EU
AMEI
(A Novela da Meia-noite)
Rodolfo Domenico
Pizzinga
— Você
não tem nada com isso,
mas, eu
preciso desapertar
e uma pequena
idéia lhe dar
do tamanho
do meu abisso.
— Talvez,
você já tenha ouvido
um enredo
tão escabroso
e um desespero
tão ultrajoso,
mas, por
favor, ouça este gemido:
— Quem
eu amei
nunca me
amou;
quem me
amou
eu desafamei.
— Quem
escolhi
se escafedeu;
quem me
escolheu
eu nada
senti.
— Quem
eu quero
não
me quer;
quem me
quer
não
dá bolero.
— Quem
encontro
foge de
mim;
quem está
a fim
eu só
bilontro.
— Quem
desejo
não
me almeja;
quem me
almeja
eu sinto
pejo.
— Por
quem pranteio
zomba,
ri e deprecia;
já
quem me aprecia
chuto para
escanteio.
— Quem
venero
não
liga pra mim;
quem vem
a mim
eu depaupero.
— Quem
eu busco
se escondeu;
quem apareceu
me deixa
fusco.
— Quem
eu topei
meu coração
partiu;
quem nunca
me feriu
–
oh! –
eu nunca
achei.
— Com
quem sonhei
virou um
pesadelo
e me deixou
doidelo,
a pedir
conselhos ao frei.
— E...
Assim...
Pela noite
tão longa,
é
só tontura, milonga
e o mesmo
outrossim.
— Estou
preso no tempo.
E, de fracasso
em fracasso,
não
consigo acertar o passo
nem dar
fim ao contratempo.
— Seja
no gélido verão,
seja no
tórrido inverno,
eu não
saio do inferno,
ouvindo
a rezinga do dragão.
A Rezinga
do Dragão
— Sem
bossa e sem intuito,
eu sou
um padecedor,
que vive
curtindo sua dor,
em eterno
curto-circuito.
— E,
nesta sofrente hora
– que
não mitiga nem passa –
não
endurece a argamassa
nem arco-irisa
o agora.
—
Por
que sou tão infeliz?
Por que
se desfolha meu bem-me-quer?
Oh! Não
quero um amor qualquer!
De que
serve quadro-negro sem giz?
Aspilia foliacea
—
Tantas
lágrimas derramei!
Tanto frio
tenho sentido!
Sozinho,
triste e perdido,
ao fundo
do poço cheguei!
— Por
isto, ao médium João de Deus
implorei
para este caos acabar,
e para que
eu possa comutar
meu nojo
por um arco-de-deus.
— E
para que eu possa, enfim,
o amor da
minha vida achar,
para este
frio terminar,
e esta aflição
chegar ao fim.
— Mas,
o João de Deus
não
fez xongas de bulhufas
nem buxongas
de lhufas,
e tomei
um porre de mateus.
— Oh!,
quero sair desta noite,
que escurece
minha vida!
Oh!, quero
dar um fim na ferida,
na minha
cruz e no açoite!
— Acabei
entendendo
que
sou o responsável
pelo
e pelo
— Hoje,
eu sei que,
se eu não
mudançar,
jamais irão
findar
os efeitos
do porquê.
— E
que não adianta
culpar os
outros,
estoutros
e aqueloutros
por eu ser
um baita taranta.
— E
que também não adianta
ajoelhar,
pedinchar,
despachar,
mandingar
nem tomar
chá de árvore-santa.
— O
Grande Segredo
é
a Lei compreender
– hoje,
não no vir-a-ser –
e desentalar
o degredo.
— Precisamos
transmutar
a nossa
velha cruz horária
em uma nova
Cruz Anti-horária,
e parar
de o incongruente esperançar.
— Bolas!
Ora pois,
quem esperança
nunca jamais
alcança.
Nem agora
nem depois.
— Meu
irmão, obrigado
por você
ter me ouvido
e sem ter
ficado aborrido
com este
lamento desastrado.
— Mas,
se você quiser
poderá
contar a todos
–
sejam
catodos, sejam anodos –
para que
evitem o clister.
Como
dizia a Dona Filomena,
só Transmutando
a cantilena!