Martin Heidegger: — Rofoldo, por que existe o ser e não, antes, o nada?

 

Rofoldo: — Ora, Martin por vários motivos. Eis alguns: primeiro, o nada, se existisse como nada, seria um não-lugar, uma espécie de ausência de espaço, e a ausência de espaço e um não-lugar são contrários à razão. Segundo, porque não haveria conservação de energia, e, se não houvesse conservação de energia, a inconstância cósmica preponderaria. Terceiro, porque não haveria nem aumento nem diminuição da entropia, e, com isto, o Universo estaria, digamos assim, em equilíbrio estático, o que não pode ser, o que não pode existir e o que não pode suceder. Quarto, porque a passagem do tempo objetivo não poderia acontecer. Quinto, porque não existiriam leis físicas, e inexistindo leis físicas prevaleceria o caos. Sexto, porque o nada seria a ausência de tudo, inclusive do ato de pensar, e o ser-aí-no-mundo, per se – cogito, ergo sum, penso, logo existo – demonstra exatamente o oposto disto. Sétimo, porque o nada, não tendo existência real, não pode sequer ser cogitado, pois, se fosse cogitado, já não seria mais o nada, e, sim, alguma coisa. Por isto, o Universo é o incriado e inextinguível desde-sempre Eterno Ser existente em si-mesmo e por si-mesmo. Como isto foi, é e sempre será possível? Não sei; mas, meu Deus me disse que sempre foi assim, é assim e sempre será assim. Se você não gostou destes argumentos, Martin, o problema é seu; tente conversar com a Hannah Arendt e ouvir o Deus do seu Coração, e, talvez, você compreenda esse treco. Mas, três coisas eu sei: 1ª) Nihil novum sub Sole. Não há nada de novo sob o Sol; 2ª) Nihil novum super Terram. Não há nada de novo sobre a Terra; e 3ª) Nihil novi sub Luna. Não há nada de novo sobre a Lua. Enfim, o próprio processo entrópico transforma alguma coisa em alguma coisa. Então, entropia não é propriamente (tendência à) desordem, seja ou não seja segundo o senso comum, como ela não é irreversível; antes, entropia é transmutação de uma ordem cadente em uma nova ordem. Um exemplo clássico de aumento de entropia é o processo reversível de derretimento do gelo. As animações abaixo substituem todos os conceitos acima apresentados.