Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos, senão, uma parte da verdade e sob ângulos diversos.


Mohandas Karamchand Gandhi (1869 – 1948)

 

 

 

 

 

Por quê?

 

 

 

Holocausto, violência, discriminação,

sexismo, heterossexismo, prenoção,

xenofobia, homofascismo, racismo,

colonialismo, etnocídio, edaísmo...

 

 

Por que não reconhecer o diferente?

Por que não respeitar o outro ente?

Por que não discordar pacificamente?

Por que não disputar agonisticamente?

 

 

Fazendo uma epokhé1 da Coisa Mística,

catingamos, estercamos, vazamos e eructamos.

 

 

Uma renovada cosmovisão agonística2,

talvez, possa vir-a-ser a porta para a Liberdade

 

 

 

Há alguém que não?

 

 

 

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Notas:

1. Epokhé = suspensão temporária do juízo.

2. Nythamar Fernandes de Oliveira, no texto Psyche, Polis, Dikaiosyn: A Dimensão Utópica do Político em Platão, comenta:

Tanto Platão quanto Aristóteles compartilham uma cosmovisão agonística da moral, e as suas respectivas formulações de filosofia prática não poderiam deixar de merecer tal caracterização na medida em que nos remetem ao espírito helênico de luta ('agon') – o grego 'agônistikos', pelo latim 'agonisticu', relativo à luta, nos remetendo à luta pela vida. A dificuldade inerente à própria vida humana é contemplada por tais concepções agonísticas da Ética. Sem dúvida, em Aristóteles esta dimensão sobressai de maneira explícita e deliberadamente articulada com sua concepção do viver bem, identificada na 'eudaimonia' ou florecer humano. Lembremos que, segundo o oráculo délfico, o 'conhece-te a ti mesmo' era correlato ao 'nada em excesso', de forma que o 'ser de uma mente sã' caracterizava uma 'askesis' bioética, em corpo e espírito. Entre os gregos antigos, a 'agônistiké' era, com efeito, a parte da ginástica que tratava da luta dos atletas. Em Platão, tendemos a separar de tal forma alma e corpo que perdemos de vista a importante dimensão da participação na própria separação operada pela Dialética. Interessantemente, Platão menciona o 'agônistikos' como o que ama a luta e a contestação, como o 'eristikos'. Um século antes, Heráclito já havia tematizado o 'conflito' ('eris') como princípio de justiça cósmica, como uma tensão natural que permite a própria manifestação e vir-a-ser de todos os entes enquanto opostos (por exemplo, calor e frio, luz e trevas, guerra e paz, morte e vida etc). O que fora tematizado em filosofia já fazia parte, outrossim, da cultura grega antiga, justamente caracterizada pelo seu espírito coletivo de 'competição agressiva e de auto-afirmação' – 'agôn'. O 'agôn', como a 'agora', era uma assembléia, em particular, uma reunião pública para assistir aos jogos, um lugar de disputas, uma arena, um estádio. A palavra era usada tanto para práticas esportivas como os Jogos Olímpicos como para disputas jurídicas, bélicas e dramáticas. Não seria questão aqui de discorrer sobre a vida social dos gregos, seus jogos de linguagem e sua cultura agonística, sua agonizante democracia de minorias – afinal, crianças, mulheres, metecos e escravos não tinham direitos de cidadania. A prática social em questão, a agonística enquanto 'praxis', por outro lado, definia um estilo de vida, um 'modus vivendi', um 'ethos', um caráter comum a cidadãos e, em menor proporção, a mulheres, crianças, metecos, escravos e a excluídos em geral que viviam em Atenas. Esta desproporcionalidade é precisamente o que caracteriza o espírito agonístico da Grécia Antiga, na sua visível distinção entre nobres e escravos, entre os mais fortes e os mais fracos. Distinção que, como mostrou o grande filólogo Nietzsche, é 'inocente' com relação aos juízos morais das religiões judaico-cristãs e com relação aos ideais de liberdade, igualdade e universalidade da modernidade pós-revolucionária. Sem incorrermos em um historicismo ou em um esteticismo que privilegie o espírito agonístico grego para criticar os valores democráticos de uma modernidade decadente, é mister que mantenhamos os quase vinte e cinco séculos que nos separam de autores como Platão e Aristóteles, que muitas vezes têm sido apropriados hoje de maneira um tanto descuidada. Somente assim poderíamos aproximar esses pensadores clássicos das suas respectivas apropriações em autores modernos, como por exemplo, em Kant e Hegel, na contraposição de um modelo universalista a um modelo particularista de ética e filosofia política.

Fonte:

http://www.geocities.com/nythamar/plato2.html

3. Mas, para isto, para que isto se torne efetivo, é necessário um esforço dialético, ou seja, experimentar corajosamente a arte do diálogo, da contraposição útil e da contradição elevada de idéias, que levam a outras idéias. Em duas palavras: tolerância mística. Ou, como disse Gandhi: A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos, senão, uma parte da verdade e sob ângulos diversos. Ou, ainda, como ensinou Paramahansa Yogananda (5 de janeiro de 1893 – 7 de março de 1952): O ego humano – ou seu sentido de 'Eudade', a imagem distorcida da alma imortal apreende a consciência de forma direta e a matéria (o corpo humano e todas as demais formas da criação) de forma indireta, através de processos mentais e de percepções sensoriais. O ego está, pois, sempre consciente de sua própria consciência mas não o está da matéria nem mesmo do corpo que ele mesmo habita a não ser quando fixa sua atenção nela. É assim, que um homem que se encontra profundamente concentrado em um determinado tema, está consciente de sua mente mas não o está de seu corpo. Logo, a 'Eudade' é útil e necessária até um certo limite; a partir deste limite manifesta-se como egoísmo. Todavia, a partir de um determinado ponto da Caminhada a 'Eudade' se transmuta em Unidade.

 

Fundo musical:

We Gather Together

Fonte:

http://www.ilovewavs.com/Holidays/Thanks/Thanks.htm