Pensamentos
de Gaius Sallustius Crispus1
Gaius
Sallustius Crispus
Em
Roma, tudo está à venda.2
Sempre
é tarde quando se chora.
Todos
os seres-humanos-aí-no-mundo que aspiram a se distinguir dos
outros seres vivos devem se esforçar, com todos os meios, para
não viver na obscuridade, como os selvagens que a Natureza
curvou ao chão e fez escravos do ventre.3
Querer
e não querer as mesmas coisas, eis, afinal, a verdadeira amizade.4
Entre
outros exercícios de espírito, o mais útil é
a História.
A
inveja é como o fogo: sempre busca o alto.
A
morte não é um tormento; é o fim de um tormento.
A
prosperidade põe à prova até mesmo o espírito
dos sábios.
Quanto
mais se está no alto, menos se é livre.
Toda
a nossa força é colocada na alma e no corpo: a primeira
é destinada a comandar, a outro, a obedecer; uma, nos aproxima
dos deuses, a outra, dos brutos.
Maior
é o perigo onde maior é o medo.5
Quanto
mais gravemente ofendeste, tanto mais te deves guardar.
Facilmente
se começa uma guerra, mas, com dificuldade se acaba.6
Cada
um é forjador do seu próprio sucesso.7
Nem
todas as coisas se podem desejar.8
Toma,
primeiro, um conselho, e tomado, põe-no imediatamente em prática.9
Todo
progresso foi conseguido pelas características superiores de
alguns seres-humanos-aí-no-mundo.
O
sucesso tem uma estranha capacidade de esconder o
erro.
Todos
aqueles que devem deliberar sobre questões dúbias devem
também se manter imunes ao ódio e à simpatia,
à ira e ao sentimentalismo.
Ao
ser-humano-aí-no-mundo de bem é preferível ser
vencido a vencer a injustiça por meios desonestos.
Ninguém
se tornou imortal com a preguiça.
Pouco
me agradam esses estudos que nada contribuíram para a virtude
dos doutos.
Assim,
o tempo decidirá sobre ambas as coisas.
A
avarícia tem gana por dinheiro.
A
concórdia faz crescer as pequenas coisas; a
discórdia arruína as grandes.
A
sorte segue os melhores.
Poucos
seres-humanos-aí-no-mundo desejam a liberdade. A maioria está
satisfeita apenas com bons senhores.10
Vigilando,
laborando e meditando todas as coisas prosperam.
Como
é bonito fazer o bem à República!
Prefiro
ser bom a só parecr ser bom.
A
fama que se baseia na riqueza ou na beleza é frágil
e fugaz; mas, a virtude brilha nas idades com brilho inextinguível.
Em
uma batalha, são os covardes que correm o maior risco; a bravura
é uma muralha de defesa.
É
uma lei da natureza humana que, na vitória, até mesmo
o covarde pode se vangloriar de suas proezas, enquanto a derrota fere
a reputação até mesmo dos bravos.
A
maior honra são os serviços prestados ao Estado; mesmo
que sejam apenas palavras, não devem ser desprezados.
É
melhor usar meios justos e falhar, do que faltar e conquistar.
Os
amigos são os verdadeiros suportes do trono. Os amigos não
podem ser obtidos pela força das armas nem comprados com dinheiro;
eles são descendentes da bondade e da sinceridade.
Na
minha opinião, é menos vergonhoso para um rei para ser
superado pela força das armas do que por suborno.
Os
reis são propensos a desconfiar mais do bem do que do mal;
e eles estão sempre com medo das virtudes dos outros.
Antepassados
ilustres lançam uma luz forte sobre os seus descendentes, e
impedem a ocultação de seus méritos ou de seus
deméritos.
Tudo
sobe, mas, quando cai, aumenta a decadência.
Quando
a preguiça se introduz no lugar da indústria e a avareza
e o orgulho tomam o lugar da eqüidade e da moderação,
a condição de um Estado é alterada em conjunto
com os seus costumes, e, portanto, a autoridade é sempre transferida
do merecedor [capaz]
para o desmerecedor [inabilitado].
Eu
mesmo, quando era jovem, como a maioria dos outros jovens, me inclinei
para os assuntos políticos. Mas, ainda que eu tenha vivido
muitas circunstâncias desfavoráveis, nunca permiti que
prevalecessem o despudor, a corrupção e a ganância,
mas, sempre, modéstia, temperança e integridade.
A
ambição costuma levar os seres-humanos-aí-no-mundo
a se tornarem enganadores: mantêm uma coisa escondida no peito
e outra na língua, fabricam amizades e inimizades não
por seu valor, mas, de acordo com o interesse, e apresentam um semblante
ludibriador, mas, não um Coração honesto.
Não
é melhor morrer em uma tentativa gloriosa do que, depois de
ter jogado o jogo da insolência, terminar em uma existência
abaixante, degradante e desonrante?
Desejamos
apenas a liberdade, que nenhum homem honrado abandona...
Muitos
homens, particularmente os senadores, quando deliberam sobre assuntos
duvidosos, são influenciados pela aversão, não
pelo carinho, e pelo ódio, não pela misericórdia.
A
necessidade faz do tímido um corajoso.
A
harmonia faz um bem inestimável aos pequenos Estados, enquanto
a discórdia mina os mais poderosos impérios.11
Quem
ficar com raiva de alguma coisa, ficará com raiva por nada.
A
ambição rompe os laços de sangue, e esquece as
obrigações de gratidão.
Pense
como um homem de ação, e aja como um homem de pensamento.
_____
Nota:
1.
Gaius Sallustius Crispus (86 a.C. – 34 a.C.) foi um dos grandes
escritores e poetas da Literatura Latina. Nasceu em Amiterno, na Sabina,
em 86 a.C., em uma família interiorana, mas, de posses, tendo
uma formação requintada. Foi cedo para Roma, e recebeu
apoio de pessoas de influência da sua família. Com o
apoio de Júlio César, Salústio foi eleito questor,
cargo que lhe assegurou uma cadeira no senado romano. Investiu contra
adversários de César, e estes passaram a ser seus adversários,
como, por exemplo, Marcus Tullius Cicero (106 a.C. – 43 a.C.).
A inimizade que Salústio tinha para com Cícero se encontra
refletida em sua obra. Por exemplo, nos episódios relativos
à conjuração de Catilina, o autor se mostra hostil
a Cícero, não entrando em muitos detalhes quanto à
importante participação daquele durante o ocorrido,
não reproduzindo nem mesmo os discursos de Cícero no
senado romano, discursos estes que até hoje são lembrados
pela historiografia política. Em compensação,
Salústio descreve com riqueza de detalhes o discurso de Júlio
César, com quem colaborava. Salústio foi expulso do
senado pelo censor Ápio Cláudio Pulcher, grande amigo
de Cícero, sob a acusação de imoralidade, mas,
pouco depois foi reconduzido ao cargo pelo chefe e padrinho, Júlio
César. Durante a guerra civil, ele apoiou a causa de Júlio
César, a quem prestou serviços e por quem foi nomeado
governador da Numídia (África Nova), onde conseguiu
acumular uma grande riqueza e passou a desfrutar da “angustiante
fadiga romana”. No final de sua carreira política, passou
a se dedicar à Literatura. Já desiludido com a corrupção
em Roma, escreveu sobre a decadência do povo romano e foi útil
ao descrever dois grandes momentos do fim da República Romana,
a saber: a Conjuração de Catilina e a Guerra de Jugurta,
episódios sobre os quais escreveu no período que vai
da morte de Cícero, em 43 a.C., à guerra Purúgia,
em 40 a.C., quando os grandes personagens da conjuração,
Crasso, Pompeu, Catão, Júlio César, Cícero
e o próprio protagonista, Catilina, já haviam desaparecido
do cenário político. Salústio usa de suas narrativas
como um pretexto para criticar os erros políticos cometidos
pelos que detiveram o poder em Roma, principalmente aqueles de Cícero,
seu inimigo político e pessoal. Encerrou sua vida pública
em uma mansão adquirida com as riquezas arrecadadas durante
o período em que foi Governador da Numídia, escrevendo
suas monografias em seu belo jardim. Deixou seu nome na História,
sobretudo, pelos relatos legados sobre momentos decisivos da política
da República Romana.
2.
Até parece aquela Cidade localizada lá no Planalto Central
do Brasil! Recentemente, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino
e Abastecimento da PETROBRAS, indiciado na Operação
Lava Jato (deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal,
em que a PETROBRAS está no centro das investigações
– investigações estas que, entre outras coisas,
envolvem a movimentação ilegal de dinheiro público
(em que há suspeição de que foram movimentados
mais de 10 bilhões de reais), tráfico internacional
de drogas, corrupção de agentes públicos, sonegação
fiscal, evasão de divisas, contrabando de pedras preciosas
e desvio de recursos públicos), declararou em uma acareação
com Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional
da PETROBRAS, na CPI da PETROBRAS (Petrolão),
que nos Governos
Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma, em todos
os Governos, os diretores da PETROBRAS e de outras empresas, se não
tivessem apoio político, não chegavam a diretor. O que
acontece na PETROBRAS
acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar. Infelizmente
eu me arrependo amargamente; estou fazendo a minha família
sofrer. Infelizmente aceitei uma indicação política.
Estou extremamente arrependido por isto. Aceitei este cargo, e este
cargo me deixou onde eu estou hoje. Se eu pudesse eu não teria
feito isto. Como
se eu pudesse eu não teria feito isto? Ora,
o Senhor Paulo Roberto Costa não foi obrigado a fazer
o que fez; fez o que fez porque quis fazer. Ainda que gramaticalmente
incorreto, teria sido mais digno, já que ele está colaborando
com as investigações, se ele tivesse declarado: —
Arrependo-me; mas, fi-lo porque qui-lo! Infelizmentissimamente,
naquela Cidade localizada lá no Planalto Central do Brasil,
de maneira geral, a coisa toda (só) funciona na base do tráfico
de influência (para obtenção de favores irregulares
de interesse pessoal), de indicações políticas,
do toma-lá-dá-cá,
da corrupção, do medo, da subserviência, do compadrio
etc. Os corruptos, os devassos e os depravados só pensam em
luxo, riqueza e sacanagem! Poucos escapam, porque não se ajoelham,
mas, esses poucos que escapam são alijados, escorraçados
ou congelados. Incólume nenhum probo fica. Mas, isto não
é coisa só de aquela Cidade localizada lá no
Planalto Central do Brasil; é mundial. Basta ler, por exemplo,
a história de vida dos grandes cientistas que quiseram favorecer
a raça humana e mudar o mundo. Quando não foram alijados,
escorraçados ou congelados, foram mortos. Os poderosos não
admitem ser contrariados nem ameaçados.
3.
Se for licitamente, tudo bem.
4.
Ora, a verdadeira amizade não está em querer ou em deixar
de querer. E mais: a verdadeira amizade só poderá existir
se houver mútua admiração. É a admiração
que alimenta uma amizade, pois, como alguém poderá ser
amigo de alguém sem admirar esse alguém?