Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Fato Verídico

 

Conheci uma boa mãe que sabia, mas que fingia que não via, e um pai que não sabia porque de fato não via. De fato? Mas, digamos assim, quando o pai ficou oficialmente sabendo que seu rebento era gay, disse, peremptória e machisticamente, mais ou menos esta absurdância (mistura fundamentalista e gayfóbica de absurdeza com intolerância):

Eu tive um filho para ser homem, não para ser 'viado'; você não é mais meu filho.

Ao que eu saiba, morreu sem se reconciliar inteiramente com o filho.

Morto há tanto tempo, eu me pergunto: será que este pai se reconciliou consigo mesmo? De todo Coração, eu espero que sim.

Enfim, fico só pensando, por exemplo, no fenomenal Cole (Albert) Porter (9 de junho de 1891 – 15 de outubro de 1964). Vai ver que o velho Cole deve ter dado uma teaspoon of help místico-educativa para este pai!

Se eu fosse gay e se já estivesse morto, minha tarefa, do lado de lá, por opção, seria domesticar e educar os boçais fundamentalistas (de qualquer vertente) e os ababosados, abestalhados, abobados, abobalhados, abobarrados, acanhotados, alarves, alonsos, alvares, alvarinhos, apalermados, aparvados, aparvalhados, aparvanhados, apatetados, apombocados, apoucados, araras, aruás, asneirãos, asneirentos, asneiristas, asonsados, atolados, atolambados, atoleimados, azêmolas, babacas, babancas, babões, babaquaras, babosos, badanas, badós, bajoujos, basbaques, bate-orelhas, belarminos, beldroegas, belizes, bertoldos, bestalhões, bestiagas, bestiolas, bobos, bobós, bobocas, bocós, boleimas, bolônios, boquiabertos, botos, brocos, calinos, cândidos, capadócios, cepos, chapetões, coiós, crédulos, curtos, débeis, enxovedos, escrotos, estólidos, estultos, estúpidos, fátuos, gaivotas, girolas, guedes, hebetados, hebetizados, idiotas, imbecis, incapazes, ineptos, inexperientes, inhenhos, inocentes, intelijumentos, jegues, jericos, jumentos, lamechas, lapardões, lapardeiros, lapuzes, lorpas, mama-nas-éguas, mandus, manés, manés-cocos, manés-do-jacá, manés-jacás, manemas, manembros, manicacas, maninelos, marinelos, marotos, marruás, mazanzas, mentecaptos, molongós, obtusos, orelhudos, otários, pacas, pacóvios, pais-manés, paios, palermas, palonços, palúrdios, pancrácios, pandorgas, papalvos, parranas, parvajolas, parvalhões, parvos, párvulos, pascácios, pasmados, paspalhão, paspalho, pataco, pataloco, patalotos, patamazs, pataratas, patarocos, pataus, patetas, patochos, paturebas, paturegas, pengós, pongós, pregos, primários, puros, racas, sambangas, sandeus, sandios, sarambés, sarangas, sarangos, simples, simplórios, sorongas, sorongos, tacanhos, tansos, tapados, toleirãos, tolos, tontos, trouxas, urumbebas, urumbevas, xexés, zamboas, zotes e zucos preconceituosos (de qualquer confissão). Ufa!

 

 

 

Com efeito, como será a contrição

para a insciência da discriminação?

 

Um dia, morreremos e iremos entrar

em outra Dimensão, em outro Lugar.

Uma alma abarrotada de intolerância,

de que maneira fará esta entrância?

 

Por quê? Porque é preciso morrer

para que, enfim, se possa entender?

Assim, esta adaptação será dolorosa,

pois, terá de ser limada cada glosa.

 

Sem ultrapassarmos o Devachan1

e compreendermos a intolerância chã,

ficaremos presos à cadiva infecção.2

Como será possível a reencarnação?3

 

Eu-sou Deus! Eu-sou o Amor!

Eu não deixo desvanecer a Cor!

Em mim, todos foram, são e serão!

Em mim, todos são um só Coração!

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Ensinou Kut Hu Mi: No último momento, toda a vida se reflete em nossa memória, e emerge de todos os escaninhos e recantos esquecidos, quadro após quadro, acontecimento após acontecimento. O cérebro moribundo desaloja a memória com um forte impulso supremo, e a memória devolve, com fidelidade absoluta, cada uma das impressões que lhe foram confiadas durante o período da atividade cerebral. Aquela impressão e pensamento que foram mais poderosos se tornam naturalmente os mais vívidos, e sobrevivem, por assim dizer, a todo o resto que agora se desvanece e desaparece para sempre, para reaparecer unicamente no 'Devachan'. Nenhum homem morre insano ou inconsciente, como asseguram alguns fisiólogos. Mesmo um louco ou alguém em um ataque de 'Delirium Tremens' terão o seu instante de perfeita lucidez no momento da morte, ainda que sejam incapazes de manifestá-lo aos presentes. O homem pode, muitas vezes, parecer que está morto. Entretanto, desde a sua última pulsação – desde e entre a última batida de seu coração e o momento quando a última partícula de calor animal deixa o corpo – o cérebro pensa e o Ego revive nestes breves segundos toda a sua vida. Falai em voz baixa, vós que estais juntos a um leito de morte e estais diante da solene presença da Morte. Em especial, deveis manter-vos silenciosos justamente depois que a Morte tenha colocado a sua viscosa mão sobre o corpo. Falai em sussurros, eu vos digo; do contrário, ireis perturbar a calma onda de pensamento e dificultareis o afanoso trabalho do Passado vertendo os seus reflexos sobre o Véu do Futuro... Todos aqueles que não escorregaram no lodaçal do pecado e da bestialidade irremediáveis vão para o 'Devachan'... Como explica o Mestre Kut Hu Mi, o 'Devachan' é um estado, digamos, de intenso egoísmo, durante o qual o Ego (combinação do Sexto e Sétimo Princípios) colhe a recompensa do seu altruísmo na Terra. Está completamente mergulhado na felicidade de todos os seus afetos pessoais, preferências e pensamentos terrenos, e recolhe o fruto de suas ações meritórias. Nenhuma dor, nenhuma pena, nem mesmo a sombra de uma aflição obscurecem o brilhante horizonte de sua incontaminada felicidade, porque é um estado de perpétuo 'mâyâ' [ilusão]. Vai ao 'Devachan' o ego pessoal, mas beatificado, purificado, santificado. Todo Ego que, depois do período de gestação inconsciente, renasce no 'Devachan' é necessariamente tão puro e inocente como uma criança recém-nascida. O fato de haver renascido comprova, já por aí, a preponderância do bem sobre o mal em sua velha personalidade. E, enquanto o 'karma' (do mal) fica temporariamente suspenso, para segui-lo mais tarde em sua futura encarnação terrena, ele só leva ao 'Devachan' o 'karma' de suas boas obras, boas palavras e bons pensamentos.

2. A bem da verdade, nossas infecções/inflamações espirituais só poderão ser transmutadas (pela compreensão efetiva) em uma posterior [re]encarnação, o que não significa que ela seja a imediatamente próxima. Milênios poderão ter que passar até que nos livremos de uma única imperfeição. Todavia, a compreensão poderá até ser meio vapt-vupt, mas isto é infreqüente. Seja como for, lutar é preciso!

3. Para aqueles que não foram entropizados (os homens/mulheres-sem-alma que não se arrependeram), sempre haverá possibilidade de a Lei da Reencarnação (ou Lei da Necessidade) se manifestar. Mas, para alguns, a que preço? Domine: non sumus digni ut intres sub tecta nostra; sed tantum dic Verbo... Pater Noster, qui es in cælis, sanctificetur Nomen Tuum. Adveniat Regnum Tuum. Fiat Voluntas Tua, sicut in cælo et in Terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in tentationem; sed libera nos a malo. AMeN. Para todos, está selado.

 

Observação:

Para quem não viu, vale a pena ver o filme estadunidense Philadelphia, de 1993, do gênero drama, dirigido por Jonathan Demme e com roteiro de Ron Nyswaner. O filme conta a história de Andrew Beckett (protagonizado por Tom Hanks), um advogado homossexual que trabalha para uma prestigiosa firma em Filadélfia. Quando fica impossível para ele esconder dos colegas de trabalho o fato de que tem AIDS, é demitido. Beckett contrata então Joe Miller (interpretado por Denzel Washington), um advogado homofóbico, para levar seu caso até o tribunal. O enredo é o seguinte: Andrew Beckett, de 26 anos de idade, é um advogado formado na Universidade Penn State que é recém-contratado por uma grande firma de advocacia da Filadélfia. Apesar de seu sucesso financeiro, sua aparência jovial e bonita, Andrew tenta fugir do preconceito não mencionando a verdade sobre sua sexualidade e seu estado de saúde. Quando adoece e começa a ficar magro, revelando os primeiros sintomas da AIDS, é confirmado que ele é portador do vírus do HIV. Após a notícia se espalhar na empresa, Andrew é sabotado e imediatamente despedido da firma por seus chefes, que se revelam altamente preconceituosos. Andrew tenta contratar um advogado para que possa acionar a justiça e processar a firma, mas ninguém quer assumir seu caso. Em uma última esperança, vai até Joe Miller, um advogado de pequenas causas, que se revela ser secretamente um homofóbico. No entanto, depois de passarem várias horas juntos, Joe percebe que Andrew é uma pessoa normal como ele, e passam a se respeitar e a confiar um no outro. O caso acaba por se tornar muito noticiado na mídia, e Joe luta para mostrar a todos que Andrew foi despedido única e exclusivamente pelo fato de ser homossexual e portador do HIV. O filme apresenta, com muita sensibilidade, o terrível efeito social da AIDS, a questão do preconceito, sua dor e suas origens contra homossexuais ou portadores do vírus HIV, e a relação mútua e confusa do preconceito frente a estas duas questões na sociedade americana da época.

Observação editada da fonte:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Filad%C3%A9lfia_(filme)

 

Música de fundo:

Streets Of Philadelphia
Composição e interpretação: Bruce Springsteen

Fonte:

http://www.emp3world.com/mp3/43472/Bruce%
20Springsteen/Streets%20Of%20Philadelphia

 

 

 


 

A quem cabe julgar o quê? A mim? A você?