O Ser
é um.
O
ser é uno, infinito, imóvel, sujeito, matéria, vida,
alma, verdade e bondade.
O
Summum Bonum, o supremamente desejável, a perfeição
e a beatitude supremas consistem na unidade que informa1
o todo… Possam os deuses ser louvados e todos os seres vivos louvarem
o infinito, o simplíssimo, o muito uno, o altíssimo, a absolutíssima
causa, começo e um.
O
tempo tudo tira e tudo dá; tudo se transforma, nada se destrói.
Deus é a força criadora
perfeita que forma o mundo e imanente a ele.
Deus é glorificado não
em um, mas em incontáveis sóis; não em uma Terra única,
mas em uma infinidade de mundos.
Apesar
de quão obscura a noite possa ser, eu espero o nascer do dia.
Oh!, que ingenuidade pedir a quem
tem poder para mudar o poder!
Todo amor deriva do ato de ver: o
amor inteligível do ato de ver inteligivelmente; o sensível
do ato de ver sensivelmente.
Não existe deleite sem um
misto de tristeza.
Não
há posição absoluta no espaço (como
dissera Aristóteles), mas a posição de um
corpo é relativa à dos outros corpos. Em toda parte, ocorrem
mudanças relativas incessantes de posição por todo
o Universo, e o observador está sempre no centro das coisas.
Todas
as coisas estão no Universo e o Universo está em todas as
coisas. Nós estamos nele e ele em nós, de modo que tudo caminha
em direção à perfeição e à unidade.
Esta unidade é eterna, e os filósofos que descobriram essa
unidade encontraram a sua amiga Sabedoria.
Feliz
na tristeza, triste na alegria.
Só os espíritos fracos
pensam com a multidão, por ser ela multidão. A verdade não
é modificada pelas opiniões do vulgo nem pela confirmação
da maioria.
Há
a religião dos ignorantes e a religião dos doutos. A primeira
é um meio para instruir e governar o povo ignorante. É um
conjunto de superstições contrárias à razão
e a natureza, útil para governar os povos incultos, que é
válida enquanto a Humanidade não atingir um grau superior
de evolução. A religião dos doutos ou dos teólogos,
que o processo histórico enriquece, é esclarecida, na qual
se integra a Filosofia como a disciplina dos eleitos que estão aptos
a se controlar e governar os outros.
Ignorância
e arrogância são duas irmãs inseparáveis, com
um só corpo e uma só alma.
A
poesia não nasce das regras, a não ser em parte mínima
e insignificante. Mas as regras derivam das poesias, e, no entanto, são
tantos os gêneros e as espécies de verdadeiras regras, quanto
são os gêneros e as espécies de verdadeiros poetas.
O asno pode ser encontrado em toda
parte, não apenas na Igreja, mas nas cortes de justiça e mesmo
nas universidades.
Com o espírito, é preciso
escalar e ultrapassar montanhas abruptas para conseguir penetrar nas alturas
inacessíveis e encontrar a Luz Eterna.
Os
quatro graus da Teoria do Conhecimento de Bruno são:
1º) os sentidos,
cujo objeto é o sensível, e a verdade que manifesta é
mera aparência; 2º)
a razão, mediante a qual a verdade é atingida por
processo dialético, discursivo e sucessivo; 3º)
o intelecto, que tem a intuição imediata da verdade; e 4º)
a mente, que atinge a verdade na sua unidade e simplicidade absolutas.
O
Universo é infinito2
e uno. Todos somos cada um. Cada coisa é tudo o resto.
Como
poderia o espaço vazio deixar de ser uniforme ou vice-versa? Como
poderia o vazio uniforme deixar de ser ilimitado e infinito?
Assim como existe à nossa
volta um espaço infinito, também a potencialidade, a capacidade,
a receptividade, a maleabilidade e a matéria são infinitas.
Aquele
que deseje filosofar deve antes de mais duvidar de todas as coisas. Não
pode tomar parte em um debate antes de ter escutado as diversas opiniões,
nem antes de avaliar e de comparar as diversas opiniões, nem antes
de avaliar e comparar as razões contrárias e a favor. Jamais
deve julgar ou censurar um enunciado apenas pelo que ouviu, pela opinião
da maioria, pela idade, pelo mérito ou pelo prestígio do orador,
devendo, por conseqüência, agir de acordo com uma doutrina orgânica
que se mantém fiel ao real e uma verdade que pode ser entendida à
luz da razão.
O Universo contém um número
infinito de mundos habitados por seres inteligentes.
Se
na nossa parte do espaço infinito existe um mundo, um astro-sol cercado
por planetas, o mesmo aconteceria em todo o Universo.
Movimento
e mutação são sinais de perfeição e não
de ausência de perfeição. Um Universo imutável
seria um Universo morto. Um Universo vivo tem de ser capaz de se mover e
de se modificar.
Uma nova visão do Cosmos deve
necessariamente corresponder a uma nova concepção do homem.
Se é a Terra que gira em volta do Sol, bem como os outros planetas
giram em volta do Sol, se existem outros sóis, outros sistemas solares
dispersos pelo Universo, se isto é verdadeiro – e é
verdadeiro – então Deus não está no alto, acima
de nós, fora do mundo, mas em toda parte, em cada partícula
de matéria, tanto viva como inerte.
Desejo
que o mundo usufrua os gloriosos frutos do meu trabalho. Desejo despertar
a alma e abrir o espírito dos que vivem privados dessa luz que, seguramente,
não é invenção minha. Se estiver errado, não
creio que o faça deliberadamente. E, ao falar e escrever deste modo,
não sou impelido pelo desejo de sair vitorioso, pois que reconheço
qualquer tipo de fama e conquista como inimigos de Deus, vãs e sem
qualquer honra, se não forem verdadeiras; mas, por amor à
sabedoria autêntica e em um esforço para refletir com justeza,
fatigo-me, sofro, atormento-me.
Deve-se
aprender a respirar para redescobrir que as árvores, as pedras, os
animais e toda a máquina da Terra têm uma respiração
interior, como nós. Têm ossos, veias e carne. Como nós.
Muito
me debati. Julguei poder ganhar... Mas o destino e a Natureza reprimiram
os meus estudos e o meu vigor. Mas já é alguma coisa ter estado
no campo de batalha, pois vejo que conseguir ganhar depende muito da sorte.
Todavia, fiz tudo o que podia e não creio que nenhuma geração
vindoura o possa negar. Não tive medo da morte; jamais cedi perante
os meus iguais. Com firmeza de caráter, escolhi uma morte corajosa
a uma vida de covardia sem combate.
A
Natureza é uma imagem viva de Deus, se assim quiserem, e os padres
não têm nada com isso.
Não
se pode ser mais do que físico porque não é possível
dar razão às coisas sobrenaturais senão na medida em
que elas se refletem nas coisas naturais.
Da
Primeira Causa, temos apenas o traço... Mas, se não podemos
conhecer a Primeira Causa, podemos conhecer os princípios próprios
da Natureza.
A
Unidade do Todo no Um é mui sólido fundamento para as verdades
e os segredos da Natureza. Deveis, pois, saber que é por uma e a
mesma escada que a Natureza desce à produção das coisas,
e que o intelecto ascende ao conhecimento delas; e que um e outra procedem
da Unidade e à Unidade retornam, atravessando uma multiplicidade
de coisas.
O
Um tem de existir eternamente… Ele é eterno e contém
todos os tempos. Ele conhece profundamente todos os eventos, e Ele, em Si
mesmo, é todas as coisas. Ele cria todas as coisas para além
do início do tempo e para além do limite do espaço
e do tempo. Ele não está sujeito a qualquer lei. Ele mesmo
é a própria Lei.
Existe
apenas uma Divindade, a qual pode ser encontrada em todas as coisas –
a Mãe sustentadora do universo. A Divindade revela-se a Si mesma
em todas as coisas… Tudo tem a Divindade latente no seu interior.
Sem a Sua presença, nada poderia existir, pois Ela é, do primeiro
ao último ser, a essência da existência.
Em
suma, eu creio em um Universo infinito, isto é, no efeito de um poder
infinito, porque estimei que seria indigno da bondade e do poder divinos
que, sendo eles capazes de produzir além deste mundo outros e infinitos
mundos, pudessem produzir um mundo finito. Assim, eu declarei que há
mundos particulares infinitos semelhantes ao da Terra que, com Pitágoras,
creio ser um astro de natureza semelhante à da Lua, à de outros
planetas e à de outros astros, que
[em número]
são infinitos; e creio que todos esses corpos são mundos,
que eles são inumeráveis, e que isto constitui a universalidade
infinita em um espaço infinito, e se chama Universo infinito –
no qual existem mundos inumeráveis, de maneira que há uma
dupla espécie de grandeza infinita do Universo e de multidão
de mundos. Indiretamente, pode-se considerar que isto repugne à verdade
de acordo com a verdadeira fé. Além do mais, coloco nesse
Universo uma Providência Universal, em virtude da qual tudo vive,
vegeta e se move e atinge a sua perfeição. E eu a compreendo
de duas maneiras: uma, no modo como a alma inteira está presente
em todo o corpo e em cada uma das suas partes, e a isto eu chamo Natureza,
a sombra e a pegada da Divindade; a outra, o modo inefável pelo qual
Deus – por essência, presença e poder – está
em tudo e acima de tudo, não como uma parte, não como uma
alma, mas de uma maneira inefável. Além disso, considero que
todos os atributos da Divindade são uma e a mesma coisa. Junto com
os teólogos e os grandes filósofos, reconheço três
atributos: poder, sabedoria e bondade, ou antes, mente, intelecto e amor,
com os quais as coisas têm primeiramente, através da mente,
um ser; depois, um ser ordenado e distinto, através do intelecto;
e, em terceiro, concordância e simetria, através do amor. Neste
sentido, considero o Ser em tudo e acima de tudo, porque não há
nada sem participação do Ser, e não há Ser sem
essência, assim como não há nada que seja belo sem que
a beleza não esteja presente; assim, nada está isento da Presença
Divina. E assim, pelo raciocínio e não por meio de uma verdade
substancial, considero eu a distinção na Divindade. Admitindo,
então, o mundo causado e produzido, considero que, de acordo com
todo o seu Ser, ele depende da Causa Primeira, de modo que não rejeitei
o nome da criação, que considero ter sido expresso por Aristóteles
quando disse: ‘Deus é aquilo de que dependem o mundo e toda
a Natureza’; de maneira que, de acordo com a elucidação
de São Tomás, seja eterno ou temporário, Ele é,
de acordo com todo o Seu Ser, dependente da Causa Primeira, e nada Nele
é independente. Depois, em relação àquilo que
pertence à verdadeira fé, não falando filosoficamente,
haveria que chegar à individualidade das Pessoas Divinas, à
sabedoria e ao Filho da mente, chamado pelos filósofos de intelecto,
e pelos teólogos de Palavra, que se deve crer ter-se revestido de
carne humana. Mas eu, atendendo-me às frases da Filosofia, não
a compreendi assim, antes duvidei e não fui, nesse sentido, constante
em minha fé. Não que eu me lembre de tê-lo deixado transparecer
em meus escritos nem em minhas palavras, exceto indiretamente por outras
coisas; algo pode ser colhido como que por ingenuidade ou por profissão
de fé em relação àquilo que pode ser provado
pela razão e deduzido segundo a nossa luz natural. Assim, no que
diz respeito ao Espírito Santo como terceira pessoa, não fui
capaz de compreender aquilo em que se deve acreditar, mas, à maneira
pitagórica, em conformidade com a interpretação de
Salomão, considerei-a como a Alma do Universo, ou como adjunto do
Universo, de acordo com a máxima de Salomão: ‘O Espírito
de Deus preenche toda a Terra, e contém todas as coisas’, que
está igualmente conforme com a doutrina pitagórica, explicada
por Virgílio no texto da Eneida: ... 'Mens agitat molem'.3
Assim, deste Espírito – que
é chamado a Vida do Universo – eu considero, na minha filosofia,
que procedem a vida e a alma de tudo o que possua vida e alma; que, além
disso, considero ser [Ele]
imortal, como também os corpos, que, quanto à sua substância,
são todos imortais, não existindo outra morte senão
a desagregação, segundo parece inferir-se da sentença
do Eclesiastes, que diz: ‘Não há nada de novo debaixo
do Sol'. O que é, será.
Uma
pessoa, quer esteja dentro ou fora do corpo, nunca está completa.
A
Alma do Mundo é a forma universal do mundo. O entendimento universal
é a faculdade íntima mais real e própria; é
a parte mais potente da Alma do Mundo iluminando o Universo e dirigindo
a Natureza convenientemente.
Princípio
é aquilo que intrinsecamente concorre para a constituição
da coisa e que permanece no efeito. Causa é aquilo que concorre,
a partir do exterior, para a produção da coisa, e cujo ser
acha-se fora da composição.
A
Causa Universal é a Alma do Mundo, a inteligência universal,
que é extrínseca e intrínseca. Extrínseca porque,
como Causa Eficiente, não parte dos compostos nem das coisas produzidas;
intrínseca quanto ao ato de sua operação.
O
Universo é uno, infinito, imóvel. Una, afirmo eu, é
a possibilidade absoluta; uno o ato; una a forma ou alma; una a matéria
ou corpo; una a coisa; uno o Ser; uno o máximo e o supremo, que não
podem ser compreendidos. Por isto, ele é indefinível e indeterminável
e, portanto, não tem limite nem termo e, conseqüentemente, é
imóvel. Não se corrompe porque nenhuma outra coisa há
em que ele possa se transformar.
O
mundo é tudo o que existe de pleno e consta de corpo sólido;
o Universo não é somente o mundo, mas também o vácuo,
o inane e o espaço fora dele.
Nem os habitantes de outros mundos
devem procurar a Divindade perto de nós quando a têm perto
e dentro de si, visto que a Lua não é mais céu para
nós que nós para a Lua.
Quando
considerarmos mais profundamente o ser e a substância daquilo em que
somos imutáveis, ficaremos cientes de que não existe a morte,
não só para nós mas também para qualquer substância,
enquanto nada diminui substancialmente, mas tudo, deslizando pelo espaço
infinito, muda de aparência.
Se
eu, ilustríssimo Cavaleiro, manejasse um arado, apascentasse um rebanho,
cultivasse uma horta, remendasse uma veste, ninguém me daria atenção,
poucos me observariam, raras pessoas me censurariam e eu poderia facilmente
agradar a todos. Mas, por ser eu delineador do campo da Natureza, por estar
preocupado com o alimento da alma, interessado pela cultura do espírito
e dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam,
os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram.
E não é só um, não são poucos, são
muitos, são quase todos. Se quiserdes saber por que isto acontece,
digo-vos que o motivo é que tudo me desagrada, detesto o vulgo, a
multidão não me contenta. Somente uma coisa me fascina: aquela
em virtude da qual me sinto livre na sujeição, contente no
sofrimento, rico na indigência e vivo na morte. Aquela em virtude
da qual não invejo os que são servos na liberdade, sofrem
no prazer, são pobres nas riquezas e mortos em vida, porque trazem
no próprio corpo os grilhões que os prendem, no espírito
o inferno que os oprime, na alma o erro que os debilita, na mente o letargo
que os mata. Não há, por isso, magnanimidade que os liberte
nem longanimidade que os eleve, nem esplendor que os abrilhante, nem ciência
que os avive.4
Sou
um cidadão servo do mundo; um filho do Pai Sol e da Mãe Terra.