FILEBO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

É a Idéia do Bem que confere verdade ao que está sendo conhecido e capacidade ao que conhece.

 

Platão (República, livro VI)

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo, incompleto e meio desajeitado, que estou divulgando hoje, é constituído de alguns fragmentos (ligeiramente editados) da obra platônica Filebo, que, ao lado de Parmênides, O Banquete e Fedro, faz parte da terceira tetralogia, na qual dialogam Sócrates, Protarco e Filebo, estes últimos personagens fictícios criados por Platão.

 

Neste diálogo, um dos mais importantes de toda a Filosofia Antiga, Platão se ocupa com o belo e o bom, e como o homem pode viver uma vida virtuosa ou, em outras palavras, o Filebo trata basicamente da questão da vida boa, que é dialeticamente examinada à luz da Idéia de Bem. Para Platão, as Idéias Matrizes de todas outras são a Idéia de Bem, a Idéia de Belo, a Idéia do Justo e a Idéia do Verdadeiro, que, como pensa Marilena de Souza Chaui, impõem limite, determinação e medida ao indeterminado. No Filebo, como explica Sonia Maria Maciel, professora da PUC-RS, o exame dos prazeres se revela apenas um pretexto, pois, na verdade, o que se mostra é um jogo existencial que propõe um problema ético, o qual faz balançar as bases teóricas onde estão enraizadas muitas das soluções dadas, por Platão, em outros diálogos, no que se refere ao prazer e ao intelecto. Por isso mesmo, o diálogo é uma grandiosa tentativa de estabelecer os fundamentos lógicos estruturais do mundo sensível factual, do complexo devir que compreende a experiência humana. O homem se constitui como uma mistura de intelectualidade e emoções, que se mesclam e se influenciam mutuamente, determinando, assim, a existência. A característica fundamental do homem é a consciência desta possibilidade, que, para Platão, deve vir associada à tentativa de ordenar as emoções, através de uma hierarquia de valores éticos. Nisto se constitui a conduta humana ou o modo de vida humano distinto do animal.

 

Bem, para nós, que nos esforçamos em ser virtuosos, creio que os ensinamentos de Platão inseridos no Filebo irão nos ajudar a compreender certas coisas que, provavelmente, ainda permanecem meio obscuras. Então, procedamos como verdadeiros dialéticos, não como simples disputantes, e, ao final do estudo, certamente, todos nós teremos melhorado um pouquinho. Se eu tivesse que resumir o Filebo em uma única animação, seria esta:

 

 

 

 

Para ler o texto completo, traduzido por Carlos Alberto Nunes, por favor, dirija-se a:

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/filebo.pdf

 

 

 

Fragmentos do Filebo

 

 

 

O saber, a inteligência, a memória e tudo o que lhes for aparentado, como a opinião certa e o raciocínio verdadeiro, são melhores e de mais valor do que o prazer, para quantos forem capazes de participar deles, e esta participação é o que há de mais vantajoso pode haver para os seres presentes e futuros.

 

O prazer é vário e múltiplo, ainda que pareça único e muito simples; mas, em verdade, assume as mais variadas formas, que, de certo jeito, são totalmente dissemelhantes entre si. Atende ao seguinte: dizemos que o indivíduo intemperante sente prazer, como afirmamos a mesma coisa do temperante, pelo fato de ser temperante, e também do insensato repleto de opiniões e de esperanças loucas, e do próprio sábio, por ser este o que é, realmente: sábio. Ora, quem afirmasse que são iguais essas espécies de prazer, com todo o direito não o poderíamos apodar de irracional?

 

Não confies em um argumento que reduz à unidade tantos opostos.

 

Muitos prazeres são dissemelhantes entre si e alguns até mesmo opostos.

 

É maravilha dizer-se que o uno é múltiplo, e o múltiplo, um.

 

 

 

 

O Mesmo, como uno e como múltiplo, é identificado pelo pensamento – que jamais envelhece – circulando, agora e sempre, por tudo o que falamos.

 

Tudo o que se diz existir provém do uno e do múltiplo, e traz consigo, por natureza, o limitado e o ilimitado.

 

Para realmente se conhecer música, é necessário estudar os intervalos dos sons, o número e a natureza dos agudos e dos graves, os limites dos intervalos e todas as combinações possíveis, descobertas por nossos pais, que as transmitiram a nós, como a seus descendentes, sob a denominação de harmonias, bem como as operações congêneres que vamos encontrar nos movimentos dos corpos, e que, interpretadas pelos números, receberam o nome de ritmo e medida. O mesmo princípio terá de ser aplicado a tudo que é uno e múltiplo. Isto aprendido, então, e só então, chegaremos a ser sábios. E quando examinarmos às luzes deste mesmo princípio, seja a unidade que for, nos tornaremos sábios com relação a ela.

 

Quando tomarmos qualquer unidade, não deveremos olhar de imediato para a natureza do infinito, mas para algum número; e o contrário disto: sempre que formos obrigados a começar pelo infinito, nunca deveremos saltar imediatamente para a unidade. Esforcemo-nos, isto sim, para alcançar um número que em cada caso represente certa pluralidade, para chegar à unidade depois de passar pelo todo.

 

Nenhum de nós consegue aprender uma letra sem aprender todas.

 

Se não soubermos resolver as questões a respeito de tudo o que é um ou igual ou sempre o mesmo, e também de seus contrários, em nenhum tempo poderemos revelar préstimo seja no que for.1

 

Se para o sábio é belo conhecer tudo, o segundo roteiro de navegação será não desconhecer a si mesmo.

 

Todo ser dotado de discernimento procura o bem e se esforça por adquiri-lo em definitivo, sem se preocupar com o que for que esteja destituído de qualquer conexão com o bem.

 

Sem inteligência, sem memória, sem conhecimento e sem opinião verdadeira, forçosamente, não poderíamos saber se desfrutamos ou não de algum prazer, já que seríamos inteiramente faltos de discernimento. Assim, desprovidos de memória, não apenas não poderíamos recordar de que tivemos algum prazer, como também passaria sem deixar rastro algum o prazer do momento presente, Outrossim, carecente de opinião verdadeira, nunca poderíamos dizer que sentimos prazer no instante em que o tivéssemos sentido, e, carentes de reflexão, não poderíamos calcular os prazeres que o futuro pudesse ensejar. Ora, isto não seria vida de gente, mas de algum pulmão marinho ou desses animais do mar providos de conchas.

 

Vida = misto de prazer com inteligência e discernimento. Se algum de nós preferisse outra condição, esta escolha seria contrária à natureza do que é verdadeiramente desejável e efeito involuntário da ignorância ou de alguma fatalidade perniciosa.

 

 

 

 

Seja qual for o elemento presente na vida mista que a deixa boa e desejável, não será o prazer, mas a inteligência, que com o bem apresenta mais parecença e afinidade. Com base neste raciocínio, podemos afirmar que, em verdade, o prazer não tem direito nem ao segundo prêmio, como está longe de merecer o terceiro.

 

Deus revelou nas coisas existentes um elemento limitado e outro ilimitado.

 

Tudo o que vemos se tornar maior ou menor ou admitir o forte e o fraco e o muito e tudo o mais do mesmo gênero, deve ser incluído na classe do ilimitado e reduzido à unidade, pois é preciso, tanto quanto possível, reunir as coisas separadas e assinalá-las com o selo da unidade.

 

Tudo que põe termo à diferença natural dos contrários enseja harmonia e proporção entre seus elementos.

 

No caso das doenças, a reestruturação concertada dos elementos produz a saúde [Harmonium].

 

 

 

 

A mistura do limitado com o ilimitado é a origem de tudo o que há de belo.

 

Vendo a Divindade, meu caro Filebo, a arrogância e toda sorte de maldades que se originam do fato de carecerem de limites os prazeres e a gula, estabeleceu a lei e a ordem, dotadas de limite.

 

O ilimitado apresenta muitos gêneros; mas, por todos eles trazerem o selo do mais e do menos, parecem formar apenas um.

 

Tudo o que devém só se forma em virtude de determinada causa.

 

 

 

 

O agente e a causa são uma e a mesma coisa.

 

O que cria vai naturalmente na frente, seguindo-o sempre no rastro o que é criado.

 

Ordenando os quatro gêneros, tem-se: em primeiro lugar, designo o ilimitado; em segundo, o limitado. Em terceiro, temos a essência composta dos dois primeiros e deles oriunda. E, em quarto lugar, a causa da mistura e da geração.

 

Todos os sábios estão acordes – por isto mesmo com isto se engrandecem – em que, para nós, a inteligência é a rainha do céu e da Terra.

 

A Mente determina tudo.

 

Na composição do Universo, da Natureza e nos corpos de todos os seres vivos entram Fogo, Água, Ar e também Terra. Todavia, cada elemento existente em nós é pequeno e de má qualidade, além de não ser puro de maneira nenhuma nem dotado de qualquer poder digno de sua natureza.

 

 

 

 

O Universo é um corpo da mesma espécie do nosso porque é formado dos mesmos elementos.

 

Sem alma não pode haver sabedoria nem inteligência. O mundo, sempre, é governado pela inteligência. A inteligência é a causa de tudo.

 

Quando em nós a harmonia se dissolve [se esvai], seres animados, produz-se, ao mesmo tempo, dissolução da natureza e geração da dor. E quando se restabelece a harmonia e volta ao seu estado natural [re]nasce o prazer. Exemplos: a fome é dissolução e dor; o comer é repleção e prazer. A sede, por sua vez, é destruição e dor; o inverso é prazer, ou seja, atuação do úmido no ato de encher o que secou. Conclusão: na classe dos seres vivos, formados da união do ilimitado com o limitado, sempre que esta união é rompida, destruída, tal desbaratamento causa dor, e o contrário disto, em todos eles, é prazer – caminho para sua própria natureza e conservação.

 

Quem escolhe viver segundo a razão e a sabedoria não sentirá prazer; nem muito nem pouco. De todos os meios de vida, este é o mais divino.

 

Sensação é quando o corpo e a alma são afetados pelo mesmo agente e se movem a um só tempo. Assim, a memória é a conservação da sensação.

 

A reminiscência2 difere da memória. A reminiscência se dá quando a alma recebe alguma impressão juntamente com o corpo, e depois, sozinha em si mesma, recupera-a tanto quanto possível.

 

Quando encontrarmos o que procuramos, perdemos a perplexidade.3

 

Quando alguém está vazio, deseja precisamente o contrário daquilo que experimenta: por estar vazio, quer ficar cheio. E, na esperança de vir a se encher, se alegra só com esta lembrança, ao mesmo tempo em que sofre, pelo fato de estar vazio.

 

É a memória que nos leva para os objetos de nossos desejos, e demonstra, no mesmo passo, que todos os impulsos e desejos e o comando de todos os seres animados pertencem à alma.

 

 

 

 

Nem dormindo nem acordado, nem nos acessos de loucura ou em qualquer estado de insanidade mental, não há quem se considere alegre, quando não sente alegria, ou pense sofrer alguma dor, quando em verdade nada sofre.

 

Uma opinião – quer seja verdadeira, quer seja falsa de qualquer forma, não deixará de ser uma opinião. Mas, pelo fato de se juntar verdade ou falsidade à opinião, esta não fica sendo apenas uma opinião, mas uma certa opinião, ou falsa ou verdadeira. Enfim, sempre que a maldade se junta à uma opinião, a opinião se torna ruim. Mas, se a retidão se juntar à opinião, a opinião será reta.

 

A memória, em consonância com as sensações que dizem respeito à todas as ocorrências, é como se escrevesse, por assim dizer, discursos na alma; e quando o sentimento da ocorrência escreve certo, então se forma em nós uma opinião verdadeira, da qual também decorrem discursos verdadeiros; porém, quando o escrevente que temos dentro de nós escreve errado, produz-se precisamente o contrário da verdade. Todavia, além do escrevente, há, em nosso interior, um pintor, que pinta na nossa alma a imagem das coisas descritas por aquele. E assim, serão verdadeiras as imagens das opiniões e dos discursos verdadeiros, como serão falsas as imagens das opiniões e dos discursos falsos. Enfim, na maioria dos casos, as imagens escritas no interior dos homens de bem são verdadeiras. E com as imagens escritas no interior dos homens maus se dá precisamente o contrário.

 

Na alma do homem há prazeres falsos, ridículas imitações dos verdadeiros, o mesmo acontecendo com as dores.

 

Há falsas opiniões e costumamos opinar falsamente porque determinadas opiniões estabelecidas por nós não se relacionam com nenhum objeto existente ou que ainda venha a existir.4

 

Teremos sempre de passar por alguma modificação, conforme dizem os sábios, pois tudo não pára de se mover para cima ou para baixo.

 

 

 

 

Os maiores prazeres são os que decorrem dos mais violentos desejos.

 

Os indivíduos moderados, a todo instante, são contidos pelo aforismo 'nada em excesso', a que obedecem integralmente; já os insensatos e os arrogantes se entregam aos prazeres até à loucura e a mais abjeta desmoralização. Portanto, é em um certo estado de depravação da alma e do corpo, não na virtude, que vamos encontrar os maiores prazeres e as maiores dores.

 

Quanto mais inepta e depravada for a pessoa, mais se entregará a prazeres tidos na conta de deleites supremos, em que a alma se opõe ao corpo, ocorrendo uma mistura singular de dor e prazer.

 

Quanto a alma, por vezes, se sente sozinha em si mesma, poderão ocorrer paixões que são exclusivas da alma, como cólera, temor, desejo, tristezas, amor, emulação, inveja e tudo o mais do mesmo gênero.

 

O invejoso se nos revela contente com a desgraça do próximo.

 

O ridículo é uma espécie de vício que tira o nome de um hábito particular – a parte do vício em geral que se opõe radicalmente àquilo que está escrito na inscrição de Delfos.5 O contrário disto viria a ser não se conhecer em absoluto.

 

Quem não se conhece fica sujeito a três modalidades de ignorância. Em primeiro lugar, quanto à riqueza, por se imaginar mais rico do que é. Depois, há os que se julgam maiores e mais belos do que são, e em tudo o que se refere ao corpo vão sempre muito além da realidade. Entretanto, em muito maior número, quero crer, são os que se iludem com respeito à terceira modalidade de ignorância, referente aos bens da alma, por acharem que se distinguem mais do que os outros pela virtude, quando, em verdade, tal não acontece. Não é a respeito da sabedoria que o vulgo se considera mais entendido, enchendo-se, com isso, de querelas e da fantastiquice de falsos conhecimentos?

 

Nos poderosos, a ignorância é hostil e torpe, por ser nociva ao próximo, ou por si mesma, ou por suas imitações; mas, nas pessoas fracas ela se inclui naturalmente na classe das coisas ridículas. Assim, a falsa opinião será ridícula, quando estiver associada à debilidade, ou será odiosa, quando estiver associada à força.

 

Alegrar-se com a desgraça do outro é produto da inveja.

 

Nas lamentações, nas tragédias e nas comédias – e não apenas no teatro, como também na comédia e na tragédia da vida humana e em mil coisas mais os prazeres e as dores andam sempre associados.

 

O corpo sem a alma e a alma sem o corpo, e os dois associados, são passíveis das mais variadas misturas de prazeres e de penas.

 

Não participo, em absoluto, da opinião dos que afirmam que todo prazer nada mais é do que ausência de dor. Há prazeres que parecem reais, mas que de forma alguma existem; enquanto muitos outros nos parecem grandes, porém, de fato, não passam de certa mistura de sofrimento e de cessação de dores, nas mais violentas crises do corpo e da alma.

 

Quando falo em beleza das formas, não pretendo sugerir o que a maioria das pessoas entende por este conceito. Refiro-me à linha reta, ao círculo e às figuras planas e sólidas formadas de linhas e círculos. O que eu digo, é que estas figuras não são belas como as demais, em relação à outras coisas, mas são sempre belas naturalmente e por si mesmas, e nos proporcionam prazeres específicos. Outrossim, são belas as cores e nos proporcionam prazeres da mesma natureza.5

 

 

Geometria Sagrada

 

 

 

 

Os sons suaves e claros sempre que formam uma melodia pura são belos por si mesmos, não relativamente a qualquer outra coisa, tal como o prazer que nos enseja sua própria natureza.

 

Por não serem acessíveis à maioria dos homens, mas a pouquíssimos, os prazeres da Sabedoria [ShOPhIa] são isentos de dor.

 

Todo prazer estreme [não contaminado] de dor, por menor e mais raro que seja, é mais agradável, belo e verdadeiro do que os freqüentes e grandes.

 

O prazer está sempre em formação, sem que nunca se possa considerar como existente.

 

Há duas espécies de coisas: a que existe por si mesma e a que sempre deseja outra. Uma é de natureza nobre; a outra lhe é inferior. Uma destas coisas só existe por amor de outra; e esta outra é precisamente aquela em vista da qual sempre se faz o que se faz em vista de qualquer coisa.

 

 

 

 

Uma coisa é a geração; outra, a essência. Se assim é, por exemplo, os remédios, todos os instrumentos e todos os materiais são sempre aplicados em vista da geração; e cada geração se faz em vista desta ou daquela essência. E a geração em geral, em vista da Essência Universal. Enfim, o prazer, não sendo propriamente um bem, está sujeito à geração e carece em absoluto de essência.

 

O modo de vida Iniciático, estreme de prazer e de dor, se caracteriza pela mais pura Sabedoria.

 

Quem sente dor em vez de prazer é mau no momento em que sofre, ainda mesmo que se trate do melhor dos homens. E o contrário disto também é verdadeiro: o indivíduo que sente prazer, será tanto mais superior em virtude, quando mais intenso for este sentimento, no próprio instante em que se manifesta.6

 

Há uma aritmética popular e outra filosófica.

 

A Sabedoria Verdadeira é a que se ocupa com o Ser e com a Atualidade Cósmica, sendo, por natureza, sempre igual a si mesma.

 

Nem a inteligência nem o conhecimento que se ocupam com as coisas que nunca se conservam no mesmo estado nem se conservarão no futuro e muito menos se conservam no presente, jamais atingirão a verdade perfeita. Como adquirir conhecimento estável do que não participa em grau nenhum de estabilidade? Logo, nem a inteligência nem o conhecimento que se ocupam com coisas instáveis e inconstantes jamais atingirão a verdade perfeita.

 

A fixidez, a pureza, a verdade e o que consideramos sem mistura só ocorrem nas coisas que sempre se conservam sem liga nem mudança, ou, pelo menos, nas que mais se aproximam delas, devendo todo o resto ser considerado secundário e inferior.

 

É muito verdadeiro o provérbio que nos aconselha repetir duas ou três vezes o que nos parece bem.

 

O bom e o agradável se distinguem um do outro pela própria natureza. Na constituição do bem, a Sabedoria contribui com maior contingente do que o prazer.

 

O ser vivo que sempre possuísse o Bem, em toda a parte e de todas as maneiras, de nada mais precisaria. O Bem lhe seria suficiente para tudo.

 

Podemos dizer que há dois tipos de conhecimento, sendo um superior ao outro. Um, dirigido para o que nasce e perece; outro, para o que nem nasce nem perece, e é permanente e sempre igual a si mesmo. Considerando-os à luz da verdade, concluímos ser este conhecimento – que nem nasce nem perece, e é permanente e sempre igual a si mesmo – mais verdadeiro do que o outro.

 

Não é possível, nem disso adviria nenhuma vantagem, que qualquer gênero puro permaneça à parte e solitário.7

 

Se não incluirmos a busca da verdade em nossa vida, nada poderá nascer nem verdadeiramente subsistir.8

 

Se em qualquer mistura faltar medida e proporção na natureza de seus componentes, fatalmente se arruinarão seus elementos e ela própria. Deixará de ser uma mistura regular, para se transformar em um amontoado heterogêneo, que será sempre um verdadeiro mal para seus possuidores.

 

É tão-só na medida e na proporção [simetria] que sempre se encontram a verdade, a beleza e a virtude. E assim, não poderemos conceber o bem por meio de uma única idéia. Recorramos a três: a da beleza, a da proporção e a da verdade, para declarar que todas elas reunidas podem ser consideradas, verdadeiramente, como a causa única do bem.

 

A inteligência, se não for a mesma coisa do que a verdade, é o que mais dela se aproxima.

 

Em a Natureza, nada há tão imoderado como o prazer e as grandes alegrias, nem mais equilibrado do que a inteligência e o conhecimento.

 

O prazer não é o primeiro dos bens, nem mesmo o segundo; mas o primeiro de todos os bens é a medida e o que for moderado e oportuno, e o mais a que possamos atribuir qualidades semelhantes concedidas pela Natureza.

 

A inteligência é um bem muito melhor e mais importante para a vida humana do que o prazer.

 

 

 

 

 

 

_____

Nota:

1. É exatamente o fato de, geralmente, sermos confrontadores e disputadores, quando deveríamos ser dialéticos, que desarruma e confunde nosso aprendizado e abichorna nossa existência. E, de solavancos em solavancos, ora descalços, ora de tamancos, de onde em onde olhamos para cima, mas, na maioria das vezes, afundamos nos barrancos. Bolas; a vida não é isto!

2. Uma das condições para a indagação ou investigação acerca das Idéias é que não estamos em estado de completa ignorância sobre elas. Do contrário, não teríamos nem o desejo nem o poder de procurá-las. Em vista disso, é uma condição necessária, para tal investigação, que tenhamos em nossa alma alguma espécie de conhecimento ou lembrança de nosso contato com as Idéias (contato este ocorrido antes do nosso próprio nascimento) e nos recordemos das Idéias ao vê-las reproduzidas palidamente nas coisas. Deste modo, toda a ciência platônica é uma reminiscência. A investigação das Idéias supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde contemplavam as Idéias. Podemos tomar como exemplo o Mito da Parelha Alada, localizado no diálogo Fedro, de Platão. Neste diálogo, Platão compara a raça humana a carros alados. Tudo o que fazemos de bom, dá forças às nossas asas. Tudo o que fazemos de errado, tira força das nossas asas. Ao longo do tempo fizemos tantas coisas erradas que nossas asas perderam as forças e, sem elas para nos sustentarmos, caímos no Mundo Sensível, onde vivemos até hoje. A partir deste momento, fomos condenados a ver apenas as sombras do Mundo das Idéias. No Fedro, está escrito: A força da asa consiste em conduzir o que é pesado para as alturas onde habita a raça dos deuses. A alma participa do divino mais do que qualquer outra coisa corpórea. O que é divino é belo, sábio e bom. Destas qualidades as asas se alimentam e se desenvolvem, enquanto todas as qualidades contrárias, como o que é feio e o que é mau a fazem diminuir e fenecer. Esta é a luta interna do ser humano entre as tendências boas e más. Seja como for, só nos desvencilhando das coisas terrestres poderemos atingir um grau de elevação superior e contemplar a verdade, ainda que relativa.

3. Às vezes, acontece o oposto: a perplexidade aumenta.

4. E assim, fabricamos mil deuses que, a depender disto ou daquilo e do estado de espírito em que se encontrem no momento, ora nos amam, ora nos odeiam, ora nos premiam, ora nos castigam, ora são solidários, ora são indiferentes, ora atendem nossas súplicas, ora, como se fossem surdos, não dão a menor pelota para nós. E, para amainar e adoçar a má disposição destes deuses de barro fazemos promessas e negociamos com eles a nossa felicidade e a nossa presumida salvação. Bolas! Queremos milagres; custe o que custar! Queremos, na verdade, o que, na maioria das vezes, não merecemos, porque, se merecêssemos, provavelmente, já teríamos. O que não consigo entender é o seguinte: supondo que os deuses existam, porque precisamos pedir a eles o que necessitamos? Não saberão eles o que necessitamos? Ora, se não sabem, não são deuses. Se sabem e não nos dão, pior ainda. Bem, em um passo do Filebo, Sócrates diz o seguinte, muito próprio para concluir esta nota: há coisas que não existem, há coisas que nunca existiram, e que, na maioria dos casos, senão mesmo em todos, jamais virão a existir. Mas, nós teimamos em querer que elas existam!

5. Inscrição no Oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios (c. 650a.C. – 550 a.C.): Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o Universo. Situado em Delfos, o Oráculo de Delfos era dedicado principalmente a Apolo e centrado em um grande templo, ao qual vinham os antigos gregos para colocar questões aos deuses. O Oráculo de Delfos estava situado na Grécia, no que foi a antiga cidade chamada Delfos (que hoje já não existe), no sopé do monte Parnaso, nas encostas das montanhas da Fócida, a 700 m sobre o nível do mar e a 9,5 km de distância do golfo de Corinto. Delfos era um recinto e um complexo de construções em um terreno sagrado para os antigos gregos, onde se realizavam os Jogos Píticos (jogos pan-helênicos da Antiga Grécia que eram realizados de quatro em quatro anos em Delfos) e havia um templo consagrado ao deus Apolo, originariamente consagrado à Pítia (sacerdotisa do Templo de Apolo). Neste templo, as sacerdotisas de Apolo (Pitonisas) faziam profecias em transes. As respostas e profecias ali obtidas eram consideradas verdades absolutas. Hoje, suspeita-se que os transes e as visões das sacerdotisas eram provocados por gases emitidos por uma fenda subterrânea no local. Das rochas da montanha circundante, brotam várias nascentes que formam fontes. Uma das fontes mais conhecidas, desde tempos muito antigos, era a Fonte de Castália, rodeada de um bosque de loureiros consagrado ao deus Apolo. A lenda e a mitologia contam que no monte Parnaso e próximo desta fonte se reuniam algumas divindades, deusas menores do canto e da poesia, chamadas musas, e as ninfas das fontes, chamadas náiades. Nestas reuniões, Apolo tocava sua lira e as divindades cantavam. Conta-se que o oráculo de Delfos ganhou tamanho significado mágico após o deus Apolo matar a serpente Phyton neste local, daí derivando o nome das sacerdotisas (pitonisas). O Oráculo de Delfos influenciou significativamente a colonização grega das costas do sul da Itália e da Sicília. Chegou a ser o centro religioso do mundo helênico.

6. Aqui cabe o seguinte comentário: pessoas mal-humoradas estão sempre adoentadas porque as preocupações, os rancores, as ansiedades, os estresses, as depressões, os medos, os preconceitos, as quizilas etc. atuam e atacam em primeiro lugar o nosso sistema imunológico, também conhecido por sistema imunitário ou sistema imune, compreendendo todos os mecanismos pelos quais um organismo multicelular se defende de invasores externos, como bactérias, vírus, protozoários e fungos. Existem dois tipos de mecanismos de defesa: os inatos ou não-específicos, como a proteção da pele, a acidez gástrica, as células fagocitárias e a secreção de lágrimas; e o sistema imunitário adaptativo, que compreende a ação seletiva dos linfócitos (responsáveis, em grande parte, pela imunidade mediada por via celular) e a produção de anticorpos específicos (proteínas do soro sangüíneo segregadas pelos linfócitos B). Ora, tudo isto vai para o vinagre, porque não há nada pior para o organismo do que mau humor. Mau humor é doença! E grave! Só me esqueci de dizer uma coisa: observe que as pessoas mal-humoradas e preocupadas, geralmente, têm prisão de ventre rebelde, tecnicamente chamada de obstipação ou constipação intestinal, causando inchaço da barriga, cólicas, fezes duras e irritabilidade. Logo, combater os sintomas não adianta nada. Solução: alegria + bons pensamentos + bom humor + muita água. Enfim, se você não tem o costume de beber um copo d'água em jejum, ao acordar, passe a fazer isto amanhã; 90% de todos os seus problemas de saúde serão minorados ou até dissipados. Mas, lembre-se: depois de beber este copo d'água em jejum, espere mais ou menos quinze minutos para fazer a primeira refeição do dia.

7. Por isto, se eu tivesse de escolher, agora, o mais grave dos defeitos, a maior deformidade ou imperfeição, eu escolheria o egoísmo intelectual/espiritual, que nada mais é do que saber e não comunicar, que nada mais é, enfim, do que se isolar da Humanidade, sempre em busca de mais conhecimento, até se abarrotar de saberes e ter uma indigestão. Ora, não é mais ou menos isto que fazem os que se apartam do mundo, ao escolherem, por exemplo, uma vida celibatarista e monacal? Por que, pergunto, guardar e esconder o que é de todos e que pertence a todos? Por que pensar e admitir que o outro não é digno? Por que pensar e admitir que o contato e a convivência possam comprometer o desenvolvimento espiritual? Bolas! Multiplique tudo isto por -1, pois o contrário de tudo isto é que nos levará à compreensão da coisa toda. A liberdade não poderá vir sem a compreensão; mas a compreensão só se efetivará pelo altruísmo, pela solidariedade e pelos esbarrões que a vida nos oferece. Místico que se esconde não é místico; é alogístico.

 

 

 

 

8. E o que é a busca da verdade? Buscar a verdade é entrar no Santo Silêncio. É olhar para dentro, mergulhar no interior – no Coração – e tentar ouvir a Voz do Silêncio. Nas primeiras vezes, esta Voz parecerá se mostrar surda e muda; mas, com o tempo, ela falará. A partir de então, jamais ensurdecerá ou emudecerá.

 

Agora:

Para espairecer de tanto Filebo, veja isto até o final, porque o final é o melhor. Mas, antes, feche esta página, senão vai dar uma confa do daimonion:

http://www.youtube.com/watch?v=L8vX
VQHDcuY&feature=player_embedded

 

Páginas da Internet consultadas:

http://books.google.com.br/

http://www.seer.ufu.br/index.php/Educacao
Filosofia/article/viewFile/13340/7630

http://www.bloggang.com/mainblog.php?id=nulex
&month=07-03-2009&group=18&gblog=6

http://photobucket.com/
images/animated%20brain/

http://www.squidoo.com/funny-animated-gifs?utm_source=
google&utm_medium=imgres&utm_campaign=framebuster

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Pris%C3%A3o_de_ventre

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Sistema_imunit%C3%A1rio

http://www.millan.net/anims/
giffar/animagnetsm.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Or%C3%A1culo_de_Delfos

http://www.sdx.com.br/

http://www.gifs-paradise.com/
free-animated-gifs/rats/

http://bestanimations.com/Animals/
Mammals/Elephants/Elephants.html

http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/MARCELOALVES.pdf

http://revistapandora.sites.uol.com.br/
aristoteles/cintia.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o

http://www.urlesque.com/2008/12/15/the-6-best
-animated-gifs-of-the-bush-shoe-throwing-incident/

http://www.puc-rio.br/
parcerias/sbp/pdf/19-soniar.pdf

 

Fundo musical:

Aighaio

Fonte:

http://www.navis.gr/midi/midi.htm