UTRA ANTIGA FÁBULA

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A Rã e o Escorpião
(Esopo)

 

 

Esopo (Nessebar, 620 a.C. – Delfos, 564 a.C.)
(Pintura de Diego Velázquez)

 

 


arado ao Sol, o escorpião olhava ao redor da montanha onde morava.
Positivamente, tenho que me mandar daqui; qualquer dia, a Rússia resolve invadir a minha montanha, e eu, como os ucranianos, acabarei fufu e mal paguinho – pensou.

Esperou a madrugada chegar, e se lançou por caminhos desconhecidos, até atingir a floresta. Escalou rochedos, cruzou bosques, andou... Andou... Andou... E, finalmente, chegou às margens de um largo e caudaloso rio. Que imensidão de águas! A outra margem parece tão convidativa... Ah! Se eu soubesse nadar... – pensou.

Subiu um longo trecho da margem, desceu novamente e olhou para trás. Aquele rio, certamente, não teria medo de escorpião. A travessia era impossível. Não vai dar. Tenho de reconsiderar minha decisão – cogitou profundamente.

Estava quase desistindo, quando viu uma rã acocorada sobre a relva, bem próxima à correnteza. Os olhos do escorpião brilharam: Ora, ora... Acho que encontrei a solução! – pensou matreiramente.

Olá, rãzinha! Como vai? Diga-me uma coisa: você é capaz de atravessar aquele rio? – perguntou, cheio de simpatia, o escorpião.

Ih! Eu já fiz essa travessia muitas vezes até a outra margem. Mas, por que você está me perguntando isso? – questionou a rã, desconfiada.

Ah, deve ser tão agradável do outro lado – disse o escorpião. Pena que eu não saiba nadar.

A rã, que já estava apavorada e com os olhos arregalados, pensou: será que ele irá me pedir para atravessá-lo para o outro lado? Nem morta!

Se eu pedisse um favor, você me faria? – disse o escorpião mansamente.

Que favor? – murmurou a rã.

Com o tom da voz mais brando ainda, pediu o escorpião: — Bem, você me carregaria nas costas até a outra margem?

A rã hesitou, e argumentou: Como é que eu vou ter certeza de que você não vai me matar?

Ora, não tenha medo. Evidentemente, se eu matar você, também morrerei – objetou educadamente o escorpião.

Mas... E, se quando estivermos saindo daqui, você me matar e pular de volta para a margem? – disse a rã.

Nesse caso, eu não cruzaria o rio nem atingiria meu destino – replicou o escorpião.

E como vou saber, se você não vai me matar, quando atingirmos a outra margem? – perguntou a rã.

Ora, ora, rãzinha... Quando chegarmos ao outro lado, eu estarei tão agradecido pela sua ajuda, que não vou pagar essa gentileza com a morte – afirmou o escorpião.

Os argumentos do escorpião eram muito lógicos. A rã ponderou, ponderou, e, afinal, se convenceu. O escorpião se acomodou nas costas macias da agora companheira de viagem, e começaram a travessia. A rã nadava suavemente e o escorpião quase chegou a cochilar. Perdeu-se em pensamentos e em planos futuros, olhando a extensão enorme do rio. De repente, se deu conta de que estava dependendo de alguém, de que ficaria devendo um favor para a rãzinha. Reagiu, ergueu o ferrão e pimba: ferroou a rã. Antes a morte do que tal sorte; não vou ficar devendo nada a ninguém, muito menos a uma rã, que eu nem conheço – pensou.

A rã sentiu uma violenta dor nas costas e, com o rabo do olho, viu o escorpião recolher o ferrão. Um torpor cada vez mais acentuado começou a invadir o seu corpo.

Seu tolo – gritou a rã – agora nós dois vamos morrer afogados! Por que você fez esta crueldade?

O escorpião deu uma risadinha sarcástica, sacudiu o corpo e disse: Desculpe, mas, eu não pude evitar. Esta é a minha natureza. Sempre fui cruel, sou cruel e sempre serei cruel.

 

 

 

 

 

 

Eu, , juro pela minha mãe mortinha que jamais invadirei a Ucrânia.

Eu, , sou um homem religioso.

Eu, , sou um homem honrado.

Eu, , e a minha 'entourage' oligárquica somos amantes da paz e da convivência fraterna.

Eu, , repito: juro que não invadirei a Ucrânia. Nunca tive intenção de guerrear com os meus vizinhos queridos.

Eu, , afirmo: os ucranianos são nossos irmãos. Somos um só sangue.

Mas, decidi iniciar uma operação militar na região de Donbas.

Enfim, decidi invadir a Ucrânia como um ato de legítima defesa, para proteger a população local de um genocídio e desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, que vem sendo tomada por extremistas, desde que o Presidente Víktor Fédorovytch Ianukóvytch foi deposto, em 2014. Como Jesus, em Jerusalém, exercerei minha autoridade, dominarei e expulsarei os vendilhões do templo da pátria. Não tolerarei que tentem fazer da Federação Russa uma naçãozinha marca roscofe! Eu não permitirei isto.

Os Acordos de Minsk, estabelecidos em 2014 e 2015 entre a Ucrânia e a Federação Russa, para estabelecer um cessar-fogo, já não são mais válidos.

Eu não admito que a Ucrânia se aproxime da União Européia e que faça parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como a Estônia, a Letônia, a Lituânia e a Polônia. A OTAN ameaça o futuro histórico da Federação Russa como nação, e isto eu não vou admitir.

Eu exijo que a OTAN abandone totalmente sua presença militar no leste europeu, e que cesse definitivamente os exercícios militares regulares na Lituânia, na Letônia e na Estônia.

Eu não admito que a Ucrânia reconstrua o seu exército.

Eu não admito que a Ucrânia adote os valores liberais, corruptos e pervertidos do Ocidente. Como religioso, tenho fé em Deus, e penso que essas coisas de homossexualidade e LGBTQIA+ são doenças mentais, que conduzirão os seus defensores e praticantes para o inferno. Enquanto eu for presidente, não haverá legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e isto vale para a Ucrânia também. Casamento entre pessoas do mesmo sexo nem pensar. Não acontecerá. Sempre haverá um pai e uma mãe.

 

 

 

 

Eu advirto: a Federação Russa tem condições de arcar com os custos do conflito e das sanções impostas pelo Ocidente. Bancarrota, ruína, falência, quebra, decadência ou declínio da Federação Russa não acontecerão, até porque a China é nossa amiga, e não permitirá que isto aconteça.

Quando decretei o reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk, que, historicamente, estão ligadas a Moscou por laços culturais e políticos, e porque também representam um ganho, do ponto de vista econômico e estratégico, para Federação Russa, minha intenção subjacente foi de construir bases militares e de enviar tropas russas em missões de paz para as duas regiões.

Com a presente invasão da Ucrânia, eu só quero transformá-la em um Estado vassalo, como Belarus. A Ucrânia se tornou uma colônia de fantoches, sendo controlada a partir de fora, e por isto e por outros motivos, não pode existir como um Estado independente. A atual independência deste País é um perigo e uma aberração política, histórica e cultural, ameaçando a própria estabilidade da Federação Russa.

O Ocidente tomou ações hostis e impôs sanções ilegítimas contra a Federação Russa. Por isto, determinei que a nossa força nuclear estratégica entre em alerta especial o nível mais alto. Se for necessário, o alerta se efetivará em uma ação devastadora nunca antes vista pela Humanidade.

Qualquer tentativa de interferência externa no conflito ou qualquer ação contra a Federação Russa gerarão, imediatamente, uma resposta forte e devastadora. Um confronto nuclear não está descartado. Se vier a acontecer, não me culpem: eu sou um amante da paz, mas, se for inevitável, eu destruirei o Planeta.

Atualmente, cerca de 69% dos russos aprovam as ações do meu Governo, contra 61% em agosto de 2021. Então, uma coisa está clara: eu sou apoiado pelos meus compatrícios e estou absolutamente correto em ter invadido a Ucrânia. Os que reprovam o meu Governo são traidores da Mãe Rússia, e se arrependerão amargamente por esta pérfida e traiçoeira deslealdade.

Derramamento de sangue e destruição são o preço que os ucranianos estão pagando por desafiar a minha autoridade. O isolamento sem precedentes imposto à Federação Russa não nos intimida; iremos até o fim, seja qual for o fim. Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Síria, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irã estão conosco, e isto nos basta.

Enfim, eu, , sou tão venenoso e tão mordaz como o Pandinus imperator africano: juro, mas, não cumpro; digo uma coisa, porém, faço outra; afirmo que sou um amante da paz, mas, no fundo, adoro uma guerrinha. Quem se meter comigo será ferroado.

 

 

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

Sign of Hope
Composição e interpretação: Scorpions

Fonte:

https://z2.fm/artist/2708602?page=2

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

https://www.pngall.com/vladimir-putin-png/download/98811

https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Gay_Pride_Flag_-_Animated.gif

https://veja.abril.com.br/mundo/putin-quer-tornar
-casamento-gay-inconstitucional-na-russia/

https://dribbble.com/shots/1993466-Scorpion-Walkcycle

https://kotaku.com

https://forum.affinity.serif.com/index.php?/topic
/57514-vladimir-putin-realistic-vector-portrait/

https://www.pixtastock.com/illustration/70162821

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60462510

https://www.animatedimages.org/cat-scorpions-629.htm

https://br.pinterest.com/pin/535858055632444642/

https://br.pinterest.com/pin/AXxYgLoBKb2ssaViF
K4RY6U2U2wAuQHIlRcVFBDKYZu2tF3U8k0jiEk/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Esopo

http://www.gargantadaserpente.com.br/fabulosa/esopo/ra_escorpiao.shtml

 

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