Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

As experiências corriqueiras da vida

não devem ser tão-só provadas,

engolidas ou cuspidas;

precisam ser transcendentalizadas

e misticamente compreendidas.1

Esta é a Senda rumo à Santa Vida.

 

 

A Peregrinação rumo à Santa Vida

indispensabiliza a Renúncia.

Sannyasa2 é o esteio da Andada;

Ela não deve ser uma simples úncia

ou uma côdea da beirada.

Esta é a Senda rumo à Santa Vida.

 

 

[não] incorpora o que é conjectural

e [nem] as motivações pessoais.

É o desde–sempre inCorde–universal3

que tornará os seres imortais.4

Esta é a Senda rumo à Santa Vida.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. No Coração.

2. Sannyasa = Renúncia. Toda ação (e, antes, todo pensamento) deve deixar de lado motivações pessoais hipotéticas (o que é extremamente difícil, mas não é impossível). Seja como for, não há acaso no Cosmo; todas as coisas têm sua origem e subsistem como decorrência da própria natureza do Absoluto, que pode ter diversas interpretações. Mas, deve-se renunciar a quê? E o que é o Absoluto? Terão cabimento o Criacionismo, o Panteísmo, a imanência, a transcendência etc.? Estas perguntas só poderão ser respondidas em nossos Corações. Ninguém poderá nos ensinar nada que inconscientemente já não saibamos e que não esteja já impresso em nossos Corações. E o que está, desde–sempre (o que é desde–sempre?) impresso em nossos Corações não poderá ser encontrado do lado de fora ou em qualquer outro lugar... que não seja no próprio Coração. Mas, o que cabe em uma moringa, sobrará em uma taça. E como escreveu Fernando Pessoa (1888-1935): Livros são papéis pintados com tinta. E será mesmo, por outro lado, como disse o próprio Fernando Pessoa, que o Sol só peca quando, em vez de criar, seca? Então, por tudo isso, que foi menos do que uma gotinha, paciência, paciência, paciência...

3. Repito: o que é desde–sempre? Acrescento: o que é universal? E haverá algo que possa ser criado do nada? Haverá um deus criador? E quem criou o deus criador? E quem criou o criador do deus criador? E quem criou... Como justificar misticamente (e racionalmente) o conceito teológico ainda vigente creatio ex nihilo (criação a partir do nada) de Agostinho de Hipona (354-430), criação plasmada como imago Dei (imagem de Deus) e apresentada na sua obra De Natura Boni (A Natureza do Bem) para combater as concepções emanatistas (deliberadas ou acidentais) do Neoplatonismo (que, freqüentemente, se converte em Panteísmo, identificando as coisas criadas com um Deus criador, que não se sabe bem de quê e como, inverossimilmente, tudo cria à sua imagem e semelhança)? Deixando de lado o Misticismo, racionalmente, para mim, é mais palatável o ex nihilo nihil fit (do nada, nada se faz) do filósofo grego do período helenístico Epicuro de Samos (341-270 a. C.), pois é mais do que razoável que: Gigni de nihilo nihil; in nihilum nil posse reverti. (Nada pode nascer do nada; nada pode se tornar em nada). Entretanto, se assim não é, se existe mesmo um deus criador – amarga fantasia! – como é cabível que esse deus criador, depois de criar, remeta ao nada sua própria ciação? Nem agasalhado e quentinho isso pode ter cabimento.

4. Nirmana-kaya —› Sambhoga-kaya —› Dharma-kaya —› ... Em suas manifestações (dependendo do Plano, da Dimensão e do processo, isto, em princípio, pode ser entendido como encarnação ou projeção) e peregrinações (até a Fusão Final no Sempre-Todo-Um), os seres-aí, por esforço + mérito, poderão, em um primeiro momento, se tornar Nirmana-kayas. Iniciaticamente, no tempo que é e não é tempo, o Nirmana-kaya perde seu átomo físico permanente, e é, por assim dizer, promovido a Sambhoga-kaya. O Sambhoga-kaya perde todos os átomos permanentes, com exceção do Akáshico; daí por diante, atua somente no Plano Nirvânico. O Dharma-kaya – terceira conseqüência meritocrático-volitiva da evolução místico-iniciática do Nirmana-kaya em Sambhoga-kaya – perde, enfim, o átomo Akáshico, deixa o Quíntuplo Universo e encontra sua vocação peregrinadora mais concertada e Illuminante nos dois Planos mais elevados, onde as Forças do Ishwara estão atuando mais direta e plenamente do que nos Planos inferiores. Tudo isso se resume em esforço + merecimento, em trabalho + oração e em movimento + evolução. É o eterno girar da Roda da Eterna Vida, entropizando + reconstruindo, compensando + educando e caotizando + reordenando, até que ocorra, como foi dito acima, a Fusão Final determinativa no Sempre-Todo-Um. Mas, o passo alforriador é a compreensão de que o procurado e festejado Reino não está lá nem acolá; está aqui. Enquanto nos mantivermos de joelhos, tudo será ora nevoeiro, ora sombra, ora total escuridão, e, por exemplo e preconceituosamente, a Bhagavad Gita (A Canção do Senhor), a obra-prima de Srila Vyasadeva, será tida como alucinação de um visionário. O mundo da realidade é ilusão; o que é atual nunca deixa de existir.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mantra de fundo:

Pancatattwa Maha-mantra (cantado por Srila Bhaktivedanta Swami Prabhupada)

O Pancatattwa Maha-mantra (Sri Krishna Caitanya, Prabhu Nityananda, Sri Advaita Gadadhara Srivasadi Gaura Bhakta Vrinda) é, segundo meu entendimento, um mantra místico glorificante das cinco verdades relativas básicas e evolucionais, quais sejam: Mestre-Deus interior, Energia Illuminadora no Coração do Iniciado, manifestação cósmica de Bem e Beleza, espiritualidade consciente conquistada e personalidade-alma em peregrinação-evolução.

 

Fonte:

http://www.vrindavan.org/
vrinda/mantras/mantras.htm

 

Observação:

Inspiração deste poema e fonte de consulta da nota nº 4: Swami Subrahmanyananda. Introdução ao Estudo do Gita. In: Srimad Bhagavad Gita (Bhagavan Sri Krishna). Rio de Janeiro: Haydée Touriño Wilmer, 2002, pp. 35-68.