La Dessalinienne (Hino Nacional do Haiti)
Compositores: Lhérisson Justin (letra) & Nicolas Geffrard (música)

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=9ZdzywaTRvg

 

Páginas da Internet consultadas:

https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/haiti.htm

https://allwavingflags.blogspot.com

https://www.eluniversal.com.mx

https://economia.culturamix.com

https://mapamundiorg.blogspot.com

https://www.opendemocracy.net/en/democraciaabierta/
haiti-assassination-president-vaccination/

https://noticias.r7.com/internacional/haiti-e-unico-pais-das
-americas-sem-vacinas-contra-a-covid-19-07072021

https://www.juruaonline.com.br/haiti-e-unico-pais-
das-americas-sem-vacinas-contra-a-covid-19/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Haiti

 

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