Basta
que um botão erre de casa para que o desencontro seja total.
Quem
me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra.
Como
se enganam os que dizem 'o que os olhos não vêem o coração
não sente'. Quem vê mesmo é o Coração.
O
amor é o perfume das almas.
Diante
do colar belo como um sonho admirei, sobretudo, o fio que unia as pedras
e se imolava anônimo para que todos fossem um.
(Grifo meu).
Um
dos meus anseios de chegar ao infinito é a esperança de que,
ao menos de lá, as paralelas se encontrem!
Temos
de entrar no Terceiro Milênio sentados à mesa, comendo, saudáveis,
fraternos e abrigados do frio, da chuva e do vento.
Mais
que no comum dos dias olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos
pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri Teu
rosto Cristo Ressuscitado!
Se
eu pudesse sairia silenciosamente
derramando dinheiro nos bolsos
dos pobres caídos de cansaço e de fome em bancos de jardins
abandonados. Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as noites
indormidas dos desesperados. Se eu pudesse – ah! se eu pudesse –
afugentaria da Terra a desconfiança que embacia os olhares mais claros
e torna turvos os horizontes mais limpos...
Para
te livrares de ti mesmo lança uma ponte por cima do abismo de solidão
que o teu egoísmo criou. Trata de ver, além de ti. Busca ouvir
alguém, e, sobretudo, tenta o esforço de Amar ao invés
de simplesmente amar...
As
pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no Coração.
Nunca
se deve temer a utopia. A utopia partilhada é a mola da História.
Quando
as ilhas souberam que para a imaginação humana representam
isolamento e egoísmo, pensaram em se ligar aos continentes. Raras
não vacilaram em continuar ilhas preferindo o juízo de Deus,
que as cercou de água por todos os lados ao mutável e caprichoso
juízo humano...
A
fome dos outros condena a civilização dos que não têm
fome.
A
América Latina é a parte cristã do mundo subdesenvolvido.
Por isso, temos uma responsabilidade dobrada: em relação a
nossos irmãos cristãos dos países da opulência,
o amor ao próximo nos coloca a tarefa de arrancá-los do egoísmo,
do materialismo prático, do perigo de se tornarem um escândalo
para nossos irmãos não-cristãos, de lhes dar uma idéia
totalmente falsa de Cristo e sua doutrina. E aqui, na América Latina,
nos cabe experimentar uma nova dimensão de desenvolvimento humano,
um caminho para libertar-nos da miséria sub-humana, sem cair na desumanidade
do superconforto e do superluxo. Temos que aprender e ensinar que abundância
de bens não é sinônimo de excesso de bens.
Se
eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto porque
os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista.
Gostaria
de ser uma simples poça d’água para refletir o céu.
A
única guerra legítima é aquela que se declara contra
o subdesenvolvimento e a miséria.
Suporta
que a pá do arado te rasgue,
quando rasgar profundos sulcos
para a sementeira.
Se não o aceitares,
permanecerás estéril
como o coração do ser humano.
Ultrapassa-te
a ti mesmo a cada dia, a cada instante... Não por vaidade, mas para
corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre
mais e sempre melhor para a construção do Mundo.
Parei
e recolhi, tomado de respeito, o pedaço de pão que encontrei
na rua. Depois da Eucaristia pão e trigo, vinho e uva, são
convites à ação de graças, que encherá
a eternidade.
Na
pobreza, existe apenas o indispensável, mas existe. Na miséria,
nem o indispensável existe.
Pobreza
é suportável, mas miséria é um acinte à
natureza humana.
É
bom que ninguém se iluda, que ninguém aja de maneira ingênua:
quem escuta a voz de Deus e faz sua opção interior, e arranca-se,
e parte para lutar pacificamente por um mundo mais justo e mais humano,
não pense que vai encontrar caminho fácil, pétalas
de rosas debaixo dos pés, multidões à escuta, aplausos
por toda a parte e, permanentemente, como proteção decisiva,
a Mão de Deus. Quem se arranca de si mesmo e parte como peregrino
da justiça e da paz, prepare-se para enfrentar desertos.
Não
creias na arrogância. Não te impressiona saber que o mais anônimo
dos átomos tem poder capaz de arrasar cidades? No entanto, repara
como se apagam e se escondem, como se nada fossem, nada valessem, nada pudessem...
Melhor
do que o pão é a sua partilha, sua divisão!
O
mar tem fama de grande, de ser quase infinito. As praias, sem alarde, são
maiores do que o mar a ponto de envolvê-lo e de abrigá-lo.
É
jovem quem tem uma razão para viver.
Ter
ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda
sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter
um companheiro, mas sim uma sombra de si mesmo.
Certa
noite, familiares aflitos de um homem que havia sido preso injustamente
e estava sendo espancado na delegacia procuraram
Dom Helder. O prelado imediatamente ligou para o delegado: — Aqui
é Dom Helder. Está preso aí o meu irmão. O
policial levou um susto: — Seu irmão, eminência?
Dom Helder explicou: — Apesar da diferença de nomes,
somos filhos do mesmo pai. O delegado desmanchou-se em desculpas e
mandou soltar o preso 'irmão' do arcebispo.
Sou
a voz dos que não a têm.
Mais
importante do que escutar as palavras é adivinhar as angústias,
sondar o mistério e escutar o silêncio.
Os
comunistas que apoiavam João Goulart tinham as bandeiras certas,
mas carregavam-nas em mãos erradas.
Em
1965, o general José Carlos Murici, comandante do 4º Exército,
procurou Dom Helder à paisana. Eles haviam se conhecido no Rio.
— Brasília quer que o senhor celebre a Missa de Ação
de Graças pelo 7 de Setembro — disse o general.
—
Quem pede: o general ou o amigo? — quis saber Dom Helder.
— Se for o general, avise-o que não celebro.
Murici
saiu. Voltou horas depois. Fardado.
—
Senhor arcebispo, o comando das Forças Armadas convida-o a celebrar
a missa de 7 de Setembro.
—
Senhor general, diga a seus superiores que o arcebispo não rezará
a missa — respondeu Dom Helder.
Murici
não se rendeu. Regressou pouco depois, novamente à paisana.
— Meu caro Helder, o general está furioso com você e
quer vir aqui obrigá-lo a rezar a missa — ponderou.
— Diga a seu general que ele precisa comer muito feijão
para obrigar o arcebispo a fazer isso — replicou Dom Helder.
E não celebrou a missa. Também não ganhou o Prêmio
Nobel. A Revolução não deixou!
Durante
o Concílio [Concílio
Vaticano II, 1962-5], acreditei ter compreendido bem o que era realmente
a Igreja dos pobres. Depois dele, quando as circunstâncias me fizeram
perder a palavra, a reputação e até quase meu próprio
nome, foi que percebi ser a pobreza uma coisa bem distinta de uma cruz de
madeira ou de uma casinha modesta. Jamais chegaremos a nos converter completamente
ao Cristo, que está presente entre os pobres, ou a compreender o
que São João Crisóstomo quis dizer quando escreveu
esta frase: ‘Os pobres são nossos mestres’.
Sem
qualquer espírito sectário, continuo a afirmar que o presidente
Castello Branco está atento às angústias do povo nos
seus planos de reforma democrática.
Pode
ser que consigamos convencer os militares que torturar não mata idéias,
e que o terror é insuficiente para a manutenção da
ordem. Precisamos tentar convencê-los. Eu continuo tentando.
Estamos
no século da publicidade. Não vacilo em aproveitar as chances
que a imprensa me oferece e trato de veicular as mensagens que carrego comigo.
As
notícias sempre marcam e, uma vez impressas, repercutem com a velocidade
de um foguete, e se espalham qual um rio que transborda invadindo as margens.
Em
sua própria avaliação, o Arcebispo considerava que
tinha sob seu controle a situação política na Arquidiocese:
Restrição mesmo só de uma ala extremada e radical.
Mas restrição discretíssima, mesmo porque, além
dos pequenos e humildes, tenho os industriais (que me têm como pioneiro
do desenvolvimento), os comerciantes, os intelectuais e o grosso das famílias
grã-finas, confidenciou em uma correspondência.
General Muricy, até
quando a Revolução pretende manter os jovens em estado de
frustração generalizada?
Não
sei de onde partem os gestos insensatos, absurdos e contraproducentes de
terrorismo... Tenho horror a qualquer tipo de guerra. Tenho mais que horror
às guerrilhas, que me parecem essencialmente traiçoeiras e
anti-cristãs.
Desde
que a discordância não seja sistemática e proposital,
que seja fruto de visão diferente, a partir de ângulos novos,
importa de fato em enriquecimento.
Quando
era Arcebispo de Olinda, Dom Helder um dia recebeu
um grupo de fiéis, que, chorando muito, lhe contaram que eles haviam
encontrado hóstias consagradas atiradas na lama. Pediram-lhe, então,
para celebrar uma missa em reparação. Ele aceitou, mas durante
a missa, lhes disse: — Meus irmãos: como nós somos
cegos! A descoberta das hóstias consagradas na lama vos transtornou.
Mas o Cristo na lama, no meio de vós, é um fenômeno
de todos os dias. Nós reencontramos Jesus Cristo diariamente nos
Cortiços sub-humanos!
Há
muito tempo percebi que a contradição ajuda mais do que o
elogio. Ela encoraja a humildade, sem a qual não se dá um
passo no caminho traçado por Nosso Senhor. Precisamos entender a
contradição como uma vacina contra o orgulho. Temos que aceitar
a calúnia – e principalmente a calúnia à qual
não possamos responder – como uma das maneiras de que o Senhor
lança mão para nos estimular a ir mais longe e mais fundo
nessa busca da pobreza.
Na
humildade e na pobreza só nos restará nos colocarmos à
disposição do Senhor para que, com a inteligência, a
sabedoria, a força e a prudência que Ele nos transmitiu com
Seu Espírito, Ele convença nossos contraditores de seus próprios
equívocos e faça com que se calem nossos caluniadores. Como
todos vocês bem sabem, o Senhor é sempre capaz das mais surpreendentes
maravilhas!
Na
madrugada de 25 de outubro de 1968, sua residência, por trás
da Igreja das Fronteiras, foi atacada por homens armados com metralhadoras.
Na ocasião, afirmou para os jornais: — Não me apavoro
e ninguém mudará minha maneira de agir.
Se
é verdade que a criatura média não tem vocação
para o heroísmo – no sentido de afrontar riscos e desafiar
martírios – é
também verdade que ela vive heroísmos anônimos, sacrifícios
de todo dia e de cada instante.
Marchar
por marchar não é ainda verdadeiramente Caminhar.
É urgente evitar que os jovens
se convençam de que a Igreja é mestra em preparar grandes
textos e sonoras conclusões sem a coragem de levá-los à
prática.
Não
há paz sem justiça; e se não há justiça
em escala mundial, não haverá paz em escala mundial.
Para
o pobre há apenas o indispensável para viver. Nada mais. Mas
para o miserável não há nem mesmo o indispensável.
O
mais grave não é mudar de pensamento. Pior é não
ter pensamento para mudar.
Em
tempos de censura, os jornalistas eram seus aliados. Como sempre, ele foi
acusado de viver cercado de muitas mulheres; brincavam, inclusive, que ele
preferia as jornalistas, e ele não negava isso. Certa vez
contou a seguinte piada sobre si mesmo. Disse que havia sonhado
com sua morte. No sonho, ele chega à porta do céu. São
Pedro o reconhece e lhe abre a porta, dizendo:
—
Pode entrar, Dom Helder. A casa é sua.
Ele
não se move e São Pedro pergunta:
— Por que não entra?
Dom
Helder olha em volta e responde: — Mas, eu não estou vendo
a imprensa. Vou esperar que cheguem os jornalistas.
É
graça divina começar bem. Graça maior é persistir
na caminhada certa. Mas a graça das graças é não
desistir nunca.
Seja
qual for sua condição de vida, pense em si e nos seus, mas
se torne incapaz de se fechar no círculo estreito de sua pequena
família. Adote de vez a família humana... Que nenhum problema
de nenhum povo lhe seja indiferente. Vibre com as alegrias e as esperanças
de qualquer grupo humano. Adote como seus os sofrimentos e as humilhações
de seus irmãos de Humanidade.
Gosto
de pássaros que se enamoram das estrelas e caem de cansaço
ao voarem em busca da luz...
Em
suas memórias, consta que, nos finais da década de 50, o presidente
Juscelino Kubitschek pensou em fazer de Dom Helder o primeiro prefeito de
Brasília, a futura capital, ou, se ele preferisse, governador do
Rio de Janeiro. Dom Helder lhe respondeu:
— É um convite tentador, senhor presidente. Mas, se eu aceitar
ser um funcionário seu, o senhor e eu perdemos. Eu não terei
mais liberdade para criticá-lo fraternalmente e o Senhor perderá
a possibilidade de ouvir quem o critique de modo fraterno, mas livre.
Qualquer
pessoa que o visitava percebia que ele sempre fazia questão de interromper
a conversa quantas vezes batessem na porta. Ele mesmo ia, pessoalmente,
atender. Um dia, lhe perguntaram por que agia daquela forma. Dom Helder
respondeu:
—
Pode
ser um pobre que está à porta e eu não quero perder
o privilégio de eu mesmo atendê-lo.
As
religiões devem dialogar e caminhar juntas para serem a consciência
ética da Humanidade e o grito pacífico dos empobrecidos.
Se
você concorda comigo, confirma que estou no caminho correto; mas se
discorda de mim, você me ajuda mais porque me faz rever minha posição
e aprofundá-la.
Para cumprir a missão sagrada/de
levar a paz,/vôo de qualquer maneira,/em qualquer direção,/com
vento ou sem vento,/com força ou sem força,/ até cair,/até
morrer...
Sempre
que procura defender os sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de
fazer política.
Todas
as revoluções não são obrigatoriamente boas,
mas a história mostra que algumas eram necessárias e produziram
bons frutos.
Quando
a Humanidade corre o risco de ser devorada pela violência e pelo ódio,
não temos o direito de acalentar ilusões, de nos tranqüilizarmos
com pseudo-soluções que têm o grave inconveniente de
desviar a nossa atenção das soluções difíceis
e árduas, mas talvez as únicas verdadeiras.
O
Ceará me preparou para o Rio, e o Rio me preparou para o
Recife.
Não
devemos ter medo de ser apenas uma gota d’água. É a
reunião das gotas que põe em movimento os riachos, os rios,
os oceanos, e temos que levar em conta o fato de que as nascentes não
reúnem um grande número delas.
Não
devemos temer por nossa impotência diante da força todo-poderosa
dos capitães da indústria, dos financistas e dos governos.
Eles passam; os povos ficam. Um dia se darão conta de que não
podem ignorar o que verdadeiramente interessa ao povo. É óbvio
que não poderemos esperar tanto nos regimes ditatoriais, o que vale
dizer da necessidade de lutar sempre contra as ditaduras para acelerar a
marcha das idéias.
Não
devemos ter medo de passar por ingênuos diante dos sábios e
dos especialistas. O que são eles senão ingênuos que
se dedicaram ao estudo e à pesquisa? Foi o que lhes permitiu elaborar
e propor teorias. Mas convém refletir que não é indispensável
formular teorias para conceber e praticar a justiça e a solidariedade.
Em Lech Walesa ou em Madre Teresa, os ingênuos do mundo inteiro encontrarão
modelos de audácia inventiva, generosa e descomplexada.
Feliz
de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.
Partir
é, antes e tudo, sair de si. Partir, mais do que devorar estradas,
cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se
aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro. Partir é não
rodar apenas em volta dos problemas das instituições a que
se pertence. Por mais importantes que as instituições sejam,
maior é a Humanidade a quem nos cabe servir.
Sonho
com uma autêntica integração latino-americana sem imperialismos
de fora nem imperialismos de dentro.
Rio
de Janeiro, 27 de julho de 2006
Páginas
Web e Websites consultados:
http://www.domhelder.com.br/
http://www.domhelder.org.br/Default.htm
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia
/cenasdoseculo/nacionais/heldercamara.htm
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http://www.torturanuncamais.org.br/mtnm_mil/
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mil_home_domhelder_epoca.htm
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Barros%201%20portugu%E9s.htm
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Música
de fundo:
Night
And Day (Cole Porter)
Fonte:
http://www.midinet.com.br/