O
poder [de
ver Deus],
não tendo outros meios de agir, tendo ido além de
todos os outros seres, se torna todo Luz em si e semelhante àquela
que vê; é unido sem mistura; sendo ele mesmo Luz, e
vendo a Luz através da Luz. Se olha para si mesmo, vê
Luz. Se olha para o objeto de sua visão, novamente vê
Luz. E se olha para o meio pelo qual vê, de novo vê
Luz. Isto é o que significa união. Tudo é tão
uno que aquele que vê não pode fazer distinções
entre os meios ou os fins ou o objeto. Ele está consciente
apenas de ser Luz e de ver Luz distinta de tudo que o foi criado.
Consideramos um mal para
a mente se misturar às vontades da carne; entretanto, não
é errado para a mente estar no corpo, pois o corpo não
é mau.
A
Queda de Adão no Jardim do Éden [e
não sua corporificação física] liberou
uma tendência a pecar1
na Humanidade.
Lutamos
contra esta lei de pecado, banimo-la do corpo e estabelecemos ali
a mente como um bispo. Doravante, estabelecemos leis para cada poder
da alma e para cada membro do corpo, como lhes for apropriado. Para
os sentidos, prescrevemos o que eles devem receber e em que medida,
e esta prática da Lei Espiritual é chamada de autodomínio.
Nós levamos a parte desejosa da alma para aquele estado excelentíssimo
cujo nome é Amor. Nós melhoramos a parte mental banindo
dela tudo o que impede a mente de voar para Deus, e a esta parte
da Lei Espiritual chamamos sobriedade.
O
coração é a câmara secreta da mente e
o primeiro órgão físico do poder mental.2
Entrar
no silêncio é entrar completamente em si-mesmo.
Contemplar
a LLuz é contemplar o Divino.
Ver a LLuz é uma experiência
direta da união mística: o ser humano deificado entra
na Presença Divina agora nesta vida, não apenas em
algum período 'post-mortem'.
A
Deidade transcende a afirmação, mas, transcende igualmente
a negação.
O
conhecimento do Divino não é meramente uma outra ciência
com critérios especiais de acessibilidade – não
é gnose, conhecimento, mas, enose, isto é, união
ou assimilação.
Deus
se rejubila por toda a eternidade na sublimidade de Sua glória...
Deus vive nesta glória, que é Sua própria,
intrínseca a Ele, em felicidade perfeita, acima de toda glória,
não necessitando de testemunhas, incapaz de formular nenhuma
divisão... Mas, Ele invoca Suas infinitas perfeições,
e as revela em Suas criaturas. Sua glória é resplandecente
nos poderes celestes, refletidos no homem, revestindo o mundo visível
com um traje de magnificência.
A
Deidade é completamente incognoscível em Sua Essência,
'Ousia', mas, cognoscível em sua Atividade Divina, 'Energeiai'
[Energia].
Embora o indivíduo comum testemunhe a bondade, a sabedoria,
a majestade e a providência, a atividade divina não
é subdividida de qualquer modo, pois a Deidade está
completamente presente em cada ação.
A essência da mente
é uma coisa e sua atividade é outra... A mente não
é como o olho, que vê todas as coisas visíveis,
mas, não vê a si mesmo. A mente pode ver a si mesma,
e quando se sintoniza completamente com a Deidade, se torna a Divina
'Energeiai' e a sustenta como Luz dentro de si mesma.
É
preferível a injunção mosaica 'entra em ti
mesmo' do que a délfica 'conhece a ti mesmo'.
A
LLuz Incriada – a visão de Deus – não
é simplesmente uma visão simbólica ou sensorial
e criada, nem inferior ao entendimento, mas, é a Deificação.
Aquele
que limpou sua alma de qualquer apego a coisas deste mundo, que
se apartou de tudo por seguir os Mandamentos, e que superou toda
atividade cognitiva através da oração contínua,
sincera e imaterial, e que foi abundantemente Illuminado pela LLuz
Inefável em união inconcebível, somente ele,
tornando-se Luz, contemplando a Luz, na visão e no desfrute
desta LLuz, reconhece verdadeiramente que Deus é transcendentalmente
radiante e que está além da compreensão; ele
glorifica a Deus não apenas para além do poder do
entendimento humano de seu 'nous', pois, muitas coisas criadas estão
além disso, mas, até mesmo além desta maravilhosa
união, a qual é o único meio através
do qual o 'nous' se une àquilo que está além
das coisas inteligíveis, imitando divinamente os 'Nous' Supraceleste.
A
visão de Deus não é exterior, mas, vem através
da Deificação.
A
visão da LLuz Incriada não é uma simples abstração
e negação; é uma união e uma divinização
que ocorrem misticamente e inefavelmente pela graça de Deus,
após a eliminação de tudo o que está
aqui embaixo que se imprime no 'nous'. É algo que vai além
da abstração.
A
contemplação da LLuz Incriada se dá pela comunhão
divinizante do Espírito.
A
contemplação da LLuz Incriada é uma união.
O
êxtase vem quando, em oração, o 'nous' abandona
toda conexão com as coisas criadas: primeiramente, com tudo
o que é mau ou ruim; depois, com as coisas neutras.3
Em
oração sincera, o 'nous' abandona todas as coisas
criadas.4
No
êxtase, não há qualquer relação
com o mundo do pecado, mas, não é, ainda, entretanto,
união com Deus. Esta união ocorre quando o Paracleto
[o Espírito
Santo] Illumina do alto o homem que atinge, em oração,
o estágio superior às mais elevadas possibilidades
naturais, e que aguarda a promessa do Pai, e, por Sua revelação,
arrebata-o à contemplação da LLuz.
A
compreensão noética não é, de maneira
alguma, Conhecimento [Sabedoria
= ShOPhIa]
verdadeiro.
Deus Se faz conhecido não
apenas por meio daquilo que há, mas, também, por meio
daquilo que não há, por meio transcendente, isto é,
pelas coisas incriadas, e, também, por uma LLuz Eterna que
transcende todas as coisas.
A
visão da LLuz Incriada supera toda atividade epistemológica
e está além da visão e do conhecimento.
A
luz das Escrituras pode ser comparada à uma lâmpada
que brilha em um local escuro, enquanto a visão da LLuz Incriada
se assemelha à estrela da manhã que brilha durante
o dia, isto é, o Sol.
A
Graça da Deificação transcende a natureza,
a virtude e o conhecimento humano.
Os
Santos Deificados transcendem a Natureza, pois são engendrados
por Deus, que lhes dá o poder de se tornarem filhos de Deus.
LLuz
Incriada LLuz Misteriosa,
Inacessível, Imaterial, Incriada, Deificante, Eterna, Brilho
da Natureza Divina, Glória da Divindade, Beleza do Reino
Celestial.
A
virtude é a imitação de Deus.
A
evidência patente em todos os que alcançaram a visão
da LLuz Incriada é que a alma cessa de se entregar aos prazeres
e às paixões corruptas, adquire paz e quietude de
pensamento, repouso e alegria espiritual, desdém pela glória
humana, humildade aliada ao regozijo secreto, repulsa às
coisas do mundo, amor às coisas celestiais, ou seja, amor
somente ao Deus dos Céus.5
A visão da LLuz Incriada acontece mesmo que os olhos estejam
cobertos ou tenham sido arrancados fora.
Há
graus distintos de 'theoria'6
e graus de conhecimento.
A
'theoria' perfeita é a visão da LLuz Incriada, que
se distingue em visão e visão contínua.
Em
uma palavra: devemos procurar, de um modo ou de outro, um Deus em
quem e do qual possamos participar, compartilhando, cada um de nós,
do modo próprio a cada um e pela analogia da participação,
de tal sorte que seja possível receber existência,
vida e deificação.
______
Notas:
1. A denominada
Queda de Adão no Jardim do Éden nada mais foi do que
o início-continuação (um novo patamar) da compreensão
da Raça Adâmica (vinda de outro plano), que conduz
à libertação. O fruto dito proibido é
o Conhecimento, que, quando é adquirido extemporaneamente
ou é mal
compreendido,
normalmente por ter sido mal metabolizado, produz o que as religiões
denominam de pecado
(ou coisas piores, como, por exemplo, as armas de destruição
em massa). Mas, o pecado
não
é nada mais nada menos do que um estágio necessário
e doloroso na longa caminhada da crucificação em direção
à Santa LLuz.
Em uma palavra, pecado
é tão-somente ignorância, que precisa ser transmutada.
Vale a pena consultar esta Página:
http://www.centroespirita.com.br/
literatura/agenese/pagina013_07.asp
—
Vem cá!
2. A Fraternidade
Rosacruz de Max Heindel ensina que no ventrículo
esquerdo do coração (o
assento do amor, segundo Augusta Foss Heindel), próximo
ao ápice, há um pequeno Átomo que paira em
um mar do mais elevado éter. Este Átomo é denominado
de Átomo-semente – o Livro
da Vida, como o denominou São João em
várias ocasiões na Revelação,
mas, que pode ser entendido como sendo o Livro (Registro) do nosso
Deus Interior, sendo a base da nossa individualidade, enquanto a
individualidade tiver que prevalecer como individualidade. O Átomo-semente
é a única coisa que a personalidade-alma leva consigo
de vida para vida, e Nele estão gravados cada pensamento
e cada experiência que vivenciamos em cada encarnação.
Não estaremos errados se admitirmos que o ser-no-mundo,
em última instância, é o seu Átomo-semente.
3. Na verdade,
não existe neutralidade, pois, a própria neutralidade
é uma opção, e toda opção é
objetiva.
4. Melhor do
que dizer coisas
criadas
é pensar em coisas existentes.
5. Aqui, mais
do que um exagero, há uma contradição. Como
é possível amor
somente ao Deus dos Céus? Amor
somente ao Deus dos Céus é uma coisa egoísta
e inútil, para dizer o mínimo, pois, o fato é
que Deus, se existir da forma como pretendem os religiosos, não
necessita, de forma alguma, do nosso amor. Quem necessita amá-Lo
somos nós, porque somos carentes de tudo. Mas, efetivamente,
o amor só tem cabimento pelas coisas e pelos seres do e no
mundo. Estes, sim, precisam do nosso amor, da nossa misericórdia,
da nossa solidariedade, do nosso apoiamento fraterno, do nosso tudo.
Esse treco extravagante de viver asceticamente, eremiticamente,
em contemplação ininterrupta ou em meditação
constante é uma das mais graves formas de egoísmo,
e não deixa de ser, também, uma patologia, principalmente
quando é acompanhado de autoflagelação. Quem
se entrega a contemplar e a meditar ininterrompidamente está
arrumando e fabricando exatamente o oposto do que tanto quer alcançar.
Não encarnamos aqui, nesta Terra, para ficar estáticos
em busca de um êxtase salvífico e espetaculoso, mas,
para, primeiro, compensar educativamente as babaquices que engendramos
no passado e nesta vida; segundo, para compreender o próprio
sentido da existência; e, terceiro, para compartilhar fraternalmente
nossas experiência e aprendizagem adquiridas. Qualquer coisa
diferente disto é doença, e, em geral, as religiões,
com seus dogmas estapafúrdicos e prescrições
irracionais, acabam dando em doença.
6. Segundo São
Pedro Damasceno, há oito estágios de theoria.
Os primeiros sete pertencem a este século, enquanto o oitavo
pertence ao futuro. A primeira theoria
é o conhecimento dos testes e das tribulações
desta vida. A segunda theoria
é o conhecimento das nossas próprias falhas e da generosidade
de Deus. A terceira theoria
é o conhecimento das coisas terríveis antes e depois
da morte. A quarta theoria
é o entendimento profundo da vida experimentada por nosso
Senhor Jesus neste mundo, Seus discípulos e demais Santos,
isto é, as palavras e as ações dos mártires
e dos Santos Padres. A quinta theoria
é o conhecimento da Natureza e do fluxo das coisas. A sexta
é a theoria
das coisas criadas ou o conhecimento e o entendimento da criação
visível de Deus. A sétima theoria
é o entendimento da criação espiritual de Deus,
isto é, dos anjos. A oitava theoria
é o conhecimento a respeito de Deus ou aquilo que chamamos
de Teologia.
Observação:
Por volta do
século XIV, Bizâncio havia se tornado uma sombra de
sua antiga glória. Os cruzados, fascinados com a riqueza
de Constantinopla, que já estava se esvaindo, saquearam-na.
Líderes eslavos criaram reinos temporários em suas
territórios do norte, e os turcos invadiram a Ásia
Menor, vindos do leste. Dentro dos portões de Constantinopla,
facções aristocráticas e nobres disputavam
entre si para estabelecer uma ou outra linha dinástica. Comerciantes
venezianos monopolizavam a economia mercantilista do império,
e jamais foram completamente desalojados. Mesmo quando o império
mergulhou em direção ao seu esquecimento final, a
Igreja Ortodoxa Grega se libertou das instituições
imperiais e começou a exercer sua independência e sua
influência dentro e além das fronteiras bizantinas.
A Igreja enfrentou desafios de um tipo diferente e emergiu deles
como uma instituição mais forte e mais monástica.
Coube a Gregório Pálamas (um dos Instrutores da Humanidade)
ser o catalisador que emancipou a Igreja de suas ligações
políticas e cristalizou sua orientação espiritual.
Gregório
Pálamas nasceu em 1296, em Constantinopla. Embora seus pais
fossem nobres da Ásia Menor, repetidas invasões turcas
forçaram-nos a fugir da capital imperial, onde seu pai se
tornara um respeitável membro do senado. Durante sua infância
e juventude, Gregório recebeu o melhor da educação
tradicional, incluindo o trivium
(nome dado, na Idade Média, ao conjunto de três matérias
ensinadas nas universidades no início do percurso educativo:
Gramática, Lógica e Retórica) e o quadrivium
(as quatro restantes das sete artes liberais: Aritmética,
Geometria, Astronomia e Música). Embora o pai de Gregório
tivesse morrido quando ele ainda era jovem, o imperador Andrônico
II Paleólogo prometeu-lhe uma importante carreira no Governo,
e Gregório pareceu destinado a segui-la. Em 1316, contudo,
Teolépto de Filadélfia encorajou Gregório a
entrar para a vida cenobítica, e, a despeito do apelo do
imperador, Gregório decidiu se tornar monge. Uma vez que,
como filho mais velho, ele era responsável por toda a sua
família, incluindo um grande número de servos, persuadiu
sua mãe, irmãs e irmãos e muitos dos servidores
de sua casa a entrar na comunidade monástica. A maioria entrou
em mosteiros em Constantinopla, mas, Gregório e seus irmãos
seguiram para o Monte Athos, o centro do monasticismo cenobítico
e eremítico, e que fora tornado independente do Governo Imperial
por Andrônico II, em 1312. Morando perto do Mosteiro de Vatopedi
por três anos, Gregório se mudou depois para o Grande
Lavra, o centro religioso do Monte Athos.
Em Monte Athos,
Gregório seguia seriamente os métodos de meditação
cultivados pelos grandes expoentes do Hesicasma
(Quietismo), incluindo Simeão, o Novo Teólogo. O ponto
de vista de Simeão se tornou o de Gregório, que, como
Simeão, preferiu uma vida de retiro e de contemplação.
Mas, novamente, como com Simeão, uma combinação
de circunstâncias históricas compeliu Gregório
a falar pelo que ele acreditava ser a quintessência do Cristianismo.
Ele fez um relato sistemático sobre as convicções
de Simeão, e as tornou a base central da ortodoxia oriental.
Sua vida pública começou quando ele decidiu fazer
uma peregrinação à Terra Santa e ao Sinai.
Embora os Cruzados houvessem sido rechaçados para fora do
Mediterrâneo Oriental, os governantes muçulmanos eram
razoavelmente tolerantes com os peregrinos cristãos, e os
mais intelectuais dentre estes teriam discernido a influência
das práticas sufi sobre as dos hesicastas.
O Sufismo é conhecido como a corrente mística e contemplativa
do Islão. Entretanto, ele não pôde levar seu
plano a cabo, e partiu para a Tessalônica, onde encontrou
Isidoro, o futuro Patriarca de Constantinopla. Ele descobriu que
Isidoro compartilhava de seu profundo sentimento de que a contemplação
espiritual não era um privilégio de eremitas, mas,
uma necessidade para todos os fiéis a Cristo.
Ele foi consagrado
sacerdote em Tessalônica e fundou um pequeno eremitério
nas cercanias de Berroéia, permanecendo um asceta por cinco
anos. Em 1331, Gregório voltou para o Monte Athos, porque
as incursões sérvias nas proximidades de Berroéia
tumultuaram a vida monástica. Ele se retirou para o Eremitério
de São Sabázio, logo acima do Grande Lavra, descendo
para o culto com seus irmãos somente nas festas litúrgicas.
Embora fosse indicado abade do grande Mosteiro de Esfigmenou, seu
zelo pela reforma se chocou com as duas centenas de seus monges,
e ele, voluntariamente, se retornou para São Sabázio
dentro de um ano. Logo, contudo, sua paz foi de novo perturbada
por duas séries de eventos, uma teológica e outra
política. Um calabrês de descendência grega chamado
Barlaão chegou a Constantinopla e criou renome como filósofo.
João Cantacúzenos, o Megas
Domesticus (Mordomo-Mor) de Andrônico III, indicou-o
para uma cátedra na universidade imperial. Incumbiram-no
de missões diplomáticas junto da corte papal de Avignon,
e ele escreveu comentários sobre uma variedade de textos
religiosos. Embora sendo inteiramente leal ao Cristianismo ortodoxo
e um arguto crítico de sua contraparte latina, Barlaão
ficara profundamente impressionado pelo humanismo secular em surgimento
da Renascença Italiana. Filosoficamente, sua crença
na transcendência da Deidade levou-o a negar a possibilidade
do conhecimento de Deus. Em virtude de seu temperamento, ele se
sentia repelido pelas práticas hesicastas, que prometiam
tal conhecimento. Ele argumentava que a meditação
era inútil e que qualquer coisa que se pudesse saber do Divino
deveria vir de um estudo da Natureza.
Gregório
reconheceu que o ponto de vista de Barlaão não era
meramente uma proposição acadêmica sobre um
tópico abstruso. Ela desafiava o cerne hesicasta da ortodoxia
e minava o conceito de Deificação ardorosamente ensinado
por Simeão. Embora Gregório aconselhasse contra práticas
meditativas empreendidas sem orientação reconhecida,
ele defendeu a meditação, reafirmou a possibilidade
de experiência direta do Divino e sustentava que o estudo
da Natureza era adequado, mas, que jamais poderia fornecer direção
para a realidade espiritual. Se Gregório era cauteloso contra
tudo que pudesse alimentar atitudes seculares, ao mesmo tempo Barlaão
entendera mal a natureza do hesicasma. Embora os monges do Monte
Athos apoiasssem solidamente Gregório e Barlaão decidisse
voltar para a Itália, a disputa continuou e poderia ter permanecido
indecisa, não fosse por uma estranha concatenação
de eventos políticos.
O imperador
Andrônico III morreu quatro dias depois de presidir os debates
conciliares que, em 1342, decidiram a favor de Gregório.
Uma vez que seu filho, João V, era menor, sua esposa, Ana
de Savóia, se tornou regente. Ela não poderia manter
um equilíbrio entre o Megas
Domesticus, João Cantacúzenos, que apoiava
Gregório, e o patriarca João Cálecas, que se
alinhara com os seguidores de Barlaão. Depois de João
Cantacúzenos ter assegurado a aprovação imperial
para a decisão conciliar, ele foi destituído pelo
patriarca e um grupo de nobres. Gregório permaneceu leal
a Ana como regente, mas, condenou abertamente o golpe palaciano.
Em 1343, o patriarca viu o caminho livre para prender Gregório
sob acusação de heresia e, quando Gregório
se recusou a mudar sua posição, excomungou-o. Embora
Ana temesse que Gregório fosse um adversário político,
ela o respeitava como teólogo e considerava intolerável
a arrogância do patriarca. Enquanto João Cantacúzenos
dava andamento a uma guerra civil contra o trono, Ana tramava contra
o patriarca. Em 1347, ela convocou um concílio que depôs
o patriarca, e João Cantacúzenos subiu ao trono, governando
em nome de João V. Gregório foi consagrado arcebispo
de Tessalônica, e João Cantacúzenos indicado
Palamita pelo patriarca, inaugurando, assim, uma tradição
que perdurou por anos, e por fim transformou a espiritualidade monástica
do ponto de vista eclesiástico. Quando João Cantacúzenos
abdicou em favor de João V, em 1364, ele já era uma
venerada autoridade religiosa. Ele se tornou monge, e com o nome
de Josafá fez muito para separar a Igreja do Império.
Quando o Império colapsou no século XV, a Igreja pouco
foi afetada, e através dela a civilização bizantina
continuou a exercer uma poderosa influência.
Gregório
era bem-quisto em Tessalônica, pois ele combatia a injustiça
social de todo o tipo, incluindo as taxas impostas pela Capital.
Uma vez, quando viajava para Constantinopla para apelar ao imperador,
ele era passageiro de um navio que foi capturado pelos turcos. Ele
passou um ano em agradável cativeiro, debatendo posições
religiosas com o filho do Emir Orkhan, na esperança de que
logo viesse
o dia em que pudéssemos nos entender um ao outro.
Embora cidadão leal de Bizâncio, Gregório claramente
distinguia entre a Igreja Bizantina, cujas verdades eram eternas,
e o Estado Bizantino, que era temporal. Quando foi libertado, voltou
a Tessalônica, onde morreu em 27 de novembro de 1369. Ele
foi canonizado pelo patriarca Filoteu, seu amigo e antigo discípulo,
e, até hoje, ele só é menos venerado que Demétrio,
o santo padroeiro da Cidade.