BUDDHA VERDADEIRO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Pensamentos de Bodhidharma

 

 

 

Bodhidharma

Bodhidharma
(Gravura do Século XIX)

 

 

 

Ao abandonar o falso e abraçar o verdadeiro e na simplicidade do pensamento, permanecendo em pi-kuan ou meditação da parede, descobre-se que não existe nem a egoidade nem o outrem, e que as massas e os valores são de uma única essência. Aferrando-se firmemente a esta crença e nunca se apartando da mesma, a pessoa não se deixa guiar por quaisquer instruções escritas, uma vez que está em comunhão silenciosa com o próprio Princípio, livre de discriminação conceitual, serena e passiva.

 

Todas as obras humanas são inferiores, pois fazem com que seu autor renasça nos céus ou nesta Terra. Elas ainda mostram traços de mundanidade, como sombras que seguem os objetos... Já as obras verdadeiramente dignas de mérito são repletas de Sabedoria Pura [ShOPhIa], são perfeitas e são misteriosas; sua natureza real transcende o entendimento humano. Elas não podem ser adquiridas por nenhum tipo de conquista mundana.

 

Primeiro princípio do Sagrado Ensinamento: A Vastidão do Vazio. Não existe nada que possa ser chamado de sagrado.

 

Na meditação, a mente deverá estar tão perceptiva quanto uma parede.

 

Há duas grandes vertentes para se entrar na Senda: entrada pela razão e entrada pela conduta. A entrada pela razão significa a compreensão do espírito do ensinamento budista com a ajuda das escrituras. Por esta vertente, a pessoa aprofunda sua fé na natureza verdadeira e original, que é a mesma para todos os seres. Esta imaculada natureza é obscurecida pelos objetos externos e pelos pensamentos enganosos, mas, quando a mente se volta do falso para o verdadeiro, simplesmente mantendo-se em 'pi-kuan' – a meditação como uma parede – tanto o sentido separatista do ente quanto seu sentido cognitivo do outro desaparecem. Desta forma, a mente está em comunhão com a Essência-sem-forma de todos os seres. Seu método é silencioso e sua condição é serena. Pode-se dizer que quaisquer detalhes da vida que se encontrem não estejam em ação. A entrada pela conduta lida com os quatro atos sob os quais todas as ações são classificadas. E, quais são os quatro atos? Quais são os quatro? São eles: 1º) como retribuir o ódio; 2º) ser obediente ao carma; 3º) não seguir a nada; e 4º) manter-se de acordo com o Dharma.

 

Por várias eras, passei por uma multiplicidade de existências, e, neste tempo todo, dei muita atenção a detalhes pouco importantes da vida às custas dos essenciais, criando, assim, oportunidades infinitas para o ódio, a má vontade e os enganos. Mesmo que não fossem cometidas violações nesta vida, os frutos das más ações do passado teriam que ser resgatados agora. Nem os deuses nem os homens podem predizer o que me espera. Eu me sujeitarei de boa-fé e pacientemente a todos os desconfortos que me sucederem, e nunca me lamentarei nem reclamarei.

 

O espírito não conhece nem aumento nem diminuição, e nada poderá afetá-lo, se ele estiver em harmonia com a Senda. Embora os materialistas estejam sempre apegados a uma coisa ou a outra, o sábio sabe que todos os apegos, por mais nobres ou menores que sejam, levam inevitavelmente ao sofrimento.

 

 

 

 

Sempre que há busca1 há sofrimento.

 

Estar de acordo com o Dharma = repouso na Razão Purificada. O Dharma é 'shunyata' – o Vácuo no Centro de toda a manifestação, além dos apegos e da poluição, onde não existe nem o eu nem o outro.

 

Os seres sábios não têm apegos, e suas vidas são manifestações de amor abnegado e de caridade. Não têm a compulsão de estar entre os seres humanos, mas, escolhem voluntariamente trabalhar no mundo.

 

Todos os seres humanos compartilham uma mesma Natureza Suprema.

 

Externamente, mantenha-se afastado de todos os relacionamentos; internamente, evite ofegar ou desejar ardentemente no seu Coração. Quando sua mente se tornar lisa e imóvel como uma parede você poderá entrar na Senda.

 

Qualquer criação mental condicionada que abranja concepções que a mente consciente possa pensar é falsa quando contrastada com a Realidade.

 

A Doutrina é incomparavelmente difícil de se dominar e a Disciplina é ainda mais difícil de se perseverar. Só aqueles que possuem as mais altas virtude e Sabedoria é que podem compreendê-las. Nem a Doutrina nem a Disciplina podem ser buscadas através de outro.

 

Aqueles que se afastam da ilusão pela volta à Realidade, que meditam nas paredes, na ausência de si-mesmo e do outro, na unidade entre mortal e sábio e que se mantêm impassíveis até mesmo pelas escrituras estão de acordo completo e silencioso com a razão.

 

O mais excelente, o mais exalto e o mais sublime é a clareza e o brilho inatos da própria consciência.

 

O que é realmente ilimitado e, portanto, sem nenhuma divisão ou ligação é a própria natureza da realidade, da maneira que ela é, momento a momento.

 

A claridade que não pode ser expressada é a própria essência da mente de todos os buddhas.

 

A mente ignorante, com suas infinitas aflições, paixões e males, está enraizada nos três venenos: ganância, raiva e ilusão.

 

Se você usar sua mente para estudar a realidade, você não vai entender nem a sua mente nem a realidade. Se você estudar a realidade sem o uso de sua mente, você vai entender ambas.

 

De acordo com os Sutras, más ações resultam em dificuldades e boas ações resultam em bênçãos.

 

Para ultrapassar a condição mortal e se tornar um Buddha, você tem que colocar um fim no carma, nutrir sua consciência e aceitar o que a vida traz.

 

Apenas uma pessoa em um milhão se torna Illuminada sem a ajuda de um professor.

 

Um Buddha é alguém que encontrou a liberdade tanto na boa-venturança quanto na adversidade.

 

Enquanto buscarmos Buddha externamente, não perceberemos que nossa própria mente é o Buddha.

 

As bênçãos de hoje são os frutos de sementes plantadas por nós no passado.2

 

Libertar-se das palavras é manumissão.

 

 

 

 

Enquanto estivermos [obrigatoriamente] sujeitos ao nascimento e à morte não alcançaremos a Illuminação. Como mortais, somos regidos por condições, e não por nós mesmos.

 

Nossa natureza é a Mente. E a Mente é a nossa natureza.

 

O Caminho é basicamente perfeito. Não requer aperfeiçoamento.

 

A essência do Caminho é o desapego.

 

Enquanto você estiver encantado por uma forma sem vida você não será livre.

 

Não criar ilusões é a Illuminação.

 

Para encontrar o Buddha, tudo o que você tem a fazer é ver a sua natureza.

 

Todos os fenômenos estão vazios.

 

Ilusão significa mortalidade. Buddha significa consciencialidade.

 

Nem os deuses nem os homens podem prever quando uma má ação gerará o seu fruto.3

 

Se você usar sua mente para procurar Buddha, você verá o Buddha.

 

Muitos caminhos levam ao Caminho, mas, basicamente, só existem dois: a razão e a prática.4

 

Só percorrendo o Caminho evitaremos sofrer outra existência compulsória e compensativa.

 

O Dharma é a verdade de que todas as naturezas intrínsecas são puras.

 

A mente [objetiva] é uma ficção desprovida de algo real.

 

Todos os seres vivos compartilham a mesma Verdadeira Natureza.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Busca = Apegos + Desejos + Cobiças + Paixões.

2. Este passado não se refere apenas a outras encarnações já vividas, mas, também, aos nossos pensamentos, palavras e obras desta vida. Todavia, não tem o menor valor plantar sementes generosas com a esperança de ser abençoado. Isto é hipotético, e tudo o que hipotético (promessas, sacrifícios bizarros, exterioridades teatrais, dízimos, ofertas, genuflexões, beija-mãos, comunhões interesseiras, confissões auriculares, testemunhos, autoflagelações, jejuns penitentes, toma-lá-dá-cá) não tem qualquer valor. Pelo contrário, tudo o que hipotético gera compensações.

3. Isto porque, não havendo nem prêmio nem punição no Universo, as compensações cármicas, geralmente, só acontecem quando estamos prontos para compreendê-las ou para delas tirarmos o melhor proveito. Não esqueçamos de que nossos primeiros professores somos nós próprios.

4. Na verdade, o que Bodhidharma quis dizer foi: transrazão (ou transnoesis) e trabalho.

 

Observação:

Conhece-se muito pouco sobre a vida de Bodhidharma (aproximadamente início do século V), em parte devido ao fato de que raros detalhes sobrevivem desde o seu tempo e em parte por causa das lendas que o cercam. Uma vez que colocava pouca fé nos textos escritos para traduzir a quintessência do Buddhavachana ou a Palavra do Buddha, ele não se dedicava muito a escrever. Mas, inquestionavelmente, Bodhidharma foi um dos instrutores da Humanidade e o vigésimo oitavo Patriarca na linha do Buddha e o primeiro Patriarca do Zen na China. Como um meteoro, Bodhidharma passou pela história e, da mesma forma, desapareceu repentinamente. Mas, a marca brilhante que ele fez no vácuo do tempo deixou um rastro luminoso que ainda cintila calidamente até o presente. Sua mensagem especial revolucionou a prática budista chinesa e deu um impulso fundamental à tradição budista no Japão.

 

 

 

 

Sir Charles Spencer Chaplin
(Carlitos)

 

 

 

Só persistindo silentes,

e não sendo intermitentes

 

Apenas pela humanidade,

pela categórica humildade

e pela isenta benignidade

 

Buddha    Alteamento.

Buddha   Entendimento.

Buddha   Libertamento.

 

Buddha   Coeterno.

Buddha    Sempiterno.

Buddha   Deus Interno.

 

 

 

 

 

 

Mantra de fundo:

White Tara Mantra

Fonte:

http://www.index-of-mp3s.com/download/
lagu/d4e3e0e8/mantra-white-tara-mantra/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://giphy.com/gifs/AXDjm10T3ken6

http://weheartit.com/entry/22243114

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/b/bodhidharma_3.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/b/bodhidharma_2.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/b/bodhidharma.html

http://www.nossacasa.net/
shunya/default.asp?menu=147

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bodhidharma

http://www.teosofia.levir.com.br/inst-014.php

 

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