Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Dom Helder Câmara, entre os brasileiros, tem fama no exterior só comparável ao rei Pelé. Durante a ditadura militar de 64, a polícia federal se viu obrigada a lhe oferecer segurança, pois Brasília temia que o 'Bispo Vermelho' pudesse sofrer um atentado. Mas Dom Helder recusou e disse aos policiais: — Não preciso dos senhores. Já tenho quem cuide da minha segurança. Os agentes pediram os nomes. Precisavam registrá-los nos órgãos oficiais. O Bispo não se fez de rogado. — São o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

 

 

Introdução

 

Este despretensioso trabalho pretende recordar alguns fatos pitorescos da vida de Dom Helder Câmara e apresentar alguns de seus melhores pensamentos (editados, mas não-adulterados). Apesar de, em pequeno, eu ter sido educado na fé católica, há mais ou menos quarenta anos me desvinculei da Igreja Católica para Peregrinar por outros Caminhos. Em 1969, desiludido com todas as religiões, fui admitido como neófito da Ordem Rosacruz AMORC e ali encontrei o que estava buscando. Contudo, não renego meus anos verdes no seio do Catolicismo, mas, muito sinceramente, discordo quase que integralmente de seus dogmas e de sua doutrina. Para mim, o Catolicismo contemporâneo tornou-se um triste arremedo do Cristianismo primitivo e jogou no lixo as doutrinas esotérico-gnósticas do Crucificado. Jesus, por exemplo, nunca disse que era Deus ou que era o Filho dileto de Deus. E o limbo, o purgatório, o céu, o inferno, o celibato, os escapulários, as indulgências vendidas, a confissão auricular e outras mumunhas mais são invencionices seculares que só interessam à poderosa Cúria, para que o poder temporal seja mantido a qualquer preço. Em uma palavra: cabresto. Mas como afirmei acima, não renego meus anos verdes no seio do Catolicismo, porque, inclusive, quando pequeno, fabriquei um Catolicismo pessoal e heterodoxo, contudo extremamente moral e elevado.

Mas não posso deixar de admitir que a religião Católica teve seus efeitos sobre mim e que, randomicamente, produziu homens extraordinários e verdadeiros Santos. Um desses homens extraordinários foi, sem dúvida, Dom Helder Câmara – ordenado sacerdote aos 22 anos de idade, no dia 15 de agosto de 1931 – que muito contribuiu para melhorar as condições de vida do ser humano, nomeadamente no Brasil.

O primeiro título que Dom Helder recebeu foi em uma igreja do Engenho Novo, na cidade do Rio de Janeiro, pois quando o velho pároco referiu-se a ele chamando-o de 'o Doutor Padre Helder', ele disse baixinho: — Eu não sou doutor. O pároco, então, resolveu informar os fiéis o cochicho recebido: — Ele disse que não é doutor. Lá do meio do povo, um homem alto, escuro, muito forte, bradou: — É doutor, é doutor, é doutor! Depois, ao longo de sua vida, recebeu dezenas de títulos de doutor honoris causa e outros tantos títulos de cidadania. Mas, isso importa pouco, se importar alguma coisa. O que importa mesmo foi sua profunda consciência dos problemas da Humanidade, tendo sua vida, sua pregação e seu pastoreio sido dedicados inteiramente à defesa intransigente dos direitos inalienáveis dos homens e das mulheres. Por causa disso, por muito pouco a Revolução de 64 não fez dele um mártir! Certa vez, disse Dom Helder: — Se eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto porque os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista. Mas, o fato é que, inicialmente, cerrou fileiras junto aos opositores do governo 'janguista-esquerdista-sindicalista' e apoiou os articuladores do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart. Deposto Jango, Dom Helder não demorou em aderir à resistência democrática, tornando-se adversário implacável da ditadura, denunciando, inclusive, a ocorrência de torturas nos porões sombrios e fedorentos do regime militar. Eu mesmo, na ignorância dos meus dezoito anos incompletos, apoiei o golpe, mas em menos de um ano passei a ter horror da ditadura que se instalara no Brasil. Não me envergonho de confessar isso porque não me envergonho de minha ignorância. Tenho vergonha, sim, da falta de força interior para dominar antigos pequenos defeitos. Mas, como eu só tenho sessenta anos, não desisto! O pior é fingir uma coisa e ser outra.

O Papa Paulo VI, muito amigo de Dom Helder, costumava dizer: — Dom Helder é meu bispo vermelho. Indicado algumas vezes para o Prêmio Nobel da Paz, o regime militar impediu que o Prêmio lhe fosse outorgado, estimulando, inclusive, cruel e indecentemente a difusão entre os integrantes do Conselho do Nobel histórias infamantes [e mentirosas] sobre o arcebispo.

Epílogo: como divertidamente escreveram Ana Maria Tahan e Débora Crivellaro, Dom Helder morreu [em 1999] convencido de que fizera o suficiente para passar à eternidade sentado à esquerda do Pai. Alguém discorda?

 

 

Pensamentos e Momentos de
Dom Helder Câmara


 

Preciso levar aos homens o ramo de oliveira que o Senhor Deus me confiou!

Mesmo que a maior angústia te visite e te acompanhe, não deixes que ela se reflita em teu rosto. O mundo agitado e triste precisa que leves contigo tua paz e tua alegria.

Voarei a qualquer preço...

Quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade.

Que importa que eu seja uma choupana se mora em meu barraco a Santíssima Trindade?

Só as grandes humilhações nos levam ao recesso último de nós mesmos, lá onde as fontes interiores nos banham de luz, de alegria e de paz.

Nenhum de nós pode programar a vida como linha reta imutável, inflexível... A cada instante as surpresas rebentam e temos que ter humildade e imaginação criadora para ir salvando o essencial através do inesperado de cada instante...

 

 

Basta que um botão erre de casa para que o desencontro seja total.

Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra.

Como se enganam os que dizem 'o que os olhos não vêem o coração não sente'. Quem vê mesmo é o Coração.

O amor é o perfume das almas.

Diante do colar belo como um sonho admirei, sobretudo, o fio que unia as pedras e se imolava anônimo para que todos fossem um. (Grifo meu).

Um dos meus anseios de chegar ao infinito é a esperança de que, ao menos de lá, as paralelas se encontrem!

 

 

 

 

Temos de entrar no Terceiro Milênio sentados à mesa, comendo, saudáveis, fraternos e abrigados do frio, da chuva e do vento.

Mais que no comum dos dias olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri Teu rosto Cristo Ressuscitado!

Se eu pudesse sairia silenciosamente derramando dinheiro nos bolsos dos pobres caídos de cansaço e de fome em bancos de jardins abandonados. Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as noites indormidas dos desesperados. Se eu pudesse – ah! se eu pudesse afugentaria da Terra a desconfiança que embacia os olhares mais claros e torna turvos os horizontes mais limpos...

Para te livrares de ti mesmo lança uma ponte por cima do abismo de solidão que o teu egoísmo criou. Trata de ver, além de ti. Busca ouvir alguém, e, sobretudo, tenta o esforço de Amar ao invés de simplesmente amar...

 

 

As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no Coração.

Nunca se deve temer a utopia. A utopia partilhada é a mola da História.

Quando as ilhas souberam que para a imaginação humana representam isolamento e egoísmo, pensaram em se ligar aos continentes. Raras não vacilaram em continuar ilhas preferindo o juízo de Deus, que as cercou de água por todos os lados ao mutável e caprichoso juízo humano...

A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome.

A América Latina é a parte cristã do mundo subdesenvolvido. Por isso, temos uma responsabilidade dobrada: em relação a nossos irmãos cristãos dos países da opulência, o amor ao próximo nos coloca a tarefa de arrancá-los do egoísmo, do materialismo prático, do perigo de se tornarem um escândalo para nossos irmãos não-cristãos, de lhes dar uma idéia totalmente falsa de Cristo e sua doutrina. E aqui, na América Latina, nos cabe experimentar uma nova dimensão de desenvolvimento humano, um caminho para libertar-nos da miséria sub-humana, sem cair na desumanidade do superconforto e do superluxo. Temos que aprender e ensinar que abundância de bens não é sinônimo de excesso de bens.

Se eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto porque os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista.

Gostaria de ser uma simples poça d’água para refletir o céu.

 

 

A única guerra legítima é aquela que se declara contra o subdesenvolvimento e a miséria.

Suporta que a pá do arado te rasgue,
quando rasgar profundos sulcos
para a sementeira.
Se não o aceitares,
permanecerás estéril
como o coração do ser humano.

Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante... Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor para a construção do Mundo.

Parei e recolhi, tomado de respeito, o pedaço de pão que encontrei na rua. Depois da Eucaristia pão e trigo, vinho e uva, são convites à ação de graças, que encherá a eternidade.

Na pobreza, existe apenas o indispensável, mas existe. Na miséria, nem o indispensável existe.

Pobreza é suportável, mas miséria é um acinte à natureza humana.

É bom que ninguém se iluda, que ninguém aja de maneira ingênua: quem escuta a voz de Deus e faz sua opção interior, e arranca-se, e parte para lutar pacificamente por um mundo mais justo e mais humano, não pense que vai encontrar caminho fácil, pétalas de rosas debaixo dos pés, multidões à escuta, aplausos por toda a parte e, permanentemente, como proteção decisiva, a Mão de Deus. Quem se arranca de si mesmo e parte como peregrino da justiça e da paz, prepare-se para enfrentar desertos.

Não creias na arrogância. Não te impressiona saber que o mais anônimo dos átomos tem poder capaz de arrasar cidades? No entanto, repara como se apagam e se escondem, como se nada fossem, nada valessem, nada pudessem...

 

 

 

Melhor do que o pão é a sua partilha, sua divisão!

O mar tem fama de grande, de ser quase infinito. As praias, sem alarde, são maiores do que o mar a ponto de envolvê-lo e de abrigá-lo.

É jovem quem tem uma razão para viver.

Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um companheiro, mas sim uma sombra de si mesmo.

Certa noite, familiares aflitos de um homem que havia sido preso injustamente e estava sendo espancado na delegacia procuraram Dom Helder. O prelado imediatamente ligou para o delegado: — Aqui é Dom Helder. Está preso aí o meu irmão. O policial levou um susto: — Seu irmão, eminência? Dom Helder explicou: — Apesar da diferença de nomes, somos filhos do mesmo pai. O delegado desmanchou-se em desculpas e mandou soltar o preso 'irmão' do arcebispo.

Sou a voz dos que não a têm.

Mais importante do que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério e escutar o silêncio.

Os comunistas que apoiavam João Goulart tinham as bandeiras certas, mas carregavam-nas em mãos erradas.

Em 1965, o general José Carlos Murici, comandante do 4º Exército, procurou Dom Helder à paisana. Eles haviam se conhecido no Rio.

— Brasília quer que o senhor celebre a Missa de Ação de Graças pelo 7 de Setembro — disse o general.

— Quem pede: o general ou o amigo? — quis saber Dom Helder. — Se for o general, avise-o que não celebro.

Murici saiu. Voltou horas depois. Fardado.

— Senhor arcebispo, o comando das Forças Armadas convida-o a celebrar a missa de 7 de Setembro.

— Senhor general, diga a seus superiores que o arcebispo não rezará a missa — respondeu Dom Helder.

Murici não se rendeu. Regressou pouco depois, novamente à paisana.

— Meu caro Helder, o general está furioso com você e quer vir aqui obrigá-lo a rezar a missa — ponderou.

Diga a seu general que ele precisa comer muito feijão para obrigar o arcebispo a fazer isso — replicou Dom Helder. E não celebrou a missa. Também não ganhou o Prêmio Nobel. A Revolução não deixou!

Durante o Concílio [Concílio Vaticano II, 1962-5], acreditei ter compreendido bem o que era realmente a Igreja dos pobres. Depois dele, quando as circunstâncias me fizeram perder a palavra, a reputação e até quase meu próprio nome, foi que percebi ser a pobreza uma coisa bem distinta de uma cruz de madeira ou de uma casinha modesta. Jamais chegaremos a nos converter completamente ao Cristo, que está presente entre os pobres, ou a compreender o que São João Crisóstomo quis dizer quando escreveu esta frase: ‘Os pobres são nossos mestres’.

Sem qualquer espírito sectário, continuo a afirmar que o presidente Castello Branco está atento às angústias do povo nos seus planos de reforma democrática.

Pode ser que consigamos convencer os militares que torturar não mata idéias, e que o terror é insuficiente para a manutenção da ordem. Precisamos tentar convencê-los. Eu continuo tentando.

Estamos no século da publicidade. Não vacilo em aproveitar as chances que a imprensa me oferece e trato de veicular as mensagens que carrego comigo.

As notícias sempre marcam e, uma vez impressas, repercutem com a velocidade de um foguete, e se espalham qual um rio que transborda invadindo as margens.

Em sua própria avaliação, o Arcebispo considerava que tinha sob seu controle a situação política na Arquidiocese: Restrição mesmo só de uma ala extremada e radical. Mas restrição discretíssima, mesmo porque, além dos pequenos e humildes, tenho os industriais (que me têm como pioneiro do desenvolvimento), os comerciantes, os intelectuais e o grosso das famílias grã-finas, confidenciou em uma correspondência.

General Muricy, até quando a Revolução pretende manter os jovens em estado de frustração generalizada?

Não sei de onde partem os gestos insensatos, absurdos e contraproducentes de terrorismo... Tenho horror a qualquer tipo de guerra. Tenho mais que horror às guerrilhas, que me parecem essencialmente traiçoeiras e anti-cristãs.

Desde que a discordância não seja sistemática e proposital, que seja fruto de visão diferente, a partir de ângulos novos, importa de fato em enriquecimento.

Quando era Arcebispo de Olinda, Dom Helder um dia recebeu um grupo de fiéis, que, chorando muito, lhe contaram que eles haviam encontrado hóstias consagradas atiradas na lama. Pediram-lhe, então, para celebrar uma missa em reparação. Ele aceitou, mas durante a missa, lhes disse: — Meus irmãos: como nós somos cegos! A descoberta das hóstias consagradas na lama vos transtornou. Mas o Cristo na lama, no meio de vós, é um fenômeno de todos os dias. Nós reencontramos Jesus Cristo diariamente nos Cortiços sub-humanos!

Há muito tempo percebi que a contradição ajuda mais do que o elogio. Ela encoraja a humildade, sem a qual não se dá um passo no caminho traçado por Nosso Senhor. Precisamos entender a contradição como uma vacina contra o orgulho. Temos que aceitar a calúnia – e principalmente a calúnia à qual não possamos responder – como uma das maneiras de que o Senhor lança mão para nos estimular a ir mais longe e mais fundo nessa busca da pobreza.

Na humildade e na pobreza só nos restará nos colocarmos à disposição do Senhor para que, com a inteligência, a sabedoria, a força e a prudência que Ele nos transmitiu com Seu Espírito, Ele convença nossos contraditores de seus próprios equívocos e faça com que se calem nossos caluniadores. Como todos vocês bem sabem, o Senhor é sempre capaz das mais surpreendentes maravilhas!

Na madrugada de 25 de outubro de 1968, sua residência, por trás da Igreja das Fronteiras, foi atacada por homens armados com metralhadoras. Na ocasião, afirmou para os jornais: — Não me apavoro e ninguém mudará minha maneira de agir.

Se é verdade que a criatura média não tem vocação para o heroísmo – no sentido de afrontar riscos e desafiar martírios – é também verdade que ela vive heroísmos anônimos, sacrifícios de todo dia e de cada instante.

Marchar por marchar não é ainda verdadeiramente Caminhar.

É urgente evitar que os jovens se convençam de que a Igreja é mestra em preparar grandes textos e sonoras conclusões sem a coragem de levá-los à prática.

Não há paz sem justiça; e se não há justiça em escala mundial, não haverá paz em escala mundial.

Para o pobre há apenas o indispensável para viver. Nada mais. Mas para o miserável não há nem mesmo o indispensável.

O mais grave não é mudar de pensamento. Pior é não ter pensamento para mudar.

Em tempos de censura, os jornalistas eram seus aliados. Como sempre, ele foi acusado de viver cercado de muitas mulheres; brincavam, inclusive, que ele preferia as jornalistas, e ele não negava isso. Certa vez contou a seguinte piada sobre si mesmo. Disse que havia sonhado com sua morte. No sonho, ele chega à porta do céu. São Pedro o reconhece e lhe abre a porta, dizendo:

— Pode entrar, Dom Helder. A casa é sua.

Ele não se move e São Pedro pergunta:

— Por que não entra?

Dom Helder olha em volta e responde: — Mas, eu não estou vendo a imprensa. Vou esperar que cheguem os jornalistas.

É graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas a graça das graças é não desistir nunca.

Seja qual for sua condição de vida, pense em si e nos seus, mas se torne incapaz de se fechar no círculo estreito de sua pequena família. Adote de vez a família humana... Que nenhum problema de nenhum povo lhe seja indiferente. Vibre com as alegrias e as esperanças de qualquer grupo humano. Adote como seus os sofrimentos e as humilhações de seus irmãos de Humanidade.

Gosto de pássaros que se enamoram das estrelas e caem de cansaço ao voarem em busca da luz...

Em suas memórias, consta que, nos finais da década de 50, o presidente Juscelino Kubitschek pensou em fazer de Dom Helder o primeiro prefeito de Brasília, a futura capital, ou, se ele preferisse, governador do Rio de Janeiro. Dom Helder lhe respondeu:

— É um convite tentador, senhor presidente. Mas, se eu aceitar ser um funcionário seu, o senhor e eu perdemos. Eu não terei mais liberdade para criticá-lo fraternalmente e o Senhor perderá a possibilidade de ouvir quem o critique de modo fraterno, mas livre.

Qualquer pessoa que o visitava percebia que ele sempre fazia questão de interromper a conversa quantas vezes batessem na porta. Ele mesmo ia, pessoalmente, atender. Um dia, lhe perguntaram por que agia daquela forma. Dom Helder respondeu:

Pode ser um pobre que está à porta e eu não quero perder o privilégio de eu mesmo atendê-lo.

As religiões devem dialogar e caminhar juntas para serem a consciência ética da Humanidade e o grito pacífico dos empobrecidos.

Se você concorda comigo, confirma que estou no caminho correto; mas se discorda de mim, você me ajuda mais porque me faz rever minha posição e aprofundá-la.

Para cumprir a missão sagrada/de levar a paz,/vôo de qualquer maneira,/em qualquer direção,/com vento ou sem vento,/com força ou sem força,/ até cair,/até morrer...

Sempre que procura defender os sem-vez e sem-voz, a Igreja é acusada de fazer política.

Todas as revoluções não são obrigatoriamente boas, mas a história mostra que algumas eram necessárias e produziram bons frutos.

Quando a Humanidade corre o risco de ser devorada pela violência e pelo ódio, não temos o direito de acalentar ilusões, de nos tranqüilizarmos com pseudo-soluções que têm o grave inconveniente de desviar a nossa atenção das soluções difíceis e árduas, mas talvez as únicas verdadeiras.

O Ceará me preparou para o Rio, e o Rio me preparou para o Recife.

Não devemos ter medo de ser apenas uma gota d’água. É a reunião das gotas que põe em movimento os riachos, os rios, os oceanos, e temos que levar em conta o fato de que as nascentes não reúnem um grande número delas.

 

 

Não devemos temer por nossa impotência diante da força todo-poderosa dos capitães da indústria, dos financistas e dos governos. Eles passam; os povos ficam. Um dia se darão conta de que não podem ignorar o que verdadeiramente interessa ao povo. É óbvio que não poderemos esperar tanto nos regimes ditatoriais, o que vale dizer da necessidade de lutar sempre contra as ditaduras para acelerar a marcha das idéias.

Não devemos ter medo de passar por ingênuos diante dos sábios e dos especialistas. O que são eles senão ingênuos que se dedicaram ao estudo e à pesquisa? Foi o que lhes permitiu elaborar e propor teorias. Mas convém refletir que não é indispensável formular teorias para conceber e praticar a justiça e a solidariedade. Em Lech Walesa ou em Madre Teresa, os ingênuos do mundo inteiro encontrarão modelos de audácia inventiva, generosa e descomplexada.

Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver.

Partir é, antes e tudo, sair de si. Partir, mais do que devorar estradas, cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro. Partir é não rodar apenas em volta dos problemas das instituições a que se pertence. Por mais importantes que as instituições sejam, maior é a Humanidade a quem nos cabe servir.

Sonho com uma autêntica integração latino-americana sem imperialismos de fora nem imperialismos de dentro.

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 27 de julho de 2006





Páginas Web e Websites consultados:

http://www.domhelder.com.br/

http://www.domhelder.org.br/Default.htm

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/historia
/cenasdoseculo/nacionais/heldercamara.htm

http://www.dhnet.org.br/direitos/
militantes/freibetto/betto_dhelder.html

http://www.rainhadapaz.g12.br/
projetos/religiao/projeto_da_paz/paz.htm

http://www.torturanuncamais.org.br/mtnm_mil/
mil_eventos/mil_eve_domhelder/mil_epoca/
mil_home_domhelder_epoca.htm

http://www.espacoacademico.com.br/034/34epiletti_praxedes.htm

http://destaquein.sacrahome.net/node/406

http://www.aeso.br/oxente/trinta_dom_helder.php

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=13388

http://pt.wikiquote.org/wiki/Dom_H%C3%A9lder_C%C3%A2mara

http://www.est.com.br/publicacoes/estudos
_teologicos/vol41_2001/cultoET412.htm

http://www.reflexao.com.br/pensamento.php?idautor=70

http://www.ideariumperpetuo.com/dhelder.htm

http://www.proconcil.org/document/
Barros%201%20portugu%E9s.htm

http://archivo.greenpeace.org/desarme/hirosima.htm

http://www.gagneint.com/Final%20site/Animation/Atom.gif

Música de fundo:

Night And Day (Cole Porter)

Fonte:

http://www.midinet.com.br/