FILOSOFIA PORTUGUESA (II):
A DOUTRINA MÍSTICA DE ANTÓNIO DE LISBOA
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Música de fundo: Meditación
http://www.obispadogchu.org.ar/cancionero/midi.htm
TRAÇOS BIOGRÁFICOS
As crônicas e
a tradição informam que Santo António, uma
das mais importantes figuras das culturas lusófonas, nasceu
em Lisboa no final do século XII. A data exata de seu nascimento
é desconhecida e foi fixada em 15 de Agosto, tributo pela
devoção nutrida por ele, durante toda a vida, à
Virgem Maria – Mãe de Jesus. O ano também
é duvidoso. Uns falam de 1191, outros de 1195.
Nessa época,
seus pais, Martim de Bulhões e Teresa Taveira, moravam
junto à Catedral de Santa Maria no caminho que levava à
porta de ferro, mais tarde Arco de Nossa Senhora da Consolação,
e, logo que o menino veio ao mundo, batizaram-no com o nome de
Fernando Martini Bulhões. Ainda criança, seus pais
o puseram sob os cuidados dos cônegos da Catedral, para
que pudesse desde a mais tenra idade ser doutrinado e educado
na fé católica.
Apesar da preocupação
de seus pais com sua formação religiosa, o menino
era adulado e mimado vivendo na regalia e no luxo. Mas isso não
o satisfazia. A bajulação, a mentira, a pompa e
a politicagem que cercavam sua família, pelo fato de seu
pai ser Governador de Lisboa, o enfastiaram da vida aparatosa
que levava. Iimpulsionado por uma espiritualidade incipiente,
mas férrea e definitiva, decidiu afastar-se daquele ambiente
em que residia, resolvendo-se pela vida religiosa.
Transcorria o ano de
1210 e, nessa época, havia em Lisboa um Mosteiro de Agostinianos
denominado São Vicente de Fora, construído por D.
Afonso I. Ali foi bater Fernando e, recebido pelo Cônego
Gonçalo Mendes, começou vida nova, vestindo o hábito
branco dos Cônegos de Santo Agostinho. Nesse Convento residiu
e estudou por vinte e seis meses.
|
São
Vicente de Fora, Lisboa. Hoje.
São
Vicente de Fora, Lisboa. Hoje.
De Lisboa transferiu-se
para Coimbra, completando assim a renúncia. Recolheu-se
ao Mosteiro de Santa Cruz, também da Ordem Agostiniana,
que gozava fama de virtudes e abrigava um grupo de homens escolhidos,
em santidade e ciência, que lhe povoavam os claustros. Foi
nesse Mosteiro que se ordenou padre e celebrou sua primeira missa.
Já transcorria o ano de 1219, e, agora, era ele o Cônego
Fernando Martini. Como membro da Ordem Agostiniana, Fernando recebeu
o título de Dom, abreviação de Dominus
que indica posição social conquistada e respeito.
Mosteiro
de Santa Cruz,
Coimbra. Hoje.
Mosteiro
de Santa Cruz,
Coimbra. Hoje.
Foi no Mosteiro de
Santa Cruz que Dom Fernando Martini entrou em contato com os
mais famosos escritores latinos da Antigüidade, com os
Santos Padres, com a teologia e com a filosofia, debruçando-se
sobre os escritos dos mais famosos pensadores de todos os tempos.
Sobre essa fase especial da vida de Dom Fernando, Baggio informa:
Nesse universo maravilhoso,
Fernando trabalhou e labutou por nove anos, no fim dos quais
era doutor consumado nas ciências divinas e humanas.
Por isso, torna-se, ao lado de um grande Santo, um grande
representante da cultura de seu século.[1]
Nesse mesmo período,
na Itália, ebulia um movimento religioso renovador —
os Irmãos Menores — liderados por um jovem filho
de um rico mercador, tal como Dom Fernando: Francisco Bernardone,
mais conhecido como Francisco de Assis. Foi nessa época
também que Dom Fernando estabeleceu os primeiros contatos
com um grupo de franciscanos que visitavam Coimbra. Foi com eles
que, tendo a oportunidade de conversar longamente, conheceu a
história de seu Fundador. Conheceu-lhes o modo de ser,
a Regra, a devoção ao Evangelho e o desejo de sacrificarem
suas vidas pelos princípios ensinados pelo Cristo. Este
encontro deixaria uma marca indelével em sua existência.
O ano de 1219 continuava
e, certo dia, o Convento dos Agostinianos recebeu cinco frades
de Frei Francisco. Eram eles: Frei Bernardo, Frei Oto, Frei Adjuto,
Frei Acúrsio e Frei Pedro. Dom Fernando e os frades conversaram
profunda e longamente sobre os mais variados temas. Poucos dias
depois os religiosos visitantes partiram para missionar no Marrocos,
onde foram presos, torturados e mortos em 16 de janeiro de 1220.
Tornaram-se, nesse sentido, os primeiros mártires da história
da Ordem Franciscana.
Os restos mortais desses
frades foram trasladados para o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra,
o mesmo local que os abrigara antes de sua partida para o flagício
e para o martírio. Entre os assistentes das cerimônias
fúnebres dos protomártires franciscanos encontrava-se,
entre perplexo, inconsolado e enlutado, Dom Fernando Martini.
O tempo passa. Em Dom
Fernando se intensificava o desejo, que acabaria por se consumar
em ação: trocar o hábito branco dos agostinianos
pelo hábito marrom dos franciscanos. E assim se consumou
a aspiração vocacional de Dom Fernando. Só
que impôs um condição, logo aceita por seus
novos irmãos: ... queria partir para a terra
dos moiros [Marrocos], na
esperança de poder verter seu sangue como haviam feito
aqueles bravos frades, cujas relíquias eram veneradas agora
na capela do Mosteiro.[2]
Assim,
em uma bela manhã de 1220, operou-se, no Mosteiro de Santa
Cruz, a troca dos hábitos, e Dom Fernando deixou-se cingir
por rude corda. Trocou os sapatos por sandálias e adaptou
os cabelos ao corte dos franciscanos. Completando a transformação,
trocou o nome de Dom Fernando pelo de Frei António. E como,
na época, era costume acrescentar ao nome da Ordem o nome
do local de nascimento, seu nome completo ficou sendo: Frei
António de Lisboa.[3]
E, dessa forma, ofereceu
Frei António toda a sua vitalidade à causa dos franciscanos.
Esteve na África com Frei Filipino, pois a Regra de Francisco
mandava que os frades fossem pelo mundo dois a dois. Esteve também
na reunião convocada por Francisco de Assis, conhecida
na história da Ordem com o nome de Capítulo das
Esteiras, que se realizou em Assis de 29 de maio a 8 de junho
de 1221. Dali partiu em companhia do Provincial da Romanha para
a solidão de Montepaolo, nos Contrafortes dos Apeninos,
Cordilheira Central da Itália. Ali, acrescentou à
oração a contemplação, o jejum e o
silêncio. Posteriormente, o Frade Luso recebeu do Provincial
Frei Graciano o ofício de pregador, e com sua eloqüência
sábia e erudita veio professar a singeleza devota e a encantadora
poesia nos eremitérios da Ordem dos Irmãos Menores.
São
Francisco da Assis
Esteve em Bolonha e
na França e acabou por se tornar um orador tão famoso
que, um dia, foi convidado pelo Papa Gregório IX para pregar
em Roma para o próprio Santo Padre e para os cardeais.
O Papa gostou tanto da pregação que quis que Frei
António ficasse hospedado no palácio papal. Quis
fazê-lo também cardeal. Mas Frei António não
aceitou nem se instalar em Roma, nem o barrete cardinalício.
Continuou missionário, peregrinando de lugar em lugar,
ensinando e divulgando a Sagrada Escritura, consagrando integralmente
sua vida à pregação e à catequese,
quer pelo exemplo, quer pela palavra.
Papa
Gregório IX
A ele são atribuídos
diversos milagres, mas a própria Ordem reconhece a dificuldade
em serem comprovados histórica e cientificamente. A Tradição
Arcaica, por outro lado, recusa veementemente a manifestação
e a existência de milagres. A Lei é a Lei, e não
pode ser adulterada. Quando se desconhecem as Leis envolvidas
em determinados eventos, tem-se, geralmente, a tendência
descomprometida e equivocada de qualificá-los de milagres.
Milagre, enfim, é a contribuição mental ilusória
que pagam a si mesmos, aqueles que ignoraram as Leis que regulam
as manifestações do Universo e da Divindade. Mas
o que certamente marcou a vida de Frei António foi seu
grande destemor e sua incansável defesa da Igreja. Era
chamado de Martelo dos Hereges em virtude
de sua clareza no falar e coragem ao expor suas idéias.
Por sua capacidade, cultura, discernimento e força interior,
Frei Francisco solicitou a Frei António que ensinasse a
Sagrada Teologia aos irmãos da Ordem. Foi, assim, nomeado
o primeiro professor de Teologia da Ordem dos Franciscanos. Seus
sermões públicos chegavam a atrair tanta gente,
que as crônicas da Ordem falam de até trinta mil
pessoas. Certa feita pregava Frei António em Bouges, França,
e o Arcebispo do lugar, D. Simão de Sully, muito amigo
do Papa, estava presente na cerimônia. O Frade sabia que
o Arcebispo não cumpria integralmente suas obrigações,
e sua vida não condizia com a posição que
ocupava, muito menos com os preceitos religiosos. Na prédica,
o Frade Lisboeta censurou duramente o Prelado. Esperou-se uma
reação vigorosa do Arcebispo às acusações.
Ao invés disso, ajoelhou-se aos pés de Frei António
e, consternado, pediu-lhe perdão. A força
do orador era tamanha que inimizades se acabavam, famílias
desunidas se uniam, alguns ricos ladrões devolviam os bens
mal adquiridos e o vício desaparecia por onde passava Frei
António.[4]
Em 3 de outubro de 1228,
morria Francisco, o extraordinário Fundador da Ordem. Foram
convocados a Assis os superiores regionais do mundo inteiro, entre
eles Frei António, que naquela oportunidade ocupava o cargo
de Superior da Região de Limoges, na França. Foi
eleito Ministro Geral da Ordem o Superior da Espanha e Portugal,
Frei João Parente, que em Santa Cruz de Coimbra dera o
hábito de frade a Frei António. Como resultado dessa
Assembléia, o Frei Lusitânico recebeu a investidura
de Provincial da Província Italiana da Emília.
Em Pádua, por
volta de 1230, começou a atuar mais profundamente, tentando
divulgar o lema de Francisco: PAZ e BEM. Foi
nesse ano também que começou a acusar sinais de
fraqueza física, proveniente de moléstias contínuas
que iam se agravando. Sentindo que o espaço histórico
de sua vida ia-se esvaindo, pregava com todo o vigor que seu corpo
ainda possuía. Em seus sermões verberava contra
toda a classe de injustiças, contra toda sorte de vícios,
contra o amor à riqueza, ao luxo e aos prazeres desenfreados,
e, principalmente, contra a usura que minava os princípios
espirituais do Catolicismo. Os historiadores consideram o ano
de 1230 o ano-testamento do Frei, que não perdia tempo:
pregava de dia, estudava e orava de noite.
O conhecido episódio
místico que aparece em todas as imagens de Frei António
e em toda a sua iconografia deu-se, segundo relatos históricos,
em Campo Sampiero, perto de Pádua, na casa do Conde Tiso.
Passava o ano de 1231. Baggio narra:
[estava] orando o bom Frade, em seu quarto; encheu-se
este de luz e um menino veio pousar nos braços do Frei
António, que sorria, enquanto este O contemplava e
acariciava.[5]
Frei António,
depois de dedicar a maior parte de sua vida à divulgação
da fé católica, pregando nos últimos onze
anos de vida sob os princípios da Ordem de Francisco de
Assis, veio a falecer em 13 de junho de 1231 no Eremitério
de Arcela, com a idade de 36 anos. Em 30 de maio de 1232, na festa
de Pentecostes, o Papa Gregório IX, em imponente e inesquecível
cerimônia, proclamou Frei António, Santo António.
E porque vivera ultimamente em Pádua e lá se dizia
que operava prodígios, apesar de nascido em Lisboa, ficou
conhecido no mundo como Santo António de Pádua.
Em todo o mundo, a sucessão de fatos extraordinários
a ele atribuídos, coloca o Santo entre os mais queridos
e procurados, o que não deixa de, sob certo aspecto, deformá-lo,
pois abandona nas sombras o teólogo, o místico,
o exegeta e intérprete da Bíblia, o moralista, o
psicólogo, e também, certamente, o Filósofo.
Foi exatamente para arrancá-lo dessa situação,
até certo ponto vexatória e detrimental a ele e
à própria Ordem dos Franciscanos, que o Papa Pio
XII, em 16 de Janeiro de 1946, pelo Breve Exulta Portugal,
proclamou Santo António Doutor da Igreja. Segundo Baggio,
as palavras do Papa Pio XII foram:
Quem percorre atentamente os
Sermões do Paduano, logo descobre em Santo António
o exegeta peritíssimo, na interpretação
das Sagradas Escrituras, o exímio teólogo no
perscrutar os dogmas, o doutor e mestre insigne no tratar
os assuntos da ascética e da mística... E porque
Santo António usou, com tanta freqüência,
os textos e as sentenças do Evangelho, bem merece o
nome de Doutor Evangélico.[6]
A
DOUTRINA MÍSTICA EM GERAL
A primeira observação
a ser anotada é a referente às três virtudes
preparatórias, purgativas e iluminadoras, que santificam
o homem, enunciadas no sermão In Dominica III in Quadragesima:
a pobreza, a castidade e a abstinência.
No que concerne à pobreza, a verdadeira distorção
não reside na posse, maior ou menor, de bens materiais.
A raiz do mal não é o dinheiro, mas o amor ao dinheiro.
O mau uso dos bens materiais (cupidez e avareza) é que
provoca o aviltamento e macula a alma, colocando o homem em um
estado de entorpecimento espiritual, privando-o de um contato
mais próximo com o Deus de sua compreensão. Quanto
à castidade, esta se faz necessária e se cumpre
em grande parte pelo isolamento e pela renúncia. A abstinência
é a terceira ponta do triângulo. Sua prática
pretende evitar, por um lado, derrame ou desperdício de
energia que ocorre no ato sexual e, por outro, impedir a devassidão
que alimenta energias psíquicas de baixo teor vibratório,
e que inexoravelmente conduzem à fraqueza física
e moral, à desagregação social, à
doença, à morte prematura. Santo António,
propriamente, não desceu ao detalhe nem explicitou minuciosamente
o porquê de se observar as três virtudes acima. Esta
é, portanto, uma interpretação pessoal do
seu pensamento. A perfeita compreensão da necessidade da
prática equilibrada da abstinência, que auxilia a
conduzir gradualmente ao encontro do Cristo Interno, é
de difícil explicação por simples palavras,
eis que se fundamenta em realização pessoal, vivência
pessoal, experiência pessoal e, em última análise,
mérito pessoal. Santo António soube porque, provavelmente,
passou por esse processo inteiro. De qualquer maneira, há,
consabidamente, três formas ou tipos de relações
sexuais: infra-sexo, sexo (normal) e supersexo. O infra-sexo degrada;
o sexo (normal) pode retardar; e o supersexo promove a ascensão
espiritual da consciência interior. Neste nível ocorre
um certo tipo de fusão espiritual... Não se recomenda
a ninguém que vier a ler estas linhas, que, por mera curiosidade,
procure saber e experimentar irresponsavelmente o que vem a ser
aquilo que se conhece por supersexo. Ele só pode e só
deve ser praticado por aqueles que alcançaram um elevadíssimo
nível de maturidade moral e de desenvolvimento espiritual.
Sua prática inconseqüente poderá levar a resultados
desastrosos e irreversíveis. Entretanto, estas últimas
reflexões, s.m.j., não estão contempladas
na obra antoniana. De qualquer sorte, particularmente acredito
que sejam desnecessárias determinadas práticas adotadas
por alguns místicos no que concerne ao supersexo. Tudo
pode e deve acontecer in corde.
A tríade acima
descrita (pobreza, castidade e abstinência)
tem uma finalidade: preparar o homem para a contemplação
e, nesse sentido, deve ser compreendida como um período
ascético, figurado pela luta da penitência.
A contemplação, para Santo António, tem várias
conotações: via mística, oração
mental e meditação, vida contemplativa, visualização,
compunção da alma, compunção da penitência,
devoção, conhecimento experimental, entre outras.
Entretanto, para o Santo Lisboeta, a possibilidade de se ver Deus
ocorre pela exclusão da razão, sendo a alma conduzida
inteiramente pela graça. Este é o estado de contemplação
infusa ou de alienatio mentis. Pelo
exposto, observa-se que o vocábulo contemplação
foi usado pelo Santo nos mais diversos sentidos, aproveitando-o
com larga maleabilidade, como, aliás, outros mestres da
espiritualidade mística ... também o fizeram.[7]
O sentido, todavia, é marcadamente platônico.
Outro aspecto interessante
dos sermões de Santo António é aquele concernente
à vida ativa e à vida contemplativa. A vida ativa
caracteriza-se pela ação, pelo movimento, pela obrigatoriedade
de realizar. É aquela que se passa no mundo exterior em
oposição à vida contemplativa, que é
interior. Apesar de terem funções experiencialmente
opostas, uma é a base da outra. Caeiro explica:
... ambas se entrelaçam
de forma que, começando por constituir uma a parte
inferior e a outra a superior do mesmo todo, da vida ativa
se sobe para a contemplativa, e desta se desce depois para
a ativa, trazendo-lhe forças ou energias preciosas
para a sua eficiência e aperfeiçoamento.[8]
Interdependência
Entre a Vida Ativa e a Vida Contemplativa
Também distinguiu o Doutor
Evangélico duas espécies de amor: o amor
a Deus e o amor ao próximo.
A ação conjugada de ambos ilumina e induz o homem
à prática das boas ações. O Santo
de Francisco exaltou também profundamente o poder da oração.
Todo místico de vertente teológica sabe que o ato
de orar é um processo transcendental de comunhão
com Deus e obedece a uma lei espiritual, que impõe que
se bata na porta para que ela se abra. É, portanto —
segundo esse entendimento — necessário pedir para
receber. Por outro lado, deve haver o mérito para que o
peticionário seja atendido. Ao lado da contemplação,
cultivar as virtudes anteriormente referidas, segundo Santo António,
conduzirá à obtenção da graça
suplicada. Verifica-se, imediatamente, que uma das chaves do processo
místico antoniano é a oração. O coração
daquele que se deixa inflamar pelo seu místico poder certamente
alcançará e penetrará as nuvens
e o Céu. É o último estágio
de perfeição. A alma despida da vaidade, em intenso
amor, está perante Deus. É o supremo gozo espiritual.
A alma ascende ao mais alto grau da contemplação
e imerge ou mergulha nas coisas divinas. (Sobre
o sentido esotérico da oração, que, sob alguns
aspectos cruciais diverge do conceito antoniano, sugere-se a consulta
à Oração das Sete Súplicas,
trabalho que está incluído neste site).
Mas este alargamento
espiritual para atingir, captar e tocar o Mais Alto — Deus
— pressupõe, outrossim, um esforço intelectual.
Assim, além do amor e da humildade, é necessário
um intelecto ágil, forte, para impressionar Deus. O elemento
discretio — que significa discernimento,
aptidão — consiste em se decidir pelo justo meio.
Discretio permite, dessa forma, ponderar,
dosar e calcular o esforço que cada um tem de fazer no
processo ascensional, de modo a não exceder sua possibilidade
pessoal, como também não ficar aquém desta.
Serve, também, como medida ou limite do que apreender das
coisas celestes. A cada um...
A doutrina antoniana,
todavia, não exclui a intuição
no processo de compreensão pelo homem da graça alcançada
pela iluminação interior. O último grau de
contemplação é, portanto, um fenômeno
místico no qual são parceiros experienciais a intuição
e o amor. Em última análise, a essência da
visão antoniana de Deus associa, no ápice da contemplação,
elementos da visão intuitiva, do gosto inefável
[gustus mysticus] e do amor.[9]
Santo António
distinguiu no aperfeiçoamento três estágios:
o dos principiantes, o dos que alcançaram algum grau de
proficiência e o dos que atingiram a perfeição.
De um modo geral o primeiro estágio — o dos neófitos
na senda — coincide com a ascese preconizada anteriormente;
os outros dois identificam-se com a contemplação.
Outro ponto extremamente interessante da doutrina antoniana é
o papel decisivo que desempenham a humildade,
o amor e a dor
na ascensão espiritual. Para o Frade Franciscano, antes
de tudo, o ato contemplativo deve ser humilde — vir
humilis. A humildade para Santo António,
assim como para São Bernardo, São Gregório
e São Bento, é o primeiro degrau da contemplação,
ao mesmo tempo em que é o primeiro degrau do conhecimento.
Quanto ao amor, aquele que não ama não verá
Deus, adverte Santo António, porque sendo Deus amor e caridade
(Deus caritas est), só atrai
sua semelhança. O homem para alcançá-Lo deverá
amar o próximo, consolando-o, auxiliando-o e o acompanhando
na sua dor e nas suas necessidades. A dor se apresenta sob duas
formas: sofrimento pelas misérias do próximo
e desespero pelos erros cometidos. A dor, entretanto,
não é um sofrimento inútil, vazio. O próprio
derrame de lágrimas catalisará o encontro do homem
com Deus, realização última da solidariedade
e da compreensão. Enfim, o processo contemplativo antoniano
constitui-se de uma seqüência ordenada e progressiva
de atos (estágios) espirituais com uma finalidade: alcançar
Deus. O objeto de tudo, portanto, na mística antoniana,
é o encontro do contemplativo com Deus. Conforme se teve
a oportunidade de referir anteriormente, para o iniciado, isto
é uma impossibilidade, porque a reintegração
só pode se dar assintoticamente.
Da doutrina mística
de Santo António, enfim, podem-se extrair nove pontos principais:
a) o homem para tentar alcançar Deus, para
se elevar até Deus, deve se recolher e se interiorizar;
b) o ideal da doutrina antoniana é
a união com Deus; c) é
pela contemplação que a alma se dilata até
tocar, captar Deus; d) na contemplação
o contemplativo morre para o mundo; e) na
contemplação a alma do homem é inundada por
uma satisfação espiritual que a consola e inebria;
f) na contemplação há
uma sensação de paz, conforto, segurança
e quietude celestiais; g) a contemplação
reforça a fé; h) a contemplação
reanima e inspira o homem para prosseguir na vida ativa; e
i) pela contemplação o homem conhece
o verdadeiro amor, a caridade absoluta, a compreensão total,
a tolerância irrestrita e a beleza inefável de seu
Criador.
SÍNTESE
FILOSÓFICA DA HUMILDADE
A primeira observação
a ser feita ao se estudar a mística especulativa antoniana
é referente à humildade,
virtude que absorveu e guiou o Santo, apoderando-se de sua alma
e de toda a sua vida espiritual. Para Santo António, a
humildade é como que a mola propulsora, o catalisador,
a força impulsionadora, para se atingir a presença
de Deus. Entretanto, a opção da doutrina antoniana
no que tange à humildade é especulativa. E a busca
mergulha na Escatologia, percorre os conceitos incipientes da
Escolástica e penetra os domínios da Metafísica
e da Ética. O exame desta categoria no nível iniciático
é mais complexo. Para Santo António, a humildade
é a raiz de toda a vida espiritual, e essa idéia
se lhe torna obsessiva. Acredita que todas as boas ações
derivam da humildade. E a causa maior, possivelmente, foi a admoestação
de Jesus, o Cristo: aprendei de mim que sou manso
e humilde de coração. O Sermão
da Montanha é um outro exemplo de chamamento à humildade,
no qual o Santo provavelmente se inspirou. Muitos outros exemplos
são encontrados nas diversas literaturas religiosas e correntes
teológicas, mas, particularmente e de forma mais incisiva,
o assunto é sobremodo arejado na teologia católica.
O Santo acreditava que
para alcançar Deus o homem deverá subir a Escada
da Humildade. Esse simbolismo ele o retirou do 4º Livro dos
Reis, no qual é feita referência à cura de
Ezequias pelo Senhor, cujo sinal é estabelecido em relação
ao retrocesso do relógio solar de Acaz, em dez graus. Os
dez graus do Relógio do Sol foram utilizados por Santo
António para simbolizar os dez degraus da humildade. São
eles:
1º Vileza e fetidez da matéria que
origina o homem; 2º geração (ou gestação)
durante nove meses, nas trevas do útero materno e à
custa do sangue menstrual; 3º saída, a chorar,
do útero materno, em estado de nudez e imundície;
4º peregrinação abominável e de
miséria neste mundo, no qual há dor, gemidos,
angústia e pranto; 5º lembrança da própria
iniqüidade, por tudo quanto o homem faz ou omite, quando,
apesar da sua liberdade, se vende ‘de graça’
ao Diabo, com manifesta ingratidão para com Deus, devendo
por isso arrepender-se dos pecados cometidos para que Deus
lhos perdoe e lhe restitua a graça perdida; 6º
pensar na morte, ‘mais amarga do que toda a amargura’,
na qual o homem entrega a carne aos vermes, a alma aos Demónios
(se não se penitenciar) e a substância restante
aos filhos e parentes, que a aguardam como se fossem raposas
astutas espreitando a pele do burro morto; 7º recordação
de Cristo, apesar de encher o Céu e a Terra, ter andado
nove meses no ventre da Mãe, ter sido, ao nascer em
um pobre curral de gado, envolto em pobres paninhos e se haver
sujeitado depois aos sofrimentos da Paixão; 8º
benignidade e misericórdia de Jesus para com os pecadores,
que atraía pela Sua doçura, mansidão
e compaixão; 9º tortura e sofrimentos da crucificação
de Cristo; e 10º meditação sutil sobre
a ressurreição dos mortos no Juízo Final
e sobre o destino de felicidade ou de castigo eterno que os
espera.[10]
(sic)
Por esses processos
sucessivos de aperfeiçoamento, o homem percebe sua vilanagem,
reconhece sua insignificância perante a magnificência
da criação e se torna humilde, pois é pelo
exercício diuturno da humildade, segundo a mística
antoniana, que ele se compreende melhor e se credencia a conhecer
Deus.
Para o Santo, é
a soberba o mais grave pecado (ante omnia Deus superbiam
detestatur), e todo aquele que é soberbo
e avarento terá grande dificuldade em entrar no Reino de
Deus. Os bens materiais serão sempre fator impeditivo (quando
possuídos com mesquinhez, egoísmo, cupidez e avareza)
para se realizar a plena espiritualidade e alcançar Deus.
Uma das sínteses importantes da doutrina antoniana é
a que conduz à liberdade, pois quando o coração
é humilde, nasce a obediência. Pela obediência
os cinco sentidos servirão exclusivamente à razão.
E, assim, o homem liberta-se dos desejos e das paixões
inferiores, e não fica limitado por qualquer tipo de desejo
de posse, oriundo de deformações morais pelo mau
exercício da vontade. Pode-se, em conseqüência,
concordar com o seguinte silogismo verdadeiro: Da
humildade nasce a obediência; mas da obediência nasce
a liberdade; logo, da humildade nasce a liberdade.[11]
Com a liberdade, vem o entendimento prístino.
Finalmente, Santo António
dá ênfase ao papel da humildade exercida como a honestidade
e a retidão de proceder como conduta moral de vida.
A própria castidade é lembrada no papel confiado
à humildade como Torre da Castidade,
com função de defendê-la dos inimigos (interiores
e exteriores) que a rondam para subjugá-la.
A
NOITE MÍSTICA
A Noite Mística
(Noite Negra ou Noite Obscura) da alma é o vestibular da
ascensão mística. Em diversas predicações
Santo António referiu-se à Noite Mística
como processo necessário à purificação
e preparação da alma para atuar em um plano mais
elevado de consciência. Nesse sentido, o Santo referiu-se
à Noite como a obscuridade dos místicos
— mysticorum obscuritas.[12]
A Noite não tem, ordinariamente, a duração
da noite física. A Noite tem começo (Conticínio),
meio (Meia-Noite) e fim (Aurora),
e o tempo de duração é individual. Durante
sua manifestação, a Noite tem e traz conseqüências
terríveis, dentre as quais o Santo aponta: privação
da luz da razão; o ser torna-se frágil e o conhecimento
adequado de nada adianta; o eu interior fica em trevas e o homem
é tentado a tudo abandonar (trevas da consciência);
a claridade tentadora da prosperidade mundana entenebrece
a alma e se transmuda em caligem da morte; a noite é um
amplo campo de adversidade em que a alma anda às apalpadelas
sem consciência de si mesma.[13]
A Noite é, pois, uma etapa da reintegração
(regeneração) do homem à sua imaculada, cósmica
e divina origem. E, nesse aprendizado, terá que eliminar,
minimamente, a soberba do coração,
a lascívia da carne, a avareza
do mundo, a ira, a vanglória,
a inveja e a gula,
que compõem as sete violações capitais enunciadas
na teologia católica.
O Conticínio (Conticinium)
É a primeira
fase da Noite em que tudo está silente. É o tempo
em que são satisfeitas as seduções blandiciosas
da carne — carnis suavia blandimenta.
O Santo ensinou que, para vencer as tentações próprias
do Conticínio, é preciso meditar sobre as iniqüidades
praticadas, considerar o exílio (e desejar ardentemente
a reintegração) e contemplar o Criador. Auxiliado
pela razão e pela discrição, o principiante
vai subindo, degrau por degrau, a escada da crucifixão:
a razão dominando os sentidos e esclarecendo sobre o bom
caminho. Assim, derramando lágrimas, envergonhado, vexado
e cabisbaixo vai o postulante trilhando a senda que levará
à iluminação. Lentamente, os sentidos físicos
e os apetites do corpo vão sendo dominados, e os incipientes
passam para o estádio de aproveitantes (fase
da Meia-Noite).[14] Porém,
no que concerne ao sofrimento moral, este se vai intensificando.
É o reconhecimento tácito da queda, do afastamento
da Luz, do exílio de Deus, da consciência plena da
ainda permanência nas trevas. É a angústia
por desejar alcançar a Luz Maior, por desejar ardentemente
realizar o Cristo Interno e, em graça total, contemplar
o Criador. É o desespero por ter, tenuemente, vislumbrado
a possibilidade de se tornar uno com o Pai — o Deus de seu
coração — e de não ter podido ainda
realizar o sonho dos sonhos. É uma dor lancinante. Um desespero
sufocante. Um horror atemorizante. É a noite
negra. É a crucificação individual.
É o inferno interior. É a compreensão do
exílio da Vida. A Noite Negra
traz à lembrança a fase negra
da Crisopéia.
A
Meia-Noite (Media Nox)
A segunda fase da Noite
Obscura equivale para Santo António, ao período
de luta espiritual em que a alma, vendo-se no exílio deste
mundo, dele procura libertar-se... para, depois... poder chegar
à contemplação de Deus e unir-se com Ele
por amor.[15] O
aproveitante (aproveitado) já
convencido do erro da vaidade, suplica cheio de fé, de
amor e de esperança, força para suportar o exílio.
À medida que acorda, recorda-se da vida antiga e, envergonhado,
humilhado, sentindo-se desprezível, chora amargamente.
É o pleno reconhecimento do erro. Nu, perante si mesmo
e perante o Criador, confessa-se ao Deus de seu coração
e clama por perdão. E perdoa aos que o perseguem e caluniam,
aos que o aviltam e ofendem, aos que escarnecem, pois sabe que
esses não o compreendem, mas que, inexoravelmente, um dia
subirão também o primeiro degrau da Noite Negra.
E se compromete a, nessa hora, estar presente para ajudar no que
for possível e permitido, para amparar em cada queda, para
consolar quando a dor e a vergonha forem mais intensas. Esse é
o verdadeiro sentido do perdão, da humildade, da fraternidade
e do amor universal em um sentido teológico. É a
tomada de consciência pelo aproveitante
de que todos, em última instância são unos
entre si e com o Pai, ainda que exilados. A Meia-Noite
faz recordar o branco
da Grande Obra. É também
uma possibilidade para explicar o Mito da Caverna, de Platão.
Voltar para ajudar e servir é um supremo ato de sacrifício
e de amor. Aqueles que voltaram sabem. Entretanto, não
há essa referência consignada na obra antoniana.
A Aurora (Aurora)
A
Aurora - bendita Aurora - é o último
estágio da Noite Mística,
e se assemelha ao vermelho
da Alquimia Operativa. Santo António assim
a delineia:
É a infusão da graça divina.
A alma pôde... justificar-se ou tornar-se justa.
A alma se torna reta e ereta...
A Aurora é o fim da Noite
e o princípio do Dia.
Ela é o fim da miséria e a entrada na beatitude...
É o último estádio da ascensão
espiritual — o estado perfeito...
... a alma sente-se agora invadida por indizível alegria.
É a contemplação do Criador.[16]
Do exposto, pode-se
simbolicamente deduzir e afirmar, que a Noite Obscura é
um processo de purgação (uma verdadeira Alquimia
Iniciática Interior) que o homem tem indubitavelmente que
passar para alcançar o Deus de sua compreensão e
realizar o Cristo interno. Iniciaticamente é desta forma
que acontece. O Sol, que pretende simbolizar o Sol da Graça
a ser alcançada, com sua claridade, brancura e calor, ilumina
a alma em contrição. É com a luz do Sol das
primeiras horas da manhã — símbolo do Sol
interior — que são dissipadas as trevas da noite.
É com o nascer do Sol místico que são esvaecidas
a superstição e a ignorância. E o ser purificado,
limpo e perfeito, entra na posse do conhecimento de seu Criador.
Esse Sol, depois de nascido, jamais se põe. Essa foi uma
afirmação feita por Santo António e por todos
aqueles que alcançaram a 'perfeição',
e passaram pelo processo místico purgativo da Noite
Negra da Alma (consultar Anexo I). O ato derradeiro de
humildade ao conquistar a Aurora é, assevera-se
mais uma vez, o retorno à Caverna, para consolar e auxiliar
os que ainda desconhecem a LLUZ.
Repete-se: por evidente, esta reflexão não está
presente em Frei António. (Para maiores esclarecimentos
consultar o Anexo I).
O TOQUE MÍSTICO
A ascensão espiritual,
no conceito concebido por Santo António, oriunda de atos
próprios de aperfeiçoamento voluntário e
que conduzem à união com Deus, impõe a participação
ativa (e passiva quando conveniente) do homem, ao mesmo tempo
em que necessita da colaboração divina..., ou seja,
o Toque (místico) constituído pela infusão
da graça. Nesse sentido, o homem necessita,
e num dado momento de sua vida, quer se salvar;
mas é incapaz de o conseguir por si próprio e, assim,
precisa do concurso divino, afirma o Santo. O Toque, segundo a
doutrina antoniana, ... parece ser a expressão
metafórica, como que materializada, da insuflação
da graça divina para o efeito do aperfeiçoamento
da alma, e mais concretamente, ou de um modo mais restrito, para
o de sua união final com Deus e gozo que esta proporciona
no cume da ascensão espiritual.[17]
O Toque traz ao beneficiário
vantagens muito amplas: aqui, a visão possível e
o gozo inefável de Deus; mais tarde, a glória celeste.
Mas, para alcançar o estado vibratório especial
para que tal êxtase místico seja viável, o
Santo Português ensinou que esta graça... deve
ser pedida em oração acompanhada de lágrimas,
fonte de devoção e de amor. A ORAÇÃO...
Outro aspecto extremamente
interessante e relevante da doutrina mística antoniana
é aquele que concerne ao recolhimento espiritual. Pelo
recolhimento espiritual ou recolhimento interior (um dos pilares
da ascensão mística), todas as reações
objetivas e racionais tendem progressivamente a desaparecer, e
a elevação da alma (mentis elevatione)
passa a ser comandada pela graça de Deus. Este
o Toque Místico divino da alma no cume da contemplação.[18]
O testemunho da própria experiência de Santo António
ensina que a alma que alcança este especial estado vibratório
e é tocada por Deus, desprezará toda e qualquer
honraria, toda e qualquer glória e pompa deste mundo. E
as delícias e o prazer místico que tal estado proporciona,
provocam uma ânsia espiritual progressiva, aumentando o
desejo de as desfrutar. Enfim, o Santo Luso entendeu que qualquer
esforço pessoal do homem como aspirante à ascensão
de sua alma será frustro, se não tiver o concurso
de Deus. Entretanto, para merecer tal bênção,
é imperativo, e mesmo fundamental, que o homem se dispa
da vaidade e do rancor, lave seu corpo com as lágrimas
do arrependimento confesso na dor, na vergonha e na aflição,
perdoe antes para merecer só então o rogado perdão,
e ame a todos incondicionalmente para alcançar a possibilidade
de penetrar no raio da esfera mais próxima da contemplação
e compreensão de Deus. Aí, então, em estado
de recolhimento interior, despido das vestes materiais, puro e
belo, perante o Deus de seu coração, o homem será
tocado, consagrado e elevado. É a sua mais alta graduação,
onde o grau lhe será conferido pelo Toque Místico
do amor de Deus. É o TaV cabalístico
da vida e o objeto final da humana existência, segundo a
mística antoniana.
Assim, pode-se entender
que Santo António foi um exemplo vivo de que a vida
contemplativa não é incompatível
com a vida ativa. A análise de
sua obra permite que seja considerado o pensador mais importante
da pré-escolástica Franciscana. O sentido fundamental
da antropologia antoniana, segundo Maria Cândida Pacheco,
é claramente otimista, abarcando toda Criação,
e sua obra, cujo fundamento é a Teoria Criacionista (entretanto
não no sentido leonardino, e muito menos esotérico),
abrange, no seu desdobramento, Deus, o Mundo, a Alma e o Homem.
Mas, realmente, não importa se Santo António foi
ou não foi um esoterista ou mesmo um iniciado. Foi, verdadeiramente,
um Homem Santo, cuja santidade esteve a serviço
da Ordem de Francisco e da Igreja Católica. Se a confraria
católica de hoje se debruçasse um pouco sobre seus
sermões e sobre sua Filosofia... muito teria a aprender.
Talvez até se (des)preocupasse com as lendas e paspalhices
disseminadas irresponsavelmente sobre ele.
A manifestação
do homem na Terra (contrariamente ao pensamento de Sampaio Bruno
que será examinado na fase IV desta seqüência
de estudos sobre a Filosofia Portuguesa) não é originária
de uma diminuição da onipotência divina, muito
menos oriunda é de um pecado original; antes tem cariz
estritamente ascensional, na qual, exclusivamente por esforço
individual, elevar-se-á, assintoticamente (este conceito
não foi utilizado por Santo António), de sua condição
inferior à 'plenitude divina'. A obra filosófico-teológica
de Santo António, sua atividade de pregador apostólico
e as funções docentes que exerceu demonstram, cabalmente,
que seu pensamento integra-se no pensamento místico ocidental.
Enfim, observa-se de suas meditações e de seus sermões,
que só quando a liberdade interior é alcançada,
a verdadeira fraternidade se manifesta. Há, neste particular,
aproximação com o pensamento de Leonardo Coimbra.
A obtenção,
pela graça, segundo a Doutrina Mística Antoniana,
da possibilidade da visão de Deus, ou até da sensação
interior de tê-Lo alcançado, obriga o místico
que consegue essa especial e elevada harmonização
cósmica, ao retornar à vida ativa,
a participar diligentemente, com todas as suas forças,
na evolução e progresso da humanidade. Na Doutrina
elaborada pelo Santo Lisboeta não há lugar para
o egoísmo, como, obviamente, não há em nenhuma
doutrina espiritual autêntica. O egoísmo é
uma das mais sinistras deformações do ente ainda
subjugado pelo corpo astral.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A Doutrina espiritual
de Santo António de Lisboa baseia-se na humildade,
no amor, na compaixão,
na tolerância, na fraternidade,
na caridade e na abstinência,
entre outras tantas virtudes que o místico tem que permanentemente
cultivar, para estar e se manter em perfeito equilíbrio
e em plena harmonia com os padrões universais, que representam
e correspondem a essas idéias-força. Ensinou como
alcançar o estado vibratório próprio para
ver Deus, ou seja, entrar na posse do Deus de cada coração,
do Deus do coração do aspirante. Ensinou, também,
realisticamente, que o ápice da senda mística só
será atingido pela renúncia,
pela compreensão absoluta dos
erros cometidos, pela purgação
de cada falha, pela eliminação
consciente e desejada de toda imperfeição. A ignorância
tem que ser removida para que a LLUZ
possa brilhar. E, nessa luta do neófito contra
seus desejos inferiores, para merecer o privilégio de um
dia poder estar na presença do Deus do seu entendimento,
ele desce aos infernos em vida e penetra na Noite Negra
da Alma. É aí que se trava a mais dramática
luta do homem. Por um lado, o desejo sincero de vencer o lobo
interior; por outro, a fera interna acossando todos os seus sentidos
tentando derrotá-lo e arrastá-lo de novo à
luxúria, à soberba, à hipocrisia da vida
dissoluta de outrora. Mas ele sabe que, ou vence a tentação
que lhe atormenta, e vencendo merece o privilégio de ser
misticamente tocado e se torna um ser realizado, um ser perfeito,
ou vacila, e... se afasta do Deus interior de sua compreensão.
É uma luta dura, tormentosa e aparentemente desigual e
sem perspectiva de vitória. O homem se vê, por inteiro
desnudo, com todas as suas fraquezas, com todas as suas mazelas.
Chora de dor, de vergonha, prefere até desistir a ter que
admitir tanta desgraça sob sua responsabilidade. Desiste
mesmo temporariamente. Cai. Levanta. Recomeça. Se desistir,
terá de recomeçar. E recomeçará quantas
vezes forem necessárias... Compulsoriamente tem que recomeçar.
Todavia, se vencer (e
um dia vencerá) haverá de se tornar uno com o Pai.
Ah! Bendita Unidade! Pois é aceito com todas as fraquezas
do passado. O esforço sincero empreendido para alcançar
a Luz Perfeita e a Harmonia Imaculada é recompensado pela
compreensão, pela bondade e pelo amor do Deus do seu coração,
que sempre o aguardou no santuário interno do seu ser (Sanctum
Sanctorum) e que sempre o desejou de volta. Nesse
instante o exílio termina. O filho retorna à casa
paterna. A reintegração é operada. A Alquimia
Interior está concluída. Deus e seu filho tornam-se
UM, amalgamados, para toda a eternidade, pois
o filho se realiza no PAI, e o PAI,
no filho. Nesse momento, e só nesse momento, o homem será
capaz de compreender o verdadeiro sentido da fraternidade. Nada,
absolutamente, nada mais o separará de seus irmãos
de jornada. Todavia, e isto o Santo não comentou, outros
níveis de elevação espiritual deverão
ser alcançados. Se o Teclado Cósmico é ilimitado...
ilimitadas são as possibilidades em direção
ao Centro de Idéia. Mas, onde está o centro?
Mas enquanto a Aurora
não chega, cada peregrino, reconhecendo
os limites de seu próximo, e principalmente os próprios,
deve envidar todos os seus esforços e empenhar todo seu
conhecimento para que haja, perto de si e onde for possível,
paz, harmonia, beleza, tolerância, solidariedade,
compreensão, justiça, temperança, fortaleza
e amor — condições
essenciais e preliminares para a realização de uma
verdadeira e autêntica FRATERNIDADE ENTRE OS HOMENS.
DADOS
SOBRE O AUTOR
Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor
em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do
CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente
do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura
do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa
Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de
Desenvolvimento Humano - IDHGE.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1.
Santo António, Frei Hugo Baggio,
p. 12.
2. Ibid., pp. 18 a 20.
3. Ibid., p. 21.
4. Almanaque Popular Santo António,
Frei Almir Ribeiro Guimarães, p. 104.
5. Op. cit., p. 67. Não cabe nesta oportunidade fazer qualquer
análise desde episódio. Apenas considera-se, no
mínimo, extravagante que o Logos
e o AMeN da Era de Peixes se manifestasse
à Frei António da forma como historicamente é
relatado. Todavia, o merecimento de Frei António está
fora de questão.
6. Op. cit., pp. 75 e 76.
7. Santo António de Lisboa, Francisco
da Gama Caeiro, p. 9.
8. Ibid., p. 10.
9. Ibid., p. 36.
10. Ibid., p. 110. Evidentemente que, sendo Santo António
um religioso católico, interpretou teologicamente esta
passagem bíblica. Entretanto, não se pode deixar
de discordar do Pensador quando afirmou, por exemplo, que o nascimento
de Jesus ocorreu em um curral de gado. Hoje, já se sabe
perfeitamente que o HUMILDE PEIXE encarnou em
uma gruta-hospital essênia. Não pode ser esquecido
de que José e Maria eram ESSÊNIOS.
11. Ibid., p. 120.
12. Ibid., p. 129.
13. Ibid., passim.
14. Op. cit., p. 166.
15. Op. cit., pp. 167 a 169.
16. Op. cit., pp. 174 a 177.
17. Op. cit., p. 194.
18. Op. cit., pp. 222 a 224.
BIBLIOGRAFIA
ANTÓNIO de LISBOA, Santo. Obras
completas. Vol. I. Sermões dominicais. Da septuagésima
ao Pentecostes. Introdução, tradução
e notas de Henrique Pinto Rema. Porto/ Lisboa: Restauração,
1970, 304 p.
______.
Obras completas. Vol. II. Sermões dominicais. Depois de
pentecostes. Tradução de Henrique
Pinto Rema. Porto/ Lisboa: Restauração, 1970, 472
p.
______. Obras completas. Vol. III. Sermões
dominicais. Domingos do Advento ao 4º depois da epifania.
Marianos e festivos. Tradução de Henrique Pinto
Rema. Porto/ Lisboa: Restauração, 1970, 460 p.
BAGGIO,
Hugo D. Frei. Santo António.
São Paulo: Edições Loyola, 1982, 99 p.
CAEIRO,
F. da Gama. Santo António de Lisboa (A espiritualidade
antoniana). Lisboa: Ramos, Afonso & Moita, Ltda,
1969, v. II, t 1, 272 p.
GUIMARÃES,
Almir Ribeiro Frei. Almanaque popular Santo António.
Petrópolis: Vozes, 1984, 127 p.
PIZZINGA,
Rodofo Domenico et alii. A noite mística: senda
da verdadeira fraternidade. In: Convergência
Lusíada. Revista do Real Gabinete Português de Leitura.
Rio de Janeiro 12: 171-6, 1995 e In: Anais do II Simpósio
Internacional de Ética, 1a. parte, Rio de Janeiro, 50-5,
1994.
ANEXO
I
MISTÉRIOS DA NOITE NEGRA
marcorelho.tripod.com.br/misteriosmarcorelianos/id43.html
Acesso em 25/12/2003
Ensaio Rosacruz sobre o momento trágico que todos nós,
humanos mortais — místicos ou não —
atravessamos, invariavelmente, durante nossa vida neste Planeta
Terra.
A Noite Negra é um dos
períodos que todo místico é compelido a
vivenciar na Senda da Luz. Não houve um só um
Avatar, Messias ou Profeta que, de uma forma ou de outra, não
tenha evocado esse período de grande confusão,
que todo buscador, num dado momento de sua busca, deve enfrentar
e, se possível, superar.
A Noite Negra é o símbolo
de um ciclo, no plano individual, que corresponde a um questionamento
do ideal seguido até então. Conforme o caso, esse
questionamento pode ter origem em uma série de provações
que atravessamos, ou em uma crise interior sem qualquer ligação
com o mundo objetivo. Uma doença, um acidente, a perda
de um ente querido, problemas familiares, problemas profissionais,
são alguns elementos que podem abalar a vida mística
de um indivíduo e mergulhá-lo nas trevas da dúvida.
Esteja
sua origem nas tribulações terrenas ou em um grande
sofrimento interior, a Noite Negra costuma se traduzir de uma
mesma forma: a chama de nossa fé mística vacila
e se apaga pelo período que dura nossa persistência
em não reacendê-la.
Passamos a não
acreditar mais em nada, nem em Deus, nem em Satanás,
nem no homem, nem no amigo, nem em nós próprios.
Deixamo-nos aprisionar pela fatalidade e tornamo-nos o espectador
entediado de nós mesmos.
Entre nós,
muitos já conheceram esses períodos particularmente
sombrios da existência, que são o quinhão
que a todos nós cabe, mas que, no caso do místico,
assume uma dimensão interior muito mais ampla, pois ele
sabe que corresponde a escolhas cujo resultado concerne diretamente
à sua evolução mística.
Tomemos um dos exemplos
mais dolorosos para ilustrar o que dizemos: a morte. Muitos
místicos já vivenciaram um período de total
entrega após a perda de um ente querido. Nessas penosas
circunstâncias, eles se sentiram assaltados por um sentimento
de injustiça, que inevitavelmente os levou a duvidar
de suas próprias crenças. Por que seu marido ou
sua mulher, seu pai ou sua mãe, seu filho ou sua filha,
seu irmão ou sua irmã, morreram tão jovens?
Por que com tanto sofrimento? Por que naquele momento? Deus
verdadeiramente existe? Será que o misticismo só
serve para dar falsas esperanças, tornar a existência
menos amarga, dissimular um Não-Ser, escusar um acaso
cego e arbitrário? É claro que quando se deixa
a mente se enredar nesse tipo de engrenagens de perguntas-respostas
surgem tantos 'por ques' quanto motivos para duvidar.
Com efeito, quanto mais duvidamos
da dimensão espiritual da existência, mais damos
importância ao mundo material. Em outras palavras, quanto
mais questionamos o Deus de nosso coração, mais
o Diabo de nossa compreensão se rejubila. Pode acontecer
que coloquemos em dúvida nosso ideal místico,
porque a morte, é bem verdade, priva-nos de uma presença
à qual nosso Eu objetivo foi apegado por muitos anos.
Mas, se a existência da
alma sempre foi para nós uma evidência, se consagramos
toda uma vida terrena à evolução de nossa
alma, como não a reconhecer no momento derradeiro em
que ela deixa o corpo de alguém que amamos tanto quanto
amamos a nós mesmos?
A
experiência mostra que não somos invulneráveis
e que a adversidade pode obscurecer nossa vida espiritual. Por
que? Porque o fato de sermos adeptos do misticismo não
faz de nós necessariamente místicos com uma fé
inabalável. Por outro lado, nossa análise das
provações que sofremos pode ser imperfeita. Penso
em particular naqueles que, sistematicamente, tentam compreender
as razões cármicas dos sofrimentos físicos
ou morais de que são vítimas em certos momentos
da vida.
Alguns se sentem invadidos pela
dúvida quando sofrem provações que atribuem
a um carma negativo, ao seu ver injustificado, em vista do bem
que tinham a certeza de ter espalhado ao seu redor. Assim, nunca
se deve estabelecer uma relação sistemática
entre a provação e o carma negativo. Em outras
palavras, parece-me fundamental compreender que nem todas as
provações, sejam quais forem, são necessariamente
cármicas. Muitas delas têm caráter puramente
evolutivo, e sua única finalidade é testar nossa
força interior, pressionando, ao mesmo tempo, nossa aptidão
física e mental para sobrepujá-las. As provações
existem porque são uma condição sine
qua non de evolução, e porque é impossível,
como seres encarnados que somos, evoluirmos sem termos problemas
a resolver e dificuldades a superar. Assim, parece-me muito
importante não sermos vítimas de um misticismo
mal compreendido, que tenda a associar toda tribulação
a um carma negativo. Se assim fosse, deveríamos admitir
que Jesus foi crucificado — para usar apenas um exemplo
— para compensar uma sucessão de más ações!
Esse tipo de conclusão, devemos admitir, é absurdo
e se opõe ao mais simples bom-senso.
Portanto, quando surgirem provações
em sua vida, em vez de procurar determinar se são ou
não são cármicas, enfrente-as de um modo
responsável, o que quer dizer, de uma maneira mística,
com a certeza de que é capaz de superá-las e de
que elas contribuirão para uma aceleração
de sua evolução.
Se, em lugar de se fecharem os
recônditos sombrios de suas idéias negras, elas
se abrissem à luz de tudo o que é belo, claro
e límpido, compreenderiam a que ponto tinham sido vitimadas
pela própria falta de confiança em seu ideal.
Esta observação me leva agora a abordar os motivos
místicos que estão na origem da Noite Negra. Seja
ela consecutiva à morte de um ente querido, a uma multiplicidade
de provações ou a um abandono muito fácil
às nossas próprias angústias, só
pode ensombrecer a existência de um místico, em
virtude do apego que ele devota ao seu ideal ser muito frágil,
superficial ou ilusório. Do ponto de vista esotérico,
a Noite Negra é o reflexo de uma vitória obtida
por nosso dragão interior. Por isso a vida de todo místico
é marcada tanto por Noites Negras quanto por derrotas
sofridas pelo anjo que nele existe.
Enquanto o ser não tiver
atingido o ponto de evolução que propicia a experiência
íntima do Divino, permanece vulnerável em sua
busca, e sua vulnerabilidade é proporcional à
sua fé mística. Isso pressupõe que bem
poucos de nós podem afirmar que nunca conheceram períodos
sombrios em sua vida espiritual ou que não os conhecerão
mais. O próprio Mestre Jesus, em um momento supremo de
sua missão, clamou: Pai, por que me abandonastes?
Por uma fração de segundo, esse Iniciado do mais
alto grau duvidou. [Sobre este tema, convido para a leitura
de um texto de minha autoria, que se encontra neste site,
cujo título é: Aspectos Esotéricos
da Vida de Jesus.].
Mas, a questão essencial
é saber do que ele duvidou e do que nós duvidamos
quando a Noite Negra mergulha nossa alma nas trevas do ateísmo.
Quando examinamos atentamente esse acontecimento da vida mística
de Jesus, tudo leva a pensar que ele não duvidou de Deus,
mas de si mesmo e de sua capacidade de permanecer fiel em seu
sofrimento. Em nosso nível, é exatamente o contrário
que acontece quando duvidamos, porque na maior parte do tempo
duvidamos de tudo, menos de nós próprios. Nossa
única preocupação deve ser a de pedir o
auxílio do Cósmico para termos força interior
para vencer nossa própria fraqueza, pois é nessa
vitória que está a solução de todos
os problemas, por mais dramáticos que eles sejam no plano
humano. Isto pressupõe que a prece e a meditação
constituem nossos dois maiores aliados para fazer brilhar novamente
a LUZ quando as circunstâncias tiverem mergulhado nosso
Sanctum interior na mais total obscuridade.
O que devemos fazer pelo bem de nosso corpo, também devemos
fazer pelo bem de nossa alma. Em vez de esperarmos até
que as circunstâncias alterem nossa vida espiritual e
destruam nossa fé mística, devemos cultivar nosso
jardim interior, semeando ali as sementes de um amor incondicional
à CAUSA SUPREMA.
Desejo dizer, com tudo isto, que
é mais fácil preservarmos nosso corpo dos perigos
que o ameaçam, do que protegermos nossa alma dos ataques
do abandono espiritual. No primeiro caso, a ameaça é
perceptível; no segundo, ela não o é. Isso
explica por que um Rosacruz que começa a atrasar o estudo
semanal de suas monografias acaba não as abrindo mais.
Finalmente, chega o momento em que ele não é mais
Rosacruz a não ser no nome, quando então reúne
as melhores condições para passar pela experiência
de uma Noite Negra decisiva para seu futuro místico.
O
dever de todos os místicos, e não falo só
dos Rosacruzes, é induzir progressivamente uma mudança
nas mentalidades, de modo a estabelecer o equilíbrio
entre as preocupações materiais e as exigências
espirituais. Toda Noite Negra, seja ela individual ou coletiva,
é uma INICIAÇÃO. Ao final
de cada INICIAÇÃO há uma
pequena chama e, quando todas as pequenas luzes se fundirem
em uma só, a consciência individual ou coletiva,
vivencia a Iluminação Cósmica. O acesso
à Luz Maior então é definitivo e as trevas
são banidas para sempre. Assim seja.
*
Excerto do livro Assim Seja, por Christian
Bernard, Imperator da Antiga e Mística Ordem Rosacruz
– AMORC. Publicado na Revista O Rosacruz, nº 239,
1º Trimestre/2002.
PAZ
PROFUNDA