O PENSAMENTO
DE
FRANCIS BACON
A CASA DE SALOMÃO
(COLÉGIO DA OBRA DOS SEIS DIAS DA ILHA DE BENSALEM)
Rodolfo
Domenico Pizzinga
|
Que
os homens considerem quais são os verdadeiros fins
do conhecimento e que não o procurem nem pelo prazer
da mente, nem pelo contentamento, nem pela conquista de
superioridade em face de outros, nem por proveito, fama,
poder ou qualquer outra dessas coisas inferiores, mas, para
benefício e uso da vida. E que o aperfeiçoem
e o dirijam com caridade.
Francis
Bacon |
Sir Francis Bacon (1561 - 1626)
(Manual Rosacruz, H. Spencer
Lewis, 2ª ed. Brasil:
Suprema Grande Loja da AMORC,
1964, p. 13)
Breves
Dados Biográficos
O
Barão Verulam e Visconde de St. Albans Francis Bacon (Londres,
22 de Janeiro de 1561 – Londres, 9 de abril de 1626) foi
um político, filósofo e ensaísta inglês.
Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida
política, na qual exerceu posições elevadas.
Em 1584, foi eleito para a Câmara dos Comuns.
Sucessivamente,
durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções
de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo
(1617) e grande chanceler (1618). Em 1621, Bacon foi acusado de
corrupção, condenado ao pagamento de pesada multa
e proibido de exercer cargos públicos. Como filósofo,
destacou-se com uma obra onde a ciência é exaltada
como benéfica para o homem. Em suas investigações,
se ocupou especialmente com a metodologia científica e
com o Empirismo. É muitas vezes chamado de fundador da
ciência moderna. Sua principal obra filosófica é
o Novum Organum.
Francis Bacon foi um dos
mais conhecidos e influentes Rosacruzes e também um Alquimista,
tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz do seu tempo,
o de Imperator. Estudiosos apontam como sendo o real autor dos
famosos Manifestos Rosacruzes Fama Fraternitatis (1614),
Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas
de Christian Rozenkreuz (1616).
O
pensamento filosófico de Bacon (que, curiosamente, considerava
as reflexões do filósofo pré-socrático
Demócrito de Abdera – cerca de 460 a.C. a 370 a.C.
– como mais importantes do que as Platão e as de
Aristóteles) representou uma tentativa de realizar aquilo
que ele mesmo chamou de Instauratio Magna Scientiarum (Grande
Rrestauração). Para Bacon, a Ciência deveria
restabelecer o Imperium Hominis (Império do Homem)
sobre as coisas. A Filosofia verdadeira não é apenas
a ciência das coisas divinas e humanas. É também
algo prático. E a mentalidade científica somente
será alcançada através do expurgo de uma
série de preconceitos, chamados por Bacon de ídolos.
A realização deste ousado plano compreendia uma
série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava
a Ciência da época, acabaria por apresentar um novo
método que deveria superar e substituir o de Aristóteles
(para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende
do raciocínio silogístico aristotélico, mas,
sim, da observação e da experimentação
regulada pelo raciocínio indutivo). Estes tratados deveriam
apresentar um modo específico de investigação
dos fatos, passando, a seguir, para a investigação
das leis, e retornavam para o mundo dos fatos, para nele promover
as ações que se revelassem possíveis. Bacon
desejava uma reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente,
gigantesca e o Filósofo produziu apenas um certo número
de tratados. Não obstante, a primeira parte da Instauratio
foi concluída.
Francis
Bacon esteve mergulhado em investigações naturais
até o fim de sua vida, tentando realizar, na prática,
seu método. No inverno de 1626, estava envolvido com experiências
sobre o frio e a conservação. Desejava saber por
quanto tempo o frio poderia preservar a carne. A idade havia debilitado
a saúde do Filósofo, e ele acabou não resistindo
ao rigoroso inverno daquele ano. Francis Bacon, que tinha por
lema bene vixit qui bene latuit (viveu bem quem soube
viver na obscuridade), vivenciou sua Grande Iniciação
em 9 de abril, vítima de uma bronquite.
Linha
do tempo
1558 — Morte de Maria I, que é sucedida por Elizabeth
I.
1561 — Nasce Francis Bacon.
1576 — Bacon viaja para França.
1582 — Giordano Bruno publica As Sombras das Idéias.
1588 — Derrota da Invencível Armada (esquadra reunida
pelo rei Filipe II, da Espanha, em 1588, na tentativa de pôr
fim à sua guerra com a Inglaterra).
1596 — Nasce Descartes.
1600 — Giordano Bruno é condenado e executado.
1618 — Bacon é Lorde Chanceler e barão de
Verulam.
1623 — Nasce Blaise Pascal.
1626 — Morte de Bacon.
A
Casa de Salomão
Duas
distinções básicas aparecem imediatamente
no pensamento de Bacon: Arquétipo e Tipo. Arquétipo
está adstrito aos atributos de Deus; Tipo está circunscrito
aos homens. Assim, conhecimento e sabedoria têm conotações
diferentes. O primeiro é erudição –
coisa adquirida – enquanto Sabedoria (última energia
antes de KeTheR) é original em e originária
de Deus. O caminho ascensional do ser, obrigatoriamente, vai do
conhecimento à Sabedoria. Esta é a eterna vereda
que bussola a Peregrinação Iniciática em
busca do Cristo Interno. Deus Homo Est.
Outras três díades
estiveram presentes no pensamento de Bacon. A emanação
da Virtude de Deus opera-se de forma dupla: Poder e Sabedoria.
Associou a Contemplação e a Ação aos
planetas Saturno e Júpiter. O primeiro por estar ligado
ao repouso; o segundo por ser o Planeta da sociedade civil e da
ação. Matéria e Forma também constituem
uma díade: a primeira como polaridade positiva, a segunda,
como negativa. Observa-se também que, em Bacon, o estado
contemplativo está associado ao repouso (tranqüilidade,
paz e harmonia mentais) equivalendo à meditação.
Há aqui uma profunda similitude e aproximação
com os pensamentos pitagórico, platônico e plotiniano.
No Novum Organum
(obra escrita para se opor ao Organum de Aristóteles)
contrastou os ídolos que bloqueiam a mente humana com as
idéias do divino. Os quatro tipos de ídolos apresentados
por Bacon são: ídolos tribais (idola tribus)
[que correm por conta das deficiências do próprio
espírito humano e que se revelam pela facilidade com que
generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os
desfavoráveis], ídolos da caverna (idola specus)
[que resultam da própria educação e
da pressão dos costumes], ídolos do foro
ou da praça do mercado ou da vida pública (idola
fori) [que
estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso
que dela fazemos], e
ídolos do teatro ou da autoridade (idola theatri) [que
decorrem da irrestrita subordinação à autoridade].[1]
A
Alquimia também fez parte das meditações
de Bacon. O Filósofo Inglês afirmou categoricamente
que Enxofre e Mercúrio
são as primeiras e primordiais Naturezas da matéria.
A terceira parte é o Sal, que deriva ou é
formado das outras duas. Observa-se a simbologia do Triângulo
nesse pensamento que, aliás, diga-se de passagem,
não é original em Bacon. Todos os Alquimistas de
todas as épocas referem-se à tríade Enxofre,
Mercúrio e Sal como partícipes fundamentais
da Obra. A própria Grande Obra (Operativa), em última
instância, pretende provocar a interação do
Enxofre (fogo) com o Mercúrio (água),
e a Transmutação Alquímica, a juízo
dos Iniciados (Alquimistas), baseia-se nesta premissa. A contraparte
da Alquimia Operativa é Alquimia Interior (Transcendental),
que visa à purgação interna e simbólica
dos metais inferiores, transmutando-os em puro ouro. Nesse processo
Morre o homem e Nasce o Homem. Ao Iniciado interessa, exclusivamente,
a realização da Alquimia Transcendental.
O
conhecimento, Bacon dividiu-o em três esferas: conhecimento
de Deus, da Natureza e do Homem.
As ciências, por sua vez, são quádruplas
e dispostas em forma piramidal.
Pirâmide de Bacon para a Filosofia Natural
Em a Nova
Atlântida – utopia que incorpora os novos avanços
da época na ciência e na espiritualidade –
Bacon utilizou simbolicamente os números para descrever
as atribuições e encargos da Casa de Salomão
ou Colégio da Obra dos Seis Dias da Ilha de Bensalem –
um santuário de Sabedoria. Os habitantes
da Nova Atlântida, segundo Bacon, atingiram, utopicamente,
a perfeita ciência, a perfeita ordem social e a perfeita
via para a regeneração espiritual. Esta, entretanto,
é a utopia de todo Rosacruz. Como afirma Ulisses Capozoli,
a Nova Atlântida é o que muitos considerariam
utopia, uma sociedade onde o conhecimento científico é
o responsável pela felicidade de seus cidadãos.
A Casa de Salomão, onde trabalham os sábios, previu
Bacon, seria o suporte do futuro bem-estar social.
A
cada doze anos eram enviados para fora da Ilha (do Reino) dois
navios, cada um levando uma comissão especial formada de
três irmãos da Casa de Salomão, com atribuições
específicas de, fundamentalmente, trazerem informações
sobre o estado social, político, científico e artístico
das nações visitadas. Esses conceitos numéricos
apresentados por Bacon estão crivados de simbolismo alquímico,
esotérico e cabalístico. Não se pode deixar
de registrar, neste instante, que Bacon, afora suas atribuições
políticas e produção literária e filosófica,
foi Imperator (supremo dirigente) da Ordem Rosacruz do seu tempo.
Hoje, sabe-se que sua obra escrita foi literalmente cifrada, pois
como não podia, naquela época, divulgar abertamente
seu pensamento, sem, com isso, se comprometer, bem assim aos membros
da Ordem, fazia-o de maneira velada e simbólica. Diversos
pesquisadores do mundo inteiro têm se debruçado sobre
a obra de Bacon com o intuito de confrontar o que já se
descobriu e o que de fato existe por trás desse véu
que perdura por mais de trezentos anos. Contemporaneamente, está
comprovado que, por exemplo, o famoso livreto Fama Fraternitatis
foi escrito por Bacon, sob o pseudônimo de Christian Rosenkreutz.
Os Símbolos Rosacruzes e os do próprio Bacon são
encontrados como marcas d’água nas páginas
dos documentos e de todas as obras literárias, científicas
e filosóficas que escreveu. Nesse sentido, a Nova Atlântida
esconde nas entrelinhas um conhecimento muito antigo, que
não podia, por motivos óbvios, naquela época,
ser pública e abertamente divulgado. Um dos mais flagrantes
absurdos — proveniente do desconhecimento total da história
da Ordem Rosacruz – AMORC
— é o de se admitir que a Fraternidade tenha sido
originalmente fundada por Christian Rosenkreutz. Esse tema,
ainda que rapidamente, está discutido em um trabalho divulgado
neste Website. Em verdade... no Egito Antigo... Akhnaton...
O princípio...
Um dos costumes
extremamente interessantes da Ilha de Bensalem é a festa
da família, narrada por Bacon na Nova Atlântida:
Qualquer homem
que viva para ver trinta descendentes seus vivos, juntos,
e todos maiores de três anos, pode fazer uma festa às
custas do Estado.... Dois dias antes da festa [o pai
de família homenageado] leva consigo três
dos seus amigos, escolhidos à sua vontade, e é
acompanhado também pelo governador da cidade ou do
lugar onde a festa é celebrada...[2]
Ao final das comemorações,
que inclui um jantar em família, era cantado um hino, cujo
tema sempre glorificava Adão, Noé e Abraão;
os dois primeiros, por, simbolicamente, terem povoado o mundo,
e o último, por ser considerado o Pai da fé. O hino
termina agradecendo à natividade do Salvador. Claramente
se constata a presença do Três no aludido hino. E,
obviamente, Adão possui outro simbolismo, que é
frontal e diametralmente oposto ao do entendido pelo Catolicismo.
ADaM (1 + 4 + 40) é equivalente a 45, valor secreto
do número 9. Na verdade, cabalisticamente, há o
entendimento de que existem Quatro Níveis Adâmicos.
Este tema está sumariado em outro texto apresentado neste
Website.
Nesta
obra que está sendo rapidamernte revisitada, o Autor utilizou-se
ainda dos números, simbolicamente, através do Padre
da Casa de Salomão, para descrever as atribuições
e os encargos dos membros pertencentes àquela Casa. A Casa
é estruturada em Nove grupos com responsabilidades e deveres
peculiares. O primeiro grupo é composto de Doze membros,
e os outros, de Três cada um, segundo a
hierarquia que se seguirá.[3] (Consultar Quadro
2). Observa-se no Quadro que apresenta as Atribuições
e Encargos dos Membros da Casa de Salomão o alto esoterismo
do pensamento baconiano, de vez que utilizou para estruturação
daquela Casa os números Três , Nove
(3 + 3 + 3) e Doze. Trinta e Seis é
o número simbólico dos Membros da Casa de Salomão.
3
= MANIFESTAÇÃO PERFEITA |
9
= IMAGEM DOS TRÊS MUNDOS |
12
= COMPLETA E PERFEITA HARMONIA |
36
—› O HOMEM —› O
SOL —› 666 |
Estruturação
da Casa de Salomão
Portanto,
a Casa de Salomão está estruturada sobre o mais
perfeito e harmônico esoterismo. Relativamente ao último
grupo, denominado por Bacon Interpreters of Nature, este
corresponde aos passos do método indutivo proposto no Novum
Organum.
GRUPO
|
DENOMINAÇÃO
|
FUNÇÃO
|
1 |
Mercadores
da Luz |
12
navegam pelos países estrangeiros para reunir livros,
experimentos etc. |
2 |
Depredadores |
3
recolhem os experimentos que se encontram nos livros trazidos
pelo primeiro grupo |
3 |
Homens
do Mistério |
3
reúnem experimentos sobre artes mecânicas e
sobre ciências liberais |
4 |
Pioneiros
ou Mineiros |
3
tentam novas experiências consideradas úteis |
5 |
Compiladores |
3
organizam as experiências anteriores e fazem relatórios
a respeito |
6 |
Doadores
ou Benfeitores |
3
examinam os experimentos anteriores deles extraindo o que
for útil para a vida e para o conhecimento do homem |
7 |
Lâmpadas |
3
orientam novos experimentos de maior iluminação
ou de maior importância |
8 |
Inoculadores |
3
executam os experimenntos assim orientados informando os
resultados aos Lâmpadas |
9 |
Intérpretes
da Natureza
|
3
sintetizam as descobertas anteriores em observações,
em axiomas e em aforismos de maior generalidade |
Atribuições e Encargos
dos Membros da Casa de Salomão
Para Bacon,
a Ciência deve ter uma finalidade prática, jamais
especulativa, de tal sorte que o verdadeiro saber deve provir
das causas: Vere scire est per causa scire (Saber verdadeiramente
é saber pela causa). E a regra máxima, segundo o
Filósofo, do verdadeiro e perfeito axioma do Saber é:
...
que se descubra outra maneira que seja conversível
à Natureza dada, e que ainda seja a limitação
de uma Natureza mais geral, à maneira de um verdadeiro
gênero.[4]
Sir
Francis Bacon
no Globe Theatre
Ruínas
da Residência de
Sir Francis Bacon em Gorhambury
Considerações Finais
Enfim, Bacon entendia que as ciências
devem servir ao progresso, prover o homem de invenções
e de riquezas e contribuir para o bem-estar da
Humanidade. Esta era a expectativa de Bacon, que possuía
a convicção de que ...o supremo motivo de esperança
emana de Deus. Acreditava firmemente que
a empresa à qual havia se proposto pela sua excelência
e intrínseca bondade, provém manifestamente de Deus,
que é Autor do Bem e Pai das Luzes.[5]
Bacon faleceu aos sessenta e cinco anos de idade, no apogeu de
seu Trabalho Rosacruz, quando realizava experiências científicas
extremamente relevantes. Antes de se dar por encerrada esta pequena
síntese do pensamento baconiano, recorda-se uma de suas
frases, mais sábias:
UM POUCO DE FILOSOFIA NOS AFASTA DE DEUS;
UM POUCO MAIS, NOS FAZ VOLTAR A ELE.
|
Outros
Pensamentos de Francis Bacon
O
homem, ministro e intérprete da Natureza, faz e entende
tanto quanto constata, pela observação dos fatos
ou pelo trabalho da mente, sobre a ordem da Natureza; não
sabe nem pode mais.
O intelecto, deixado a
si mesmo, na mente sóbria, paciente e grave, sobretudo
se não está impedida pelas doutrinas recebidas,
tenta algo na outra via, na verdadeira, mas com escasso proveito.
Porque o intelecto não regulado e sem apoio é irregular
e de todo inábil para superar a obscuridade das coisas.
Existe
uma certa superstição em evitar a superstição.
É
difícil dizer se a mistura de contemplações
com uma vida ativa ou o retiro inteiramente dedicado a contemplações
é o que mais incapacita ou prejudica a mente.
Quer ter amigos, procure
nos bons livros: eles são os amigos verdadeiros, que não
bajulam ou dissimulam.
Guardem-se
os juízes das conclusões duras e das inferências
desmedidas.
Dedicar-se
em demasia aos estudos é indolência; usá-los
em demasia como ornamento é afetação; fazer
julgamentos seguindo inteiramente suas regras é o capricho
de um 'scholar'. Os homens astutos condenam os estudos; os homens
simples os admiram; os homens sábios deles se utilizam.
O
hábito é o principal moderador das ações
humanas; façamos, por conseguinte, todo o possível
por contrair e conservar bons hábitos.
A
prosperidade prontamente descobre o vício; mas a adversidade
logo descobre a virtude.
A
riqueza é para ser gasta.
Meu
elogio será dedicado à própria mente. A mente
é o homem, e o conhecimento é a mente; um homem
é apenas aquilo que ele sabe. Não são os
prazeres das afeições maiores do que os prazeres
dos sentidos, e não são os prazeres do intelecto
maiores do que os prazeres das afeições? Não
se trata, apenas, de um verdadeiro e natural prazer do qual não
há saciedade? Não é só esse conhecimento
que livra a mente de todas as perturbações? Quantas
coisas existem que imaginamos não existirem? Quantas coisas
estimamos e valorizamos mais do que são? Estas vãs
imaginações, estas avaliações desproporcionadas,
são as nuvens do erro que se transformam nas tempestades
das perturbações. Existirá, então,
felicidade igual à possibilidade da mente do homem elevar-se
acima da confusão das coisas de onde ele possa ter uma
atenção especial para com a ordem da Natureza e
com o erro dos homens? De contentamento e não de benefício?
Será que não devemos perceber tanto a riqueza do
armazém da Natureza quanto a beleza de sua loja? Será
estéril a verdade? Não poderemos, através
dela, produzir efeitos dignos e dotar a vida do homem com uma
infinidade de coisas úteis?
O
dinheiro é um bom criado, mas um mau senhor.
O
dinheiro é como o adubo, não é bom se não
for distribuído.
A
indagação da verdade – que é namorá-la
ou cortejá-la – o conhecimento da verdade –
que é o elogio a ela – e a crença na verdade
– que é gozá-la – são o bem soberano
das naturezas humanas.
As
esposas são amantes dos homens mais jovens, companheiras
para a meia-idade e amas para os velhos.
Aquele
que não consegue perdoar aos outros, destrói a ponte
por onde irá passar.
As
obras e as fundações mais nobres nasceram de homens
sem filhos.
Os
jovens são mais aptos para inventar do que para julgar,
mais aptos para a execução do que para o assessoramento,
mais aptos para novos projetos do que para atividades já
estabelecidas, porque a experiência da idade em coisas que
estejam ao alcance dessa idade os dirige; mas em coisas novas,
os maltrata. Os jovens, na conduta e na administração
dos atos, abraçam mais do que podem segurar, agitam mais
do que podem acalmar, voam para o fim sem consideração
para com os meios e os graus, perseguem absurdamente alguns princípios
com que toparam por acaso e não se importam em inovar –
o que provoca transtornos desconhecidos. Os homens maduros fazem
objeções demais, demoram-se demais em consultas,
arriscam-se muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente
levam o empreendimento até o fim, mas se contentam com
uma mediocridade de sucesso. Não há dúvida
de que é bom forçar o emprego de ambos, porque as
virtudes de qualquer um deles poderão corrigir os defeitos
dos dois.
Há
pouca amizade no mundo, sobretudo entre pessoas da mesma classe.
A
discrição é para a alma o que o pudor é
para o corpo.
A
prosperidade não está isenta de muitos temores e
de desprazeres; e a adversidade não está desprovida
de conforto e de esperança.
Todo
o acesso a uma alta função se serve de uma escada
tortuosa.
A
primeira obra da verdadeira indução,
para a investigação das formas, é a rejeição
e a exclusão das naturezas singulares que não são
encontradas em nenhuma instância que está presente
a natureza dada, ou encontram-se em qualquer instância em
cuja natureza dada não está presente, ou cresçam
em qualquer instância cuja natureza dada decresce, ou decrescem
quando a natureza dada cresce.
São
todos maus descobridores os que pensam que não há
terra quando conseguem ver apenas o mar.
Que
os pais escolham cedo as vocações e os cursos que
pretendem que seus filhos sigam, pois é nesta fase que
eles são mais flexíveis; e que não se concentrem
demais no pendor dos filhos, pensando que estes irão se
dedicar melhor àquilo para que estejam mais inclinados.
É verdade que se os pendores ou a aptidão dos filhos
forem extraordinários, é bom não contrariá-los;
mas em geral, é bom o preceito dos pitagóricos:
'Optimum elige; suave et facile illud faciet consuetudo'. Escolhe
o melhor; o costume fá-lo-á agradável e fácil.
O hábito é o principal magistrado da vida do homem.
Todo
o homem se descobre sete anos mais velho na manhã seguinte
ao casamento.
Há
livros de que apenas é preciso provar; outros que têm
de se devorar; outros, enfim, mas são poucos, que se tornam
indispensáveis, por assim dizer, mastigar e digerir.
Aquele
que tem mulher e filhos entregou reféns ao destino; é
que eles são um obstáculo aos grandes empreendimentos,
quer sejam virtuosos ou mal formados.
Não
há beleza perfeita que não contenha algo de estranho
nas suas proporções.
Só Deus, criador
e introdutor das formas ou, talvez, aos anjos e às inteligências
celestes compete a faculdade de apreender as formas imediatamente
por via afirmativa e desde o início da contemplação.
Certamente, esta faculdade é superior ao homem, ao qual
é concedida somente a via negativa de procedimento, e só
depois no fim, depois de um progresso completo de exclusões,
pode passar às afirmações.
Onde
o homem se apercebe que há um pouco de ordem, supõe
imediatamente ser demais.
Deve
haver três pontos essenciais nas atividades do Governo:
a preparação, o debate (ou exame) e a conclusão
(ou execução). Se quiserdes presteza, que só
o do meio fique a cargo de muitos, com o primeiro e o último
ficando a cargo de uns poucos.
Não
há solidão mais triste do que a do homem sem amizades.
A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto.
O
meio mais seguro de evitar sedições é afastar
a causa; porque se o combustível estiver preparado, é
difícil dizer de onde virá a fagulha que irá
atear-lhe fogo... As causas e os motivos das sedições
são as inovações na religião, os impostos,
as modificações das leis e dos costumes, o cancelamento
de privilégios, a opressão generalizada, o progresso
de pessoas indignas, soldados desmobilizados, facções
desesperadas e tudo aquilo que, ao ofender um povo, faz com que
ele se una em uma casa comum.
Não
há comparação entre o que se perde por fracassar
e o que se perde por não tentar.
Das
duas espécies de axiomas estabelecidas [processo latente
e esquematismo latente] origina-se a verdadeira divisão
da Filosofia e das Ciências, devendo-se, bem entendido,
ajustar vocábulos comumente aceitos (os mais apropriados
para indicar o que pretendemos) ao sentido que lhes emprestamos.
Assim, a investigação das formas que são
(pelo seu princípio e lei) eternas e imóveis constitui
a Metafísica. A investigação da causa eficiente,
da matéria, do processo latente e do esquematismo latente
(que dizem respeito ao curso comum e ordinário da Natureza,
não a leis fundamentais e eternas) constitui a Física.
E a elas subordinam-se duas divisões práticas: à
Física, a Mecânica; à Metafísica, a
Magia (depois do nome purificado), em vista das amplas vias que
abrem e do maior domínio sobre a Natureza que propiciam.
A
baixeza mais vergonhosa é a adulação.
Para
se poder introduzir ou gerar em um corpo dado uma certa natureza,
é imprescindível se considerar devidamente o preceito
ou direção ou dedução que deve ser
aceito, e isso deve ser feito em termos claros e não obscuros.
Para tal propósito, Bacon introduz três regras:
Em primeiro lugar, estará, sem dúvida, interessado
em um procedimento que não frustre a empresa, nem leve
ao malogro o experimento. Em segundo lugar, estará igualmente
interessado em um procedimento que não o constranja nem
o force ao uso de certos meios e modos particulares de proceder.
Pois, pode ocorrer que não disponha de tais meios ou não
tenha possibilidade ou condições de consegui-los.
E se há outros meios ou modos para reproduzir a natureza
desejada (além daqueles preceitos), eles poderiam estar
ao alcance do operador. E este poderia, pela rigidez dos preceitos,
anular os resultados. Em terceiro lugar, desejará que lhe
seja indicado algo que não seja tão difícil
quanto a própria operação investigada, mas
que seja mais próximo da prática.
A
verdade surge mais facilmente do erro do que da confusão.
Afirma-se corretamente
que o verdadeiro saber é o saber pelas causas. E, não
indevidamente, estabelecem-se quatro coisas: a matéria,
a forma, a causa eficiente e a causa final. A causa final longe
está de fazer avançar as ciências, pois na
verdade as corrompe; mas pode ser de interesse para ações
humanas. A descoberta da forma tem-se como impossível.
E a causa eficiente e a causa material (tal como são investigadas
e admitidas, isto é, como remotas e sem o processo latente
no sentido da forma) são perfunctórias [rotineiras]
e superficiais, em nada beneficiando a Ciência verdadeira
e ativa.
Se
o dinheiro não for seu servo, será o seu patrão.
Aquele que dá bons
conselhos constrói com uma mão; aquele que dá
bons conselhos e exemplo constrói com ambas; o que dá
boa admoestação e mau exemplo constrói com
uma mão e destrói com a outra.
Triste
não é mudar de idéia. Triste é não
ter idéia para mudar.
O
intelecto humano, quando assente em uma convicção
(ou por já bem aceita e acreditada ou porque agrada), tudo
arrasta para seu apoio e acordo. E ainda que em maior número,
não observa a força das instâncias contrárias,
despreza-as, ou, recorrendo a distinções, põe-nas
de parte e rejeita, não sem grande e pernicioso prejuízo.
Graças a isso, a autoridade daquelas primeiras afirmações
permanece inviolada.
A
vingança é uma espécie de justiça
selvagem.
Sempre
se admitiu que a poesia participava do divino porque eleva e arma
o espírito submetendo a aparência das coisas aos
desejos da alma, enquanto a razão constrange e submete
o espírito à natureza das coisas.
Os
homens devem saber que só Deus e os anjos podem ser espectadores
do teatro da vida humana.
O
falar incessantemente por hipérboles[6]
só se adapta ao amor.
As
idéias governam o mundo.
Para
a constituição de axiomas, deve-se cogitar de uma
forma de indução diversa da usual até hoje
e que deve servir para descobrir e demonstrar não apenas
os princípios – como são corretamente chamados
– como também os axiomas menores, médios e
todos, em suma. Com efeito, a indução que procede
por simples enumeração é uma coisa pueril,
leva a conclusões precárias, expõe-se ao
perigo de uma instância que contradiga. Em geral, conclui
a partir de um número de fatos particulares muito menor
do que o necessário e que são também os de
acesso mais fácil.
Quem
se comporta gentil e cortesmente com o estrangeiro é um
cidadão do mundo.
O
conhecimento é em si mesmo um poder.
Nunca
há excesso na caridade.
O intelecto deixado a si
mesmo acompanha e se fia nas forças da Dialética.
Pois a mente anseia por ascender aos princípios mais gerais
para aí então se deter. A seguir, desdenha a experiência.
E tais males são incrementados pela Dialética, na
pompa de suas disputas.
A
sabedoria dos crocodilos consiste em verter lágrimas quando
querem devorar.
O
ateu procura convencer os outros para persuadir a si próprio.
[Há uma diferença inconciliável, que
já expliquei em outros ensaios, entre o ateu – que,
geralmente, não revela respeito ou deferência para
com as crenças religiosas alheias – e o Ateu Místico
– cuja (pre)ocupação maior é
a construção do Deus de seu Coração.
Nesta oportunidade, acrescentarei o seguinte: não há
maior ateu do que um fanático religioso, porque, particularmente,
entre outras desproporções, desrespeita as crenças
e as convicções dos outros. Entre vários
exemplos que poderiam ser citados, um deles é o dos ultramontanistas.]
As
casas são construídas para serem habitadas e não
para serem contempladas.
A
leitura torna o homem completo; a conversação torna-o
ágil; e o escrever dá-lhe precisão.
O
silogismo consta de proposições, as proposições
de palavras, as palavras são o signo das noções.
Pelo que, se as próprias noções (que constituem
a base dos fatos) são confusas e temerariamente abstraídas
das coisas, nada que delas depende pode pretender solidez. Aqui
está porque a única esperança radica na verdadeira
indução. Não é menor que nas noções
o capricho e a aberração na constituição
dos axiomas. Vigem aqui os mesmos princípios da indução
vulgar. E isso ocorre em muito maior grau nos axiomas e nas proposições
que se alcançam pelo silogismo.
A
verdade é filha do tempo; não da autoridade.
A
virtude da prosperidade é a temperança. A virtude
da adversidade é a força.
O
homem é aquilo que sabe. [Os que pensam que sabem,
de uma forma ou de outra, se tornam tiranos.]
Seja
verdadeiro consigo mesmo e não seja falso com os outros.
A
glória e a honra são aguilhões da virtude.
A
amizade redobra as alegrias e reparte as penas em duas metades.
Os
homens temem a morte como as crianças temem o escuro, e
ambos esses medos são aumentados pelas histórias
que se lhes contam. [Michel Eyquem de Montaigne (1533 –
1592) escreveu: Quem ensinasse os homens a morrer, ensiná-los
ia a viver. Vou escrever de outra forma esta máxima:
Quem ensinasse os homens a Morrer,
ensiná-los ia a Viver.]
Nada
prejudica tanto qualquer lugar, quanto gente astuta passar por
inteligente.
A
esperança é um bom desjejum, mas um péssimo
jantar.
Nosso
método é tão fácil de ser apresentado
quanto é difícil de ser aplicado. Consiste no estabelecer
os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e
rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado
muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova
e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias
percepções sensíveis. Foi, sem dúvida,
o que também divisaram os que tanto concederam à
Dialética.
Não
há equívoco maior do que confundir homens inteligentes
com sábios.
O
homem pode tanto quanto sabe.
Todos
aqueles que ousaram proclamar a Natureza como assunto exaurido
para o conhecimento – por convicção, por vezo
professoral ou por ostentação – infligiram
grande dano tanto à Filosofia quanto às Ciências.
Pois, fazendo valer a sua opinião, concorreram para interromper
e extinguir as investigações.
As
pessoas preferem acreditar naquilo que elas preferem que se seja
verdade.
Todas
as cores concordam no escuro.
Notas
e Referências Bibliográficas:
[1].
Novum Organum, Francis Bacon, pp. 27
e 28. O primeiro ídolo consiste em supor que os sentidos
constituem o padrão de todas as coisas. Do primeiro equívoco
de ordem geral advêm os individuais. A terceira predisposição
nasce da comunicação, já que a linguagem
verbal raramente expressa a mesma coisa para duas pessoas distintas.
E o último - o mais grave - decorre das noções
e opiniões através das quais cada ser humano opta
para pensar, viver e atuar no Mundo. No século XIII, outro
Bacon (Rogério), em sua obra principal - Opus
Maius - já apresentara quatro causas para
explicar a ignorância: o exemplo da autoridade frágil
e ingênua; o hábito contínuo; as idéias
tolas do leigo; e o ocultamento da ignorância através
da ostentação de uma aparente sabedoria. História
da Filosofia, Giovanni Reale e Dario Antiseri, vol. I, p. 595.
[2]. Op. cit., p. 260. Nessa passagem observa-se nitidamente
a simbologia numérica aplicada a um evento social, que
por si só já é simbólico.
[3]. Op. cit., pp. 275 e 276.
[4]. Novum Organum, Francis Bacon, p.
102.
[5]. Ibid., p. 68.
[6].
Hipérbole, neste caso, é a ênfase expressiva
resultante do exagero da significação lingüística;
auxese, exageração (p. ex.: morrer de medo, estourar
de rir).
Bibliografia:
BACON,
Francis. Ensaios. Tradução
de Álvaro Ribeiro. Lisboa: Guimarães, 1952, 257p.
______. Novum organum ou verdadeiras indicações
acerca da interpretação da Natureza; Nova Atlântida.
In: OS PENSADORES - HISTÓRIA DAS GRANDES IDÉIAS
DO MUNDO OCIDENTAL. Tradução e notas de José
Aluysio Reis de Andrade. 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural,
1973, 278 p.
REALE,
Giovanni e ANTISERI, Dario. História da filosofia.
/Il pensiero occidentale dalle origini adoggi. Trad.
São Paulo: Paulinas, v.1, 1990, 693 p.
______. Meditação sobre o horizonte
metafísico. In: Presença Filosófica,
Rio de Janeiro, 3 (2 e 3): 11-19, abr./ set., 1981.
______.
Perspectiva Ontológica de ser - dever ser.
In: Presença Filosófica, Rio de Janeiro,
10 (1 e 2): 193-8, jan./jun., 1984.
Páginas
da Internet e Websites consultados:
http://www.urutagua.uem.br/
014/14silva_fernando.htm
http://www.luminarium.org/sevenlit/bacon/
http://www.pensador.info/
autor/Francis_Bacon/
http://www3.webng.com/
aliancafraterna/francis_bacon.htm
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/biografia-
de-francis-bacon/biografia-de-francis-bacon.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Invenc%C3%ADvel_Armada
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Dem%C3%B3crito_de_Abdera
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Francis_Bacon_(fil%C3%B3sofo)
http://pt.wikiquote.org/wiki/
Francis_Bacon_%28fil%C3%B3sofo%29
http://www.comciencia.br/
reportagens/genoma/genoma6.htm
http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/
enciclopedia/cap3p4/en-bacon.htm
http://www.sirbacon.org/
http://www.sirbacon.org/
slides_html/index.htm
http://www.sirbacon.org/index.html
http://svmmvmbonvm.org/bacon/
http://www.svmmvmbonvm.org/
http://www.svmmvmbonvm.org/
maatportal.htm
http://www.amorc.org
http://www.amorc.org.br/
Música
de fundo:
Sanctus
(atribuída a Roy Henri)
Fonte:
http://www.xente.mundo-r.com/julencan/MUSICA/Edad%
20Media/subventanas/Instrumentos%20medievales.htm