SOBRE O INFINITO, O UNIVERSO E OS MUNDOS
(Segunda Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

Este estudo se constitui da 2ª parte de uma coleção de alguns excertos escolhidos (eventualmente comentados e ligeiramente editados) da obra Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos, de autoria de Giordano Bruno, que, estimulado pela introdução do sistema heliocêntrico do astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (Torun, 19 de fevereiro de 1473 – Frombork, 24 de maio de 1543) e tomado de um profundo gosto pela controvérsia, defendeu a idéia da pluralidade dos mundos. Seu ponto de partida foi contestar com veemência as posições aristotélicas, favoráveis ao Geocentrismo e à idéia da existência de um único mundo. O fato é que a teoria de Bruno mudou completamente a forma de se enxergar o Universo, que, até então, era tido como algo limitado, no tempo e espaço, com uma ordem fixa. A partir de uma argumentação filosófica, Bruno mostrou que não há limites para o Universo e que a Terra é apenas mais um planeta em meio a uma infinidade de outros. Bruno pagou um alto preço por suas idéias: acabou executado como herege pela Inquisição, se transformando em um mártir da liberdade de pensamento. A versão impressa que tenho desta obra foi traduzida por Helda Barraco e Nestor Deola.

 

 

Breve Biografia

 

 

Giordano Bruno

 

 

Giordano Bruno (em latim: Iordanus Brunus Nolanus; nascido Filippo Bruno, (Nola, Reino de Nápoles, 1548 – Campo de' Fiori, Roma, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor, matemático, poeta, teórico de cosmologia, ocultista hermético e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela esquizofrênica Inquisição Romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício), com a acusação de heresia, ao defender alegações consideradas erros teológicos. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano. É considerado por alguns como um mártir da igreja dos tempos de então, tendo contribuído para avanços significativos do conhecimento do seu tempo. Ele é conhecido por suas teorias cosmológicas, que, conceitualmente, estenderam o então novo modelo copernicano. Ele propôs que as estrelas fossem sóis distantes cercados por seus próprios planetas e levantou a possibilidade de que esses planetas criassem vida neles próprios, uma posição filosófica conhecida como pluralismo cósmico. Ele também insistiu que o Universo é infinito e não poderia ter um centro.

 

 

O Julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana.
(Relevo em Bronze por Ettore Ferrari, Campo de' Fiori, Roma.)

 

 

A partir de 1593, Bruno foi julgado por heresia pela Inquisição Romana, acusado de negar várias doutrinas católicas essenciais, incluindo a condenação eterna, a Trindade, a divindade de Jesus, a virgindade de Maria e a transubstanciação. O panteísmo de Bruno também era motivo de grande preocupação, assim como seus ensinamentos sobre a transmigração da alma. A Inquisição o considerou culpado e ele foi queimado na fogueira no Campo de' Fiori, em Roma, em 1600. Após sua morte, ganhou fama considerável, sendo particularmente comemorado por comentaristas do século XIX e início do século XX, que o consideravam um mártir de ciência, embora os historiadores concordem que seu julgamento por heresia não foi uma resposta a seus pontos de vista astronômicos, mas, sim, uma resposta a seus pontos de vista filosóficos e religiosos. O caso de Bruno ainda é considerado um marco na história do livre-pensamento e das ciências emergentes.

 

Além da Cosmologia, Bruno também escreveu extensivamente sobre a arte da memória, um grupo pouco organizado de técnicas e de princípios mnemônicos. A historiadora Frances Yates argumenta que Bruno foi profundamente influenciado pela Astrologia Árabe, particularmente a Filosofia do polímata Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide (Córdova, 1126 – Marraquexe, 1198), conhecido como Averróis, pelo Neoplatonismo, pelo Hermetismo renascentista e por lendas do gênero Gênesis em torno do deus egípcio Thoth. Outros estudos de Bruno se concentraram em sua abordagem qualitativa da matemática e sua aplicação dos conceitos espaciais da geometria na linguagem.

 

 

Estátua de Giordano Bruno (Roma, Itália)

 

 

Excertos da Obra

 

 

A Alma do Mundo e da Essência Divina [Anima Mundi, termo cunhado por Platão (Atenas, 428/427 a.C. – Atenas, 348/347 a.C.) que aparece nas obras A República, Timeu e no livro X das Leis, é um conceito cosmológico de uma Alma compartilhada ou Força Regente do Unimultiverso, pela qual o Pensamento Divino pode se manifestar em leis que afetam a matéria, ou, ainda, a hipótese de uma força imaterial, inseparável da matéria, mas, que a provê de forma, possibilidade de mudar e movimento] que está toda em tudo, enche tudo e que é mais intrínseca às coisas do que a própria essência delas, porque é a Essência das essências, a Vida das vidas, a Alma das [personalidades-]alma move tudo como dá a tudo a possibilidade de se mover.

 

O Primeiro Princípio – [que, para Bruno, era sinônimo de Deus] não é aquele que move, mas, quieto e imóvel, dá o poder de se movimentar a infinitos e inúmeros mundos, grandes e pequenos animais colocados na amplíssima região do Uni[multi]verso, tendo cada um, segundo a condição da própria eficiência, a razão da mobilidade, da mudança e de outros acidentes. [Quando, Transracionalmente, compreendermos que não há, em termos teológicos, um Primeiro Princípio – um Ótimo Máximo inventado por nós à nossa imagem e semelhança, razão de nada, então, teremos dado o primeiro passo no sentido da nossa Libertação e de nos tornarmos SUPER-HOMENS-DEUSES. Antes não. Por isto, acredito que a Idéia de Deus de Giordano Bruno não era pura e simplesmente teológico-dogmático-religiosa, ainda que estivesse infiltrada de conceitos religiosos.]

 

Deus move o todo, e devemos entender que Ele dá a possibilidade de movimento a tudo o que se move.

 

Se o Primeiro Princípio é o operador do Uni[multi]verso, com certeza é um operador ilimitado, relativo a um efeito ilimitado, porque tudo depende Dele. Deus, atualmente, concebe a dimensão ilimitada e o número ilimitado.

 

Como a Potência Ativa é ilimitada, assim, por necessária conseqüência, o sujeito de tal potência é ilimitado.

 

O poder fazer pressupõe o poder ser feito, a dimensão pressupõe o dimensionável, o dimensionante pressupõe o dimensionado.

 

Assim como existe verdadeiramente um indivíduo ilimitado simplíssimo, assim também existe um amplíssimo dimensional ilimitado, que esteja naquele e em que ele exista, da mesma forma em que ele está em tudo, e tudo está nele. [Isto pode ser compreendido como Panteísmo Brunino, pois, esta doutrina filosófica é caracterizada por uma identificação total entre Deus e o Unimultiverso criado, concebidos como realidades diretamente conexas ou como uma única realidade integrada.]

 

O infinito não pode ser concluído, [e, sendo assim, concretamente, ele não pode existir. Por isto, salvo um juízo mais abalizado, o Unimultiverso é finito, pleno em si mesmo, impossível de ser acrescentado, impossível de ser apocopado, incriado, infindável, imutável, indestrutível, porém, no ESPAÇO-TEMPO, é ilimitado.]

 

É impossível que no espaço onde está este mundo se encontre ao mesmo tempo contido outro mundo.

 

O espaço-tempo, de certa forma, é matéria; se é matéria, possui aptidões; se possui aptidões, não se pode lhe negar o ato.

 

Não se concebe um corpo senão com a propriedade de resistência. Portanto, não é corpo aquilo que não resiste.

 

Apenas eliminar o nome de alguma coisa, propriamente, não elimina a coisa.

 

Eliminei a palavra jacaré,
mas, continuei não me vacinando.

Eliminei a palavra maria-vai-com-as-outras,
mas, continuei imitando.

Eliminei a palavra cagaço,
mas, continuei ajoelhando.

Eliminei a palavra fideísmo,
mas, continuei me ciliciando.

Eliminei a palavra deus,
mas, continuei negociando.

Eliminei a palavra céu,
mas, continuei acreditando.

Eliminei a palavra demônio,
mas, continuei me persignando.

Eliminei a palavra inferno,
mas, continuei me aterrorizando.

Eliminei as palavras seiscentos e sessenta e seis,
mas, continuei me intimidando.

Eliminei a palavra escapulário,
mas, continuei me devotando.

Eliminei a palavra cercilho,
mas, continuei me tonsurando.

Eliminei a palavra pecado,
mas, continuei não observando.

Eliminei a palavra excomunhão,
mas, continuei não anatematizando.

Eliminei a palavra apocalipse,
mas, continuei me assombrando.

Eliminei as palavras Juízo Final,
mas, continuei me horripilando.

Eliminei a palavra celibato,
mas, continuei me desvairando.

Eliminei a palavra abuso,
mas, continuei pedofilizando.

Eliminei a palavra oferenda,
mas, continuei dizimando.

Eliminei a palavra indulgência,
mas, continuei me confessando.

Eliminei a palavra preconceito,
mas, continuei separando.

Eliminei a palavra desamparo,
mas, continuei desfraternizando.

Eliminei a palavra analfabeto,
mas, continuei não ensinando.

Eliminei a palavra corrupção,
mas, continuei cuecando.

Eliminei a palavra desonestidade,
mas, continuei me desonrando.

Eliminei a palavra artimanha,
mas, continuei ludibriando.

Eliminei a palavra sacanagem,
mas, continuei agiotando.

Eliminei a palavra subterfúgio,
mas, continuei tergiversando.

Eliminei a palavra querela,
mas, continuei me altercando.

Eliminei a palavra futuro,
mas, continuei esperançando.

Eliminei a palavra traição,
mas, continuei conspirando.

Eliminei a palavra antidemocrático,
mas, continuei conjurando.

Eliminei a palavra anti-republicano,
mas, continuei mancomunando.

Eliminei a palavra vácuo,
mas, continuei zerando.

Eliminei a palavra vaidade,
mas, continuei me pavoneando.

Eliminei a palavra egoísmo,
mas, continuei despojando.

Eliminei a palavra mais-valia,
mas, continuei lucrando.

Eliminei a palavra mais-trabalho,
mas, continuei escravizando.

Eliminei a palavra danificar,
mas, continuei desmatando.

Eliminei a palavra desrespeitar,
mas, continuei me assenhoreando.

Eliminei a palavra deixapralá,
mas, continuei cagando e andando.

Eliminei a palavra desejo,
mas, continuei almejando.

Eliminei a palavra cobiça,
mas, continuei ambicionando.

Eliminei a palavra paixão,
mas, continuei delirando.

Eliminei a palavra cocaína,
mas, continuei cheirando.

Eliminei a palavra álcool,
mas, continuei entornando.

Eliminei a palavra jogatina,
mas, continuei roletrando.

Eliminei a palavra inércia,
mas, continuei dormitando.

Eliminei a palavra mesmice,
mas, continuei estagnando.

Eliminei a palavra inadimplência,
mas, continuei quebrantando.

Eliminei a palavra sofrência,
mas, continuei naufragando.

Eliminei as palavras magia negra,
mas, continuei mandingando.

Eliminei a palavra vida,
mas, continuei rosetando.

Eliminei as palavras Media Nox,
mas, continuei me toldando.

Eliminei as palavras fiat voluntas mea,
mas, continuei me obstinando.

Eliminei as palavras res extensa,
mas, continuei não transracionalizando.

Eliminei a palavra morte,
mas, continuei defuntando.

 

 

Segundo Aristóteles, o equívoco em que se cai no começo de qualquer reflexão, [como, por exemplo, os dois dogmas do Catolicismo: 1º) tudo o que existe foi criado por Deus a partir do Nada; e 2º) o mundo teve princípio no tempo], aumenta dez mil vezes com a continuação. Da mesma forma, o engano que se comete ao início de qualquer caminho, tanto mais se avoluma quanto mais se procede, se afastando do princípio, de maneira que no fim acaba por levar a um termo contrário àquele que era proposto.

 

Segundo Aristóteles, nenhuma tendência natural é vã.

 

Afirmar corpo e grandeza ilimitados é o mesmo que afirmar que não existem meio nem extremo nem nem região superior nem inferior.

 

Esta Terra, aquela e mais outra terra, este Sol, aquele e mais outro sol, todos se movimentam circularmente dentro do espaço-tempo ilimitado, através de espaços-tempos limitados e determinados e em torno dos próprios centros.

 

A Terra não é mais centro do que qualquer outro corpo sideral, e certos e determinados pólos não o são mais em relação à Terra do que a Terra é um certo e determinado pólo em relação a qualquer ponto do éter e do espaço-tempo mundano. E o mesmo acontece com todos os outros corpos, os quais, sob diferentes pontos, todos são, ao mesmo tempo, centros, pontos de circunferência, pólos, zênites e outras coisas mais. Portanto, a Terra não se encontra, em absoluto, no meio do Uni[multi]verso, mas, só em relação a esta nossa região. [E por Giordano Bruno ter escrito estas coisas, afrontando o Sistema Heliocêntrico, aceito inclusive por Aristóteles, os inquisidores esquizofrênicos e ignorantes, só encontraram uma opção: fogueira nele. Tudo isto porque a Tradição Iniciática e os Mistérios da Antigüidade viraram religiosidade e dogmatismo.]

 

Se alguma coisa, afastando-se de nós, procede, por exemplo, rumo à Lua, assim como nós dizemos que ela ascende, aqueles que estão na Lua e são nossos anticéfalos dirão que ela desce. Logo, aqueles movimentos que existem no Uni[multi]verso não apresentam diferença alguma de posição seja em cima, seja embaixo, seja aqui, seja lá, em relação ao Uni[multi]verso ilimitado, mas, sim, apenas em relação aos mundos finitos que existem neste Uni[multi]verso, quer tomados segundo a amplidão de inumeráveis horizontes mundanos, quer tomados segundo o número de inumeráveis astros. Daí, ainda, a mesma coisa, segundo o mesmo movimento, em relação a elementos diversos, afirmamos provir do alto e de baixo. [Em cima, embaixo, para o alto, para baixo, à direita, à esquerda, dentro, fora, perto, longe, pesado e leve etc. são uma mistureba de ignorância miraginal com boçalidade ilusória.] Isto tudo significa que os corpos não possuem movimento ilimitado, mas, movimento limitado e determinado acerca dos próprios termos. Mas, no indeterminado e no ilimitado não existe nem movimento limitado nem movimento ilimitado, e não há diferença de lugar nem de tempo. [Todo esse discurso só fez aumentar o número de toras que os inquisidores esquizofrênicos e ignorantes mandaram botar na fogueira que assou Giordano Bruno.]

 

Se o Uni[multi]verso é ilimitado, como se pode afirmar que há corpos graves e corpos leves? A Terra não é mais grave em seu lugar do que o Sol no seu, do que Saturno no seu e do que a Estrela Polar no dela.

 

A Natureza nada opera em vão.

 

Existem ilimitadas terras, ilimitados sóis e éter ilimitado. E existem diferentes espécies limitadas, umas contidas pelas outras e umas ordenadas para as outras. E todas essas espécies, mesmo diversas, concorrem todas para a construção de um inteiro Uni[multi]verso ilimitado, e para a construção de ilimitadas partes do ilimitado, pois, que de ilimitadas terras semelhantes a essa se origina, em ato, uma terra ilimitada, não como uma só entidade contínua, mas, como uma unidade constituída pela inumerável multidão delas. O mesmo raciocínio podemos aplicar às outras espécies de corpos, sendo eles como que partes (se é que podem ser chamadas partes) do ilimitado Uni[multi]verso, é necessário que sejam ilimitadas, segundo o volume que resulta de tal multidão. [Agora, dê uma paradinha aqui, e imagine um Tomás de Torquemada (ou um dos seus filhotes) lendo um treco destes! Cada parágrafo... Um peido!]

 

Sendo limitados os termos e as distâncias entre os corpos, assim também os movimentos resultam limitados, e como ninguém parte da Grécia para ir ao ilimitado, mas, para chegar à Itália ou ao Egito, assim, quando a Terra ou o Sol se movimentam, não se propõem a alcançar um termo ilimitado, mas, um um limite. [No caso da Terra, esse limite é a sua órbita.]

 

 

 

 

Se esta Terra é perpétua e eterna, não o é pela consistência das suas próprias partes e dos seus próprios indivíduos, mas, pela vicissitude de outros que ela difunde e de outros que lhes sucedem no lugar daqueles. De forma que, embora possuindo sempre a mesma alma e a mesma inteligência, o corpo da Terra sempre muda e se renova nas várias partes.

 

Tudo e todos nós estamos continuamente em transmutação, a qual faz com que cheguem a nós continuamente novos átomos e de nós partam aqueles anteriormente acolhidos. [Transmutação = Mudança Ininterrupta.]

 

 

 

 

O Uni[multi]verso ilimitado é um todo contínuo. [O nada não existe. Um dos maiores absurdos da Religião Católica é o dogma sem pé nem cabeça: Tudo o que existe foi criado por Deus a partir do Nada. Há mais de 2.500 anos, o filósofo grego Parmênides (530 a.C. – 460 a.C.) já ensinava: Ex nihilo nihil fit, que significa nada surge do nada.]

 

Todo movimento se verifica no espaço-tempo.

 

Entre o limitado e o ilimitado não existe proporção.

 

É impossível que uma ação ou uma paixão fiquem sem finalização.

 

O ilimitado não pode possuir partes.

 

Mil anos não são parte da eternidade porque não têm proporção em relação ao todo, mas, são partes de alguma medida de tempo, como de dez mil anos, de cem mil séculos.

 

Na ilimitada duração, isto é, na eternidade, não são mais as horas que os séculos, de maneira que toda a coisa que se considerar como parte do ilimitado, enquanto é parte do ilimitado, é ilimitada, quer na ilimitada duração, quer no volume ilimitado.

 

Uma coisa é imaginar e dizer partes no ilimitado e outra coisa é imaginar e dizer partes do ilimitado.

 

O ilimitado não é agente nem paciente, mas, neste ilimitado, as inúmeras partes limitadas possuem ação ou paixão. O ilimitado não é móvel nem alterável, mas, nele, os ilimitados elementos limitados são móveis e alteráveis.

 

A contigüidade não pode existir, a não ser num certo limite finito. [O que é contigüidade, em um Unimultiverso desde sempre ilimitado? Seja como for, não há necessidade de contigüidade para que uma coisa afete, sensibilize, desorganize, perturbe e desarranje outra, seja por pensamentos, seja por palavras, seja por ações. Como tudo é e a Unicidade é uma Lei Cósmica indestrutível, inabalável e imutável, como tudo e todos nós estamos interligados e interconectados, como, no Unimultiverso, não há um único ente que não seja e não esteja contíguo a outro, o Efeito Borboleta1 é unimultiversal. Enfim, no Unimultiverso, não há incontigüidade; tudo é e está contíguo a tudo. Não compreender isto é viver ao invés de , é morrer ao invés de e é não-ser ao invés de .]

 

Matei uma Periplaneta australasiæ, na Austrália,
e um irmão chorou e sofreu em Maranguape.

Matei um Ceratotherium simum, em Angola,
e um irmão chorou e sofreu na Cidade de Las Vegas.

Inventei a lenda do jacaré, no ,
e um irmão chorou e sofreu em Pau Grande.

Defendi o antivacinismo, em ,
e um irmão chorou e sofreu em Curralinho.

Defendi o negacionismo, pelo afora,
e um irmão chorou e sofreu nas Ilhas Maurício.

Sustentei o apartheid de vacinas, no ,
e um irmão chorou e sofreu no Estado da Eritréia.

Sentenciei Giordano Bruno à morte, no Campo de' Fiori,
e um irmão chorou e sofreu na Fossa das Marianas.

Assassinei o Presidente Kennedy, em Dallas,
e um irmão chorou e sofreu no Deserto de Gobi.

Assassinei o Mahatma Gandhi, em Nova Delhi,
e um irmão chorou e sofreu na Praia do Arpoador.

Assassinei a , no Estácio,
e um irmão chorou e sofreu no Pólo Sul.

Estuprei uma menina Yanomami, em Boa Vista,
e um irmão chorou e sofreu no Pólo Norte.

Derrubei uma árvore, na Amazônia Brasileira,
e um irmão chorou e sofreu em Mercúrio.

Poluí o ar, em Bangladesh,
e um irmão chorou e sofreu em Vênus.

Escravizei uma criança, em Serra Leoa,
e um irmão chorou e sofreu em Marte.

Pedofilizei um impúbere, em Boston,
e um irmão chorou e sofreu em Júpiter.

Furtei uns caraminguás de uma velhinha, em Taiwan,
e um irmão chorou e sofreu em Urano.

Fiz uma rachadinha safada, em New York City,
e um irmão chorou e sofreu em Netuno.

Maloquei um tutu corrupto na cueca, em Lisboa,
e um irmão chorou e sofreu em Plutão.

Enganei uma freira, em Abadiânia,
e um irmão chorou e sofreu na Lua.

Topei uma insider trading, em Caracas,
e um irmão chorou e sofreu no Sol.

Fiz uma canalhice, em Mar del Plata,
e um irmão chorou e sofreu na Estrela Sirius.

Inventei uma sacanagem, no Vaticano,
e um irmão chorou e sofreu em Andrômeda.

Condenei à morte um irmão, na Arábia Saudita,
e um irmão chorou e sofreu na Grande Nuvem de Magalhães.

Invadi a Ucrânia e genocidei os ucranianos,
e um irmão chorou e sofreu, lá... Onde o Unimultiverso faz a curva.

 

Tão forte é aquele que repele e resiste quanto aquele que impele e insiste. E daí não deriva alteração alguma.

 

Dois contrários opostos, sempre resulta ação limitada e alteração limitada, tanto supondo um deles ilimitado e o outro limitado como supondo ambos ilimitados.

 

Muito além daquele limite imaginário do céu sempre existe uma região etérea e corpos mundanos, astros, terras, sóis e seres animados, todos absolutamente sensíveis em relação a si mesmos, e para aqueles que estão dentro ou perto deles, apesar de não serem sensíveis para nós, por causa de seu afastamento e distância.

 

No que concerne à falsíssima suposição da fixidez da Terra, brada toda a Natureza, clama toda a razão e sentencia todo intelecto reto e bem informado. [Afirmar uma coisa destas no século XVI só poderia dar em fogueira mesmo! Não há absolutamente nada fixo no Unimultiverso. O que, supostamente, estivesse fixo e imóvel seria o nada, e o nada não existe.]

 

Nada é grave [que ou aquilo que tem peso] ou leve em sentido absoluto, mas, relativo: isto é, em relação ao lugar para o qual as partes difusas e esparsas convergem e se agregam.

 

Em sentido absoluto [inquestionável]
sentido que desconhecemos –
nada é grave, nada é leve,
nada é bom, nada é mau,
nada é alto, nada é baixo,
nada é permanente, nada é transitório,
nada é logo ali, nada é lá longe,
nada é útil, nada é inútil,
nada é fácil, nada é difícil,
nada é inatingível, nada é alcançável,
nada é passageiro, nada é perdurável,
nada é autônomo, nada é dependente,
nada é proibido, nada é permitido,
nada é pecaminoso, nada é virtuoso,
nada é simples, nada é complexo,
nada é novo, nada é arcaico,
nada é importante, nada é insignificante,
nada é mais, nada é menos,
nada é menos, nada é mais,
nada é meritório, nada é insignificante,
nada é perfeito, nada é defeituoso,
nada é livre, nada é condenável,
nada é seguro, nada é perigoso,
nada é nada, nada é tudo,
nada é não, nada é sim,
nada é e nada não é...
Somos nós que, broncos e incultos,
categorizamos as coisas,
e, sofrendo, acabamos agrilhoados
às categorias que inventamos.
 

No que tange e concerne
à nossa compreensão
das coisas existentes
e à propria existência destas coisas
– tanto in se  quanto  per se
para nós, nada foi, nada é e nada será
inteligível em sentido absoluto,
acabado, pleno, inteiro,
cabal, completo e irrestrito.
Depreendemos as coisas,
mais ou menos concertadamente,
mais ou menos ordenadamente,
mais ou menos harmonizadamente,
tão-somente em conformidade
com a nossa capacidade cultural,
com a nossa possibilidade intelectiva
e com a nossa faculdade dialética
de compreendê-las, e isto
imanentemente acrescentadamente,
desde que as realidades percebidas
– miragens + ilusões + delírios + ilogicidades +
desejos + cobiças + paixões + preconceitos –
dêem lugar à Atualidade Cósmica Una,
desde sempre e para sempre a mesma.

 

 

 

 

Portanto, para nós e para todos os
seres unimultiversais, invariavelmente,
a verdade será sempre relativa e transitiva,
a ciência será sempre relativa e transitiva,

a sabedoria será sempre relativa e transitiva,
a existência será sempre relativa e transitiva,
a liberdade será sempre relativa e transitiva,
a iluminação será sempre relativa e transitiva,
a res cogitans será sempre relativa e transitiva,
o bem será sempre relativo e transitivo,
o amor será sempre relativo e transitivo,
a paz será sempre relativa e transitiva,
a beleza será sempre relativa e transitiva,
o ilusório tempo será sempre relativo e transitivo,
o ilusório espaço será sempre relativo e transitivo,
e cada um de nós também será relativo e transitivo,
ainda que, sem vermos e sem conhecermos,
haja, sim, uma Verdade Absoluta e Permanente,
haja uma Scientìa Absoluta e Permanente,
haja uma
ShOPhIa Absoluta e Permanente,
haja uma Vida Absoluta e Permanente,
haja uma Liberdade Absoluta e Permanente,
haja uma LLuz Absoluta e permanente,
haja uma Ratìo Absoluta e Permanente,
haja um Summum Bonum Absoluto e Permanente,
haja um Amor Cósmico Absoluto e Permanente,
haja uma Paz Profunda Absoluta e Permanente,

haja uma Beleza Absoluta e Permanente,
haja um Espaço-tempo Absoluto e Permanente,
e haja uma Divindade Absoluta e Permanente
no interior (in Corde) de cada um de nós.
Conseguiremos, um dia, confirmar tudo isso?
Inteiramente, não. São coisas ± incomprováveis,
porque, na totalidade, são inalcançáveis.
Só a Transintuição Iniciática nos ajudará
a, relativamente, ultrapassar nossa insciência congênita,
nossa teimosia escravizante e conatural
e nossa vaidade fútil e quimérica.
Teremos que peregrinar ad æternum,
lutando o Bom Combate diuturnamente,
de tal forma que, assintoticamente,
devagar, possamos ir realizando e
possamos ir nos aproximando da
Ilimitada Unicidade Unimultiversal
– sempre com categórica paciência,
sempre com despretensiosa humildade,

sempre conciliados com o Fiat Voluntas Tua,
equilibrada e seguramente, aprendendo a .

 

 

 

 

É, pois, um só o céu, um só o espaço imenso, uma só a abóbada, um só o continente unimultiversal, uma só a região etérea pela qual tudo passa e tudo se movimenta. Aí podem ser observados sensivelmente inúmeras estrelas, astros, globos, sóis e terras e, com razão, se chega a conjeturar que são ilimitados. O Uni[multi]verso imenso e ilimitado é o composto que resulta de tal espaço-tempo e de tantos corpos nele contidos. Tudo é um só campo; tudo é um receptáculo geral. [Uni[multi]verso = Universos.]

 

O movimento deste mundo onde moramos, por sua alma e natureza próprias, gira ao redor do Sol e se volta em torno do próprio centro. [E toma de fogueira!]

 

Tudo quanto no céu e sob o céu podemos ver não está parado, mas, se move e gira. E tudo
se movimenta até chegar ao ponto que lhe compete.

 

Foi a pura imaginação ilusória que nos impôs a quimera de ser a nossa Terra o centro do Uni[multi]verso – [que, por ser ilimitado, não pode ter centro] e que, estando só ela fixa e imóvel, tudo o mais se move ao redor dela. [Teoria do Universo Geocêntrico ou Geocentrismo. Na Antigüidade, era raro quem discordasse desta cegueira, e entre os filósofos cegos que defendiam esta teoria, o mais conhecido e o mais famoso foi o cego Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C.).]

 

Nem centro nem periferia,
nem dentro nem fora,
nem alto nem baixo,
nem sul nem norte,
nem leste nem oeste,
nem perto nem longe,
nem frente nem retaguarda,
nem espaço nem tempo,
nem aqui nem ali,
nem isso nem aquilo,
nem ontem, nem hoje, nem amanhã,
nem nem ...

Na verdade, na verdade,
sem hipocrisia nem falsidade,
sem futilidade nem vanidade,
sem embromação nem anormalidade,
sem babaquice nem nescidade,
nem Geocentrismo nem Heliocentrismo,
nem Big Bang nem big the end,
nem parido do nada nem apocalipse,
nem Juízo Final nem fim do mundo,
nem qualquer outra maluquice delirante
para explicar o que não compreendemos.
Quem pode afirmar alguma coisa
sobre o que é finito, porém, ilimitado?
O máximo que podemos dizer
sobre o nosso Unimultiverso
é que Ele é finito, porém, ilimitado.
E... Mesmo assim... Sei lá!
Os que palavreavam outra coisa
foram os mesmos inquisidores cruéis e esquizofrênicos
– não mais do que eunucos filhos-da-puta –
que, para puxar o saco do papa Clemente VIII
e manter os seus pés-de-altar, direitos de estola,
barriga cheia e cama quentinha,
mandaram o Giordano Bruno para a fogueira!

Ora, como pode ter
centro ou periferia,
dentro ou fora,
altura ou sofralda,
sul ou norte,
leste ou oeste,
proximidade ou lonjura,
frente ou retaguarda,
espaço ou tempo,
aqui ou ali,
isso ou aquilo,
ou ,
o que, desde sempre e para sempre,
é finitamente ilimitado?

 

Todos nós, que entendemos muito pouco, se não conseguirmos entender os raciocínios, deveremos escutar as palavras; se não escutarmos as palavras, pelo menos, deveremos tentar ouvir a Voz.

 

Continua...

 

 

_____

Nota:

1. O meteorologista, matemático e filósofo estadunidense Edward Norton Lorenz (West Haven, 23 de Maio de 1917 – Cambridge, 16 de Abril de 2008) afirmou que há uma dependência sensível das condições iniciais, dentro da Teoria do Caos. Na Teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta em Quixeramobim, um Município brasileiro do Estado do Ceará, poderia influenciar o curso natural das coisas, e, assim, talvez, provocar um tufão do outro lado do mundo, quem sabe na Metrópole de Tóquio, a capital do Japão. O Efeito Borboleta faz parte da Teoria do Caos, a qual encontra aplicações em qualquer área das ciências: exatas (engenharia, física etc.), médicas (medicina, veterinária etc.), biológicas (biologia, zoologia, botânica etc.) ou humanas (psicologia, sociologia etc.), na arte e na religião, entre outras aplicações, seja em áreas convencionais e não-convencionais. Assim, o Efeito Borboleta encontra também espaço em qualquer sistema natural, ou seja, em qualquer sistema que seja dinâmico, complexo e adaptativo. Tudo isso me leva a repetir mais uma vez: somos responsáveis por tudo, inclusive pela inexistência de cabelos na careca do Kojak e de pentelhos em um bola de bilhar .

 

Música de fundo:

Nimrod Variation (Enigma Variations)
Composição: Edward William Elgar
Arranjado para órgão por Jim Paterson

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=aTkzgD2Uhco&t=10s

Observação:

Admite-se que esta composição esteja associada ao 1º Raio (Vontade Divina).

 

Páginas da Internet consultadas:

https://br.pinterest.com/pin/538532067945986595/

https://br.depositphotos.com/vector-images/brasilia-niemeyer.html

http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta

https://community.adobe.com/

https://giphy.com/explore/earth-and-sun

https://pt.wikipedia.org/wiki/Anima_mundi

https://www.deviantart.com/

https://www.gratispng.com/baixar/concertina.html

https://gifs.alphacoders.com/by_sub_category/274763

https://dribbble.com/shots/6248622-Surprise

https://www.freevector.com/ufo-cartoon-vector-20278

https://www.123rf.com/clipart-vector/green_alien.html

https://viversempreconceitos.com.br/2022/06/11/__trashed/

https://giphy.com/explore/clock

https://www.flaticon.com/free-icon/military-boot_24936

https://consciencial.org/textos-extras/compreendendo-as-dimensoes/

https://stock.adobe.com/br/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Giordano_Bruno

https://www.infoescola.com/filosofos/giordano-bruno/

https://www.amazon.com.br/Sobre-Infinito-Universo-
os-Mundos-ebook/dp/B07TZBSTN2

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.