Emma
Bovary c'est moi. Emma
Bovary sou eu.1
Gostava
do mar apenas pelas suas tempestades e da verdura só quando a encontrava
espalhada entre ruínas. Tinha necessidade de tirar de tudo uma espécie
de benefício pessoal e rejeitava como inútil o que quer que
não contribuísse para a satisfação imediata
de um desejo do seu coração, tendo um temperamento mais sentimental
do que artístico e se interessando mais por emoções
do que por paisagens.
Uma
vez que é sorte que nos toca a todos, não devemos também
desanimar e querer morrer porque outros morreram…
Nunca
tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre.
Um
homem desembaraçado sempre
triunfa na vida.
A
palavra é um laminador que sempre
alonga os sentimentos.
Há
artistas sem fama que, às vezes, valem mais do que as celebridades.
Dói
entender que a posição da Lua não interfere no quanto
eu morro um pouco todos os dias.
Sou
totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz.
É
fácil apelar para o impalpável e para todas as superstições
existentes para que tirem a culpa que você carrega de querer tanto
ser como os outros, mas não é.
O amor não é nada mais
do que a sensação de estar caindo e de não saber onde
se segurar.
Meu
amor volúvel vai para qualquer pessoa que me desperte algo que valha
terminar o dia.
Tenha
cuidado com a tristeza.
É um vício.
Um
dia esbranquiçado passava pela janela sem cortinas, entreviam-se
as copas das árvores, e, mais além, a pradaria meio afogada
na névoa que fumava ao luar.
Ser
estúpido, egoísta e ter boa saúde são três
requisitos para a felicidade; mas, se a estupidez faltar, está tudo
perdido.
Extirpar:
verbo que se emprega ao se falar de heresias e de calos.
O
estilo está tanto nas palavras como dentro delas. É igualmente
a alma e a carne de uma obra.
O
estilo é a vida e o sangue de pensamento.
Apesar
de tudo, o trabalho ainda é o melhor meio de fazer a vida passar.2
O
que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por
ele.
Não
desculpo de modo algum os homens de ação que não vençam,
uma vez que o êxito é a única medida do seu mérito.3
A
moral da arte reside na sua própria beleza.
O
autor, na sua obra, deve ser como Deus no Universo: presente em toda a parte,
mas, não visível em nenhuma.
Eu
não tenho nenhuma coragem, mas procedo como se a tivesse, o que talvez
venha dar no mesmo.
A
medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.4
Nada
é mais humilhante do que ver os tolos vencer naquilo em que fracassamos.5
Pode
fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros: eis a minha moral.
Talvez
a morte tenha mais segredos para nos revelar do que a vida.
O
encanto da novidade, caindo pouco a pouco com uma peça de roupa,
põe a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas
formas e a mesma linguagem.
Todas
as bandeiras se encheram tanto de sangue, que é tempo de as banirmos
por completo.
A
recordação é a esperança do avesso. Olha-se
para o fundo do poço como se olhou para o alto da torre.
Quando
se muda de país, nem sempre o pudor vai atrás.
Para
se ter talento é necessário estarmos convencidos de que o
temos.
Salvo
se formos cretinos, morremos sempre na incerteza do nosso próprio
valor e do da nossa obra.
A
igualdade seria escravatura.6
É por isto que amo a arte. Aí, pelo menos, tudo é liberdade
neste mundo de ficções.
O
cúmulo do orgulho é desprezar-se a si próprio.
Há
no mundo uma conjura geral e permanente contra duas coisas: a poesia e a
liberdade. As pessoas de gosto se encarregam de exterminar uma, tal como
os agentes da ordem de perseguir a outra.
E,
tendo mais idéias, tiveram mais sofrimento.7
O
amor é um modo de viver e de sentir. É um ponto de vista um
pouco mais elevado, um pouco mais largo; nele descobrimos o infinito e horizontes
sem limites.
Aos
incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter.
O
sucesso é uma conseqüência e não um objetivo.
À
medida que nos elevamos na escala dos seres, a capacidade nervosa aumenta,
ou seja, a capacidade de sofrer. Sofrer e pensar seriam então a mesma
coisa?
Não
se faz nada de grande sem fanatismo.8
Talento
é paciência sem fim.
É
preciso paciência
para se fazer uma canastra;
mas, no jogo de tranca,
esta canastra não vale.
A
mulher é uma criatura normal sobre a qual se faz uma bonita imaginação.
Cheguei
à firme convicção de que a vaidade é a base
de tudo, e de que, finalmente, o que chamamos de consciência é
apenas a vaidade interior.9
O
Coração é uma riqueza que não se vende nem se
compra. Presenteia-se.
A
vida deve ser uma constante educação.
Nunca
existiram grandes homens enquanto vivos. É a posteridade que os cria.10
A
verdadeira força é o expoente da destreza.11
O
artista deve fazer com que a posteridade pense que ele não existiu.
O
segredo das obras-primas está na concordância do assunto com
o temperamento do autor.
Um
povo de ateus não poderia subsistir.
Faz-se
crítica quando não se pode fazer arte, como quem se torna
delator quando não pode ser soldado.
A
estupidez consiste em querer concluir.
A
estupidez não está de um lado e o espírito do outro.
É como o vício e a virtude; sagaz é quem os distingue.
Considero
como uma das felicidades da minha vida não escrever nos jornais;
isto faz mal ao meu bolso, mas faz bem à minha consciência.
Exuberância
é melhor do que gosto.
As
recordações não povoam a nossa solidão, como
se costuma dizer; antes, pelo contrário, tornam-na mais profunda.
Aturdir-se
na Literatura como em uma orgia perpétua é o único
sistema para suportar a vida.
Uma
pessoa tem de ser muito ordenada e burguesa na vida privada para poder ser
louca e inventiva na vida criativa.
De todas as mentiras,
a
arte é a
que engana menos.
Depois
de tudo, o trabalho é o melhor meio de escamotearmos a vida.
A
necessidade é um obstáculo indestrutível; tudo o que
se lança sobre ela se estilhaça.
O
futuro nos tortura e o passado
nos encandeia. É
por aí que se nos escapa o presente.
Tudo
acaba por ser interessante se o contemplarmos durante tempo suficiente.
Não
há verdade; só há percepção.
Eu
estou morrendo, mas aquela puta da Madame Bovary viverá para sempre.
O
amor é como a ópera: aborrece-nos, mas volta-se lá.
A
lua-de-mel é mais longa para os amantes do que para os casados.
A
melancolia nada mais é que uma recordação inconsciente.
Fomos
feitos para a dor. As lágrimas são para o nosso Coração
o que a água é
para
os peixes.
Devemos
estar à altura do destino. Devemos ser, portanto, impassíveis
como ele.
A
fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia
social.12
O
Coração é uma terra em que cada paixão comove,
remove e trabalha sobre as ruínas das demais.
A
pátria, possivelmente, é como família; só sentimos
o seu valor quando a perdemos.
Temos
que esperar quando estamos desesperados, e caminhar enquanto se espera.
A
multidão é sempre imbecil. Demos-lhe a liberdade, mas nunca
o poder.
O
pensamento é como a alma, eterno; a ação, como o corpo,
é mortal.
Tudo
o que é inventado é verdadeiro.
Quando
envelhecemos, os hábitos se tornam tiranos.
Choramos
apenas a morte dos felizes, isto é, de pouquíssimas pessoas.
Quando
já se possuir a idéia, a palavra jamais haverá de faltar.
Não
devemos dar ao mundo armas porque as utilizará contra
nós. [Exemplo: Newtown, Estado de Connecticut,
Estados Unidos da América, 14 de dezembro de 2.012].
A
Humanidade é como é; não se trata de mudá-la,
mas de conhecê-la.
A
maneira mais profunda de sentir uma coisa é sofrer com ela.
Tenha
cuidado com os seus sonhos, pois eles são a sirene das almas. Eles
cantam e nos chamam; nós os seguimos e não voltamos.
Eu
gostaria de escrever palavras que fizessem você chorar de emoção.
A
paciência
e a energia produzem
coisas bonitas.
A
felicidade é uma mentira cuja busca causa todas as calamidades da
vida.
Todos
os voluptuosos são [metidos a] pudicos;
até agora eu não vi exceções.
A
Natureza nos envergonha: é de uma serenidade desoladora para o nosso
orgulho.
Eu
não acredito em remorso. É uma palavra melodramática
que nunca considerei autêntica.
Por
um instante, eu vi o abismo. Eu compreendi o abismo.
E, em seguida, a vertigem me arrastou.
Temo
ser frio, seco e egoísta, e Deus sabe bem, no entanto, o que acontece
dentro de mim nestos momentos.
Devemos
nos apoiar nos fortes e no Eterno, e não em nossas paixões
iridescentes e cambiantes.
Desgostam-me
profundamente os jornais, ou seja, o efêmero, o passageiro, o que
é importante hoje e não será amanhã.13
O
que torna belas as figuras da Antigüidade é
que eram originais.
Minha
própria estupidez me enoja.
Cada
dia que passa, eu me dou conta do pouco tenho, e a profundidade do meu vazio
só se iguala à paciência que dedico a contemplá-lo.
Tudo
se vai, tudo passa. A água corre e o Coração esquece.
A
vontade de planejar em si mesmo é, talvez, a fonte de todas as virtudes.
Caminha,
vamos lá, não olhes para trás ou para frente. Caminha!
Sempre!
Eu
não pretendo cultivar um falso ideal de Estoicismo,14
e, por isto, evito as ocasiões de sofrimento e as atrações
perigosas, das quais
não se volta.
Ninguém
pode passar o dia todo deitado.
O
que faz os dias se tornarem doces é a expansão da mente e
a co-participação das idéias, o relato confidencial
do que se sonhou, do que se deseja, de tudo o que se pensa.15
Temos
que colocar o Coração na arte, a inteligência no comércio,
o corpo onde se sinta bem, o dinheiro na algibeira e a esperança
em parte alguma.16
Eu
me odeio e me acuso por esta demência de orgulho que me faz suspirar
em busca da quimera.
Que
cada um se contente em ser honesto e não seja impertinente com o
próximo, e, então, todas as utopias virtuosas serão
rapidamente ultrapassadas.
Eu
sou irmão em Deus de todas as coisas vivas, tanto da girafa e do
crocodilo como do homem, e co-cidadão de todos os inquilinos do grande
casarão mobiliado – que é o Universo.
O
grotesco e triste têm para mim um encanto inaudito; correspondem às
necessidades íntimas de minha natureza, que é risivelmente
amarga. Não me fazem rir, mas sonhar profundamente.
Amo
a arte, mas não acredito nela. Acusam-me de egoísmo, mas não
acredito em mim mais do que em qualquer outra coisa. Amo a Natureza, mas,
muitas vezes, o campo me parece estúpido. Adoro viajar,
mas odeio me mexer.17
Sou
sempre sincero. Não podem me acusar de haver mentido ou fingido um
só minuto, porque, desde a primeira hora, desde a primeira palavra,
falei a verdade. Desde o batismo anunciei o funeral.
Sinceridade!
...
Cogumelos intelectuais apodrecendo no mesmo lugar...
É
fácil, com um jargão convincente, com duas ou três idéias
em voga, posar de escritor socialista, inovador, humanitário e precursor
de um futuro evangélico sonhado
pelos pobres e pelos loucos.
O
que eu temo não são os leões ou o sabre, mas os ratos
e as alfinetadas. A habilidade prática de um ser inteligente consiste
em saber se preservar de tudo isto. Como em tudo, é preciso perspicácia,
e, sobretudo, paciência.
Não se escreve com o coração,
mas, com a cabeça. E por mais bem dotado que alguém seja,
faz falta a velha concentração que
dá vigor ao pensamento e destaque à palavra.18
A
nostalgia foi asfixiada pelo hábito.
Denegrir
aqueles que amamos sempre nos separa deles um pouco.
Emma
[Bovary]
teria gostado de fugir da vida, de desaparecer em um abraço.
Quase
ninguém é capaz de entender os seres que tendem para um ideal.
Eu
acho que só se é feliz ao lado de uma boa mulher; tudo está
em encontrá-la.
Eu
sempre tentei viver em uma torre de marfim, mas uma maré de merda
não pára de golpear os muros e ameaça derrubá-lo.
A
linguagem humana é como uma panela velha sobre a qual batucamos toscos
ritmos para que os ossos dancem,
enquanto, ao mesmo tempo, desejamos produzir uma música que derreta
as estrelas.
O
libertino mais vulgar, alguma vez, já
sonhou com
princesas, e todos os notários carregam consigo as ruínas
de um poeta.
A
imbecilidade é uma rocha inexpugnável: tudo o que se choca
contra ela se despedaça.
A
vida deve ser uma educação contínua.
A
alma é medida pelo tamanho dos seus desejos, da mesma forma que se
julga de antemão uma catedral pela altura das suas torres.19
Um
homem que julga outro homem é um espetáculo que me faria explodir
a rir, se não me causasse piedade.
Quando
um amigo morre, algo de você morre também.
Se
olharmos sempre para
o céu, acabaremos por ter asas.
Enfim,
é assim...
Sempre
que julgamos de antemão
–
seja lá o que for –
±
preconceituosamente ou não,
quebramos
a cara.
Sempre
que acusamos alguém
–
pelo que quer que seja –
acabamos
por nos tornar ninguém...
O que
é não? O que é sim?
Sempre
que fazemos uma escolha
–
por desejo ou por inscícia –
na verdade,
estamos retirando a rolha
da lâmpada
do daimon.