O GAGUINHO E A SUCULENTA
(Uma Crônica Copacabanense)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

Isto aconteceu em um quase sábado calmoso, de um quase janeiro mimoso, de não sei quase quando, quase meia-noite. Estava mesmo um calor infernal, e o gaguinho, depois de assistir ao Jornal das Dez da GloboNews, que nunca desliga, nem que a fêmea do boi tussa, se emperiquitou todo e resolveu sair para tomar um chopinho e se refrescar. Como morava em Copacabana, no Rio de Janeiro, perto do Manoel & Juaquim, na Av. Atlântica, foi pra lá que ele foi.

 

Em lá chegando (gostou da construção lingüística castiça do em lá chegando?), arrumou um lugarzinho bem ao lado de uma loura estonteante, sesquipedalmente deslumbrante, corpo escultural, seios fartos, boca convidativa e mais outros apetrechos louríssimos que deixaram o gaguinho azoratado, completamente transtornado e, mentalmente, mais gago e onomatopaico ainda!

 

 

A Louríssima Sesquipedalmente

 

 

O gaguinho calorento pediu um chope, mas, não conseguia tirar os olhos da loura sesquipedalmente. Pa-pa-pensou com seus ba-ba-botões, todos gaguinhos e onomatopaicos como ele: Ca-com-com esssssssssa ga-grinfa aí, eu até-té, até-té, até-té, ta-ti-té-té, ca-qui, ca-qui, qui-qui-qui-que, mmmmma... mmmmma... mmmmmi... mmmmmi... ma-mi... ma-mi... me-me ca-ca-casavvvvvvvva.

 

O chope chegou, o gaguinho calorento bebericou, para a loura se virou e, então, meio lento, arriscou: — VVVVV... VVVVV... Vo-vo... Vo-vo... Vo... Vo...

 

A louríssima sesquipedalmente: — Vovô? Meu avô morreu de espinhela caída há muito tempo. Na minha família, desde o tempo de D. João Charuto, todo mundo morre disso!

 

O gaguinho calorento: — NNNNNN... Na-na... Na-não. Vo-vo... Cê-cê... É... É... É... Su-cu... Su-cu... Su-cu-cu...

 

A louríssima sesquipedalmente: Sucuri?

 

O gaguinho calorento: NNNNNN... Na-na... Na-não... Su-cu-cu... Su-cu-cu...

 

A louríssima sesquipedalmente: Sucurijuba?

 

O gaguinho calorento: NNNNNN... Na-neca... NNNNNN... Na-neca... NNNNNN... Na-neca...

 

A louríssima sesquipedalmente: Já sei: surucucu-tapete?

 

O gaguinho calorento: Pô! Na-não... Na-neca... Pa-picas... Xá-xongas... Ta-pe... Ta-pe-pe... Pepete é o ca-ca... Ca-ca... Cacete! Su-cu... Su-cu-cu... Sa-ci... Saci-cu-cu...

 

A louríssima sesquipedalmente, já irritadíssima: Saci... Sucu... O quê, afinal?

 

O gaguinho calorento, em um esforço sobre-humano: Su-cu... SSSSSS... Suculenta! Mmmmmmmuito Su-cu-cu...

 

A louríssima sesquipedalmente: Su-cu-cu... Suculenta? Eu?

 

O gaguinho calorento: É. Su-cu... Sa-ci-su-cu... Su-cu... Sa-ci... Cu-cu... Cu-cu... Cu... Cu... Cu...

 

 

O Gaguinho

 

 

A louríssima sesquipedalmente fora do seu juízo normal: Seu quiquiqui de merda. Você não tem vergonha na cara de me chamar de suculenta? Gabiru sem-vergonha! Você bem que poderia ser meu pai! Suculenta é a senhora sua mãe! Chispe já daqui!

 

O gaguinho calorento, envergonhadíssimo com a situação, mas, já sem qualquer disfemia mental, abaixou a cabeça e voltou a pensar com seus botões, que também já não apresentavam mais qualquer onomatopéia: quiquiqui, sim, eu sou; de merda, não, não sou. Gabiru, talvez, sei lá; sem-vergonha é o pai dela. Mas, que eu me casava com essa ga-grinfa aí-í (ligeira escorregadela), eu me casava sa-sim (outra escorregadela). Terminou o chope, virou-se para o garçom e pediu a dolorosa.

 

 

 

 

De novo, o Gaguinho

 

 

 

Moral da história: Em Copacabana, gaguinho calorento que chama loura sesquipedalmente de su-cu... Su-cu... Su-cu-cu... Saci... Saci-cu-cu... Suculenta... acaba levando uma   Se você for gaguinho, tome cuidado!

 

 

 

Música de fundo:

Uma Loura
Composição: Hervê Cordovil
Interpretação: Dick Farney

Fonte:

http://www.musicasdownload.com.br/search/Dick-Farney

 

Páginas da Internet consultadas:

http://heathersanimations.com/men1.html

http://sticksite.com/old_folks/index.html

https://thewindowlane.wordpress.com/tag/
double-complementary-color-scheme/

http://manoelejuaquim.com.br/copacabanaposto3/

 

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