Este
estudo, incompleto e meio desajeitado, que estou divulgando hoje, é
constituído de alguns fragmentos (ligeiramente editados) da obra
platônica Filebo,
que, ao lado de Parmênides,
O Banquete e Fedro, faz parte da terceira tetralogia, na qual
dialogam Sócrates, Protarco e Filebo, estes últimos personagens
fictícios criados por Platão.
Neste
diálogo, um dos mais importantes de toda a Filosofia Antiga, Platão
se ocupa com o belo e o bom, e como o homem pode viver uma vida virtuosa
ou, em outras palavras, o Filebo
trata basicamente da questão da vida boa, que é dialeticamente
examinada à luz da Idéia de Bem. Para Platão, as Idéias
Matrizes de todas outras são a Idéia de Bem, a Idéia
de Belo, a Idéia do Justo e a Idéia do Verdadeiro, que, como
pensa Marilena de Souza Chaui, impõem
limite, determinação e medida ao indeterminado.
No Filebo,
como explica Sonia Maria Maciel, professora da PUC-RS, o
exame dos prazeres se revela apenas um pretexto, pois, na verdade, o que
se mostra é um jogo existencial que propõe um problema ético,
o qual faz balançar as bases teóricas onde estão enraizadas
muitas das soluções dadas, por Platão, em outros diálogos,
no que se refere ao prazer e ao intelecto. Por isso mesmo, o diálogo
é uma grandiosa tentativa de estabelecer os fundamentos lógicos
estruturais do mundo sensível factual, do complexo devir que compreende
a experiência humana. O homem se constitui como uma mistura de intelectualidade
e emoções, que se mesclam e se influenciam mutuamente, determinando,
assim, a existência. A característica fundamental do homem
é a consciência desta possibilidade, que, para Platão,
deve vir associada à tentativa de ordenar as emoções,
através de uma hierarquia de valores éticos. Nisto se constitui
a conduta humana ou o modo de vida humano distinto do animal.
Bem,
para nós, que nos esforçamos em ser virtuosos, creio que os
ensinamentos de Platão inseridos no Filebo
irão nos ajudar a compreender certas coisas que, provavelmente, ainda
permanecem meio obscuras. Então, procedamos como verdadeiros dialéticos,
não como simples disputantes, e, ao final do estudo, certamente,
todos nós teremos melhorado um pouquinho. Se eu tivesse que resumir
o Filebo
em uma única animação, seria esta:
Para
ler o texto completo, traduzido por Carlos Alberto Nunes, por favor, dirija-se
a:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/filebo.pdf
Fragmentos
do Filebo
O
saber,
a inteligência, a memória e tudo o que lhes for aparentado,
como a opinião certa e o raciocínio verdadeiro, são
melhores e de mais valor do que o prazer, para quantos forem capazes de
participar deles, e esta participação é o que há
de mais vantajoso pode haver para os seres presentes e futuros.
O
prazer é vário e múltiplo, ainda que pareça
único e muito simples; mas, em verdade, assume as mais variadas formas,
que, de certo jeito, são totalmente dissemelhantes entre si. Atende
ao seguinte: dizemos que o indivíduo intemperante sente prazer, como
afirmamos a mesma coisa do temperante, pelo fato de ser temperante, e também
do insensato repleto de opiniões e de esperanças loucas, e
do próprio sábio, por ser este o que é, realmente:
sábio. Ora, quem afirmasse que são iguais essas espécies
de prazer, com todo o direito não o poderíamos apodar de irracional?
Não
confies em um argumento que reduz à unidade tantos opostos.
Muitos
prazeres são dissemelhantes entre si e alguns até mesmo opostos.
É
maravilha dizer-se que o uno é múltiplo, e o múltiplo,
um.
O
Mesmo, como uno e como múltiplo, é identificado pelo pensamento
– que jamais envelhece – circulando, agora e sempre, por tudo
o que falamos.
Tudo
o que se diz existir provém do uno e do múltiplo, e traz consigo,
por natureza, o limitado e o ilimitado.
Para
realmente se conhecer música, é necessário estudar
os intervalos dos sons, o número e a natureza dos agudos e dos graves,
os limites dos intervalos e todas as combinações possíveis,
descobertas por nossos pais, que as transmitiram a nós, como a seus
descendentes, sob a denominação de harmonias, bem como as
operações congêneres que vamos encontrar nos movimentos
dos corpos, e que, interpretadas pelos números, receberam o nome
de ritmo e medida. O
mesmo princípio terá de ser aplicado a tudo que é uno
e múltiplo. Isto aprendido, então, e só então,
chegaremos a ser sábios. E quando examinarmos às luzes deste
mesmo princípio, seja a unidade que for, nos tornaremos sábios
com relação a ela.
Quando tomarmos qualquer unidade,
não deveremos olhar de imediato para a natureza do infinito, mas
para algum número; e o contrário disto: sempre que formos
obrigados a começar pelo infinito, nunca deveremos saltar imediatamente
para a unidade. Esforcemo-nos, isto sim, para alcançar um número
que em cada caso represente certa pluralidade, para chegar à unidade
depois de passar pelo todo.
Nenhum
de nós consegue aprender uma letra sem aprender todas.
Se
não soubermos resolver as questões a respeito de tudo o que
é um ou igual ou sempre o mesmo, e também de seus contrários,
em nenhum tempo poderemos revelar préstimo seja no que for.1
Se
para o sábio é belo conhecer tudo, o segundo roteiro de navegação
será não desconhecer a si mesmo.
Todo ser dotado de discernimento
procura o bem e se esforça por adquiri-lo em definitivo, sem se preocupar
com o que for que esteja destituído de qualquer conexão com
o bem.
Sem
inteligência, sem memória, sem conhecimento e sem opinião
verdadeira, forçosamente, não poderíamos saber se desfrutamos
ou não de algum prazer, já que seríamos inteiramente
faltos de discernimento. Assim, desprovidos de memória, não
apenas não poderíamos recordar de que tivemos algum prazer,
como também passaria sem deixar rastro algum o prazer do momento
presente, Outrossim, carecente de opinião verdadeira, nunca poderíamos
dizer que sentimos prazer no instante em que o tivéssemos sentido,
e, carentes de reflexão, não poderíamos calcular os
prazeres que o futuro pudesse ensejar. Ora, isto não seria vida de
gente, mas de algum pulmão marinho ou desses animais do mar providos
de conchas.
Vida
=
misto de prazer com inteligência e discernimento. Se algum de nós
preferisse outra condição, esta escolha seria contrária
à natureza do que é verdadeiramente desejável e efeito
involuntário da ignorância ou de alguma fatalidade perniciosa.
Seja
qual for o elemento presente na vida mista que a deixa boa e desejável,
não será o prazer, mas a inteligência, que com o bem
apresenta mais parecença e afinidade. Com base neste raciocínio,
podemos afirmar que, em verdade, o prazer não tem direito nem ao
segundo prêmio, como está longe de merecer o terceiro.
Deus
revelou nas coisas existentes um elemento limitado e outro ilimitado.
Tudo
o que vemos se tornar maior ou menor ou admitir o forte e o fraco e o muito
e tudo o mais do mesmo gênero, deve ser incluído na classe
do ilimitado e reduzido à unidade, pois é preciso, tanto quanto
possível, reunir as coisas separadas e assinalá-las com o
selo da unidade.
Tudo
que põe termo à diferença natural dos contrários
enseja harmonia e proporção entre seus elementos.
No
caso das doenças, a reestruturação concertada dos elementos
produz a saúde [Harmonium].
A
mistura do limitado com o ilimitado é a origem de tudo o que há
de belo.
Vendo
a Divindade, meu caro Filebo, a arrogância e toda sorte de maldades
que se originam do fato de carecerem de limites os prazeres e a gula, estabeleceu
a lei e a ordem, dotadas de limite.
O
ilimitado apresenta muitos gêneros; mas, por todos eles trazerem o
selo do mais e do menos, parecem formar apenas um.
Tudo o que devém só
se forma em virtude de determinada causa.
O
agente e a causa são uma e a mesma coisa.
O
que cria vai naturalmente na frente, seguindo-o sempre no rastro o que é
criado.
Ordenando
os quatro gêneros, tem-se: em primeiro lugar, designo o ilimitado;
em segundo, o limitado. Em terceiro, temos a essência composta dos
dois primeiros e deles oriunda. E, em quarto lugar, a causa da mistura e
da geração.
Todos
os sábios estão acordes – por isto mesmo com isto se
engrandecem – em que, para nós, a inteligência é
a rainha do céu e da Terra.
A
Mente determina tudo.
Na
composição do Universo, da Natureza e nos corpos de todos
os seres vivos entram Fogo, Água, Ar e também Terra. Todavia,
cada elemento existente em nós é pequeno e de má qualidade,
além de não ser puro de maneira nenhuma nem dotado de qualquer
poder digno de sua natureza.
O
Universo é um corpo da mesma espécie do nosso porque é
formado dos mesmos elementos.
Sem alma não pode haver sabedoria
nem inteligência. O mundo, sempre, é governado pela inteligência.
A inteligência é a causa de tudo.
Quando
em nós
a harmonia se dissolve [se
esvai], seres animados, produz-se, ao mesmo tempo, dissolução
da natureza e geração da dor. E quando se restabelece a harmonia
e volta ao seu estado natural [re]nasce
o prazer. Exemplos: a fome é dissolução e dor; o comer
é repleção e prazer. A sede, por sua vez, é
destruição e dor; o inverso é prazer, ou seja, atuação
do úmido no ato de encher o que secou. Conclusão: na classe
dos seres vivos, formados da união do ilimitado com o limitado, sempre
que esta união é rompida, destruída, tal desbaratamento
causa dor, e o contrário disto, em todos eles, é prazer –
caminho para sua própria natureza e conservação.
Quem escolhe viver segundo a razão
e a sabedoria não sentirá prazer; nem muito nem pouco. De
todos os meios de vida, este é o mais divino.
Sensação é quando
o corpo e a alma são afetados pelo mesmo agente e se movem a um só
tempo. Assim, a memória é a conservação da sensação.
A
reminiscência2
difere da memória. A reminiscência se dá quando a alma
recebe alguma impressão juntamente com o corpo, e depois, sozinha
em si mesma, recupera-a tanto quanto possível.
Quando
encontrarmos o que procuramos, perdemos a perplexidade.3
Quando
alguém está vazio, deseja precisamente o contrário
daquilo que experimenta: por estar vazio, quer ficar cheio. E, na esperança
de vir a se encher, se alegra só com esta lembrança, ao mesmo
tempo em que sofre, pelo fato de estar vazio.
É
a memória que nos leva para os objetos de nossos desejos, e demonstra,
no mesmo passo, que todos os impulsos e desejos e o comando de todos os
seres animados pertencem à alma.
Nem
dormindo nem acordado, nem nos acessos de loucura ou em qualquer estado
de insanidade mental, não há quem se considere alegre, quando
não sente alegria, ou pense sofrer alguma dor, quando em verdade
nada sofre.
Uma
opinião – quer seja verdadeira, quer seja falsa –
de qualquer forma, não deixará de ser uma opinião.
Mas, pelo fato de se juntar verdade ou falsidade à opinião,
esta não fica sendo apenas uma opinião, mas uma certa opinião,
ou falsa ou verdadeira. Enfim, sempre que a maldade se junta à uma
opinião,
a opinião se torna ruim. Mas, se a retidão se juntar à
opinião,
a opinião será reta.
A memória, em consonância
com as sensações que dizem respeito à todas as ocorrências,
é como se escrevesse, por assim dizer, discursos na alma; e quando
o sentimento da ocorrência escreve certo, então se forma em
nós uma opinião verdadeira, da qual também decorrem
discursos verdadeiros; porém, quando o escrevente que temos dentro
de nós escreve errado, produz-se precisamente o contrário
da verdade. Todavia, além do escrevente, há,
em nosso interior, um pintor, que pinta na nossa alma a imagem
das coisas descritas por aquele. E assim, serão verdadeiras as imagens
das opiniões e dos discursos verdadeiros, como serão falsas
as imagens
das opiniões e dos discursos falsos. Enfim, na maioria
dos casos, as imagens escritas no interior dos homens de bem são
verdadeiras. E com
as imagens escritas no interior dos homens maus se dá
precisamente o contrário.
Na
alma do homem há prazeres falsos, ridículas imitações
dos verdadeiros, o mesmo acontecendo com as dores.
Há falsas opiniões
e costumamos opinar falsamente porque determinadas opiniões estabelecidas
por nós não se relacionam com nenhum objeto existente ou que
ainda venha a existir.4
Teremos
sempre de passar por alguma modificação, conforme dizem os
sábios, pois tudo não pára de se mover para cima ou
para baixo.
Os
maiores prazeres são os que decorrem dos mais violentos desejos.
Os
indivíduos moderados, a todo instante, são contidos pelo aforismo
'nada em excesso',
a que obedecem integralmente; já os insensatos e os arrogantes se
entregam aos prazeres até à loucura e a mais abjeta desmoralização.
Portanto, é em um certo estado de depravação da alma
e do corpo, não na virtude, que vamos encontrar os maiores prazeres
e as maiores dores.
Quanto mais inepta e depravada for
a pessoa, mais se entregará a prazeres tidos na conta de deleites
supremos, em que a alma se opõe ao corpo, ocorrendo uma mistura singular
de dor e prazer.
Quanto
a alma, por vezes, se sente sozinha em si mesma, poderão ocorrer
paixões que são exclusivas da alma, como cólera, temor,
desejo, tristezas, amor, emulação, inveja e tudo o mais do
mesmo gênero.
O invejoso se nos revela contente
com a desgraça do próximo.
O
ridículo é uma espécie de vício que tira o nome
de um hábito particular – a parte do vício em geral
que se opõe radicalmente àquilo que está escrito na
inscrição de Delfos.5
O contrário
disto viria a ser não se conhecer em absoluto.
Quem não se conhece fica sujeito
a três modalidades de ignorância. Em primeiro lugar, quanto
à riqueza, por se imaginar mais rico do que é. Depois, há
os que se julgam maiores e mais belos do que são, e em tudo o que
se refere ao corpo vão sempre muito além da realidade. Entretanto,
em muito maior número, quero crer, são os que se iludem com
respeito à terceira modalidade de ignorância, referente aos
bens da alma, por acharem que se distinguem mais do que os outros pela virtude,
quando, em verdade, tal não acontece. Não é a respeito
da sabedoria que o vulgo se considera mais entendido, enchendo-se, com isso,
de querelas e da fantastiquice de falsos conhecimentos?
Nos
poderosos, a
ignorância é hostil e torpe, por ser
nociva ao próximo, ou por si mesma, ou por suas imitações;
mas, nas pessoas fracas ela se inclui naturalmente na classe das coisas
ridículas. Assim, a falsa opinião será ridícula,
quando
estiver associada à debilidade, ou será
odiosa, quando estiver associada à força.
Alegrar-se
com a desgraça do outro é produto da inveja.
Nas
lamentações, nas tragédias e nas comédias –
e não apenas no teatro, como também na comédia e na
tragédia da vida humana e em mil coisas mais –
os prazeres e as dores andam sempre associados.
O
corpo sem a alma e a alma sem o corpo, e os dois associados, são
passíveis das mais variadas misturas de prazeres e de penas.
Não
participo, em absoluto, da opinião dos que afirmam que todo prazer
nada mais é do que ausência de dor. Há prazeres que
parecem reais, mas que de forma alguma existem; enquanto muitos outros nos
parecem grandes, porém, de fato, não passam de certa mistura
de sofrimento e de cessação de dores, nas mais violentas crises
do corpo e da alma.
Quando falo em beleza das formas,
não pretendo sugerir o que a maioria das pessoas entende por este
conceito. Refiro-me à linha reta, ao círculo e às figuras
planas e sólidas formadas de linhas e círculos. O que eu digo,
é que estas figuras não são belas como as demais, em
relação à outras coisas, mas são sempre belas
naturalmente e por si mesmas, e nos proporcionam prazeres específicos.
Outrossim, são belas as cores e nos proporcionam prazeres da mesma
natureza.5
Geometria
Sagrada
Os
sons suaves e claros sempre que formam uma melodia pura são belos
por si mesmos, não relativamente a qualquer outra coisa, tal como
o prazer que nos enseja sua própria natureza.
Por
não serem acessíveis à maioria dos homens,
mas a pouquíssimos, os
prazeres da Sabedoria [ShOPhIa]
são isentos de dor.
Todo prazer estreme [não
contaminado] de dor, por menor e mais raro que seja,
é mais agradável, belo e verdadeiro do que os freqüentes
e grandes.
O
prazer está sempre em formação, sem que nunca se possa
considerar como existente.
Há
duas espécies de coisas: a que existe por si mesma e a que sempre
deseja outra. Uma é de natureza nobre; a outra lhe é inferior.
Uma destas coisas só existe por amor de outra; e esta outra é
precisamente aquela em vista da qual sempre se faz o que se faz em vista
de qualquer coisa.
Uma
coisa é a geração; outra, a essência. Se assim
é, por exemplo, os remédios, todos os instrumentos e todos
os materiais são sempre aplicados em vista da geração;
e cada geração se faz em vista desta ou daquela essência.
E a geração em geral, em vista da Essência Universal.
Enfim, o prazer, não sendo propriamente um bem, está sujeito
à geração e carece em absoluto de essência.
O
modo de vida Iniciático, estreme de prazer e de dor, se caracteriza
pela mais pura Sabedoria.
Quem
sente dor em vez de prazer é mau no momento em que sofre, ainda mesmo
que se trate do melhor dos homens. E o contrário disto também
é verdadeiro: o indivíduo que sente prazer, será tanto
mais superior em virtude, quando mais intenso for este sentimento, no próprio
instante em que se manifesta.6
Há
uma aritmética popular e outra filosófica.
A
Sabedoria
Verdadeira é a que se ocupa com o Ser e com a Atualidade Cósmica,
sendo, por natureza, sempre igual a si mesma.
Nem
a inteligência nem o conhecimento que se ocupam com as coisas que
nunca se conservam no mesmo estado nem se conservarão no futuro e
muito menos se conservam no presente, jamais atingirão a verdade
perfeita. Como adquirir conhecimento estável do que não participa
em grau nenhum de estabilidade? Logo, nem a inteligência nem o conhecimento
que se ocupam com coisas instáveis e inconstantes jamais atingirão
a verdade perfeita.
A
fixidez, a pureza, a verdade e o que consideramos sem mistura só
ocorrem nas coisas que sempre se conservam sem liga nem mudança,
ou, pelo menos, nas que mais se aproximam delas, devendo todo o resto ser
considerado secundário e inferior.
É muito verdadeiro o provérbio
que nos aconselha repetir duas ou três vezes o que nos parece bem.
O
bom e o agradável se distinguem um do outro pela
própria natureza. Na constituição do bem, a Sabedoria
contribui com maior contingente do que o prazer.
O
ser vivo que sempre possuísse o Bem, em toda a parte e de todas as
maneiras, de nada mais precisaria. O Bem
lhe seria suficiente para tudo.
Podemos
dizer que há dois tipos de conhecimento, sendo um superior ao outro.
Um, dirigido para o que nasce e perece; outro, para o que nem nasce nem
perece, e é permanente e sempre igual a si mesmo. Considerando-os
à luz da verdade, concluímos ser este conhecimento –
que nem nasce nem perece, e é permanente e sempre igual a si mesmo
– mais verdadeiro do que o outro.
Não
é possível, nem disso adviria nenhuma vantagem, que qualquer
gênero puro permaneça à parte e solitário.7
Se
não incluirmos a busca da verdade em nossa vida, nada poderá
nascer nem verdadeiramente subsistir.8
Se
em qualquer mistura faltar medida e proporção na natureza
de seus componentes, fatalmente se arruinarão seus elementos e ela
própria. Deixará de ser uma mistura regular, para se transformar
em um amontoado heterogêneo, que será sempre um verdadeiro
mal para seus possuidores.
É
tão-só na medida e na proporção [simetria]
que sempre se encontram a verdade, a beleza e a virtude. E assim, não
poderemos conceber o bem por meio de uma única idéia. Recorramos
a três: a da beleza, a da proporção e a da verdade,
para declarar que todas elas reunidas podem ser consideradas, verdadeiramente,
como a causa única do bem.
A
inteligência, se não for a mesma coisa do que a verdade, é
o que mais dela se aproxima.
Em
a Natureza, nada há tão imoderado como o prazer e as grandes
alegrias, nem mais equilibrado do que a inteligência e o conhecimento.
O
prazer não é o primeiro dos bens, nem mesmo o segundo; mas
o primeiro de todos os bens é a medida e o que for moderado e oportuno,
e o mais a que possamos atribuir qualidades semelhantes concedidas pela
Natureza.
A
inteligência é um bem muito melhor e mais importante para a
vida humana do que o prazer.
_____
Nota:
1. É
exatamente o fato de, geralmente, sermos confrontadores e disputadores,
quando deveríamos ser dialéticos, que desarruma e confunde
nosso aprendizado e abichorna nossa existência. E, de solavancos em
solavancos, ora descalços, ora de tamancos, de onde em onde olhamos
para cima, mas, na maioria das vezes, afundamos nos barrancos. Bolas; a
vida não é isto!
2. Uma
das condições para a indagação ou investigação
acerca das Idéias é que não estamos em estado de completa
ignorância sobre elas. Do contrário, não teríamos
nem o desejo nem o poder de procurá-las. Em vista disso, é
uma condição necessária, para tal investigação,
que tenhamos em nossa alma alguma espécie de conhecimento ou lembrança
de nosso contato com as Idéias (contato este ocorrido antes do nosso
próprio nascimento) e nos recordemos das Idéias ao vê-las
reproduzidas palidamente nas coisas. Deste modo, toda a ciência platônica
é uma reminiscência. A investigação das Idéias
supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde
contemplavam as Idéias. Podemos tomar como exemplo o Mito
da Parelha Alada, localizado no diálogo Fedro,
de Platão. Neste diálogo, Platão compara a raça
humana a carros alados. Tudo o que fazemos de bom, dá forças
às nossas asas. Tudo o que fazemos de errado, tira força das
nossas asas. Ao longo do tempo fizemos tantas coisas erradas que nossas
asas perderam as forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos
no Mundo Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento,
fomos condenados a ver apenas as sombras do Mundo das Idéias. No
Fedro,
está escrito: A
força da asa consiste em conduzir o que é pesado para as alturas
onde habita a raça dos deuses. A alma participa do divino mais do
que qualquer outra coisa corpórea. O que é divino é
belo, sábio e bom. Destas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem,
enquanto todas as qualidades contrárias, como o que é feio
e o que é mau a fazem diminuir e fenecer. Esta é
a luta interna do ser humano entre as tendências boas e más.
Seja como for, só nos desvencilhando das coisas terrestres poderemos
atingir um grau de elevação superior e contemplar a verdade,
ainda que relativa.
3. Às
vezes, acontece o oposto: a perplexidade
aumenta.
4.
E assim, fabricamos mil deuses que, a depender disto ou daquilo e do estado
de espírito em que se encontrem no momento, ora nos amam, ora nos
odeiam, ora nos premiam, ora nos castigam, ora são solidários,
ora são indiferentes, ora atendem nossas súplicas, ora, como
se fossem surdos, não dão a menor pelota para nós.
E, para amainar e adoçar a má disposição destes
deuses de barro fazemos promessas e negociamos com eles a nossa felicidade
e a nossa presumida salvação. Bolas! Queremos milagres; custe
o que custar! Queremos, na verdade, o que, na maioria das vezes, não
merecemos, porque, se merecêssemos, provavelmente, já teríamos.
O que não consigo entender é o seguinte: supondo que os deuses
existam, porque precisamos pedir a eles o que necessitamos? Não saberão
eles o que necessitamos? Ora, se não sabem, não são
deuses. Se sabem e não nos dão, pior ainda. Bem, em um passo
do Filebo,
Sócrates diz o seguinte, muito próprio para concluir esta
nota: há
coisas que não existem, há coisas que nunca existiram, e que,
na maioria dos casos, senão mesmo em todos, jamais virão a
existir. Mas, nós teimamos em querer que elas existam!
5.
Inscrição no Oráculo de Delfos, atribuída aos
Sete Sábios (c. 650a.C. – 550 a.C.): Ó
homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o Universo.
Situado em Delfos, o Oráculo de Delfos era dedicado principalmente
a Apolo e centrado em um grande templo, ao qual vinham os antigos gregos
para colocar questões aos deuses. O Oráculo de Delfos estava
situado na Grécia, no que foi a antiga cidade chamada Delfos (que
hoje já não existe), no sopé do monte Parnaso, nas
encostas das montanhas da Fócida, a 700 m sobre o nível do
mar e a 9,5 km de distância do golfo de Corinto. Delfos era um recinto
e um complexo de construções em um terreno sagrado para os
antigos gregos, onde se realizavam os Jogos Píticos (jogos pan-helênicos
da Antiga Grécia que eram realizados de quatro em quatro anos em
Delfos) e havia um templo consagrado ao deus Apolo, originariamente consagrado
à Pítia (sacerdotisa do Templo de Apolo). Neste templo, as
sacerdotisas de Apolo (Pitonisas) faziam profecias em transes. As respostas
e profecias ali obtidas eram consideradas verdades absolutas. Hoje, suspeita-se
que os transes e as visões das sacerdotisas eram provocados por gases
emitidos por uma fenda subterrânea no local. Das rochas da montanha
circundante, brotam várias nascentes que formam fontes. Uma das fontes
mais conhecidas, desde tempos muito antigos, era a Fonte de Castália,
rodeada de um bosque de loureiros consagrado ao deus Apolo. A lenda e a
mitologia contam que no monte Parnaso e próximo desta fonte se reuniam
algumas divindades, deusas menores do canto e da poesia, chamadas musas,
e as ninfas das fontes, chamadas náiades. Nestas reuniões,
Apolo tocava sua lira e as divindades cantavam. Conta-se que o oráculo
de Delfos ganhou tamanho significado mágico após o deus Apolo
matar a serpente Phyton neste local, daí derivando o nome
das sacerdotisas (pitonisas). O Oráculo de Delfos influenciou significativamente
a colonização grega das costas do sul da Itália e da
Sicília. Chegou a ser o centro religioso do mundo helênico.
6.
Aqui cabe o seguinte comentário: pessoas mal-humoradas estão
sempre adoentadas porque as preocupações, os rancores, as
ansiedades, os estresses, as depressões, os medos, os preconceitos,
as quizilas etc. atuam e atacam em primeiro lugar o nosso sistema imunológico,
também conhecido por sistema imunitário ou sistema imune,
compreendendo todos os mecanismos pelos quais um organismo multicelular
se defende de invasores externos, como bactérias, vírus, protozoários
e fungos. Existem dois tipos de mecanismos de defesa: os inatos ou não-específicos,
como a proteção da pele, a acidez gástrica, as células
fagocitárias e a secreção de lágrimas; e o sistema
imunitário adaptativo, que compreende a ação seletiva
dos linfócitos (responsáveis, em grande parte, pela imunidade
mediada por via celular) e a produção de anticorpos específicos
(proteínas do soro sangüíneo segregadas pelos linfócitos
B). Ora, tudo isto vai para o vinagre, porque não há nada
pior para o organismo do que mau humor. Mau humor é doença!
E grave! Só me esqueci de dizer uma coisa: observe que as pessoas
mal-humoradas e preocupadas, geralmente, têm prisão de ventre
rebelde, tecnicamente chamada de obstipação ou constipação
intestinal, causando inchaço da barriga, cólicas, fezes duras
e irritabilidade. Logo, combater os sintomas não adianta nada. Solução:
alegria + bons pensamentos + bom humor + muita água. Enfim, se você
não tem o costume de beber um copo d'água em jejum, ao acordar,
passe a fazer isto amanhã; 90% de todos os seus problemas de saúde
serão minorados ou até dissipados. Mas, lembre-se: depois
de beber este copo d'água em jejum, espere mais ou menos quinze minutos
para fazer a primeira refeição do dia.
7.
Por isto, se eu tivesse de escolher, agora, o mais grave dos defeitos, a
maior deformidade ou imperfeição, eu escolheria o egoísmo
intelectual/espiritual, que nada mais é do que saber e não
comunicar, que nada mais é, enfim, do que se isolar da Humanidade,
sempre em busca de mais conhecimento, até se abarrotar de saberes
e ter uma indigestão. Ora, não é mais ou menos isto
que fazem os que se apartam do mundo, ao escolherem, por exemplo, uma vida
celibatarista e monacal? Por que, pergunto, guardar e esconder o que é
de todos e que pertence a todos? Por que pensar e admitir que o outro não
é digno? Por que pensar e admitir que o contato e a convivência
possam comprometer o desenvolvimento espiritual? Bolas! Multiplique tudo
isto por -1, pois o contrário de tudo isto é que nos levará
à compreensão da coisa toda. A liberdade não poderá
vir sem a compreensão; mas a compreensão só se efetivará
pelo altruísmo, pela solidariedade e pelos esbarrões que a
vida nos oferece. Místico que se esconde não é místico;
é alogístico.
8. E o que é
a busca da verdade? Buscar a verdade é entrar no Santo Silêncio.
É olhar para dentro, mergulhar no interior – no Coração
– e tentar ouvir a Voz do Silêncio. Nas primeiras vezes, esta
Voz parecerá se mostrar surda e muda; mas, com o tempo, ela falará.
A partir de então, jamais ensurdecerá ou emudecerá.
Agora:
Para
espairecer de tanto Filebo,
veja isto até o final, porque o final é o melhor. Mas, antes,
feche esta página, senão vai dar uma confa do daimonion:
http://www.youtube.com/watch?v=L8vX
VQHDcuY&feature=player_embedded
Páginas
da Internet consultadas:
http://books.google.com.br/
http://www.seer.ufu.br/index.php/Educacao
Filosofia/article/viewFile/13340/7630
http://www.bloggang.com/mainblog.php?id=nulex
&month=07-03-2009&group=18&gblog=6
http://photobucket.com/
images/animated%20brain/
http://www.squidoo.com/funny-animated-gifs?utm_source=
google&utm_medium=imgres&utm_campaign=framebuster
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Pris%C3%A3o_de_ventre
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Sistema_imunit%C3%A1rio
http://www.millan.net/anims/
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Or%C3%A1culo_de_Delfos
http://www.sdx.com.br/
http://www.gifs-paradise.com/
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http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/MARCELOALVES.pdf
http://revistapandora.sites.uol.com.br/
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o
http://www.urlesque.com/2008/12/15/the-6-best
-animated-gifs-of-the-bush-shoe-throwing-incident/
http://www.puc-rio.br/
parcerias/sbp/pdf/19-soniar.pdf
Fundo
musical:
Aighaio
Fonte:
http://www.navis.gr/midi/midi.htm