EVELYN UNDERHILL

A primeira lição do futuro mago é o autodomínio. Na sua essência, a Iniciação Mágica é uma forma tradicional de disciplina mental, que fortifica e focaliza a vontade. Nada há de sobrenatural nela. O mais árduo, o mais desinteressado treino do místico, é a construção do caráter, com um objeto levado a um ponto heróico.

Todas as coisas são percebidas à luz da caridade e, portanto, sob o aspecto da beleza, porque a beleza é simplesmente a realidade vista com os olhos do amor.

Nunca se esqueça de que a chave para resolver uma situação está na vontade e não na imaginação.

Tudo parece impossível até o momento em que agimos. Então, percebemos que a coisa era possível.

Se Deus fosse pequeno o suficiente para ser compreendido, Ele não seria grande o suficiente para ser adorado.

A vida espiritual não é uma carreira especial, envolvendo abstração do mundo das coisas.

Em todos os níveis da vida, do trabalho doméstico às alturas da oração, em todos os julgamentos e esforços para fazer as coisas, a pressa e a impaciência são marcas seguras de quem é amador.

A cada minuto que você pensa no mal poderia estar pensando no bem. Recuse-se a ceder a um interesse mórbido e a seus próprios erros. Levante-se, desculpe-se, sacuda-se e siga em frente.

Mesmo o poder que espreita em cada carvoeiro, brilha na lâmpada elétrica, arqueja no ônibus, se declara nas maravilhas inefáveis da reprodução e do crescimento é sempre supersensual.

Porque o mistério é horrível para nós, concordamos, em grande parte, em viver em um mundo de rótulos [e de imitações].

— Ele disse...
Eu acreditei...
Fiquei na mesma.

— Ele fez...
Eu imitei...
Fiquei na mesma.

— Ele mandou...
Eu acatei...
Fiquei na mesma.

É razoável, até tranquilizador, que seja preciso muito trabalho e muita disciplina, e que se exija de você, se não a renúncia ao claustro, pelo menos, as virtudes do campo de golfe.

O visionário é um místico cuja visão medeia uma realidade além do alcance dos sentidos. O filósofo é um místico cujo pensamento busca a apreensão da Verdade. O homem ativo é um místico cujas ações fazem parte de uma atividade maior.

Da mesma forma que não é pelos métodos do laboratório que aprendemos a conhecer a vida, também não é pelos métodos do intelecto que aprendemos a conhecer Deus.

Por causa dessa sua vida corporativa, transfundindo você, dando a você e tirando de você – condicionando-o de inúmeras maneiras oblíquas, não aparentes e ilusórias – você é compelido a reagir a muitas sugestões que não é mais capaz de respeitar, sendo controlado, até o último momento de sua existência corporal e, talvez, até depois, por hábitos, pelo costume e pela boa e velha maneira comum de entender mal o mundo [e a si mesmo].

A classificação mais científica é, na melhor das hipóteses, um negócio básico.

O objetivo dos Místicos (União com a Realidade) não é a supressão da vida, mas, a sua intensificação.

A Contemplação Mística não significa rendição abjeta a cada impressão "mística" que surge. Não é nenhum esteticismo sentimental ou piedade emocional. A transcendência da razão jamais será alcançada por meio de tolices espirituais, [por exemplo, acreditar em demônios, no inferno, no Pecado Original, no perdão de deus, no arrebatamento, na salvação eterna e em outras coisas do tipo.]

Quanto mais profunda for a sua compreensão a respeito da maravilhosa existência de uma planta, mais perfeita será sua união com o mundo do crescimento e da mudança, mais rápida e sutil será a sua resposta às suas inúmeras sugestões e muito mais agudo se tornará seu desejo por Algo Mais.

A mansidão e a temperança ou traduzidas muito apropriadamente por humildade e moderação – as graças da [personalidade-]alma esquecida de si mesma – devem ser manifestadas não de uma maneira espiritual peculiar e sobrenatural, mas, de forma natural e comum.

Se o hábito tiver você em suas cadeias, você não será livre.

A lembrança, em essência, é, nada mais nada menos, do que a sujeição da atenção ao controle da vontade. [Tudo deve estar sob o controle da nossa vontade.]

Os mais prudentes e os lógicos podem se aventurar a deduzir de um novelo de lã a provável existência de uma ovelha. Então você, a partir da matéria-prima da percepção, pode se aventurar a deduzir um Uni[multi]verso que transcenda os poderes reprodutivos do seu tear.

Nenhuma nação será verdadeiramente derrotada se retiver seu autodomínio espiritual. Nenhuma nação será verdadeiramente vitoriosa se não sair com a alma nacional sem manchas. [Por que aconteceu exatamente o contrário disto, as Potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), durante a Segunda Grande Guerra (1939 a 1945) foram derrotadas pelas as Forças Aliadas.]

Saindo da escuridão deste mundo, você encontrará armazenado para você, e, finalmente, tornado real, todos os valores mais elevados e todas as experiências mais queridas e nobres do mundo de crescimento e de mudança.

A Verdadeira Contemplação Mística só poderá prosperar quando estiver isenta de dois exageros opostos: quietismo, por um lado, e confusão espiritual, por outro.

O Misticismo é a arte da união com a realidade. O Místico é uma pessoa que atingiu esta união em maior ou menor grau ou quem almeja e acredita em tal realização.

A Peregrinação Espiritual é uma excursão solitária e árdua, um teste de coragem e de sinceridade, pois, a maioria dos homens prefere habitar na confortável ignorância das encostas mais baixas, e ali fazer, de suas características óbvias, uma cortina que vela a Verdade nua e crua.

O Cristianismo [Esotérico e Gnóstico] foi, desde o início, uma religião essencialmente mística.

A Sabedoria é fruto da Comunhão. A ignorância é a herança inevitável de aqueles que se guardam para si mesmos e se colocam à parte, julgando e analisando as coisas que, verdadeiramente, nunca conheceram. [Mas, está ou não está cheio disso por aí?]

— Para você entrar no céu,
tem que beijar a minha mão.
Para você entrar no céu,
tem que fazer um jejunzinho.
Para você entrar no céu,
tem que confessar seus pecados.
Para você entrar no céu,
tem que dar um obolozinho.
Para você entrar no céu,
tem que ajoelhar no milho.
Para você entrar no céu,
tem que acreditar em deus.
Para você entrar no céu,
tem que chispar o inimigo.
Para você entrar no céu,
tem que ser celibatário.
Para você entrar no céu,
tem que... Tem que... Tem que...
Tem que... Tem que... Tem que...
Tem que... Tem que... Tem que...

Por falta de atenção, mil formas de beleza nos iludem todos os dias.

O amor é criativo. Não flui ao longo dos caminhos fáceis, gastando-se no atraente. Ele corta novos canais, vai onde é necessário.

Todo o avanço real nas coisas espirituais vem suavemente.

Aqueles que têm uma vida interior profunda e real são os mais capazes de lidar com os detalhes irritantes da vida externa.

Muitos católicos são como pessoas surdas em um concerto. Eles estudam o programa cuidadosamente, acreditam em todas as declarações que fazem, falam respeitosamente da qualidade da música, mas, realmente, apenas ouvem uma frase de vez em quando. Eles, de fato, não têm nenhuma noção de toda a poderosa sinfonia que preenche o Uni[multi]verso, e que é a auto-expressão do Deus eterno.

Muitos de nós conseguimos existir por anos sem nunca pecar contra a sociedade, mas, pecamos contra a Beleza a cada hora do dia.

O nosso crescimento depende da queda das nossas paredes.

Tente organizar a sua vida para que você possa ter um pouco de razoável silêncio todos os dias.

Até que percebamos que somos seres humanos completos, não entraremos na posse de todos os nossos poderes.

Quando você coloca de lado suas idéias preconcebidas e sua escala autocentrada de valores, deixando a sua intuição caminhar com você, novos níveis do mundo se abrem imediatamente. Tal abertura é a mais prática de todas as atividades.

Da mema forma que o eu social só pode ser desenvolvido por contato com a sociedade, o Eu Espiritual só pode ser desenvolvido por contato com o Mundo Espiritual.

A evidência da utilidade dos sentidos não pode ser aceita como prova da natureza da realidade final. Servos úteis, os sentidos costumam ser guias perigosos.

Gastamos nossas vidas conjugando, principalmente, três verbos: querer, ter e fazer.

Humor delicado é a virtude delicada dos santos.

A eternidade está conosco, convidando nossa contemplação perpetuamente, mas, estamos muito assustados, preguiçosos e desconfiados para responder ao chamado, e arrogantes demais para aquietar nosso pensamento e deixar a sensação divina agir. É necessária indústria e boa vontade, se quisermos fazer essa transição, pois, o processo envolve uma verdadeira limpeza primaveril da [personalidade-]alma, uma reviravolta, um rearranjo de nossa mobília mental, uma ampla abertura de janelas fechadas, para que as notas dos pássaros selvagens, além de nosso jardim, possam vir a nós, totalmente carregadas de admiração e frescor, abafando, com sua música, o barulho do gramofone dentro de nós. Aqueles que fazem isso, descobrem que viveram em um mundo escurecido, e não perceberam que cada ratinho é um mensageiro celestial, e que cada botão de flor está carregado com o pleno significado da vida.

O idealismo, embora apenas em suas premissas, e, muitas vezes, ousado e honesto em sua aplicação, é estultificado pelo intelectualismo exclusivo de seus próprios métodos, por sua confiança fatal no trabalho de esquilo do cérebro trabalhador, em vez da visão penetrante do Coração desejoso.

Há três anseios profundos do Eu Interior, que somente a Verdade Mística poderá satisfazer plenamente. O primeiro é o desejo encontrar o Lar perdido. O segundo é o desejo de encontrar o companheiro perfeito, o que o torna um amante. O terceiro é o desejo de pureza interior e de perfeição, o que o torna um asceta e, em última instância, um santo.

A noite do pensamento é a luz da percepção.

A Arte do Alquimista, seja espiritual, seja operativa, consiste em completar o trabalho de perfeição, trazendo e tornando dominante, por assim dizer, o ouro latente que permanece obscuro no metal ou no homem. O Adepto ideal da Alquimia é, portanto, um auxiliar da Bondade Eterna.

A arte é o elo entre a aparência e a realidade.

Quando estamos com boa saúde, todos nos sentimos muito reais, sólidos e permanentes. Esta é, de todas as nossas ilusões, a mais ridícula, e também a mais obviamente útil do ponto de vista da eficiência e preservação da raça.

A Contemplação Mística é possível a todos os homens. Sem ela, não estamos totalmente conscientes nem totalmente vivos.

É significativo que muitas experiências místicas sejam relatadas em períodos de guerra e de angústia, [como nesta atual PanCOVIDmia]. Quanto mais fortes as forças de destruição aparecem, mais intensa se torna a visão espiritual que à elas se opõe. Aprendemos com esses registros que a consciência mística tem o poder de elevar aqueles que a possuem a um plano de realidade que nenhuma luta e nenhuma crueldade podem perturbar, e de conferir uma certeza que nenhuma catástrofe pode destruir. Ainda assim, não envolve os que por elas passam em uma calma egoísta e sobrenatural, nem os isola da dor e do esforço da vida comum. Em vez disso, dá-lhes uma vitalidade renovada.

— Entristecer-se? É razoável.
Amedrontar-se? É razoável.
Ter dúvidas? É razoável.
Chorar? É razoável.
Orar? É razoável.
Desistir? É desarrazoado.

Precisamos aprender a ignorar a pergunta instintiva e egoísta: o que isso significa para mim?

Para todos os que levam a Vida Espiritual a sério e dignamente, devem julgar as questões públicas do ângulo da Eternidade, nunca do interesse nacional ou da conveniência. [Eu gostaria que os políticos brasileiros lessem esta citação.]

Qualquer semelhança estapafúrdica com algum
politiqueiro brasileiro não é mera coincidência!

A coisa pode parecer absurda para você, mas, você pode fazer isso se quiser: afastar-se, por assim dizer, das reações vagas e sem propósito em que a maioria dos homens desperdiça suas energias vitais. Então, você pode inspecionar com uma certa calma, um certo distanciamento, seu universo e as possibilidades de vida nele. Pode discernir também, se você está inclinado para a aventura mística, as etapas do caminho ao longo do qual você deve percorrer e o próprio caminho rumo à harmonia com o Real.

Ser, não fazer, é o primeiro objetivo do Místico, e, portanto, deve ser o primeiro interesse do estudante de Misticismo. [Nada pode ser pior no Caminho Místico do que querer ver ou fazer pirotecnias psíquicas. Mas, infelizmente, é assim que os charlatães prosperam.]

Muitas pessoas se sentem inconscientes de qualquer orientação, incapazes de discernir ou compreender os sinais de Deus. Não porque os sinais não sejam dados, mas, porque a mente está muito perturbada, turva e apressada para recebê-los.

Não acalente a idéia de que você deve avançar em sua oração. Se você fizer isso, descobrirá que apenas puxou o freio em vez de acelerar. Todo progresso real nas coisas espirituais ocorre de maneira suave, imperceptível, e é obra de Deus. Nossos esforços grosseiros estragam tudo. Conheça a si mesmo pela [personalidade-]alma infantil, limitada e dependente que você é. Lembre-se de que o único crescimento que importa acontece, geralmente, sem o nosso conhecimento, e que tentar nos expandir é perigoso e tolo. Pense na Bondade Infinita, nunca em seu próprio estado pessoal.

Procure sempre, deliberadamente, oportunidades de praticar a bondade, a simpatia e a paciência. [Bondade e simpatia, de certa forma, são coisas ± fáceis de ser alcançadas, porém, paciência, reconheço, é mesmo de doer. É por isto que esta PanCOVIDmia está tão difícil de ser controlada. As pessoas, de modo geral, não têm nem paciência nem humildade. Pior é quando se acham super-humanas.]

A vida espiritual dos indivíduos deve ser estendida tanto verticalmente a Deus quanto horizontalmente a outras [personalidades-]alma, e quanto mais cresce em ambas as direções, menos meramente individual e, portanto, mais verdadeiramente impessoal se tornará.

No Misticismo, aquele amor pela verdade que vimos como o início de toda a filosofia deixa a esfera meramente intelectual e assume o aspecto seguro de uma paixão pessoal. Onde o filósofo raciocina e argumenta, o místico vive e olha, e fala, conseqüentemente, a linguagem desconcertante da experiência de primeira mão, não a dialética nítida das escolas. Conseqüentemente, enquanto o Absoluto dos metafísicos permanece um diagrama inatingível, o Absoluto [interior] dos místicos é amável, alcançável, vivo.

Por mais inesperada que seja sua experiência com Deus [seu Deus Interior], receba-O em cada visão, em cada som, em cada alegria, em cada dor, em cada oportunidade e em cada sacrifício.

Este é o segredo da Alegria: não devemos lutar por nosso próprio caminho, mas, devemos simplesmente nos comprometer com o Caminho de Deus [em nosso Coração], aquiescendo à Sua Vontade e, assim fazendo, encontramos a Paz Profunda.

O Misticismo, de acordo com suas definições históricas e psicológicas, é a intuição ou experiência direta com Deus, [com o Deus de nossos Corações].

No mundo existente ao nosso redor, vemos o Artista Eterno, o Amor Eterno em ação.

A maioria das pessoas trabalha tão arduamente para desenvolver sua correspondência com o mundo visível, que seu poder de correspondência com o Mundo Invisível é deixado em um estado rudimentar.

Esta vida é transitória;
cada um de nós é eterno.
Esta existência é efêmera;
cada um de nós é eterno.

A vida, a beleza e o significado de toda a ordem criada, da formiga à Via Láctea, remetem à Vida e à Beleza Absolutas de seu Criador, e assim vivida, cada parte tem um significado espiritual.

Um sonhador poderá viver sem um credo, mas, ele sempre precisará de um ritual.

Quando a porta de uma sauna é deixada continuamente aberta, o calor interior escapa rapidamente por ela. Da mesma forma, a [personalidade-]alma, em seu desejo de dizer muitas coisas, dissipa sua lembrança de Deus pela porta da palavra, mesmo que tudo o que diga seja bom.

O Silêncio é precioso, pois, não é nada menos do que a mãe dos pensamentos mais sábios.

A Eternidade é o nosso lar.

A ignorância das Leis Espirituais é escravidão. O conhecimento das Leis Espirituais é liberdade. A aplicação das Leis Espirituais é Sabedoria.

Olhar com os olhos do Amor parece uma recomendação vaga e sentimental. No entanto, toda a arte da comunhão espiritual está resumida nele, e resultados exatos e importantes fluem desse exercício. A atitude que envolve é uma atitude de completa humildade e de receptividade, sem crítica, sem análise inteligente do que se vê... As portas da percepção são limpas, e tudo aparece como é. Os resultados desfiguradores do ódio, da rivalidade e do preconceito desaparecem.

Vem! Espírito de Amor! Penetra e transforma-nos pela ação da Tua Vida purificadora. Que o Teu Amor constante e silente produza em nós mais Amor e todas as graças e as obras de Amor. Dá-nos a graça de permanecermos quietos sob sua ação, e que esta quietude humilde seja a nossa oração. AMeN.

Sem Silêncio, a quietude interior em que Deus nos educa e nos molda é impossível!

O Amor faz toda a diferença entre uma execução e um martírio.

A nota com a qual terminamos é e deve ser a nota de possibilidade e de esperança inesgotáveis.

A realização espiritual custa muito, embora nunca tanto quanto vale.

A primeira pergunta não deve ser: "O que é melhor para minha [personalidade-]alma?" nem "O que é mais útil para a Humanidade?" Mas – transcendendo esses dois objetivos limitados – devemos questionar: que função a vida de todos nós deve cumprir na grande e secreta Economia de Deus?

Não há nenhum lugar em minha [personalidade-]alma e em nenhum canto de meu caráter onde Deus não esteja.

— Eu
e meu Deus Interior
somos UM.

Eu,
meu Deus Interior e a Humanidade
somos UM.

Eu,
meu Deus Interior e todos os seres
somos UM.

Eu,
meu Deus Interior e o Unimultiverso
somos UM.

Eu,
meu Deus Interior e a Eternidade
somos UM.