Aquele
que pensa que sabe muito não sabe de nada, e a sua ignorância
é tanta que nem sequer está em condições de
saber aquilo que lhe falta.
As
injúrias são os argumentos daqueles que não têm
razão.
É
indigno de um homem honesto se servir dos restos de uma amizade que termina
para satisfazer um ódio que começa.
As
almas belas são as únicas que sabem o que há de grande
na bondade.
Desconfiem
dos sábios e dos grandes argumentadores. Eles esmorecem à
volta dos problemas, e a sua curiosidade é uma avareza espiritual
que é insaciável. São como os conquistadores que destroem
o mundo sem o possuir.
Se
queres formar juízo acerca de um homem, observa quem são os
seus amigos.
Aqueles
que nunca sofreram não sabem nada. Não conhecem nem os bens
nem os males, ignoram os homens e se ignoram a si próprios.
O
mais livre de todos os homens é aquele que consegue ser livre na
própria escravidão.
Antes
de buscarmos o perigo, torna-se indispensável prevê-lo e temê-lo;
mas, quando estamos metidos nele, só nos resta desprezá-lo.
O
homem verdadeiramente livre é aquele que, isento de receios e desejos,
apenas vive submetido aos deuses e à razão.
Os
homens sinceros e virtuosos, aqueles que nunca mudam de caráter e
se submetem aos preceitos da virtude, nunca saberão agradar tão
facilmente os príncipes como aqueles que lhes lisonjeiam as paixões
dominantes.
Todos
os homens procuram a paz da alma, mas, não a procuram onde ela existe
[ou seja:
in Corde].
Para
que uma obra de arte seja realmente bela, é preciso que nela o autor
se esqueça de si mesmo e me permita esquecê-lo.
Nenhum
poder humano consegue forçar o impenetrável reduto da liberdade
de um Coração.
Só
é digno de glória o Coração capaz de suportar
o desgosto e de desprezar os prazeres.1
Nosso
orgulho sente desgosto por nossas falhas, e, muitas vezes, confundimos este
desgosto com o verdadeiro arrependimento.
Aprecio
muito a educação dos bons conventos, mas, dou mais valor a
uma boa mãe, quando esta pode livremente se entregar à sua
missão.
Os
que sabem se ocupar em qualquer leitura útil e agradável nunca
sentem o tédio que devora aqueles que vivem rodeados de delícias.
As
guerras devem ser justas. Mais ainda: devem ser necessárias para
o bem público. O sangue do povo tão-somente deve ser derramado
para o salvar nas necessidades extremas.2
Todas
as guerras são civis, pois é sempre homem contra o homem que
derrama seu próprio sangue, rasgando suas próprias entranhas.
Se,
em troca do meu amor à leitura, me dessem todos os tronos da terra,
recusaria sem vacilar.
O amor
à leitura é um presente do céu.
A
leitura deve ser para o espírito, como o alimento para o corpo: moderada,
saudável e digerível.
Em
todas as idades, o exemplo pode muitíssimo conosco; na infância,
então, é onipotente.
Às
vezes, saber perder a tempo é um grande lucro.3
A
pátria de um porco se encontra por toda a parte onde há bolotas.
Já
é saber muito, quando se sabe que não se sabe nada.
A
avareza e a ambição se mostram mais descontentes do que não
têm, do que satisfeitas com o que possuem.
Tão-somente
o infortúnio pode converter um coração de pedra em
um coração humano.4
Desejar
o impossível é doença da alma.5
Reservando
ao pintor a tarefa severa e controlável de começar os quadros,
atribuímos ao espectador o papel vantajoso, cômodo e cômico
de os acabar pela sua meditação ou pelo seu sonho.
Não
basta mostrar a verdade, é preciso apresentá-la amavelmente.
Muitas
vezes, nossos erros nos beneficiam mais do que nossos acertos. As façanhas
enchem o Coração de presunção perigosa; os erros
obrigam o homem a se recolher em si mesmo e lhe devolvem aquela prudência
de que os sucessos o privaram.
O
homem é um ser pensante, composto de corpo e de alma – «intimement
unis ensemble» –
por um princípio que os transcende.
Em
todo homem há um «Maître Intérieur» [Mestre
Interior] – a Voz de Deus na consciência
humana.
O
homem é essencialmente «capax Dei», um ser com sede de
ilimitado, ilimitado
que está em seu interior.
«Imago
Dei»
Suprema Dignidade do ser humano.
Deus
é pura «Antiktêsis» – o antinarciso por excelência.
O
que
Deus requer de nós é uma vontade que não esteja mais
dividida entre Ele e qualquer outra criatura. Uma vontade dócil nas
mãos Dele, que não busque nem rejeite qualquer outra coisa,
que deseje sem reservas tudo o que Ele deseja e que nunca deseje, sob nenhum
pretexto, algo que Ele não deseje. Quando temos essa disposição,
tudo vai bem. Até as distrações triviais se transformam
em boas obras.6
Felizes
os que se entregam a Deus! Eles são libertados de suas paixões,
da reprovação alheia, da malícia, da tirania das palavras,
do insensível e infame escárnio, do infortúnio que
o mundo distribui junto com a riqueza, da infidelidade e da inconstância
dos amigos, das astuciosas armadilhas do inimigo, da própria fraqueza,
da miséria e da brevidade da vida, dos horrores de uma morte profana,
do remorso por prazeres pecaminosos e, por fim, da eterna condenação
de Deus.6a
Que
insensatez ter medo de se entregar totalmente a Deus! Significa ficar com
medo de ser muito feliz. É ter medo de amar a vontade de Deus em
todas as coisas. É temer ter coragem para enfrentar as inevitáveis
dificuldades, do conforto existente no amor de Deus, do desprendimento das
paixões que nos tornam miseráveis.6b
Ai
daquelas almas fracas e tímidas que estão divididas entre
Deus e o mundo! Elas querem e não querem. Estão divididas
entre a paixão e o remorso. Temem o julgamento de Deus e das pessoas.
Têm horror ao mal e vergonha do bem. Sofrem com as virtudes sem experimentar
seu agradável conforto. Oh!, quão miseráveis são!
Ah!, se tivessem um pouco de coragem para desprezar a conversa vã,
a zombaria insensível e a crítica temerária! Que paz
desfrutariam nos braços de Deus!6c
Muitas
vezes, a tristeza vem de que, procurando Deus, nós não temos
o sentimento da Sua presença. Querer sentir não é querer
possuir: é uma espécie de amor próprio; queremos ter
certeza de possuir, para só, então, sentir a consolação.
A nossa natureza comum se impacienta de viver apenas da fé. Ela quer
sair dessa situação, porque na verdadeira fé, parecem
faltar os apoios; a alma fica como que no ar; ela gostaria de sentir que
está progredindo. Gostaríamos, por amor-próprio, de
ter o prazer de nos vermos perfeitos; resmungamos porque isto ainda não
é visível; ficamos impacientes, altivos, de mau humor contra
os outros e contra nós mesmos. É um erro. Como se a obra de
Deus pudesse se concretizar pela nossa tristeza! Como se pudéssemos
nos unir ao Deus da paz perdendo a paz interior... — Marta, Marta,
você se preocupa com muitas coisas — disse o Cristo.
Gostaríamos
cem vezes mais de fazer a Deus alguns grandes sacrifícios, por dolorosos
que fossem, com a condição de ganhar, em seguida, a liberdade
de seguir nossos gostos e hábitos em todos os pequenos detalhes.
E, no entanto, é pela fidelidade nas pequenas coisas que a graça
do verdadeiro amor se apóia, e se distingue dos fervores passageiros.
Deveríamos
saber que Deus não considera tanto as nossas ações
quanto o espírito de amor com que as praticamos. As pessoas julgam
as nossas ações pelo exterior; mas, para Deus, pouco importa
o que brilha aos olhos dos homens. O que Ele quer é uma intenção
pura, é uma vontade dócil em Suas mãos, é um
sincero desprendimento de nós mesmos. Este exercício pode
ser praticado muito melhor nas coisas comuns do que nas extraordinárias
— onde a tentação do orgulho é sempre muito grande.
Tudo
o que pedimos é morrer antes de sermos infiéis ao Senhor.
Não nos dê a vida se formos amá-la demais.
Senhor,
dê a nós, seus filhos, aquilo que não sabemos pedir.
Não teríamos outro desejo a não ser cumprir Sua vontade.
Ensina-nos a rezar; ora em nós.
Meu
Deus, resguarde-me da escravidão fatal que os homens insanamente
chamam de liberdade. Apenas no Senhor está a liberdade. É
a Sua Verdade que nos liberta. Servir ao Senhor é a verdadeira conquista.
Se
observássemos e corrigíssemos nossas próprias falhas,
teríamos menos prazer [disposição
e tempo] em reclamar das dos outros.
Todas
as delícias terrenas são mais doces na expectativa do que
no prazer; mas, todos os prazeres espirituais são mais doces na fruição
do que na expectativa.
Não
devemos ficar muito irritados com os pequenos defeitos daqueles com quem
nos associamos.
O
genuíno bom gosto consiste em dizer muito em poucas palavras, em
escolher bem nossos pensamentos, em ter ordem e disposição
no que dizemos e em nos expressarmos com compostura.
Exatidão
e asseio com moderação são virtudes, mas, levados a
extremos estreitam a mente.
Um
bom historiador é atemporal, e, se ele for um patriota, nunca irá
embelezar seu país em qualquer aspecto.7
As
pequenas oportunidades devem ser melhoradas.
Ter
um lugar para cada coisa e ter cada coisa em seu lugar, eis o segredo da
ordem e da economia.
Comumente,
as mulheres têm o
espírito mais fraco e mais curioso
que o dos homens. Por isto, é conveniente não é empenhá-las
em estudos, nos quais possam
se obstinar. Nem devem
governar o Estado, abrir guerra ou se ingerir no ministério
das coisas sagradas.
Não carecem, pois, de extensos conhecimentos pertencentes à
política, à arte militar, à jurisprudência, à
Filosofia e à Teologia. Boa parte mesmo das artes mecânicas
não lhes convém. As mulheres nasceram para moderados exercícios,
porquanto, seu corpo e seu espírito são
menos fortes e robustos que o dos homens...8
Uma
mulher judiciosa, aplicada e com religião é a alma de uma
grande morada, na qual vertem salvação
e ordem para os bens temporais. Até os homens, que
toda a autoridade têm em público, nenhum bem efetivo podem
estabelecer
mediante suas deliberações, se, ao executá-las,
não os
ajudarem as mulheres.
O
que
será dos filhos – que comporão, no futuro tempo, o gênero
humano –
se as mães os estragarem em seus tenros anos?
Diga
a Deus tudo o que vai no seu Coração, como quem desabafa com
um amigo todas as suas alegrias e dores. Conte-Lhe
os seus problemas, para que Ele possa confortá-lo; fale-Lhe das suas
alegrias, para que Ele possa moderá-las; conte-Lhe os seus anseios,
para que Ele possa purificá-los; fale das suas antipatias, para que
Ele o ajude a superá-las; fale das suas tentações,
para que Ele possa protegê-lo delas; mostre-Lhe as feridas do seu
Coração, para que Ele possa sará-las; exponha-Lhe a
sua indiferença para com o bem, a sua inclinação para
o mal, a sua instabilidade. Conte-Lhe
como o amor por si-mesmo torna-o injusto com os outros, como a vaidade o
tenta a ser insincero, e como o orgulho mascara o que você é
realmente para si-mesmo e para os outros. Se
derramar perante Ele, desse modo, todas as suas fraquezas, necessidades
e problemas, não haverá falta de assunto para a conversa.
Você nunca conseguirá esgotar o assunto, pois ele estará
sempre a se renovar. As pessoas que não têm segredos umas com
as outras nunca ficam sem ter o que conversar. E elas não medem as
suas palavras, pois, não há nada para ser guardado consigo;
nem precisam estar a procurar coisas para dizer. Elas falam do que está
cheio o Coração; sem parar para ponderar, elas dizem o que
pensam. Felizes
são aqueles que conseguem atingir este grau de familiaridade e de
profundidade na sua comunhão com Deus.
Ouça
menos seus próprios pensamentos e mais os pensamentos de Deus.
Os
homens de caráter são muito mais raros do que os de talento.
O talento pode ser um dom da Natureza. O caráter é o resultado
de mil vitórias obtidas pelo homem sobre si-mesmo. Talento é
uma qualidade. Caráter é uma virtude.
O
homem habituado a refletir estende seu olhar para mais longe, e considera
com curiosidade os abismos quase infinitos que o rodeiam por todos os lados.
Um vasto reino lhe parece, então, um pequeno canto da Terra; a própria
Terra não é, a seus olhos, senão um ponto da massa
do Universo; admira-se de estar aí localizado sem saber como nela
veio parar.
Tudo
envelhece, exceto a Terra, que rejuvenesce a cada ano, na primavera.
A
educação das mulheres deve ser exclusivamente moral e particular,
não coletiva, mas, com finalidade pública, social. A mulher
deve ser educada para educar os filhos e governar o lar.
A
História do mundo sugere que sem o amor de Deus há pouca probabilidade
de haver um amor para o homem que não se corrompa.
O
Vento de Deus está sempre soprando... mas, você deve içar
sua vela.
A
verdadeira oração é apenas um outro nome para o Amor
de Deus. Sua excelência não consiste na multidão das
nossas palavras, pois, o nosso Pai sabe o que nos é necessário,
antes de Lhe pedirmos. A verdadeira oração é a do Coração,
e o Coração ora só por aquilo que Ele deseja.
A
Paz
não depende de coisas exteriores; ela habita
dentro da nossa alma.
Pequenas
falhas se tornam grandes
aos nossos olhos, e até mesmo monstruosas,
na proporção em que a Luz Pura de Deus aumenta em nós,
assim como o Sol em ascensão revela as verdadeiras dimensões
dos objetos que estavam mal e confusamente iluminados durante a noite.
O
desânimo é simplesmente o desespero do amor-próprio
ferido.
O
amor de Deus está pleno de consideração, de paciência
e de ternura. Isto faz com que, em nossas fraquezas e nossos pecados, demos
passo de cada vez.
O
silêncio promove a presença de Deus, impede muitas palavras
duras e orgulhosas e suprime muitos perigos...
De
maneira geral, não há praticamente nada que os homens não
prefiram a Deus. Um detalhe cansativo de negócios, uma ocupação
absolutamente perniciosa para a saúde, o emprego do tempo de maneiras
que não me atrevo a falar. Qualquer coisa, em vez de Deus.
Muitas
vezes, podemos fazer mais por outros homens, tentando corrigir os nossos
próprios defeitos, do que tentando
corrigir os deles.9
Paúras
e Miúras
O
Homo-aí
prefere crer em um Deus,
quando
deveria confiar em si-mesmo.
O stupìdus-aí
faz negócios
com Deus,
deixando
de esmerilar por si-mesmo.
que todas
as (i)religiões esbodegam.
submissões
e rezas não os abgregam.
Ou
cada um domina seu touro bravo
Só
a Voz do Silêncio poderá libertar.
Ou
cada um se aplica para entender
ou, no
viver diário, avultará o não-ser.
Só
o Deus Interior poderá desnublar.