O
saber não é o Absoluto, mas é absoluto como saber.
O
homem não tem o direito de se tornar um ser racional virtuoso, sábio
ou feliz, contra a sua vontade. Além de que, tal esforço seria
em vão, e que ninguém pode se tornar virtuoso, sábio
ou feliz, a não ser pelo seu trabalho e esforço próprio;
além de que, igualmente, o homem, nem sequer o pode, e deve querer
– ainda que pudesse ou julgasse poder. Com efeito, é ilegítimo,
e ele se põe, assim, em contradição consigo próprio.
O Absoluto não é ser,
nem saber, nem identidade, nem indiferença dos dois; mas é
mera e exclusivamente o Absoluto.
Os
teus atos – não os teus conhecimentos – é que
determinam o teu valor.
Tanto mais feliz me sinto quanto
mais atuo.
A
vontade humana é livre, e a felicidade não é o fim
do nosso ser, mas a dignidade de ser feliz.
Sou
simplesmente porque sou.
A
verdade é a correspondência entre idéia concebida no
sujeito conhecedor e o objeto conhecido. E a idéia conhecida corresponde
ao objeto e dele depende.
O
fundamento do ser não é o ser em si mesmo, mas a atividade
em virtude da qual o ser vem a ser fundamentado; e esta atividade não
pode ter outra relação senão consigo mesma, e só
pode ser uma atividade que retorna a si mesma. Trata-se de uma atividade
originária, a qual é, conjuntamente, o seu objeto imediato,
isto é, que intui a si mesma. Ela é, portanto, auto-intuição
ou autoconsciência. O ser, para nós, só é possível
sob a condição da consciência, e esta só é
possível sob a condição da autoconsciência. A
consciência é o fundamento do ser; a autoconsciência
é o fundamento da consciência.
Apesar
de haver um espírito
alemão, ainda
não existe uma nação alemã. Construir
a nação alemã é
o dever do espírito alemão para com a Humanidade,
dado que há
um destino histórico e tudo se consegue pela educação
nacional – um
caminho pela convicção moral, por dentro, e não pelo
poder material, de fora.
O
espírito concebe a vida terrestre como uma vida eterna e a pátria
como a representação terrestre dessa eternidade. Só
nós somos o Povo vivo.
Nós
somos o Povo primitivo, o verdadeiro Povo de Deus.
Deus mesmo não é para
o pensamento. […]
nele o pensamento é aniquilado.
Não
há nada certo, se a certeza não for certa.
A
Filosofia tem de se elevar ao grau de ciência evidente.
O
agir é, como sempre, puramente ideal, por meio da
representação.
Nenhuma
proposição é possível sem conteúdo ou
sem forma.
O
Idealismo explica [...]
as determinações da consciência pela atividade da inteligência.
Para ele, esta é apenas ativa e é absoluta, não sendo
paciente; e não o é porque, de acordo com o postulado do Idealismo,
a inteligência é o primeiro e o supremo, não antecedendo
a este nada que nos possa fazer vê-lo como passivo. Pelo mesmo motivo,
tampouco corresponde a ele a inteligência nem um ser propriamente
dito nem subsistência alguma, porque tais coisas são o resultado
de uma ação recíproca. A inteligência é,
para o Idealismo, um atuar, e absolutamente nada mais; nem sequer deve se
chamar um ser ativo, já que por essa expressão se denota algo
subsistente dotado de atividade. Mas o Idealismo não tem nenhum fundamento
para admitir algo semelhante, dado que ele não se acha em seu princípio
e que tudo o mais há de ser unicamente deduzido.
A
língua de um povo é a sua alma.
Cada
um deve poder viver de seu trabalho: é o princípio posto.
Assim, o poder-viver é determinado pelo trabalho, e não há
nenhuma lei onde esta condição não foi realizada.
O Estado deve fazer a educação
em toda a extensão do território e para todos os jovens, sem
exceção.
Este
é o verdadeiro espírito do Idealismo Transcendental: todo
o ser é saber.
O amor que é verdadeiro amor
e não um mero desejo passageiro, nunca se prende ao transitório,
mas desperta, acende-se e repousa apenas no eterno. O homem nem sequer a
si próprio se pode amar, a não ser que se considere eterno.
Para além disso, ele é incapaz até de se venerar ou
de se aceitar a si próprio. E ainda menos pode amar qualquer coisa
fora de si, a não ser que integre essa coisa na eternidade da sua
crença e do seu espírito. Quem não for capaz de começar
por se ver a si mesmo como eterno, não tem amor...
O
saber do saber, na medida em que ele mesmo é um saber, é intuição
e, na medida em que é um saber do saber, é intuição
de toda intuição: absoluto coligir de toda intuição
possível em uma só.
A
Filosofia nos ensina a procurarmos tudo no Eu. Apenas através do
Eu sobrevém ordem e harmonia na massa morta e amorfa. Unicamente
a partir do ser humano se expande a regularidade que o circunda até
o limite de sua observação; e à medida que ele amplia
este limite, amplia com ele a ordem e a harmonia... No Eu reside a garantia
certa de que, a partir Dele, irão se expandir infinitamente a ordem
e a harmonia onde agora não há.
Quanto
mais humano alguém é, tanto mais profunda e amplamente repercute
sobre os outros seres humanos. Aquele que porta o verdadeiro selo da condição
humana ('Menschlichkeit'), jamais será incompreendido pela Humanidade
('Menschheit').
O
ser humano superior impulsiona sua época com intensidade para um
nível mais elevado de Humanidade.
Este
é o ser humano. Este é cada um que possa dizer a si mesmo:
eu sou humano.
Todos
os indivíduos estão compreendidos na única e magna
Unidade do Espírito Puro.
Verdadeira
essência da Filosofia: reconduzir toda multiplicidade (que
se impõe a nós na visão da vida cotidiana) à
absoluta Unidade.
Significação
da Filosofia: 1) existe apenas uma verdade, una e imutável,
que fundamenta toda multiplicidade do real; 2) existe apenas um único
sistema filosófico possível que retrata fielmente esta relação
do uno e do múltiplo, tarefa primordial da Filosofia; 3) este sistema
só pode ser captado plenamente pela intuição individual
imediata e, portanto, cada uma de suas etapas deve ser reconstruída
na visão interior e vivente de cada um. cognição racional.
Intuição
significa consciência. É a consciência efetiva de si
frente a todo pensar, a única coisa sobre a qual temos certeza: intuído
vem a dizer, portanto, pura e simplesmente vindo à consciência.
A explicação real do saber absoluto nada mais pode ser do
que a comprovação desse saber na intuição imediata.
Princípios
divergentes tornam-se resultados diferentes, com os quais surgem mundos
inteiramente distintos e desconexos entre si.
A
Unidade Absoluta não pode residir no ser nem na sua consciência
correspondente; não pode ser posta nem na coisa nem na representação
da coisa. Ao invés, ela reside no princípio da absoluta unidade
e indivisibilidade, que é, igualmente, o princípio de sua
disjunção. Este princípio é puro saber, saber
em si mesmo, e, portanto, saber completamente sem objeto, pois de outro
modo não seria um saber em si, mas requereria objetividade para o
seu ser.
A
imaginação se instala na luta entre o finito
e o infinito. Todo limite colocado pelo sujeito se torna motivo de superação
e afastamento da demarcação aplicada. O exercício da
imaginação se dá em uma luta constante entre o que
é e o que não é ainda. A oscilação entre
estes dois extremos leva a mente imaginativa a uma atividade fluente entre
o real e o irreal. Esta faculdade produz a realidade, uma realidade concebida
e compreendida no intelecto, em sua novidade real.
O
saber, em parte, ilumina seu ser, em parte determina seu para-si (sua luz):
a absoluta identidade de ambos é a intuição intelectual
ou a forma absoluta do saber, a forma pura da egoidade. O para-si só
é na luz; mas é ao mesmo tempo um ser-para-si (um ser que
se projeta diante da luz).
A Luz não é sem luzir
em Si mesma.
O
impulso mais elevado do homem é o impulso para a
identidade, para a perfeita consonância consigo mesmo. O conceito
de razão, do agir conforme à razão e do pensar é
dado no homem, e ele quer necessariamente não só realizar
esse conceito em si mesmo, mas vê-lo de igual modo realizado fora
de si. Uma das suas necessidades é a de que, fora dele, existam seres
racionais da sua espécie. Ele não pode produzir tais seres;
mas põe o conceito dos mesmos na base de sua observação
do não-eu, e espera encontrar algo que lhe corresponda.
Se
todos os homens pudessem se tornar perfeitos, poderiam alcançar o
seu objetivo supremo e último, e seriam, assim, plenamente idênticos
entre si; seriam apenas um só, um único sujeito.
Deter-se
e lamentar a corrupção dos homens sem levantar uma mão
para a diminuir é efeminação. Verberar e mofar amargamente
sem dizer aos homens como se devem tornar melhores é indelicadeza.
Agir! Agir! É para isto que cá estamos. Desejaríamos
ressentir-nos porque os outros não são perfeitos como nós,
se somos apenas mais perfeitos? Não é justamente esta nossa
maior perfeição – o apelo que nos é dirigido
de que somos nós que temos de trabalhar para a perfeição
dos outros? Alegremo-nos, pois, com o espetáculo do vasto campo que
temos de trabalhar! Alegremo-nos por sentirmos em nós força
e por nossa tarefa ser infinita!
O
sábio é aquele que faz uso da sua liberdade, não possuindo
seu conhecimento só para si mesmo; mas, antes, para a sociedade.
O fim último de cada ser humano singular, e também de toda
a sociedade, por conseguinte, também de todos os trabalhos do sábio
relativamente à sociedade, é o enobrecimento moral do homem
inteiro. O dever do sábio consiste em edificar sempre este fim último
e em tê-lo diante dos olhos em tudo o que ele faz na sociedade.
Não ensinamos apenas por meio
de palavras; ensinamos ainda, e muito mais profundamente, através
de nosso exemplo. Todo aquele que vive na sociedade deve-lhe um bom exemplo,
porque a força do exemplo brota primeiro da nossa vida na sociedade.
É unicamente a livre ação
recíproca com a ajuda de conceitos e segundo conceitos, unicamente
o fato de dispensar e o de receber conhecimentos que forma o caráter
próprio da Humanidade, único pelo qual cada pessoa confirma-se
indiscutivelmente em sua humanidade.
O
princípio da divisão é o mesmo que o princípio
da construção, e, portanto, também do conceito.
O
Absoluto não é intrinsecamente inconcebível, pois isto
não faz sentido. Ele é inconcebível apenas quando o
conceito por si tenta alcançá-Lo, e esta inconceptibilidade
é sua única qualidade. Tendo reconhecido esta inconceptibilidade
como uma qualidade estranha introduzida pelo saber, permanece no Absoluto
apenas a pura auto-suficiência ou a substancialidade.
A
Unidade não pode, de forma alguma, consistir no que
vemos ou concebemos, pois isto seria algo objetivo; ao contrário,
Ela consiste naquilo que somos, buscamos e vivemos.
Aquele que chegou lá não
se importa mais com a escada.
Eu
me determino para me mover de A até B; este ato de autodeterminação
é um ato que não ocorre em tempo algum. Uma experiência
acontece como conseqüência deste ato de autodeterminação;
a transição de A até B acontece no tempo. Este movimento
de transição é condicionado pela causalidade de minha
vontade. Todo membro da série temporal é considerado como
condicionado pela causalidade da minha vontade.
Nenhum
tempo – nenhum tempo antes ou depois –
está envolvido
na minha auto-intuição como sujeito volitivo. Apenas o condicionado
acontece no tempo, mas minha vontade não é condicionada por
nada.
A
educação deve ser uma arte segura e refletida, para formar
uma vontade boa, constante e infalível no homem; esta é a
sua primeira característica.
A
beleza uma virtude moral.
Mesmo
que não possa ter um conhecimento de si fora do pensamento, a coisa
pensante existe e tem intuição de si mesma como o Eu, e é
a coisa última.
Nossa
vontade é livre...
O
fim de nossa vida não é ser feliz, mas merecer a felicidade.
Não
há absolutamente nenhum ser e nenhuma vida fora da vida imediata
divina.
Deus
Liberdade
Absoluto.
A
Unidade do Espírito Puro é, para mim, um ideal inatingível;
fim último que jamais se realiza.2
______
Notas:
1. Crítica
da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática
(1788) e Crítica do Julgamento ou Crítica do
Juízo (1790).
2. Já
discuti este tema em outros ensaios. Se o Espírito
Puro, como diz Fichte, ou
a realização plena e absoluta de tudo, como penso eu, pudessem
ser atingidos ou efetivados, é como se o movimento cessasse, como
se não
houvesse,
por assim dizer,
mais uma finalidade, ainda que, em termos metafísicos puros, não
haja mesmo uma finalidade avistável ou concebível. O
Cósmico simplesmente é o que é; o alinhamento com a
Consciência Cósmica é que corre por nossa conta e risco.
Seja
como for, pretender alcançar uma finalidade na não-finalidade
é impossível. Da mesma forma que o nada inexiste e, portanto,
não pode dar origem a coisa alguma, o último degrau também
não existe, e, por isto, não pode ser pisado. Mas, a absorção
e a fusão, consciente e volitiva, no Todo-Sempre-Um são uma
possibilidade, mas um tanto difíceis de serem concebidas. Entretanto,
quem quer abrir mão de sua identidade, de sua impressão digital,
da sua vontade de ter vontade? Logo, continuará a haver dúvida
e dor enquanto a individualidade prevalecer sobre a Totalidade.
Bibliografia:
LOGOS
(ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA). Vol. II. Lisboa/São
Paulo: Verbo, 1990.
REALE,
Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia (do Romentismo
até nossos dias). Vol III. São Paulo: Paulinas, 1991.
Páginas
da Internet consultadas:
http://wwwipldn.blogspot.com/2009/04/imaginacao
-uma-dimensao-do-humano_4495.html
http://www.hottopos.com/
harvard4/jmskant.htm
http://www.montfort.org.br/
http://logistikon.blogspot.com/2008/03
/conceito-de-educao-em-fichte.html
http://docs.google.com/gview?
http://www.controversia.unisinos.br/
index.php?a=47&e=2&s=9
http://filolegere3.blogspot.com/
2009/05/fichte-e-schelling.html
http://docs.google.com/gview?
http://edsongil.wordpress.com/
2008/09/09/introducao-a-fichte-6/
http://www.consciencia.org/
fichteroberto.shtml
http://docs.google.com/
http://urs.bira.nom.br/
autor/ursb/ed000165.htm
http://www.cobra.pages.nom.br/
fc-fichte.html
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Johann_Gottlieb_Fichte
http://pt.wikiquote.org/
wiki/Johann_Fichte
Fundo
musical:
Agnus
Dei - Missa da Coroação (Mozart)
Fonte:
http://www.lepanto.com.br/dados/classicas.htm