SOBRE O INFINITO, O UNIVERSO E OS MUNDOS
(Primeira Parte)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

Este estudo se constitui da 1ª parte de uma coleção de alguns excertos escolhidos (eventualmente comentados e ligeiramente editados) da obra Sobre o Infinito, o Universo e os Mundos, de autoria de Giordano Bruno, que, estimulado pela introdução do sistema heliocêntrico do astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (Torun, 19 de fevereiro de 1473 – Frombork, 24 de maio de 1543) e tomado de um profundo gosto pela controvérsia, defendeu a idéia da pluralidade dos mundos. Seu ponto de partida foi contestar com veemência as posições aristotélicas, favoráveis ao Geocentrismo e à idéia da existência de um único mundo. O fato é que a teoria de Bruno mudou completamente a forma de se enxergar o Universo, que, até então, era tido como algo limitado, no tempo e espaço, com uma ordem fixa. A partir de uma argumentação filosófica, Bruno mostrou que não há limites para o Universo e que a Terra é apenas mais um planeta em meio a uma infinidade de outros. Bruno pagou um alto preço por suas idéias: acabou executado como herege pela Inquisição, se transformando em um mártir da liberdade de pensamento. A versão impressa que tenho desta obra foi traduzida por Helda Barraco e Nestor Deola.

 

 

Breve Biografia

 

 

Giordano Bruno

 

 

Giordano Bruno (em latim: Iordanus Brunus Nolanus; nascido Filippo Bruno, (Nola, Reino de Nápoles, 1548 – Campo de' Fiori, Roma, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor, matemático, poeta, teórico de cosmologia, ocultista hermético e frade dominicano italiano condenado à morte na fogueira pela esquizofrênica Inquisição Romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício), com a acusação de heresia, ao defender alegações consideradas erros teológicos. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano. É considerado por alguns como um mártir da igreja dos tempos de então, tendo contribuído para avanços significativos do conhecimento do seu tempo. Ele é conhecido por suas teorias cosmológicas, que, conceitualmente, estenderam o então novo modelo copernicano. Ele propôs que as estrelas fossem sóis distantes cercados por seus próprios planetas e levantou a possibilidade de que esses planetas criassem vida neles próprios, uma posição filosófica conhecida como pluralismo cósmico. Ele também insistiu que o Universo é infinito e não poderia ter um centro.

 

 

O Julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana.
(Relevo em Bronze por Ettore Ferrari, Campo de' Fiori, Roma.)

 

 

A partir de 1593, Bruno foi julgado por heresia pela Inquisição Romana, acusado de negar várias doutrinas católicas essenciais, incluindo a condenação eterna, a Trindade, a divindade de Jesus, a virgindade de Maria e a transubstanciação. O panteísmo de Bruno também era motivo de grande preocupação, assim como seus ensinamentos sobre a transmigração da alma. A Inquisição o considerou culpado e ele foi queimado na fogueira no Campo de' Fiori, em Roma, em 1600. Após sua morte, ganhou fama considerável, sendo particularmente comemorado por comentaristas do século XIX e início do século XX, que o consideravam um mártir de ciência, embora os historiadores concordem que seu julgamento por heresia não foi uma resposta a seus pontos de vista astronômicos, mas, sim, uma resposta a seus pontos de vista filosóficos e religiosos. O caso de Bruno ainda é considerado um marco na história do livre-pensamento e das ciências emergentes.

 

Além da Cosmologia, Bruno também escreveu extensivamente sobre a arte da memória, um grupo pouco organizado de técnicas e de princípios mnemônicos. A historiadora Frances Yates argumenta que Bruno foi profundamente influenciado pela Astrologia Árabe, particularmente a Filosofia do polímata Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide (Córdova, 1126 – Marraquexe, 1198), conhecido como Averróis, pelo Neoplatonismo, pelo Hermetismo renascentista e por lendas do gênero Gênesis em torno do deus egípcio Thoth. Outros estudos de Bruno se concentraram em sua abordagem qualitativa da matemática e sua aplicação dos conceitos espaciais da geometria na linguagem.

 

 

Estátua de Giordano Bruno (Roma, Itália)

 

 

Excertos da Obra

 

 

Por ser eu delineador do campo da Natureza, por estar preocupado com o alimento da [personalidade-]alma, por estar interessado pela cultura do espírito e por estar dedicado à atividade do intelecto, eis que os visados me ameaçam, os observados me assaltam, os atingidos me mordem, os desmascarados me devoram. E não é só um, não são poucos, são muitos, são quase todos.

Não invejo os que são servos na liberdade, que sofrem no prazer, que são pobres nas riquezas e que são mortos em vida, porque trazem no próprio corpo os grilhões que os prendem, no espírito o inferno que os oprime, na [personalidade-]alma o erro que os debilita, na mente o letargo que os mata. Não há, por isso, magnanimidade que os liberte nem longanimidade que os eleve, não há esplendor que os abrilhante nem ciência que os avive.

Oxalá apareça ao mundo algum fruto útil e glorioso do meu trabalho, por despertar o espírito e abrir o sentimento àqueles que estão privados de LLuz.

Se erro, não creio errar intencionalmente. Falando e escrevendo, não disputo pelo simples amor da vitória em si mesma (porque eu considero inimigas de Deus, abjetas e sem motivo de honra todas as reputações e vitórias, quando não fundamentadas na verdade), mas, por amor da Verdadeira Sabedoria e por dedicação à Verdadeira Contemplação eu me afadigo, me sacrifico, me atormento.

 

Busco a LLUZ, e não a luz.
Busco O-QUE-É, e não o-que-não-é.
Busco a UNICIDADE, e não a separatividade.
Busco o ETERNO, e não o transitório.
Busco o ESPAÇO-TEMPO, e não o espaço-tempo.
Busco a VERDADE, e não as miragens e ilusões.
Busco a MORTE, e não a morte.

Busco a VIDA, e não a vida.
Busco a MINHA DIVINDADE, e não a infernidade.

 

Todos os raciocínios válidos que procedem de um juízo reto, informados por imagens não-falsas, as quais, como verdadeiras embaixatrizes, se desprendem das coisas da Natureza, e se tornam presentes àqueles que as procuram, patentes àqueles que as contemplam, claras para os que as assimilam, certas para todos aqueles que as compreendem.

 

A inconstância dos sentidos demonstra que eles não são princípio de certeza. Daí se infere que a verdade é relativa nos diversos sujeitos. [Se a peregrinação é ilimitada, a Verdade Absoluta é inalcançável. Todas as verdades concebidas são relativas.]

 

Infinidade do Universo. [É mais razoável admitirmos a existência um número ilimitado de Universos, incriados, que devem perdurar indefinidamente, em movimento e mudança perpétuos, de tal forma que: número ilimitado de Universos = Unimultiverso. Portanto, não há, propriamente, um Universo infinito, mas, sim, um Unimultiverso finito, porém, ilimitado, formado por ilimitados Universos. A idéia teológica de um Universo exclusivo e único, criado por um deus onipotente a partir do nada procede de um juízo falso, alicerçado e consolidado em uma imagem igualmente falsa e irracional. O nosso Sistema Solar é apenas um entre ilimitados sistemas solares, existentes em ilimitadas galáxias, presentes em ilimitados Universos.]

 

 

Unimultiverso
(Simbolicamente)

 

 

Não se pode fugir ao vácuo. O vácuo é aquilo em que nada existe. [No Unimultiverso, não prosperam nem existem o vácuo e o nada. Ora, se, hipoteticamente, o vácuo e o nada existissem, eles teriam que ter sido gerados por alguma coisa. Ex nihilo nihil fit. Nada surge do nada. O Ser (que nunca teve começo e jamais terá fim) não pôde ter começado a existir a partir do nada. Este conceito é atribuído ao filósofo grego Parmênides de Eléia (530 a.C. – 460 a.C.), que também afirmou: Deve-se dizer e pensar de Algo-que-é, porque existe o Ser, não, entretanto, o não-ser. Mutatis mutandis, deve-se dizer e pensar que a VIDA é, porque a morte não existe.]

 

 

Parmênides de Eléia

 

Nenhuma Aptidão é eterna sem Ato. [Todas as nossas aptidões só surgirão pelo Bom Combate.]

Não podemos negar o Ilimitado nem o Espaço-Tempo, pelo fato de não os compreendermos com os sentidos.

Assim como é bom que exista este mundo, é igualmente bom que exista cada um de ilimitados outros mundos. [Tudo no Unimultiverso é necessário; nada é vão, fútil ou insignificante. Logo, no Unimultiverso, não há entes mais importantes nem entes menos importantes, superiores e mixururucas, russos e ucranianos, sejam intraterrestres, sejam terrestres, sejam extraterrestres, sejam ultradimensionais. A Teoria da Relatividade Geral propõe uma geometria quadridimensional conhecida como espaço-tempo, e teorias mais modernas sugerem a existência de dez ou onze dimensões. A Teoria das Cordas descreve o Unimultiverso com dez dimensões e a Teoria da Supergravidade e a Teoria-M descrevem o Unimultiverso com onze dimensões. Então, eu me pergunto: por que não doze dimensões? Por que não cento e quarenta e quatro dimensões? Por que não ilimitadas dimensões?]

 

 

(Simbolicamente)

 

 

A razão justifica a existência de tudo aquilo que possa existir. [Entretanto, só a experiência pessoal intransferível e intransmissível ou a Transrazão Iniciática poderão confirmar a existência daquilo que a razão admite que exista. Simplesmente acreditar que alguma coisa possa existir por existir (como um deus onipotente ou um demônio enxofrento, por exemplo) é miragem + ilusão + fé, e miragem + ilusão + fé são sinônimos de ignorância aprisionadora.]

É rico todo aquele a quem não falta nada naquilo que tem.

Afirmando que o Unimultiverso é ilimitado, é alcançada a paz do intelecto; mas, defendendo a posição contrária, surgem sempre inumeráveis dificuldades e inconvenientes.

O Unimultiverso é efetivo, ativo, esférico e ilimitado.

O movimento dos mundos não é originado por um motor extrínseco, mas,sim, pela própria alma de cada um deles. [O Unimultiverso é VIDA, cada mundo existente é VIDA, cada ente unimultiversal é VIDA.]

Todos os atributos da Divindade são equivalentes.

As coisas limitadas não são menos do que o Unimultiverso ilimitado.

O espaço-tempo não é mais do que matéria.

Todas as potências passivas devem se transformar em ato. [Mutatis mutandis, o delírio da vida deve se transformar (transmutar) em consciência da VIDA.]

Todas as dimensões são simultâneas e coexistentes.

Tomando em outra acepção a palavra céu, os céus são ilimitados, pois, como esta Terra possui o seu céu que é a sua região, na qual se move e a qual percorre cada uma de todas as outras inumeráveis terras possui o seu céu.

Não existe estrela que não se mova, e o movimento próprio de cada estrela se toma da diferença que, subjetivamente, se pode verificar nela, como móvel que se move por si próprio no campo do espaço-tempo.

É diferente o modo de como se movem os sóis, que são corpos nos quais predomina o fogo, do modo como se movem as terras, nas quais a água predomina.

Corpos extremamente distantes de um Sol podem, igualmente, como aqueles que estão mais próximos, participar do seu calor.

Há possibilidade de muitos mundos serem habitados.

Todas as partículas se movem: fluem, refluem, influem e efluem. [Não há estaticidade (imobilidade) no Unimultiverso; tudo se move.]

A multidão de mundos é ilimitada.

O movimento retilíneo não convém à Terra ou a outros corpos nem lhes pode ser natural.

 

 

Órbita Terrestre Clássica de Kepler

 

O que adianta ter capacidade de tocar harpa mas não tocar por defeito da harpa? O que adianta saber fazer uma coisa mas não fazer? [Ora, se a harpa está com defeito, ou nós a consertamos ou mandamos alguém que saiba consertá-la. O que não não é possível é sabendo e podendo fazer uma coisa não fazê-la e botar a culpa no demônio!]

 

 

 

Não devemos temer jamais que coisa alguma dilua nossas convicções mais elevadas, que nenhum elemento particular as disperse ou que as façam cair em inanição, que se espalhem em um ilusório vácuo, que sejam desmembradas nem que possam ser aniquiladas. [Certamente, depois da Terceira Iniciação (Transfiguração), isto jamais acontecerá.] Se estivermos atentos e vigilantes, nenhum acidente estranho nos afastará por dor ou temor nem nenhuma fortuna nos distrairá por prazer ou esperança.

A história da Natureza está escrita em cada um de nós, e as Leis Divinas estão esculpidas no centro do nosso Coração. [É por isto – e só por isto que todos nós somos Deuses in potentia!]

Quantas coisas mais não nos será permitido meditar e compreender, uma vez que tenhamos considerado, compreendido e realizado que somos Deuses in potentia! [Não há limite para a nossa compreensão, mas, tudo depende apenas de nós!]

Precisamos aprender a desfrutar a existência agora, no presente, e temer menos ao esperar o futuro. [Precisamos, sim, não temer nada e aprender que não há passado nem futuro!]

Se considerarmos mais profundamente o Ser e a Substância de AQUILO em que nos movemos e somos, ficaremos cientes de que não existe a morte, não só para nós como também para qualquer ente ou substância, uma vez que nada diminui substancialmente, mas, tudo, deslizando pelo Espaço-Tempo, apenas muda de aparência. E porque estamos todos sujeitos a um Ótimo-Efetivo, não devemos crer, julgar nem esperar outra coisa senão que, como tudo vem do Bom, assim tudo é Bom, pelo Bom e para o Bom, ou seja, do Bem, pelo Bem e para o SUMO BEM.

De uma coisa sempre sucede outra coisa [construção —› destruição —› reconstrução], e não há uma força pela qual nos converta irreparavelmente em nada. Não existem fins, termos, margens, muralhas que nos defraudem e nos roubem a infinita abundância das coisas.

Como bem compreenderam o filósofo pré-socrático da Grécia Antiga Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C. 370 a.C.) e o filósofo grego do período helenístico Epicuro de Samos (341 a.C., Samos 271 ou 270 a.C., Atenas), tudo, sem exceção, se renova e se recompõe ilimitadamente. No Unimultiverso, o mesmo número não sucede o mesmo número nem as mesmas partes da matéria se transformam nas mesmas partes. [Ainda que o passado e o futuro sejam miragens e ilusões da nossa inconsistência existencial (o-que-não-é), o Eterno Presente, per se, se caracteriza por permanente movimento e ininterrupta mudança.]

 

 

O-QUE-NÃO-É
(Miragens + Ilusões da Nossa Inconsistência Existencial)

 

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o Brasil fosse hexacampeão,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o meu 'Struthio camelus' fosse sorteado,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o meu bilhete fosse premiado,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que eu achasse as Minas do Rei Salomão,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que eu encontrasse o Tesouro de Montezuma,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que me dessem uma informação privilegiada,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que eu ganhasse uma herança e ficasse rico,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que a perereca da vizinha saísse da gaiola,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o Lobo Mau virasse um Lobo Bom,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que não desmatassem mais a Amazônia,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que não poluíssem mais os rios com ,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que não massacrassem mais os animais,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que não aviltassem mais os ,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o meu patrão me promovesse,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que, no domingo, fizesse um solzinho,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que os desastres naturais terminassem,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que as news chegassem ao fim,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que a mais-valia e o sobretrabalho findassem,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que a Xântipe cedesse aos meus encantos,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o meu candidato fosse eleito,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o outro candidato não ganhasse,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que, não me vacinando, não pegasse COVID-19,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que a lenda do jacaré caísse no esquecimento,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o Ocidente zerasse o putinicídio,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o Putin tivesse misericórdia,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que o mal desaparecesse da Terra,
mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para
que a impiedade e iniqüidade evaporassem,

mas, para meu desespero, não aconteceu!

Esperei, ajoelhei e rezei para...
E, enfim, eu acabei compreendendo:
'tudo tem o seu tempo determinado'!

Mas, há coisas que jamais acontecerão,
como, por exemplo, borboleta namorar minhoca
e do nada pintar um pote cheio de ouro!

 

Por que viver como um papagaio engaiolado, saltitando para cá e para lá, cabriolando e dando voltas entre círculos imaginários? Por que viver destruído por um sonho, agrilhoado a uma mania, disperso por uma quimera, diminuído por uma desventura, arrebatado por um engano, dominado por um pensamento vão?

 

Por meio da Alta Ciência, seremos libertos dos grilhões impedientes de um angustíssimo império, para sermos promovidos à Liberdade de um Império Augustíssimo, que nos arrancará das milenares pobreza e estreiteza, para nos dar as inumeráveis riquezas de tanto espaço, de tão digno campo e de tantos mundos cultos, evitando que o círculo do horizonte, falso à vista na Terra e imaginado pela fantasia no éter espaçoso, encarcere o nosso Espírito sob a guarda de um Plutão [deus dos mortos e das riquezas na Mitologia Romana, competente nas suas vinganças e maldições, na destruição e na morte, sendo equivalente ao deus Hades, o deus grego do submundo] e à mercê de um Júpiter [deus romano do dia, do céu e do trovão – o rei dos deuses na Mitologia Romana comumente identificado com o deus grego Zeus].

 

Oh! Que todos nós, sem exceção, [lutando o Bom Combate], possamos Compreender pelo nosso próprio juízo interior! Oh! Que todos nós, sem exceção, possamos, por nós mesmos, construir o edifício inteiro da nossa Filosofia! Oh! Que todos nós, sem exceção depois de havermos limpado o campo de todas as pragas, de todo o joio e de de todas as ervas daninhas possamos abastecer o celeiro de estudiosas inteligências com o melhor trigo que o terreno da nossa cultura possa produzir!

 

Mesmo que a Verdade – [ainda que sempre relativa] esteja escancarada, muitos não querem acreditar.

 

Não são os sentidos que percebem o ilimitado. Não é pelos sentidos que chegamos a esta conclusão, porque o ilimitado não pode ser objeto dos sentidos. Por isso aquele que procura esclarecer tudo isto através dos sentidos se parece com aquele que procura enxergar com os olhos a substância e a essência; e aquele que as negasse, por não serem sensíveis ou visíveis, negaria a própria Substância e o próprio Ser.

 

Deve haver cautela em recorrer ao testemunho dos sentidos, os quais só devem ser admitidos no campo das coisas sensíveis, mesmo assim aceitando-os com certa suspeita, se não emitirem um julgamento de acordo com a razão. [Sentidos —› Escravidão, no espaço-tempo, a o-que-não-é. Razão —› Compreensão, no ESPAÇO-TEMPO, de O-QUE-É —› Transrazão —› Libertação —› Illuminação —› Divinização.]

 

Nossos sentidos, pelo fato de não poderem nos contradizer, e, ainda mais, por tornarem evidente e confessarem sua incapacidade e insuficiência na aparência da finitude causada pelos limites de seu horizonte, patenteiam e tornam evidente como são inconstantes.

 

Os sentidos servem somente para excitar a razão, para tomar conhecimento, indicar e dar testemunho parcial, não para testemunhar sobre tudo, nem para julgar, nem para condenar. Porque nunca, mesmo perfeitos, são isentos de alguma perturbação. Por isto, a Verdade, em pequena parte, brota desse fraco princípio, que são os sentidos, mas, não reside neles.

 

A Verdade – [ainda que sempre relativa] brota na razão como argumentação e discurso,
no intelecto como princípio e conclusão, na mente como forma própria e viva.
[Negar a Ciência é negar a si mesmo. Negar a mente é negar a si mesmo. Negar a razão é negar a si mesmo.]

 

A Divindade não tem por função encher o [inexistente] vácuo.

 

Tudo o que se diz terminar ou é forma exterior ou é corpo continente.

 

Haverá inconveniente maior de haver posto o nada além do céu?

 

Onde não existe nada não existe diferença alguma (onde não existe nada, nada pode ser contrário a nada); onde não existe diferença não há diferentes aptidões; e, provavelmente, não existe aptidão alguma onde não existe coisa alguma. [Mas, como o nada peripatético não existe, sempre existirá alguma coisa. Então, fazendo um jogo se palavras, o nada é alguma coisa.]

 

No espaço-tempo, igual à grandeza do mundo, que é chamada matéria pelos platônicos, está este mundo, assim outros podem existir, e em inúmeros espaços-tempos, além deste, semelhantes a este. [O Unimultiverso é Vida e está coalhado de vidas. Não há um grão de areia em que não esteja presente e ativa a Vida.]

 

A experiência é contrária ao vácuo e não ao pleno. No mínimo, é razoável e até necessário que o espaço-templo seja pleno. No nada e no vácuo não se podem estabelecer diferenças. Logo, o pleno deve existir, pode existir e existe. De fato, seria um mal que o espaço-tempo não fosse pleno. Por conseqüência, o Uni[multi]verso é de dimensão ilimitada e os mundos são inumeráveis [ilimitados].

 

Se há razão para que exista um bem limitado, um perfeito terminado, há também razão para que exista um Bem Ilimitado, porque, onde o bem finito existe por conveniência e razão, o Perfeito Ilimitado incorpóreo existe por absoluta necessidade.

 

A Excelência Ilimitada se apresenta incomparavelmente melhor em indivíduos inumeráveis que naqueles que são numeráveis e limitados.

 

Por causa dos inúmeros e ilimitados graus de perfeição, faz-se necessário um espaço-tempo ilimitado.

 

Como é bom que este mundo exista, é igualmente bom que existam inúmeros mundos semelhantes a este. [Como é bom e útil que nós existamos, é igualmente bom e útil que existam outros seres (tanto menos avançados quanto mais avançados do que nós) nos ilimitados mundos, dos ilimitados Universos, do ilimitado Unimultiverso. Ora, se eu tivesse dito isto no século XV, teria sido queimado vivo junto com Giordano Bruno, sem direito sequer a uma ventarola! É mesmo inacreditável e inconcebível que a esquizofrenia reinante na Igreja Católica Medieval tenha mandado para a fogueira milhares + milhares de presumidos heréticos, apenas por discordarem dela. Seja como for, eppur si muove! Todavia, mais inacreditável e inconcebível ainda é a quantidade de pessoas que continua de joelhos para essa fábrica de impedimentos absurdos, de obediências irracionais e de pedofilias criminosas que, apesar de não mandar matar mais ninguém, por outro lado, não consegue se livrar da sua medievalidade desastrada e retrogressiva, dos seus dogmas fideístas acachapantes e da sua estaticidade paralisante!]

 

Podemos admitir que todas as coisas e todos os seres limitados que existem neste espaço-tempo terrestre limitado possuam uma certa perfeição relativa adquirida, mas, por enquanto, nada podemos afirmar de concreto a respeito daquelas coisas e daqueles seres que possam ter conveniente razão para existir [e que, certamente, existem] em outros inumeráveis mundos de outros espaços-tempos.

 

 

Simbolicamente

 

 

O todo é um corpo esférico.

 

Com humildade, precisamos aprender a aceitar aquilo que não é possível negar. [Como, por exemplo, a necessidade e a excelência do Estado Democrático de Direito, da liberdade e da laicidade.]

 

O Uni[multi]verso deve ser ilimitado pela capacidade e aptidão do espaço ilimitado e pela possibilidade e conveniência da existência de ilimitados mundos como este.

 

Em Deus, são a mesma coisa a potência, a operação e o efeito, e, portanto, o poder e o fazer.

 

O Uni[multi]verso está todo em tudo. [Por isto, se admite que cada ser-humano-aí-no-mundo e cada coisa existente sejam microcosmos.]

 

O Uni[multi]verso é ilimitado porque não possui limite, nem termo, nem superfície; o Uni[multi]verso não é infinito porque cada parte que dele é finita, e cada um dos inúmeros mundos que contém é finito. [Disto, se infere que o Unimultiverso é finito, porém, ilimitado. A Energia Unimultiversal, desde sempre, foi-é-será uma e a mesma. Como afirmou o filósofo grego Parmênides de Eléia (530 a.C. – 460 a.C.)], ex nihilo nihil fit (nada surge do nada; o ser não pode começar a existir a partir do nada). O que ou quem poderiam fabricar energia para, de finito, tornar o Unimultiverso infinito? Como? De onde viria esta energia?]

 

Se se afirma ser conveniente, justa e necessária a existência deste mundo [a Terra] – considerado como sendo finito e limitado, assim também devem ser considerados convenientes, justos e necessários todos os outros inumeráveis mundos, aos quais, pelo mesmo raciocínio, devem, igualmente, ser finitos e limitados. [Nada, absolutamente nada, no Unimultiverso é inútil, despropositado, inconveniente, impróprio e não pertinente. Tudo, sem exceção, mesmo finito e limitado, é bom, útil, adequado e conveniente.]

 

O-QUE-É não poder ser outra coisa senão AQUILO-QUE-É, não pode ser aquilo que não é, não pode ser senão aquilo que pode ser, não pode querer outra coisa senão aquilo que quer, e, necessariamente, não pode fazer outra coisa senão aquilo que faz. [Um exemplo simples e elementar disto é o fato de a magia negra nunca poder ser MAGIA BRANCA, simplesmente, porque a magia negra é sempre destrutiva e a MAGIA BRANCA é sempre construtiva. O-que-não-é (não-entidade), inequivocamente, tende à entropia.]

 

 

São a mesma coisa liberdade, vontade, necessidade, e ainda o fazer, o querer, o poder e o ser.

 

Silogismo: o primeiro eficiente, se quisesse fazer coisa diferente daquilo que quer fazer, poderia fazer coisa diferente daquilo que faz; mas, não pode querer fazer outra coisa senão aquilo que quer fazer, logo, não pode fazer senão o que faz. 2º Silogismo: o primeiro eficiente não pode fazer senão aquilo que quer fazer; não quer fazer nada além daquilo que faz, logo, não pode fazer nada além daquilo que faz.

 

Um Verdadeiro Filósofo ou um homem de bem, sob pretexto algum, jamais tentarão demolir ou abolir a necessidade educativa dos efeitos humanos [Lei da Causa e do Efeito] e destruir o livre-arbítrio [Liberdade]. Nem Platão nem Aristóteles, que admitiam a necessidade e a imutabilidade de Deus, anularam a liberdade moral e a faculdade de escolha humanas.

 

Da mesma forma que a fé é necessária para a formação dos povos primitivos, que devem ser governados e conduzidos, a demonstração e a comprovação são necessárias aos contemplativos e buscadores, que sabem governar a si mesmos e aos outros. [Eu não acredito que a fé seja necessária para ninguém nem para nada. Em nenhuma circunstância, sob nenhum pretexto, para nenhuma finalidade. A fé mente descaradamente, fantasia despudoradamente e ilude desavergonhadamente, e mentira, delírio e miragem + ilusão são incapazes de ilustrar e elucidar alguém a respeito de o que quer que seja. Sem ilustração não haverá compreensão; sem compreensão não haverá libertação; sem libertação a encarnação é inútil.]

 

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos prisões, noite e dor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos espanto, assombro e estupor.

 

 

 

 

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos ódios e mais ódios ao invés de Amor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos um embaçamento na Cor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos um obstáculo para o Sol poder dispor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a esperança de um abençoador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos o devaneio de um divino favor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos o desvario de um privilégio divisor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos o sonho de um perdoador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos o cagaço de um castigador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos a impostura de um céu abrigador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a falsidade de um inferno abrasador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos a geringonça de um tridente furador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a galharufa de um chicote açoitador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos a graveolência de um para sempre fedor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a utopia de um futuro promissor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a esterilidade de um caleidoscópio embromador.

 

 

 

 

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a quimera de um vir-a-ser acaçapador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos a inaptidão para alcançar uma etapa ulterior.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos uma mesmice-concertina sem tirar nem pôr.

 

 

 

 

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos imperativos hipotéticos que são um horror.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos negócios com deus – um verdadeiro pavor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

e criamos um repeteco-teco-teco aterrador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos a hipocrisia de um impossível sem intermediador.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,
e criamos falácias e sofismas para a razão contrapor.

Mentimos, fantasiamos e iludimos,
dogmatizamos, impingimos e constrangemos,
maquinamos, proibimos e ameaçamos,

 

 

 

O número dos corpos mundanos é determinado. [Eu prefiro admitir que, tal qual o Unimultiverso, o número de sistemas solares, de corpos celestes, de galáxias, de universos e de existências seja finito, porém, ilimitado. O busílis é compreender como alguma coisa possa ser, ao mesmo tempo, finita, mas, ilimitada.]

 

Os princípios teológicos não admitem que a divina potência seja mais do que a divina vontade ou divina bondade, e, em geral, que um atributo apresente maior razão que outro para convir à divindade.

 

A Terra gira ao redor do próprio centro e em torno do Sol. [Esta afirmação foi uma das desgraças que se abateu sobre Giordano Bruno e o conduziu à fogueira da Inquisição. Padre não gostava e continua não gostando de ser contrariado. Na Idade Média, quem contrariava morria assado.]

 

 

Continua...

 

 

Música de fundo:

Nimrod Variation (Enigma Variations)
Composição: Edward William Elgar
Arranjado para órgão por Jim Paterson

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=aTkzgD2Uhco&t=10s

Observação:

Admite-se que esta composição esteja associada ao 1º Raio (Vontade Divina).

 

Páginas da Internet consultadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Anima_mundi

https://www.deviantart.com/

https://www.gratispng.com/baixar/concertina.html

https://gifs.alphacoders.com/by_sub_category/274763

https://dribbble.com/shots/6248622-Surprise

https://www.freevector.com/ufo-cartoon-vector-20278

https://www.123rf.com/clipart-vector/green_alien.html

https://viversempreconceitos.com.br/2022/06/11/__trashed/

https://giphy.com/explore/clock

https://www.flaticon.com/free-icon/military-boot_24936

https://consciencial.org/textos-extras/compreendendo-as-dimensoes/

https://stock.adobe.com/br/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Giordano_Bruno

https://www.infoescola.com/filosofos/giordano-bruno/

https://www.amazon.com.br/Sobre-Infinito-Universo-
os-Mundos-ebook/dp/B07TZBSTN2

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.