MISTICISMO
(A Ciência do Futuro)
Rodolfo Domenico Pizzinga
CAPÍTULO
I
A
Questão do Preconceito
O
título deste ensaio envolve três palavras geralmente incompreendidas,
mal compreendidas ou, pelo menos, compreendidas apenas parcialmente. Muito
brevemente, pode-se dizer que não existem diversos misticismos; há
um único Misticismo experienciado de muitas formas diferentes e em
diversos níveis ou graus. Todas se equivalem, e não se pode
afirmar ou querer que uma possa seja melhor do que a outra, e nem que seja
necessário que alguém seja um Iniciado para ser um místico.
Seriam, por exemplo, os Padres do Deserto1 Iniciados?
Não sei realmente. Mas não tenho qualquer dúvida de que
todos se auto-Iniciaram. Classicamente, ciência é o corpo de
conhecimentos sistematizados que, adquiridos via observação,
identificação, pesquisa e explicação de determinadas
categorias de fenômenos e fatos, são formulados metódica
e racionalmente. E o que é denominado de futuro é o conjunto
de acontecimentos objetivos relacionados a um tempo objetivo, acontecimentos
esses que poderão ou não acontecer.
Mas,
da mesma forma que existe um e apenas um Misticismo, a ciência não
poderá ser efetivamente bem-sucedida (como, geralmente, em muitos aspectos,
não tem sido) se permanecer desvinculada do Misticismo e se for estruturada
apenas
em conhecimentos
sistematizados adquiridos via observação, identificação
e pesquisa. Isso é, no mínimo, parcialismo, e também
fonte de dúvidas e de formulações incompletas ou equivocadas.
Até hoje, por exemplo, a ciência não sabe exatamente o
que é essa coisa que é chamada de energia, e não sabe
com precisão como é constituído o átomo.
E
o futuro não pode ser compartimentado de maneira estanque, pois é
exatamente a ilusão temporal que cria a estanquidade e separa ou fraciona
o inexistente tempo em pedaços, ou seja: o que passou, o que está
acontecendo e o que acontecerá ou poderá acontecer. Aliás,
por sermos tributários de nossas limitações, costumamos
fragmentar as coisas para melhor compreendê-las. Por um lado, isso é
útil e necessário; mas por outro, um entrave intransponível
para a harmonização cósmica. Um exemplo típico
é o preconceito em suas diversas modalidades. Vira-e-mexe, penso e
me pergunto se ainda hoje uma prostituta ou um homossexual que procurem amparo
em uma habitação de uma comunidade religiosa qualquer seriam
ridicularizados e escorraçados. Quanto a isso, já tive oportunidade
de dizer que não apóio o homossexualismo e a prostituição,
mas compreendo e não julgo. De outra forma, não julgo nada nem
ninguém, porque, se por um lado sou um ignorante convicto, por outro,
mesmo ignorando muitas coisas, não ignoro que somos todos irmãos
em Cristo. Esta convicção não é absolutamente
racional; é produto direto de uma compreensão espiritual que
lenta, progressiva e definitivamente se estabeleceu em meu Coração.
Então,
em virtude dessas lucubrações preliminares, farei um breve parêntese
e transcreverei abaixo o texto-reflexão Eu Te Compreendo de
autoria de Antônio Roberto Soares. Esse texto está disponibilizado
no Departamento de Suprimentos da Grande Loja da Jurisdição
de Língua Portuguesa da Ordem
Rosacruz – AMORC
em forma de um belo CD musicado, e está divulgado na Web em
diversos websites. Em alguns é citado o autor, em outros não,
o que é lamentável. Ladrão de direitos autorais é
uma das pragas da Web que precisa ser firmemente combatida. Porém,
o que esses larápios não sabem é que acabam descobertos
e desacreditados. A seguir o texto de Antônio Roberto Soares: Eu Te
Compreendo.
Eu sei das tuas tensões,
dos teus vazios e da tua inquietude. Eu sei da luta que tens travado a procura
de Paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la.
Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das
tuas vacilações e dos teus desejos.
Eu te compreendo... Imagino o quanto
tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais,
familiares, afetivas, financeiras e sociais. Imagino que o mundo, de vez em
quando, parece-te um grande peso que te sentes obrigado a carregar. E tantas
vezes, sem sentir esforços. Eu conheço as tuas dúvidas,
as dúvidas da natureza humana.
Percebo como te sentes pequeno quando
teus sonhos acalentados vão por terra, quando tuas expectativas não
são correspondidas. E as inseguranças com o amanhã? E
aquela inquietação atroz em não saberes se amanhã
as pessoas que hoje te rodeiam ainda estarão contigo? De não
saberes se reconhecerão o teu trabalho, se reconhecerão o teu
esforço. E, por tudo isto, sofres e te sentes como um barco sozinho
em um mar imenso e agitado. E não ignoro que, muitas vezes, sentes
uma profunda carência de amor. Quantas vezes pensaste em resolver definitivamente
os teus conflitos no trabalho ou em casa. E nem sempre encontraste a receptividade
esperada ou não tiveste força para encaminhar a tua proposta.
Eu sei quanto te dói os teus limites humanos e quanto, às vezes,
te parece difícil uma harmonia íntima. E não poucas vezes,
a descrença toma conta do teu coração.
Eu te compreendo... Compreendo até
tuas mágoas, a tristeza pelo que te fizeram, a tristeza pela incompreensão
que te dispensaram, pelas ingratidões, pelas ofensas, pelas palavras
rudes que recebeste. Compreendo até as tuas saudades e lembranças.
Saudade daqueles que se afastaram de ti, saudade dos teus tempos felizes,
saudade daquilo que não volta nunca mais... E os teus medos? Medo de
perderes o que possuis, medo de não seres bom para aqueles que te cercam,
medo de não agradares devidamente as pessoas, medo de não dares
conta, medo que descubram o teu íntimo, medo que alguém descubra
as tuas verdades e as tuas mentiras, medo de não conseguires realizar
o que planejaste, medo de expressares os teus sentimentos, medo de que te
interpretem mal.
Eu compreendo esses e todos os outros
medos que tens dentro de ti. Sou capaz de entender também os teus remorsos,
as faltas que cometeste, o sentimento de culpa pelos pequenos ou grandes erros
que praticaste na tua vida. E sei que, por causa de tudo isso, às vezes
te encontras num profundo sentimento de solidão. É quando as
coisas perdem a cor, perdem o gosto e te vês envolto numa fina camada
de indiferença pela vida. Refiro-me àquela tua sensação
de isolamento, como se o mundo inteiro fosse indiferente às tuas necessidades
e ao teu cansaço. E, neste estado, és envolvido pelo tédio,
e cada ação ou obrigação exige de ti um grande
esforço. Sei até das tuas sensações de estares
acorrentado, preso. Preso às normas, aos padrões estabelecidos,
às rotineiras obrigações: ‘Eu gostaria de... mas
eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de, tenho que resolver,
tenho que...’
Eu te compreendendo... Compreendo os
teus sacrifícios. E a quantas coisas tens renunciado, de quantos anseios
tens aberto mão! E sempre acham que é pouco... Pouca coisa tens
feito por ti, e tua vida, quase toda ela, tem sido, afinal, dedicada a satisfazer
outras pessoas. Sei do teu esforço em ajudar outras pessoas, e sei
que isso é a semente de tuas decepções. Sei que, nas
tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração.
Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, com as guerras,
com a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm
o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e com a
desonestidade.
Por tudo isso, carregas um grau excessivo
de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida
melhor, mais calma, mais significativa. Sei também que tens belos planos
para o amanhã. Sei que queres apenas um pouco de segurança,
seja financeira ou emocional, e sei que lutas por ela. Mas, mesmo assim, tuas
tensões continuam presentes. E tu percebes essas tensões nas
tuas insônias ou no sono excessivo, na ausência de fome ou na
fome excessiva, na ausência de desejo para o sexo ou no desejo sexual
excessivo. O fato é que carregas e acumulas tensões sobre tensões:
tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismos de alguns,
nas condições inadequadas de salário e na inexistência
de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na
inveja dos colegas, nos que falam por trás. Tensões na família,
nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa; nos conflitos
e brigas constantes onde todos querem ter razão; no desrespeito à
tua individualidade, no controle e na cobrança das tuas ações.
Eu te compreendo, e te compreendo mesmo.
Mas, apesar de te compreender totalmente, quero te dizer algo muito importante.
Escuta agora com o coração o que te vou dizer: Eu te compreendo,
mas não te apóio! Tu és o único responsável
por todos estes sentimentos. A vida te foi dada de graça e existem
em ti remédios para todos os teus males. Se, no entanto, preferes a
autocomiseração ao invés de mobilizares as tuas energias
interiores, então nada posso te oferecer. Se preferes sonhar com um
mundo perfeito, ao invés de te defrontares com os limites de um mundo
falho e humano, nada posso te oferecer. Se preferes lamentar teu passado e
encontrar nele desculpas para a tua falta de vontade de crescer; se optaste
por tentar controlar o futuro, o que jamais controlarás com todas as
suas incertezas; se resolveste responsabilizar as pessoas que te rodeiam pela
tua incompetência em tratar com os aspectos negativas delas, em nada
posso te ajudar. Se trocaste o auto-apoio pelo apoio e reconhecimento do teu
ambiente, então nada posso te oferecer. Se queres ter razão
em tudo que pensas; se queres obter piedade pelo que sentes; se queres a aprovação
integral em tudo que fazes; se escolheste abrir mão de tua própria
vida em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros através
de renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entendeste
mal a regra máxima - ‘Amar ao próximo como a ti mesmo’
- esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.
Se não tens um mínimo
de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis
ou dolorosos; se não tens um mínimo de humildade para te perdoares
pelas tuas imperfeições; se desejas impressionar os outros e
angariar a simpatia para teus sofrimentos; se não sabes pedir ajuda
e aprender com os que sabem mais do que tu; se preferes sonhar ao invés
de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso
te oferecer. Se achas que pelo teu desespero as coisas acontecerão
magicamente; se usas a imperfeição do mundo para justificar
as tuas próprias imperfeições; se queres ser onipotente,
quando de fato és simplesmente humano; se preferes proteção
à tua própria liberdade; se interiorizaste em ti desejos torturadores;
se deixaste se imprimirem em tua mente venenosas ordens de: ‘Apressa-
te!’, ‘Não erres nunca!’, ‘Agrada sempre!’;
se escolheste atender às expectativas de todas as pessoas; se és
incapaz de dar um Não quando necessário, em nada posso te ajudar.
Se pensas ser possível controlar o que os outros pensam de ti; se pensas
ser possível controlar o que os outros sentem a teu respeito; se pensas
ser possível controlar o que os outros fazem; se queres acreditar que
existe segurança fora de ti, repito: Eu te compreendo mas, em nome
do verdadeiro Amor, jamais poderia te apoiar!
Se recusas buscar no âmago do
teu ser respostas para teus descaminhos; se dás pouca importância
a teus sussurros interiores; se esqueceste a unidade intrínseca dos
opostos em nossa vida terrena; se preferes o fácil e abandonaste a
paciência para o Caminho; se fechaste teus ouvidos ao chamado de retorno;
se perdeste a confiança a ponto de não poderes entregar tua
vida à vontade onipotente de Deus; se não quiseste ver a Luz
que vem do Leste; se não consegues encontrar no íntimo das coisas
aquele ponto seguro de equilíbrio no meio de todas as tormentas e vicissitudes;
se não aceitas a tua vocação de Viajante com todos os
imprevistos e acidentes da Jornada; se não queres usar o tempo, o erro,
a queda e a morte como teus aliados de crescimento, realmente nada posso fazer
por ti.
Se
aspiras obter proteção quando o que precisas é liberdade;
se não descobriste que a verdadeira liberdade e a autêntica segurança
são interiores; se não sabes transformar a frase ‘Eu tenho
que...’ na frase ‘Eu quero!’; se queres que o fantasma do
passado continue a fechar teus olhos para a infinidade do teu aqui e agora;
se queres deixar que o fantasma do futuro te coloque em posição
de luta com o que ainda não aconteceu e, provavelmente, não
chegará a acontecer; se optaste por tratar a ti mesmo como um inimigo;
se te falta capacidade para ver a ti mesmo como alguém que merece da
tua própria parte os maiores cuidados e a maior ternura; se não
te tratas como sendo a semente do próprio Deus; se desejas usar teus
belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumentos de autotortura;
se achas que é amor o apego que cultivas pelos teus parentes e amigos;
se queres ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança
brincalhona que habita em ti; se alimentas a vergonha de te enterneceres diante
de uma flor ou de um pôr de sol; se através da lamentação
recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te
apoiar.
Mas, se apesar de todo o sono, queres
despertar; se apesar de todo o cansaço, queres caminhar; se apesar
de todo o medo, queres tentar; se apesar de toda acomodação
e descrença, queres mudar e confiar, aceita agora esta chave para a
tua felicidade: a raiz de todas as tuas dificuldades são teus pensamentos
negativos. São eles que te levam para as dores das lembranças
do passado e para a inquietação do futuro. São esses
pensamentos que te afastam da experiência de contato com teu próprio
corpo, com o teu presente, com o teu aqui e agora e, portanto, distanciando-te
de teu próprio Coração.
Tens presente agora a tua emoção?
Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens presente
agora a batida do teu coração? Tens agora a consciência
do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é
concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua,
e é a partir dele que se inicia a caminhada para a alegria. Somente
através dele se encaminha o retorno à paz.
Jamais resolverás os teus problemas
somente pensando neles. Começa do mais próximo, começa
pelo corpo. Através dele chegarás ao teu centro, ao teu vazio,
àquele lugar onde a semente germina. Através da consciência
corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato
com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás
de acordo com a naturalidade da vida. Assume o teu corpo e os teus sentimentos,
por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os. Simplesmente observa-os.
Não tentes mudar nada. Sê apenas a tua dor. Presta atenção,
não negues a tua dor. Para que fingir estar alegre se estás
triste? Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir
amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás
angustiado? Não lutes contra teus sentimentos. Fica do teu próprio
lado, deixa a dor acontecer como deixas acontecer os bons momentos. Pára;
deixa que as coisas sejam exatamente como são. Entra nos teus sentimentos
sem os julgar. Não fujas deles, não os evites. Não queiras
resolvê-los escapando deles; depois terás de te encontrar com
eles novamente. É apenas um adiamento, uma prorrogação.
Torna-te presente, por mais que te doa. E, se assim fizeres, algo de muito
belo acontecerá!
Assim como a noite veio, ela também
se irá, e, então, testemunharás o nascer do dia, pois,
à noite o Sol escurece até a meia-noite e, a partir daí,
começa um novo dia. Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro
de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança,
e sentirás a vida entrar em ti. Se assim fizeres, entenderás
com o Coração que a semente morre mesmo, totalmente, antes de
germinar, e que a morte antecede a vida.
E, se assim fizeres, poderei dizer-te
então: Eu te compreendo e tens todo o meu apoio! E verás, com
muita alegria, que, justamente agora, já não precisas mais do
meu apoio, pois, o que foste buscar dentro de ti, encontraste dentro da tua
própria dor!
A
Ordem Rosacruz AMORC define misticismo como sendo uma percepção
íntima e direta de Deus ou do Cósmico através do Eu,
isto é, pelo domínio do subconsciente. Esta definição,
à primeira visada, pode levar ao equívoco de se admitir um Deus
transcendente, criador. Na tradição metafísica, particularmente
no neoplatonismo e na escolástica, o conceito de transcendência
implica e impõe que o ser divino apresente um caráter que ultrapassa
radicalmente a realidade sensível. Em decorrência da perfeição
e da superioridade absolutas desse ser divino prevalece uma relação
de soberania, de distância e de inacessibilidade. Particularmente, é
a inacessibilidade que alimenta a fé e o medo, pois o que é
inacessível ou incompreensível impede qualquer tipo de racionalização
ou de dialética, e, pior, impossibilita qualquer tipo de vivência
ou experiência mística transracional. A transracionalidade, termo
que cunhei para explicar o entendimento que se seguirá, é a
experiência mística pessoal e intransferível geralmente
em desconformidade com a razão (filosófica ou científica)
e com a plausibilidade lógica objetiva humanas. Uma experiência
mística transracional ocorre acima da faixa vibratória da razão
noética, portanto, é uma experiência Místico-Iniciática.
O
kantismo, a fenomenologia - em especial o existencialismo - e o teismo têm
entendimentos distintos do seja a transcendência. Mas a própria
definição Rosacruz é auto-explicativa, pois a percepção
íntima e direta de Deus ou do Cósmico deverá e só
poderá acontecer através do Eu, isto é, pelo domínio
do subconsciente. Esta é deixa que norteará este ensaio, pois,
na verdade, existem ou existirão tantos Deuses quantas forem ou quantas
vierem a ser as mentes pensantes e raciocinativas. Então, se por um
lado existe um e somente um Deus, por outro, existirão tantos Deuses
quantos forem os seres-no-mundo2 que
pensarem a respeito de Deus. No fundo, isso é o mais puro monoteísmo-ateísmo
místico, pois quando o ser-no-mundo deixa de precisar acreditar
e de
precisar depender
de um deus coletivo e deixa também de se preocupar com os deuses dos
outros, dá o primeiro passo para a sua própria libertação
e para a consecução do seu Mestre-Deus interior. Apesar de sermos
todos um, cada um de nós é um Deus in potentia, independente
e dependente de todos os Deuses do(s) universo(s). Independente porque cada
um de nós é uma unidade autônoma de manifestação
da Consciência Cósmica; dependente porque não há
lacunas ou vazios no(s) universo(s). Enfim, dependente e independente porque
se for possível a realização plena da Consciência
Cósmica, essa plena realização só será
possível se e quando todos os seres de todo(s) o(s) universo(s) tiverem
conquistado essa mesma realização. E assim, a dor de um é
a dor de todos; faltando para um, faltará para todos. Esta reflexão
é decorrente e está embutida no Primeiro Mandamento, que, a
bem da verdade, não necessita de nenhum outro a sucedê-Lo.
Um
pouco mais acima foi afirmado que por sermos tributários de nossas
limitações, costumamos fragmentar as coisas para melhor compreendê-las.
Também foi afirmado que um exemplo típico é o preconceito
(em suas diversas modalidades). Então, no que concerne a este ensaio,
afirmo com todas as letras, pelo que já foi discutido, que não
há preconceito maior, no âmbito do misticismo e fora dele, do
que julgar o que quer que seja e quem quer que seja. Quem somos nós?
Quando se decide que algo pertence a esta ou a aquela categoria, estamos simplesmente
atribuindo um valor a esse algo de acordo com a nossa cultura e de acordo
com o nosso entendimento no momento do juízo de valor (julgamento que
expressa uma apreciação, uma avaliação ou uma
interpretação sobre a realidade). Durante a Idade Média,
era praticado o juízo de Deus (ordálio)3,
que era o conjunto de provas, fundamentadas em elementos da natureza, a que
era submetido um acusado para que fosse decidida sobre a sua culpabilidade,
como, de forma similar, a Inquisição também julgou pretensos
hereges e pretensos feiticeiros acusados de crimes contra a fé católica
e sumariamente os condenou à fogueira. Quantos foram supliciados por
essas provações extremas e depois canonizados? Maria Madalena
foi promovida de prostituta a Santa. Jeanne d'Arc, 1412-1431, a pequena pastora
de Domrémy, foi queimada viva e canonizada em 1920 pelo Papa Bento
XV. No que concerne à Inquisição portuguesa, em 1506,
Lisboa viu o seu primeiro grande massacre, que deixou um saldo de mortos de
2000 cristãos-novos.4 Desde então,
segundo Nuno Guerreiro Josué, a vida intelectual e científica
de Portugal desceu a um abismo de intolerância, fanatismo e pureza de
sangue. Particularmente acredito que hoje não seja mais assim.
Quando
se pensa e se age de acordo com pensamentos preconceituosos (portanto, hipotéticos),
como por exemplo que uma escola de misticismo é superior ou mais importante
do que outra, que uma fraternidade é mais digna do que outra, ou que
alguém só pode ser considerado um místico se tiver uma
carteirinha carimbada de uma dada fraternidade, não se está
fazendo menos do que faziam os inquisidores da Idade Média que torturaram
e queimaram viva Jeanne d'Arc. Isso pode ser amargo de ser engolido, mas é
assim que é, queiram os fanáticos ou não, queiram os
intolerantes ou não. Estes exemplos não são, portanto,
meras fragmentações para melhores compreensões. São
preconceitos para maiores locupletações e mantença do
poder. Locupletações e mantença do poder, principalmente,
por ignorância, egoísmo, crueldade e porque não foi realizado
o princípio máximo que deve nortear um Místico: somos
todos um. E, antes que me esqueça, porque esses inquisidores (de ontem
e de hoje) jamais puderam compreender o significado místico do Primeiro
Mandamento. Haverei de repetir essas coisas até ficar sem impressões
digitais, rouco ou morrer. Mas, como sei que não vou morrer, quando
passar para o lado de lá continuarei a falar para quem quiser ouvir
e para quem não quiser ouvir.
No
âmbito do Rosacrucianismo, há cerca de doze Ordens Rosacuzes
atuando no mundo contemporâneo. Imaginar que uma seja privilegiadamente
mais importante do que outra é um preconceito místico retrogressivo,
que eu mesmo, no silêncio do meu Coração, extirpei há
muito tempo. (Quando me recordo que cheguei a admitir que Harvey Spencer Lewis
era mais importante do que Max Heindel, morro de vergonha.). Também
é um preconceito místico retrogressivo supor ou admitir, o que
é pior, que alguém só possa ser ou só deva ser
considerado um místico (ou um Místico) se tiver sido Iniciado
nesta ou naquela fraternidade, com carteirinha plastificada, diploma, palavras
de passe, sinais de reconhecimento et cetera. Essas firulas eram
necessárias no passado; hoje são desnecessárias. São
desnecessárias, bem entendido, para mim e segundo o meu pensamento,
que nunca escondi de ninguém que sou Rosacruz. Mas, não posso
deixar de dizer que respeito e não censuro aqueles que as consideram
necessárias, e que não admitem publicamente que são membros
desta ou daquela irmandade.
Continuando.
No âmbito da Religião Católica, por exemplo, não
se pode consentir que o Padre Pio de Pietrelcina (Francesco Forgione), 1887-1968
– que é considerado herdeiro espiritual de São Francisco
de Assis e foi o primeiro sacerdote a ter impresso sobre o seu corpo os estigmas
da crucifixão –
tenha sido mais
importante do que o papa Pio XII (Eugenio Giuseppe Maria Giovanni Pacelli),
1876-1958. Ainda que recaiam sobre Pio XII pesadas acusações
concordatárias (sua ação durante a Segunda Guerra Mundial
tem sido alvo de livros, debates e polêmicas), ele teve um papel importante
no seio da Religião Católica. Cósmica e carmicamente
cada um teve o seu papel e cada um desempenhou esse papel como soube ou como
pôde, ainda que, sinceramente, mas sem qualquer juízo de valor,
meu Coração bata mais forte e esteja mais próximo do
Pio que é Santo do que do Pio que foi papa. Santa Marie Bernard (Bernadette
Soubirous), 1844-1879 é um outro exemplo. Durante algum tempo foi tida
como mistificadora, trapaceira e impostora na própria Comunidade das
Filhas da Caridade de Nevers, na qual foi admitida. Bernadette acabou canonizada
em 8 de Dezembro de 1933 e seu corpo permanece até hoje incorrupto,
podendo ser visitado no Convento de Nevers.
Milhares
de exemplos são mostrados pela História do quanto erramos quando
julgamos o que quer que possa ser com os nossos corações de
pedra. Então, cometem um erro absurdo e grosseiro todos aqueles que
pensam que um cientista –
por exemplo, Albert
Einstein (Ulm, Alemanha, 14 de março de 1879 - Princeton, EUA, 18 de
abril de 1955) –
não possa
ser um místico, quanto todos os agnósticos que se referem aos
místicos como esquizofrênicos, malucos ou lunáticos. Pior
quando os perseguem, já que se pudessem os degolariam. Cometem também
um erro absurdo e grosseiro as religiões que são intolerantes
com outras religiões ou com as fraternidades místicas e fomentam
essa intolerância. Cometem igualmente um erro absurdo e grosseiro os
governos que querem impor pela força dos canhões suas idéias
democráticas e suas doutrinas de segurança. Ah! Isso é
mesmo o absurdo dos absurdos.
Eu
já havia concluído este trabalho quando me vieram a cabeça
duas perguntas. O que é um místico stricto sensu? O
que é um místico lato sensu? Há essa diferença,
ou a diferença pensada é proveniente de um hiperpreconceito?
O papa João XXIII era um Iniciado e pouca gente sabe disso. Fernando
Pessoa era um místico e muita gente só o enxerga como poeta.
Recomendo a quem não conhece que procure ler o poema de Pessoa intitulado
Eros e Psique. Pessoa tinha razão: em cada um de nós
há uma princesa ou um príncipe! Precisamos acordá-los.
CAPÍTULO
II
Misticismo
Versus Ciência
Como
em todas as atividades humanas, há místicos e iniciados sinceros
e insinceros e cientistas sinceros
e insinceros.
Em decorrência disso, há os honestos e os desonestos, os leais
e os traidores, os estudiosos e os malandros ou gazeadores, os tolerantes
e os preconceituosos, os que não julgam e os que julgam et cetera.
Enfim, há os que realmente são místicos e os que nunca
foram e não são, mas que pensam que são. Contudo, isso
não é mesmo um privilégio do misticismo; em
todas as atividades humanas isso é assim. Revisitando rapidamente a
História, lembro que Josef Mengele (Günzburg, 16 de Março
de 1911 – Bertioga, 7 de Fevereiro de 1979) foi um médico alemão.
Estou dando este exemplo porque, sem perda ou demérito para as outras
profissões, coloco a Medicina em primeiro lugar e a considero a mais
nobre das atividades humanas. O Talmud está certíssimo:
Quem salva uma vida salva o mundo inteiro. Mas, o fato é que,
formidolosamente, Mengele acabou ficando conhecido como Todesengel –
O Anjo da
Morte –
no campo de extermínio
de Auschwitz. Foi o responsável direto pela morte de milhares de judeus,
além de grupos considerados como uma "praga" para
os nazistas. Parafraseando a primeira frase deste capítulo, estou convicto
de que em todas as atividades humanas há os que servem ao Bom, ao Belo
e ao Bem, e há aqueles que vieram a este mundo para ser instrumentos
dos Irmãos das Sombras. Josef Mengele foi um desses.
No
capítulo inicial deste ensaio reproduzi e anunciei: a percepção
íntima e direta de Deus ou do Cósmico deverá acontecer
através do Eu, isto é, pelo domínio do subconsciente.
Esta é deixa que está norteando este ensaio, pois, na verdade,
existem ou existirão tantos Deuses quantas forem ou quantas vierem
a ser as mentes pensantes e raciocinativas. Assim, dando seqüência
a estas já longas reflexões, penso que um bom exemplo para se
fazer um estudo de caso em relação ao que foi exposto anteriormente
é examinar dialeticamente se Albert Einstein pode ou não pode
ser considerado um místico. Ora, essa proposta, em si, é absurda.
É absurda porque para este tipo de especulação seria
necessário que se fizessem inferências a respeito de alguém
– no caso, Einstein. Ora, fazer qualquer inferência a respeito
do outro já é, em si, um ato julgador, inútil e preconceituoso.
Mas, a linha de pensamento que desenvolverei a partir de agora será
no sentido de demonstrar o que venho ponderando neste ensaio, isto é:
para se ser um místico e/ou se ter um comportamento concertado e espiritual
não é necessário que se seja um iniciado ou um místico
no sentido geralmente aceito e compreendido, isto é, no sentido convencional.
A Peregrinação Iniciática poderá se dar fora dos
muros do Templo. Será mais longa? Talvez. Será mais árdua?
Não sei. Mas sei que Iniciações podem ocorrer fora do
âmbito das Escolas Tradicionais. A própria vida, afinal, não
é a maior de todas as Iniciações? Quem nasce morre em
uma esfera para ser iniciado em outra, e vice-versa. Logo, se os cientistas
do tempo de Einstein sabiam ou se não sabiam se o domínio do
que estavam desenvolvendo a respeito do átomo e de suas leis desaguaria
ou não na nuclearização do mundo e na supercatástrofe
Hiroshima-Nagazaki, não importa agora para o que pretendo lucubrar.
Já discuti essa tenebrosa calcinação em outros ensaios.
O que admito como veraz é que Einstein nunca desejou que seus trabalhos
e suas pesquisas teóricas se transformassem em máquinas e artefatos
que assassinassem e destruíssem.
Começarei
por reproduzir a Carta de Einstein ao Presidente F. D. Roosevelt de 2 de agosto
de 1939 e a própria resposta do Presidente americano. Primeiro, ambas
as cartas serão exibidas em inglês; depois, em português.
1 – A Carta de Einstein ao Presidente F. D. Roosevelt:
Albert Einstein
Old Grove Road
Poconic, Long Island
August 2nd, 1939
F. D. Roosevelt
President of the United States
White House
Washington, D.C.
Sir:
Some recent work by E. Fermi and L. Szilard, which has been communicated to
me in manuscript, leads me to expect that the element uranium may be turned
into a new and important
source of energy in the immediate future. Certain aspects of the situation
which has arisen seem to call for watchfulness and if necessary, quick action
on the part of the Administration. I believe therefore that it is my duty
to bring to your attention the following facts and recommendations.
In the course of the last four months it hás been made probable through
the work of Joliot in France as well as Fermi and Szilard in America--that
it may be possible to set up a nuclear chain reaction in a large mass of uranium,
by which vast amounts of power and large quantities of new radium-like elements
would be generated. Now it appears almost certain that this could be achieved
in the immediate future.
This new phenomenon would also lead to the construction of bombs, and it is
conceivable--though much less certain that extremely powerful bombs of this
type may thus be constructed. A single bomb of this type, carried by boat
and exploded in a port, might very well destroy the whole port together with
some of the surrounding territory. However, such bombs might very well prove
too heavy for transportion by air.
The United States has only very poor ores of uranium in moderate quantities.
There is some good ore in Canada and former Czechoslovakia, while the most
important source of uranium is in the Belgian Congo.
In view of this situation you may think it desirable to have some permanent
contact maintained between the Administration and the group of physicists
working on chain reactions in America. One possible way of achieving this
might be for you to entrust the task with a person who has your confidence
and who could perhaps serve in an unofficial capacity. His task might comprise
the following:
a) to approach Government Departments, keep them informed of the further development,
and put forward recommendations for Government action, giving particular attention
to the problem of securing a supply of uranium ore for the United States.
b) to speed up the experimental work, which is at present being carried on
within the limits of the budgets of University laboratories, by providing
funds, if such funds be required, through his contacts with private persons
who are willing to make contributions for this cause, and perhaps also by
obtaining co-operation of industrial laboratories which have necessary equipment.
I understand that Germany has actually stopped the sale of uranium from the
Czechoslovakian mines which she has taken over.
That she should have taken such early action might perhaps be understood on
the ground that the son of the German Under-Secretary of State, von Weizsacker,
is attached to the Kaiser-Wilhelm Institute in Berlin, where some of the American
work on uranium is now being repeated.
Yours very truly,
Albert Einstein
1 a – A tradução da Carta de Einstein ao Presidente F.
D. Roosevelt:
Albert
Einstein
Old Grove Road,
Poconic, Long Island
2 de agosto de 1939
F.
D. Roosevelt
President of the United States
White House
Washington, D.C.
Senhor Presidente:
Um trabalho recente de E. Fermi e L. Szilard, que me foi enviado em manuscrito,
leva-me a supor que o elemento urânio possa vir a ser uma nova e significativa
fonte de energia em futuro próximo. Certos aspectos da situação
que decorrem parecem exigir cuidado e, se necessário, ação
pronta de parte do Governo. Daí porque creio ser minha obrigação
trazer à atenção do senhor os seguintes fatos e recomendações.
Nos últimos quatro meses tornou-se provável – através
do trabalho de Joliot, na França, bem como de Fermi e Szilard, nos
EUA – que seja possível desencadear, numa grande massa de urânio,
uma reação nuclear em cadeia que geraria uma enorme quantidade
de energia e grandes porções de novos elementos com propriedades
semelhantes às do elemento rádio. Agora, está quase certo
que isso se possa fazer em um futuro imediato. Neste momento, parece quase
certo que tal fato possa ocorrer em futuro próximo.
Este novo fenômeno poderia também levar à construção
de bombas, e é de se imaginar – malgrado isso seja bem menos
certo – que se possam fabricar, portanto, bombas de extrema potência
desse tipo. Uma só dessas bombas, levada em navio e explodida em um
porto, talvez possa destruir o porto inteiro com partes da zona vizinha. Entretanto,
tais bombas talvez sejam muito pesadas para transporte aéreo.
Os Estados Unidos só têm minérios de urânio de qualidade
muito baixa e em quantidades reduzidas. Existe minério de boa qualidade
no Canadá e na ex-Thecoslováquia, mas a grande fonte de urânio
está no Congo Belga.
Em virtude desta situação, talvez o senhor julgue de bom alvitre
que algum contacto permanente se estabeleça entre o Governo e o grupo
de físicos que trabalha na reação em cadeia nos EUA.
Uma forma possível talvez seja o senhor atribuir essa missão
a alguém de sua confiança que poderia, quem sabe, atuar em condição
não-oficial. Sua tarefa poderia constar do seguinte:
a) fazer contacto com os ministérios, mantê-los a par de quaisquer
novos avanços e recomendar ação governamental, com atenção
particularmente voltada para o problema de garantir o suprimento de minério
de urânio para os EUA.
b) acelerar as experiências, no momento levadas a efeito sob a limitação
dos orçamentos de laboratórios universitários, carreando
fundos, se fundos se fizerem necessários, pelo contato com particulares
desejosos de contribuir para esta causa, talvez, inclusive, buscando a colaboração
de laboratórios industriais que disponham do necessário equipamento.
Entendo que a Alemanha resolveu de fato suspender a venda de urânio
das minas tchecas que tomou.
Talvez se compreenda por que haja tomado essa providência inicial pelo
fato de o filho do Vice-ministro do Exterior, von Weizsacker, ser ligado ao
Instituto Kaiser Wilhelm, de Berlim, onde está sendo repetido parte
do trabalho americano em urânio.
Atenciosamente,
Albert Einstein
2
– A resposta do Presidente F. D. Roosevelt:
THE
WHITE HOUSE
WASHINGTON
October 19, 1939
My dear Professor:
I want to thank you for recent letter and the most interesting and important
enclosure.
I found this data of such import that I have convened a Board consisting of
the head of the Bureau of Standards and a chosen representative of the Army
and Navy to thoroughly investigate the possibilities of your suggestion regarding
the element of uranium.
I am glad to say that Dr. Sachs will cooperate and work with this Committee
and I feel this is the most practical and effective method of dealing with
the subject.
Please accept my sincere thanks.
Very sincerely yours,
(Assina
o presidente dos EEUU)
Dr. Albert Einstein,
Old Grove Road,
Nassau Point,
Poconic, Long Island,
New York.
2 a – A tradução da resposta do Presidente F. D. Roosevelt:
THE WHITE HOUSE
WASHINGTON
19 de outubro de 1939
Meu caro Professor:
Desejo agradecer-lhe sua recente carta e o importante e interessantíssimo
anexo.
Considerei o assunto de tal seriedade que criei um Conselho composto do diretor
do Bureau of Standards e de representantes do Exército e da Marinha
para examinar detidamente o que o senhor indica acerca do elemento urânio.
Apraz-me comunicar-lhe que o Dr. Sachs estará cooperando com esse comitê,
nele efetivamente trabalhando, pois quer me parecer que esta é a forma
mais prática e eficiente para tratar do assunto.
Queira aceitar meus sinceros agradecimentos.
Sinceramente,
(Assina o presidente
dos EEUU)
Dr.
Albert Einstein,
Old Grove Road,
Nassau Point
Poconic, Long Island,
New York
Uma
outra carta muito interessante (a última antes de falecer) foi a que
Einstein escreveu em 21 de março de 1955 a Vero Besso, filho de seu
recém-falecido amigo Michele Besso, apenas vinte e oito dias antes
de sua própria morte em 18 de abril do mesmo ano: Eis que, de novo,
ele [Besso] me precede um pouco, deixando este estranho mundo. Isto
nada significa. Para nós, físicos crentes,
esta separação entre passado, presente e futuro não
tem senão o valor de uma ilusão, por tenaz que
seja. (Negrito e grifo meus).
Ora,
Einstein não era um nefelibata. Sabia exatamente com o que estava lidando
e tinha muitas dúvidas a respeito de suas conclusões. No ano
anterior à sua morte, decepcionado com sucessivos insucessos, escreveu
ao mesmo amigo Michele Besso: Admito como perfeitamente plausível
que a Física pode não estar fundamentada na noção
de campo, isto é, em elementos contínuos. Então, não
restará nada da minha obra – incluindo a Teoria da Gravitação
– e também praticamente nada da Física Moderna. Mas
o seu maior pavor era que a energia nuclear viesse a ser utilizada para fins
bélicos, como veio a suceder. Ou essa conclusão a que cheguei
é verdadeira ou o que ele escreveu certa feita é uma farsa.
Leia-se Albert Einstein: A pior das instituições se intitula
Exército. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em desfilar
aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um
cérebro humano, já que a medula espinhal o satisfaz. Deveríamos
fazer desaparecer o mais depressa possível este câncer da civilização.
Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a
violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é
a coisa mais desprezível que existe. Preferia deixar-me assassinar
a participar desta ignomínia.
Ora, quem pensa, diz ou escreve que
prefere se deixar assassinar a participar de uma guerra, não é
menos do que um grande e consciente místico. Quem pensa, diz ou escreve
que o nacionalismo é uma doença infantil, como Einstein
disse ou escreveu, não é menos do que um grande e consciente
místico. Quem pensa, diz ou escreve que a imaginação
é mais importante do que o conhecimento, como Einstein disse ou
escreveu, não é menos do que um grande e consciente místico.
Quem pensa, diz ou escreve que é mais fácil desintegrar
um átomo do que um preconceito, como Einstein disse ou escreveu,
não é menos do que um grande e consciente místico. Quem
pensa, diz ou escreve, sou, na verdade, um viajante solitário,
e os ideais que iluminaram meu caminho e que proporcionaram, uma vez ou outra,
novo valor para enfrentar a vida foram a beleza, a bondade e a verdade,
como Einstein disse ou escreveu, não é menos do que um grande
e consciente místico. Quem pensa, diz ou escreve que o direito
de todo homem é escutar sua consciência e atuar segundo o que
ela lhe dita, como Einstein disse ou escreveu, não é menos
do que um grande e consciente místico. Quem pensa, diz ou escreve que
o único caminho lógico para a descoberta das leis do Universo
é o da intuição, como Einstein disse ou escreveu,
não é menos do que um grande e consciente místico. [A
citação foi editada]. Quem pensa, diz ou escreve que um
cientista raramente se inclinará a crer que o curso dos eventos possa
ser influenciado pela oração, ou seja, por um desejo dirigido
a um ser sobrenatural, como Einstein disse ou escreveu, não é
menos do que um grande e consciente místico. Quem pensa, diz ou escreve
que não posso conceber um Deus que recompensa e pune as suas criaturas
ou que tem uma vontade do tipo que nós mesmos experimentamos,
como Einstein disse ou escreveu, não é menos do que um grande
e consciente místico. Enfim, para não ficar cansativo, quem
pensa, diz ou escreve que todas as melhores especulações,
no âmbito da ciência, brotam de um sentimento religioso profundo...
esse tipo de religiosidade que se faz sentir hoje na investigação
científica é a única atividade religiosa criativa de
nosso tempo, como Einstein disse ou escreveu, não é menos
do que um grande, consciente e categórico místico.
Não há nenhuma incompatibilidade
entre Misticismo e Ciência, muito pelo contrário. A verdade é
que o Misticismo sem a ciência é inútil, e a Ciência
sem o Misticismo é perigosa. De que adianta ficar sentado em meditação
cantando mantras, se o produto intuitivo da meditação não
é transformado em algo útil para a Humanidade? Também
não adianta nada, e se adiantar pode ser perigosíssimo, pesquisar
e implementar novas tecnologias se essas novas tecnologias forem, sabida e
conscientemente, detrimentais à sociedade. Os ditos crimes ecológicos
são cometidos porque quem os comete, acima de tudo, não tem
qualquer outra percepção além de si próprio, e
só age em benefício de si próprio e do grupo ao qual
está associado. O que está acontecendo hoje no meio político
brasileiro, com raríssimas exceções, é o exemplo
que me ocorreu para citar agora. Mensalões? Corruptodutos? Licitações
fraudulentas? Panamás? Adianta pouquíssimo fazer pelo social
se os exemplos são outros. O que ocorreu recentemente em São
Paulo é um exemplo cabal da desordem política na qual está
mergulhado o Brasil.5
Em
um livro digital que coloquei no ar há algum tempo especulei: Os
cientistas-filósofos do milênio que nasceu acabarão por
apoiar suas pesquisas e conclusões filosófico-científicas
em suportes estritamente éticos, não dispensando, como fizeram
até hoje, os segredos da Arte-Ciência e do Esoterismo Iniciático,
tendo como meta primacial, portanto insubstituível e inegociável,
o Bem da Humanidade. Se estes vinte séculos que se concluíram
recentemente, se caracterizaram por um sono vanglorioso e pela produção
de teorias e de sistemas incompletos, e até, muitas vezes, inverossímeis,
os próximos dois mil anos que se seguirão, talvez, venham, em
um primeiro momento, a unificar as várias teodicéias, para,
depois, compatibilizá-las com a Ciência e com a Alquimia [Interior].
Enquanto prevalecerem tipos de razão (razão filosófica,
razão científica, razão alquímica, razão
econômica, razão de Estado etc.), qualquer análise acabará
por produzir sempre um absurdo - uma razão irracional - porque qualquer
razão isolada, estanque, é incompleta e insubsistente. A razão
terá que ceder espaço à Razão Cósmica,
e a vontade individual, humana, terá que se submeter (sem perda do
livre-arbítrio) à Vontade, como disse Plotino, do Uno-Em-Si
[que dorme em cada ser-no-mundo]. Portanto, mais exatamente do Uno-Em-Si-Interior.
A Princesa Adormecida, entretanto, está acordando. E o Príncipe
que já a está a beijar encontra-se nu e sem adornos. As mais
belas jóias e os mais Sagrados Selos de sua autenticidade Ele os traz
em seu Coração. Em sua mão direita há um pergaminho
com uma espiral no centro da qual, em letras douradas, está inscrita
a frase: Eu Sou a Luz. E quando Príncipe e Princesa compreenderem e
realizarem a Unidade [e quando os cientistas realizarem essa mesma Unidade],
iluminados perceberão que o ser representa, neste Plano, o Centrum
& Miraculum Mundi, e que D'US escolheu o melhor para sua eterna morada.
É esse D'US-MESTRE-INTERIOR que precisa ser construído por cada
um e por todos... E, assim, nascerá uma nova classe de pensadores:
os TEOCIENTISTAS. A salvaguarda da Humanidade acontecerá pela (re)aquisição
de um conhecimento superior, percebido e difundido primeiramente por Melquisedeque,
do qual as Fraternidades Iniciáticas, as Igrejas Ocultas e os remanescentes
dos atlantes foram e são fiéis depositários. Utopia?
Nem tanto. Acredito que seja possível alcançarmos uma sociedade
mais ou menos ideal e fundamentada em leis justas e em instituições
político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar
da Humanidade e com a fraternidade. Mas para que isso possa se tornar realidade...
Conclusão
Recentemente
escrevi um poema cujo título é Impressão
Digital. Vou transcrevê-lo abaixo
Temos
inteira liberdade de escolher:
não fazer coisa com coisa e não ser lá grande coisa
ou procurar Beber na Fonte Sobre-Substancial.
Então, por que se privar da Consciência do Viver?
Por que diariamente ficar esperando a poisa?
Para Viver é necessário uma Impressão Digital.
Miguel
Torga conclui o seu poema Liberdade dizendo: — Liberdade
que estais em mim,/Santificado seja o vosso nome. A liberdade consentida
pelo senso comum longe está de ser a Liberdade de que falou Torga,
porque essa liberdade, condescendida pelo senso comum, é prisão.
A Alemanha de Hitler consentiu, e pagou o preço. O Brasil aceitou a
revolução de 64, e pagou o preço. O mesmo Brasil está
consentindo que as maracutaias proliferem, e pagará o preço.
O povo americano está consentindo que a política externa dos
EEUU seja do jeito que é, e pagará o preço. Refletindo
então: por definição, senso comum é, primeiro
na filosofia romana, posteriormente no pensamento moderno e no pensamento
contemporâneo, o conjunto de opiniões, idéias e concepções
que, prevalecendo em um determinado contexto social, se impõem como
naturais e necessárias, não evocando, geralmente, reflexões
ou questionamentos. Em uma palavra: consenso. Mas, foram os múltiplos
consensos que produziram e continuam a produzir os mais variados horrores.
O senso comum é, por natureza e por origem, falho, deformado, preconceituoso
e inconscientemente autoritário e arbitrário. Ainda que a Luz
que vem do Leste seja tão-só iluminante, muitos não a
percebem e só enxergam a treva que não poderá jamais
vir do Leste. Por isso, às vezes ingenuamente, adotam o senso comum,
anuem o absurdo e concordam com o que não entendem. Em sã consciência
eu pergunto: alguém pode concordar com o caos que se estabeleceu no
Iraque? Com a miséria do Haiti? Com as botas sobre o povo tibetano?
Com a fome da África?
Tudo o que foi examinado neste ensaio
será, provavelmente, rechaçado por esse senso comum ou por uma
parte dele. Mas, como disse Antônio Roberto Soares no seu texto Eu
Te Compreendo, justamente agora, já não precisas mais
do meu apoio, pois, o que foste buscar dentro de ti, encontraste dentro da
tua própria dor! Por que fiz referência à esta passagem?
Porque, para compreendermos e nos libertarmos na direção do
que intuiu Miguel Torga, precisamos projetar e construir uma Impressão
Digital indelével em nosso Coração. Com dor ou sem dor!
Essa Impressão Digital será o passaporte para a Vida Eterna,
o que não significa que a Peregrinação tenha terminado.
Ela não terminará nunca, mas será tanto mais penosa quanto
menos determinados formos, e menos iluminada quanto maiores forem nossa ignorância
e nossos preconceitos. Mas, seja como for, nem a ciência nem a tecnologia
jamais poderão projetar ou fabricar essa Impressão Digital,
pois ela só poderá ser edificada em nosso Coração.
Por nós e por mais ninguém!
Para concluir, citarei o meu Irmão
Frater Vicente Velado: Estejamos sempre atentos para que não se
perca a Luz de vista.
Rio
de Janeiro, 17 de maio de 2006.
______
Notas:
1. O termo Padres do Deserto inclui um grupo influente de eremitas e cenobitas
do século IV que se estabeleceu no Deserto Egípcio. Nessas ermidas
primitivas e comunidades religiosas se encontram as origens do monaquismo
oriental cristão.
2. Ser-no-mundo: no heideggerianismo, constituição necessária
e apriorística do ser-aí - o ente humano - que deve
ser compreendido em sua inserção na realidade cotidiana, na
historicidade e na relação que estabelece com os outros entes.
3. Ordália, ordálio ou sentença divina (do anglo-saxônico
ordal = juízo) era um meio de comprovação em
litígios particulares e públicos, praticado em quase todas as
culturas, especialmente nas indogermânicas. Foi um meio de prova usado
em processos penais em Portugal e na generalidade dos países europeus
até o século XIII. A Igreja Católica condenou oficialmente
esta prática no IV Concílio de Latrão (1215) e ainda
pelas Decretais do Papa Gregório IX (1234). A ordália
consistia que, na divergência de testemunhos, remetia-se a verdade para
o juízo de Deus, ou seja Deus não podia beneficiar o culpado
contra o inocente. Em Portugal, os ordálios utilizados foram de dois
tipos: o ferro em brasa e o duelo judicial. No primeiro caso, o juiz e um
sacerdote aqueciam o ferro, que o acusado era obrigado a segurar. O juiz cobria-lhe
a mão com cera, punha-lhe por cima linho ou estopa e enfaixava tudo
com um pano. Decorridos três dias, o estado da mão era analisado;
se houvesse chaga o réu era considerado culpado e imediatamente condenado.
O duelo judicial, a cavalo ou a pé, segundo a classe social dos intervenientes,
durava três dias. Após esses dias, o vencido perdia o processo;
se não houvesse vencido, perdia quem tinha pedido o desafio. Penso
que seja desnecessário comentar que o ordálio foi um recurso
encorajador e tenebroso para estimular acusações levianas e
interesseiras.
4. Cristão-novo é definido como aquele que é filho ou
neto de judeus convertidos ao Catolicismo, ou o que se converteu recentemente
a essa religião. O preconceito não termina aí, pois é
definido como cristão-velho o cristão (na verdade, católico,
porque entendo que Cristianismo seja uma coisa e Catolicismo outra bem diferente)
que não foi judeu nem tem antepassados judeus.
5.
Atentados do crime organizado contra a polícia (maio de 2006).
Websites
consultados:
http://www.padrepio.catholicwebservices.com
/PORTUGUES/PORTUGUES_index.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_XII
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bernadette_Soubirous
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joana_d'Arc
http://www.mulhernatural.hpg.ig.com.br/trablux/osho2.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ord%C3%A1lio
http://ruadajudiaria.com/index.php?p=171
http://www.padresdodeserto.net/
http://www.dannen.com/ae-fdr.html
http://www.gagneint.com/Final%20site
/Animation/Animation.htm
http://www.ciencia-cultura.com/leitura/Cartas02.html
http://ciencia.tipos.com.br/einstein-v
http://pt.wikipedia.org/wiki/Josef_Mengele
Fundo
musical:
Il
Mondo
Fonte:
http://www.marilenemusicaetecnologia.
hpg.ig.com.br/page5.html