Todo
mundo deve inventar alguma coisa. A criatividade reúne em
si várias funções psicológicas importantes
para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente,
é o estímulo à criatividade.
É
necessário se espantar, se indignar e se contagiar; só
assim é possível mudar a realidade.
A
contaminação psíquica é
pior do que piolho. Vai passando de uma cabeça para outra,
numa rapidez incrível. E, como você sabe, todo mundo
já pegou piolho.
Há
no meu temperamento essa fúria. Quando eu quero uma coisa,
eu insisto.
Desprezo
as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais têm
a sabedoria da Natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando
não quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não
tem papo.
Eu
me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Para mim,
o teste é o bicho; se não passar por ele, não
tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho
é arrogante.
Para
navegar contra a corrente são necessárias condições
raras: espírito de aventura, coragem, perseverança
e paixão.
Os
loucos são considerados comumente seres embrutecidos e absurdos.
Custará admitir que indivíduos assim rotulados em
hospícios sejam capazes de realizar alguma coisa comparável
às criações de legítimos artistas que
se afirmam justo no domínio da arte – a mais alta atividade
humana. Antes que se procurasse entendê-los, concluiu-se que
tinham a afetividade embotada e a inteligência em ruínas.
Hoje, está demonstrado que, mesmo após longos anos
de doença, a inteligência pode conservar-se intacta
e a sensibilidade vivíssima.
A
palavra que mais gosto é liberdade. Gosto do som desta palavra.
O
que cura é a alegria; o que cura é a falta de preconceito.
A
face do Sol é serena e triste. Ele vai navegar na noite e
lutar contra monstros que incessantemente se esforçam para
impedir seu renascimento.
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Nise Magalhães da Silveira (Maceió, 15 de
fevereiro de 1906 – Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1999)
foi uma renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl
Jung. Dedicou sua vida à Psiquiatria e se manifestou radicalmente
contrária às formas agressivas de tratamento de sua
época, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos,
eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia.